Cookie's Time!! escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
Enfim, o acerto (??)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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— TADAIMA!

Kiba anunciou-se ao chegar em casa, cansado do longo dia na Academia. Bem, não exatamente por esse motivo... talvez o cansaço tivesse mais a ver com o segundo período de tempo que matou e foi nadar no rio com Naruto e Shikamaru do que com as aulas assistidas em classe.  Mas tais detalhes não faziam muita diferença na mente do rapaz.

Ele tirou os sapatos no genkan e avançou de meias, sem se preocupar em calçar o par de surippa. Largou a mochila no meio da sala e foi avançando até a cozinha.

— HANA-NEE! Eu preciso de ajuda para... — calou-se um tanto surpreendido. Esperava encontrar a irmã na cozinha e foi recepcionado pela mãe. Com uma cara de poucos amigos. Pouquíssimos na verdade.

— Kiba...

— Mamãe! — ele parou na porta, incerto sobre a segurança de entrar na cozinha. Não apenas por estar sem a camisa do uniforme (que molhou durante a farra na água), junto com outros detalhes que a astúcia de Tsume nunca deixaria escapar.

— Você está chegando essa hora, com esse cabelo russo, essas meias sujas e com o uniforme nesse estado, por qual motivo mesmo?

— Aula... prática de... combate ninja? — arriscou.

Tsume cruzou os braços e ajeitou a postura, encostando melhor o quadril contra o balcão de mármore.

— Ah, sim. Desde quando Ômegas fazem essa matéria? Refresque minha memória.

Kiba quase acertou um tapa na própria testa. Tinha esquecido das restrições de sua casta! Respirou fundo, dando-se por vencido.

— Vou apanhar muito?

A pergunta fez Tsume resignar-se e desistir de atitudes corretivas agressivas.

— Você tem dezessete anos, garoto. Se não aprendeu até agora não são alguns tabefes que vão enfiar juízo nesse cabeção!

— Então não vou apanhar?! — ele ficou tão aliviado que quase resplandeceu. Era difícil aprontar, ser pego em flagrante e escapar ileso de uma mãe linha dura que, felizmente, era uma Beta! Se Tsume tivesse nascido na casta Alpha... seria uma experiência aterradora para uma criança tão traquinhas quanto Kiba.

— Hana está fazendo turno duplo com os ninken. Você precisa de ajuda pra quê?

— Pra nada! — a resposta veio rápido demais.

— Kiba, você já teve uma chance e gastou. Não testa minha paciência. Pra que precisa de ajuda?

O garoto entrou na cozinha, dando a impressão de ficar indignado.

— Pra fazer cookies. Meu professor disse que eu sou ruim demais na cozinha e que Ômegas deveriam ter mais habilidade! Esse mald... hum... Ele fica me comparando com o Shino que é um Alpha e cozinha bem! Até com o filho da pu... até com o Naruto ele me comparou! E o que que tem a ver o cu com as calças? Não cozinho bem? Okay. Mas sou bom em outras coisas — terminou o discurso meio sem folego.

Tsume apenas observou o filho, querendo saber de onde ele herdou tanto mau-humor. O traço ranzinza era companhia constante. Admirava a empolgação, o entusiasmo e a fome de viver que seu filho demonstrava, embora sempre viesse embrulhado em um quê de reclamação, de insatisfação.

— E os cookies? — ela indagou por fim.

— São para o teste amanhã. A gente vai fazer a receita na aula de Economia Doméstica. Ainda não entendo porque precisa disso na Academia Ninja.

— Porque a escola não ensina apenas a lutar, Kiba. Ela tenta te preparar para a vida.

— Não preciso cozinhar na vida, posso arrumar um bom emprego e comer no restaurante todo dia. E eu namoro o Shino, ele vai cozinhar pra gente — a resposta veio rápida à ponta da língua.

— Que audácia é essa, moleque? Tá me respondendo demais.

Kiba ficou quieto, preferindo não arriscar a boa sorte que recebeu desde que chegou ali na cozinha e interagiu com a mãe.

Tsume quase sorriu. Não havia mais tanto tempo para aproveitar a companhia do filho como naquele instante. À medida em que ele ia crescendo e ganhando mais responsabilidade no colégio, ia se distanciando da mãe, como processo natural do amadurecimento. Já não era aquele menino que vira e mexe procurava a sua companhia, como toda criança. Agora ele criava outros interesses, abria as asas e arriscava-se em voos para cada vez mais longe do ninho. Tinha um namorado, um compromisso sólido com um Alpha que conhecia desde tenra idade, alguém que a intuição apurada de Tsume reconhecia como digno e o companheiro certo para seu filho. Seu filhote crescia! Tornava-se um homem!

Quando foi que ficou tão alto? Praticamente a olhava nos olhos! Antes, Tsume colocava as mãos na cintura e inclinava a cabeça, dando broncas épicas no pequenino. Naquele instante, as broncas não exigiam nada além da mirada praticamente na mesma linha. Ela media um metro e sessenta e três. Ainda que os Inuzuka não primassem pela estatura elevada, não duvidava que o filho ficasse ainda uns centímetros mais alto. Adolescente ainda, embora mais adulto do que criança.

Ou nem tanto, já que o comportamento infantil era marca registrada!

— Mamãe...? — Kiba estranhou o silêncio repentino.

— Vá tomar banho e colocar uma roupa limpa. Eu te ensino a fazer cookies.

— Nah, não precisa. Prefiro que a Hana-nee...

— Anda logo, Kiba! Não testa a minha paciência, moleque — Tsume rosnou. Tudo nessa vida tem limite, inclusive um pavio curtíssimo como o daquela Beta.

Kiba deu meia volta e foi obedecer rapidinho, implorando em silêncio para que conseguisse aprender a receita sem perder as orelhas durante o ensinamento...

=====

Depois de banhar-se e trocar de roupa, o Ômega precisou ir ao centro comercial de Konoha para comprar alguns ingredientes que não tinham em casa. Por sorte Akamaru era um ninken grande o bastante para carregá-lo nas costas, correndo muito rápido.

Assim que Kiba voltou para casa, encontrou a mãe na cozinha usando o avental que era marca registrada, onde se lia a frase “My Pack, My Rules”, e recebeu o avental de Hana para usar, decorado no peito com um grande morango mordido. Torceu o nariz, mas não reclamou.

— Muito bem, moleque. Mostra o que sabe fazer.

Kiba esfregou as mãos, começando a se sentir empolgado. Pegou o saco de trigo e foi virar na tigela, quando Tsume o impediu.

— O que está fazendo?

— Colocando trigo, ué — ele respondeu como se fosse óbvio — Tem que pôr uma xicara e três quartos.

— E você sabe quanto é isso? Pega o copo de medidas.

— Copo de...? Que frescura, mamãe. Tenho um olho infalível para isso, confia — respondeu cheio de si, virando um pouco do trigo. Depois mais um pouco. Analisou em silêncio, calculando que precisava tirar umas três colheres e devolver pro saco de trigo — Acho que deu.

— Kiba, pegue o copo medidor.

O Ômega fez um bico, mas obedeceu. Assim descobriu que tinha duas xicaras e meia de trigo, quase o dobro do que a receita pedia. Deu uma olhadinha de canto de olho para a mãe, que apenas observava de braços cruzados.

— Eu ia tirar mais — se defendeu sem convencer a ninguém.

Após esse pequeno erro de cálculos ele passou a usar o medidor com cada um dos ingredientes para evitar acidentes, sendo auxiliado (e vigiado) por Tsume. A parte engraçada era a mão ágil que roubava uma gota de chocolate sempre que a Beta se virava para pegar uma colher ou um ingrediente a mais, momento em que Kiba achava que a mãe não estava olhando. Ato gatuno que reduziu os confeitos de chocolate a menos da metade...

— Agora misture tudo e deixe a massa homogênea — Tsume deu a instrução. Suspirou quando o assistiu jogar umas poucas gotinhas de chocolate no meio de tudo.

A hora que Kiba mais temia. Com cuidado ele meio que abraçou a tigela de vidro com o braço direito e tentou usar a colher na mão esquerda para revolver a massa.

— Por que tá segurando assim? — ela estranhou — Você não é canhoto.

— Tenho medo de derrubar sua tigela favorita, mamãe. Acidentes acontecem — ele resmungou.

— Ótimo ponto — Tsume riu.

— Não é tão difícil assim fazer cookies, olha só. Estou me saindo muito bem. Aquele professor fala demais — resmungou — Quando for morar com Shino vou fazer biscoitos todos os dias, ele vai adorar.

Tsume sentiu o baque, mas disfarçou muito bem. Talvez Kiba não tivesse se dado conta, mas ele deixou escapulir um plano para o futuro. E falou com tanta certeza, como se fosse fato consumado! Ele, seu caçula, já pensava em sair de casa e morar com o companheiro? O casal estaria discutindo tais planos? Tsume sabia que Shino tinha intenção de seguir carreira de professor, continuando na Academia como um dos docentes. Para Kiba as coisas eram mais complicadas, porque Ômegas sofriam grandes restrições na hora de escolher a carreira. Esperava que ele seguisse o caminho do Clã Inuzuka, cuidando dos ninken da vila. Não alimentava que ele fizesse uma faculdade e se formasse um médico veterinário como Hana, fato que tinha nada a ver com Kiba ser um Ômega. As esperanças de Tsume morreram pouco a pouco conforme recebia os boletins do filho, com notas tão ruins que nem por caridade seria aceito em uma faculdade...

Não que fosse um grande problema. Ele poderia trabalhar na clínica de Hana como ajudante, ou trabalhar com Tsume treinando os cães ninja. Não seria esse detalhe o motivo de seu filho passar fome ou alguma necessidade. E ele caminhava para a vida adulta, livre para fazer escolhas. Talvez o ensino superior não fosse prioridade, ao contrário de construir uma família com o companheiro. Por mais defeitos que Kiba tivesse, o apego à família era algo que suplantava qualquer aspecto ruim: a dedicação e o amor que nutria pela mãe, pela irmã, pelos amigos mais próximos. Pelo namorado.

Ele daria um jeito de ser feliz.

— Mamãe...? Konoha para mamãe! — Kiba ousou provocar, dando uma risadinha da distração de Tsume — Olha aqui. Endureceu demais pra mexer de colher.

— Mereço — ela relevou a piadinha atrevida — O ponto está bom, ficou firme. Agora tem que fazer bolinhas com a massa e colocar para assar. Vou ligando o forno.

Kiba sentou-se à mesa e animou-se mais. Colocar a mão na massa, literalmente, era uma das partes mais divertidas! A Beta acendeu o fogo e veio sentar-se à mesa também, observando enquanto o filho moldava bolinhas perfeitas com uma paciência e cuidado que não eram muito característicos.

— Só está tendo problemas com Educação Doméstica? — Tsume lançou como quem não quer nada.

O garoto paralisou-se no ato de colocar uma bolota na forma. Mas recuperou-se rápido, oferecendo um sorriso mais falso do que pergaminho de jutsu especial vendido na feira.

— É um jeito de encarar os fatos...

— Kiba.

— O quê? A minha perspectiva é essa. Não tenho culpa se o mundo é feito para Alphas e Betas se darem bem. Caso a senhora tenha esquecido eu sou um Ômega, estou em desvantagem em combate. Em camuflagem até que me dou bem, mas minhas técnicas são de ataque! Vê, nossa sociedade é injusta.

Tsume ouviu o desabafo sem se alterar. Não era a primeira vez que o filhote usava aquele discurso manjado. Kiba exagerava, porque havia sim muitas maneiras de um Ômega obter boas notas, pois a realidade escolar se adaptava bem a todas as três castas. Seu caçula não era muito adepto à dedicação nos estudos então se escudava em desculpas que até algumas décadas atrás explicavam a situação. Mas que já não serviam tanto no contexto da atualidade.

Kiba levantou-se e foi colocar a forma para assar. Assim que sentou-se novamente, Tsume não resistiu a provocar:

— Sei. E ao invés de tentar melhorar, você prefere matar aula para nadar escondido com dois Alphas? Acha isso prudente? — o rapaz estava crescendo, mas isso não significava que estivesse criando juízo.

O ar de “satisfação pelo dever cumprido” abandonou Kiba. Ele pensou que escapara da bronca! Tsume não disse nada desde que percebeu o óbvio quando chegou em casa: seu estado entregava tudo de bandeja.

— Não tem perigo, mamãe. Naruto é um irmão pra mim e o Shikamaru nem conta.

— Essa sua lógica não me convenceu.

Kiba mexeu-se meio desconfortável na cadeira. Como que ia dizer para a mãe que tinha tanto cheiro de Shino em si que os outros Alphas não sentiriam qualquer atração? Na verdade, Naruto reclamava o tempo todo que Kiba “fedia a Shino” (crítica que já valera uns tabefes ocasionais). Kiba preferia as palavras de Shino, seu namorado garantia que ele espalhava o aroma de morangos em várias ocasiões. Principalmente quando iam...

— Confia, mamãe. Tenho tudo sob controle.

O rosto corado e os olhos que se desviavam para um ponto aleatório da cozinha fizeram a Beta intuir bem o tipo de controle a que seu filho se referia. Ficou em dúvida entre provocar um pouco ou relevar.

Relevou.

Fazia muito tempo que não dividia um tempo assim como Kiba. Seu caçula era um verdadeiro teste de paciência, quando não estava reclamando, estava fazendo coisas sem noção. Também havia uma parcela de vergonha alheia por cada frase absurda que saia dos lábios daquele rapaz... combinação que desafiava o pavio curto de Tsume. E que o tornava tão único aos seus olhos, assim como Hana. Duas pedras preciosas, diferentes entre si conquanto muito brilhantes e valiosas para Tsume.

— Então Shino e você fazem planos de morar juntos...?

— Claro! — Kiba respondeu como se fosse óbvio — Não tão cedo, né? Ele precisa de pelo menos mais três anos para ter uma carreira como professor. E a gente não tem nem onde cair morto, enquanto ele se dedica a se tornar sensei, eu to pensando em pedir um emprego pra Hana e juntar uma grana. Eu queria mesmo é ser Hokage, mas já que não dá...

A última frase trouxe uma lembrança recorrente à Tsume. Um Ômega pequenino, de nariz escorrendo e olhos cheios de lágrimas que não transbordavam, mesmo que estivesse com os joelhos ralados ou os cotovelos esfolados. Porque um Hokage nunca chora.

— Hana vai adorar ter sua ajuda.

— Eu sei. Sou muito habilidoso em várias coisas. Ah, meu pai ofereceu uma vaga na equipe dele. Parece que precisam de Ômegas — Kiba suspirou — Mas não quero ficar viajando por aí, sem destino certo. Quero construir uma vida com o Shino aqui mesmo em Konoha.

A informação não surpreendeu Tsume. Ela sabia que seu filho e o pai mantinham uma relação até que boa. Logo depois que colocou o homem imprestável para fora de casa, ele entrou para um grupo itinerante que prestava serviços variados indo de vila em vila. Quando passavam ali no vilarejo, dava um jeito de encontrar com o filho. Eram ocasiões raras, mas aconteciam. Aquele espirito aventureiro contagiou Kiba o bastante para que o Ômega criasse gosto pela traquinagem, com uma alma livre. Embora não o suficiente para impedi-lo de fincar raízes sólidas no lugar em que nasceu e perceber a importância de ser constante em suas relações. Kiba era uma força da natureza, amava a liberdade e a própria independência, sem nunca fazer disso desculpas para ser leviano.

— Os biscoitos estão cheirando — Tsume comentou. A espera variava entre quinze e vinte minutos. Estava tão distraída naquela conversa e em suas ponderações que nem percebeu o tempo passar.

Kiba levantou-se e foi verificar.

— Caralho! Parecem ótimos! — ele exclamou pegando a forma com cuidado — Agora é só esperar esfriar! Obrigado, mamãe! Amanhã o professor vai tomar no... hum... amanhã eu tiro uma boa nota.

A mulher ergueu as sobrancelhas, pronta para a bronca. Algumas coisas jamais iriam mudar.

Nesse instante uma voz conhecida chamou na frente de casa. Era Aburame Shino, procurando por Kiba.

— Ah! — ele exclamou — Fiquei de ajudar Shino com o controle dos insetos. Ele é bom nisso, mas precisa melhorar o foco. E eu sou uma boa distração pra testar isso! — gracejou — Itekimasu!

Tsume observou o filho caçula sair da cozinha, sabendo bem o tipo de distração de que se falava ali.

— Ele pensa que eu nasci ontem — falou com certo mau-humor.

Por que os filhos acham que conseguem passar a perna nos pais? Enquanto Kiba ia com a farinha, ela voltava com os biscoitos prontos!

E por falar em biscoitos...

Tsume levantou-se e foi espiar o resultado final. Os cookies estavam com uma aparência boa, assados na medida certa. Finalmente Kiba acertou a mão! Mas nem deveria se surpreender, hum? Algumas pessoas amadurecem rápido, como Shino e seu ótimo desempenho na cozinha. O Alpha foi obrigado a aprender a se virar, tendo crescido sem a presença da mãe. Kiba, por outro lado, teve todo o apoio que a mãe e a irmã poderiam oferecer, sendo livre para fazer o que toda criança mais quer: brincar.

E mesmo alguém infantil como Kiba precisava amadurecer algum dia.

Sorrindo, pela pegou um dos biscoitos e soprou para esfriar um pouco. A mordida foi confiante e cheia de amor. E recebeu em troca um gosto tenebroso! Kiba conseguiu o milagre reverso de estragar o petisco ainda que seguisse a receita ao pé da letra!! Como? A resposta era um dos maiores mistérios da vida...

O cookie estava horrível. Mas... ao mesmo tempo... o coração de Tsume se aqueceu.

Ao mesmo tempo, de certo modo, ele também estava uma delícia.


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Notas finais do capítulo

Agora vou focar no desafio de Hanami!! Me aguardem ♥



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