Suddenly You escrita por Little Alice


Capítulo 1
I am feeling a little peculiar


Notas iniciais do capítulo

Oi, todo mundo! Como vocês estão? Eu espero que bem.

Antes de tudo, quero dizer que estou muito feliz com este mês, essa família merece mesmo muitas fanfics lindas ♥ É uma honra para mim ser uma das pessoas que abre a semana Victoire e espero que vocês gostem dessa história bem singela e despretensiosa, que honestamente não tem nada demais, mas foi escrita de coração. Ela é inspirada em As Patricinhas de Beverly Hills (ou Clueless, para quem preferir). Os dois primeiros capítulos, em especial. A partir de então, eu tomo certa liberdade para criar outras coisas no plot. Suddenly You é a fanfic que inaugura a minha fase “universo alternativo”, o que a torna um pouquinho especial para mim. Quem me conhece, sabe que eu tenho preferência por escrever no canonverse, mas estou querendo explorar novas coisas, então é isso rs.

Eu fiz alguns aesthetic dos personagens, se quiserem conferir:
Victoire: https://is.gd/j7vzrd
Ted: https://is.gd/z7yaqf

Este primeiro capítulo é inspirado e tem como música tema “What’s Up”, da banda 4 Non Blondes. Vocês podem ouvir pelo link: https://youtu.be/6NXnxTNIWkc

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800597/chapter/1


And I scream from the top of my lungs
What's going on?
[…]
I said, hey! What's going on?
(What’s Up ― 4 Non Blondes)

O primeiro sentimento que a atingiu foi a surpresa. Sem querer, Victoire dei­xou o pincel escorregar sobre a tela, borrando o mural que criava para a feira beneficente da escola e fazendo com que um pouco de tinta rosa respingasse em seu sapato Jimmy Choo. Praguejando, ela se endireitou na cadeira, colocou o pincel dentro de um copo d’água e olhou para sua prima Mabelle. Mabelle, que superara Justin O’Brian e agora pensava em convidar Ted Lupin para o baile. O seu Ted. O Ted de Victoire. Ela certamente não esperava por aquilo. Depois de uma semana tão difícil, que incluíam uma quase-desilusão amorosa e uma reprovação no teste de direção, Victoire acreditou que sua prima mais nova enfim lhe traria boas notícias. No início, pareceu que sim. Ela estava pronta para dizer adeus àquela caixinha onde reunira todas as coisas que a lembravam de Justin: uma fita com a música que dançaram na festa de Dionne Shacklebolt, uma fotografia que tiraram em grupo, o lenço que ele lhe emprestou para usar como torniquete no pulso e uma embalagem de balinhas Nerds. Victoire ainda se sentia culpada por aquilo, então ficou genuinamente feliz por Mabelle… até a prima contar que estava se interessando por outra pessoa.

Por Ted Lupin.

― Você o quê?! ― quis ter certeza de que escutara bem. Ela se abaixou para tentar limpar o sapato, antes que fosse tarde demais e perdesse um dos melhores garimpos que fizera em um brechó de Paris. Enquanto se dedicava àquela tarefa, a surpresa começou a dar lugar a um outro sentimento. Um sentimento tão estranho que sequer sabia como defini-lo. Ciúmes? Não, não podia ser ciúmes. Não fazia sentido. 

― Ted é um cara tão legal, não acha? Ele é diferente dos outros ― ouviu Mabelle dizer com o seu sotaque francês, toda sonhadora. ― Ontem mesmo ele me deixou ganhar no Pump It Up¹, depois que Dominique me venceu em todas as rodadas. Foi tão atencioso da parte dele. Ted não é como o babaca do Justin. Você estava certa sobre os caras da escola, eles não valem a pena.

― Não foi bem isso o que eu disse…

― Mas Ted é universitário ― a prima não se incomodou com a interrupção de Victoire. ― Ele é bonito, descolado, inteligente, gentil. Um cavalheiro de verdade. E acho que ele gosta de mim.

― Ah, você acha? ― Ela se ergueu novamente, sentindo-se desnorteada.

― Acho sim. Por qual outra razão ele seria tão legal comigo, se não gostasse de mim? Além disso, Ted vem aqui todos os dias, provavelmente para me ver. Talvez eu nem precise convidá-lo para o baile, afinal. Ele mesmo vai me convidar, tenho certeza disso.

“Ted é gentil com todo mundo”, Victoire poderia ter dito. “Ele tem uma alma maravilhosa e isso é tudo”. Porém, permaneceu calada. Ela piscou e sentiu a cabeça doer um pouco. Nunca considerou que o rapaz pudesse ter qualquer outra intenção com Mabelle além da amizade. Teria interpretado errado? Ted era mesmo um pouco difícil de ler e esse tipo de engano nem seria uma novidade. Nos últimos meses, Victoire cometera muitos erros de interpretação. Tudo começou um pouco antes das férias de verão, quando participou de um concurso de arte em Londres. Ela fora representando sua escola em Hogsmeade. Foi ali, entre galerias, pinturas e sonhos juvenis, que Victoire viu seu mundo desabar. Aquela foi a primeira vez que experimentou a sensação de fracasso. Sua técnica era perfeita, sabia disso. Dedicou boa parte da sua vida tentando aprimorá-la, na escola, em cursos particulares, com práticas diárias. Ainda assim, não ganhou. Não ficou nem entre os dez primeiros colocados.

― Sua técnica é mesmo excelente ― comentou um dos jurados quando Victoire o questionou ―, não posso negar isso. Mas arte não é sobre perfeição, Srta. Weasley. Não hoje em dia, ao menos. Eu sinto que falta algo em seu trabalho... Falta sensibilidade, uma história por trás. É como se você estivesse no mundo, mas não pudesse vê-lo ou senti-lo realmente.

Em outras palavras, suas pinturas não transmitiam qualquer sentimento. Ela era uma artista sem sensibilidade. Logo, também não poderia ser considerada uma artista de verdade. Uma artista, via de regra, precisava ser sensível. Ela sempre fora a melhor estudante de artes em sua escola, porém, o que isso realmente significava? Victoire percebia agora, era fácil ser a melhor em uma escola pequena de uma cidade pequena. Mas a melhor de um país? De um continente? Se não podia vencer um concurso como aquele, como então entraria para a Universidade de Beauxbatons, que tinha uma das faculdades de Belas Artes mais bem-conceituadas ― e concorridas ― de toda a Europa? A faculdade dos sonhos de Victoire, a mesma onde sua mãe estudou arquitetura.

― Mas você ainda é jovem, vai descobrir o seu caminho na arte ― sorriu-lhe o jurado ―, tenho certeza que irá. Talvez só precise viver um pouco mais. Essa é a minha dica para você ou para qualquer outro aspirante a artista: viver.

Ela concordou. O que mais poderia fazer? Quando colocou suas telas fracassadas no banco traseiro do carro e entrou no fusquinha azul-bebê de Ted, Victoire sentia como se tivesse sido esvaziada de todas as suas certezas. Frustrada consigo mesma, ela ligou o rádio e começou a tocar What’s Up, do 4 Non Blondes. A garota entendeu aquilo como um sinal. Não tinha vinte e cinco anos, apenas dezessete recém-completados, mas de repente parecia que sua vida permaneceria para sempre no mesmo lugar. Ela não teria qualquer destino que não fosse aquele. Victoire precisava de uma revolução. Uma revolução que se refletiria em seu próprio trabalho.

― Ted, você acha que eu sou insensível? Que não consigo enxergar as coisas e as pessoas ao meu redor? ― perguntou com um suspiro.

― Isso é por causa do concurso? ― Ele a espiou pelo canto dos olhos, mantendo as mãos firmes no volante. Como Victoire apenas deu de ombros, Ted decidiu responder: ― Bom, às vezes. Você é um pouquinho autocentrada demais, é difícil fazê-la sair do mundinho Victoire Weasley.

― O que isso significa? Que sou egocêntrica e só enxergo o meu próprio umbigo? Seja honesto.

― Hum, é. Às vezes. ― Ted se atrapalhou com as palavras. ― Mas não sempre. Só às vezes. De todo modo, quem não é? Você não está chateada comigo, está?

Victoire balançou a cabeça. Não podia ficar chateada com Ted, não quando ele passou as últimas sete horas ao seu lado, apoiando-a de forma incondicional. O amigo a levou até Londres naquela manhã de quarta-feira, matou aula por ela. Os testes finais estavam chegando e era importante que ele tirasse boas notas, se quisesse entrar no curso de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Hogwarts. Ted vivia se doando e ajudando as pessoas. Talvez devesse ser um pouco mais como ele. Naquele momento, Victoire tomou uma decisão muito importante: tentaria ser menos egoísta. Tentaria enxergar as pessoas. O mundo. Passaria menos tempo pensando nas suas notas, nas suas ambições acadêmicas, na sua imagem impecável, nas promoções e liquidações do Beco Diagonal e olharia para o universo a sua volta. Foi aí, deu-se conta, que tudo começou a desandar de fato. À princípio, até pareceu promissor, até pareceu que realmente levava jeito para aquilo, embora nunca tivesse tentado.

Ela soube perceber como o professor Longbottom e a enfermeira Abbott pareciam sozinhos e como poderiam formar um bom casal. Soube disso vendo-os no refeitório da escola, em mesas opostas. Eram dois corações solitários, à procura de algo, e Victoire teve uma ideia. Só precisou mexer alguns pauzinhos para que algo tão abstrato, muito mais semelhante a um desejo, se tornasse realidade. Ajudou a Srta. Abbott a melhorar o próprio visual, sugeriu um corte diferente e na moda, uma maneira diferente de usar as blusas, por dentro da saia e não por fora. Elogiou o professor Longbottom, cuja autoconfiança não era das melhores, comentou que ele ficaria muito mais bonito sem aquele bigode tão anos setenta e insinuou que a Srta. Abbott parecia especialmente interessada nele. Deixou recadinhos e flores nas portas de suas salas. No fim, eles começaram a namorar. Aquilo lhe rendeu uma boa tela. Talvez a sua melhor. Os pintou como no início, sentados distantes um do outro, apenas desejando serem notados, por quem quer que fosse, mas os pintou em um café. Um café soava muito mais romântico que um refeitório de escola.

Victoire pensou ter descoberto um novo talento: unir pessoas. Tivera sucesso também com Dionne Shacklebolt e Colin Hopkirk. Dionne era sua melhor amiga desde o segundo colegial e, com toda certeza, ela parecia pior sem Colin do que com Colin, o seu ex. Nunca a vira daquele jeito: deprimida, cabisbaixa, repetindo roupas e sem vontade de ir ao Shopping ou à Zonko’s, o fliperama da cidade. Ela nem sequer surtou quando as Spice Girls anunciaram um novo álbum e uma nova turnê. Tudo o que Victoire precisou fazer, para resolver aquela situação, foi deixar um bilhetinho com um pedido de desculpas no armário de cada um, já que ambos eram orgulhosos demais. No mesmo dia, os viu no estacionamento da escola, sentados no capô do opala vermelho de Colin, conversando com muita seriedade. E no dia seguinte, estavam juntos novamente. Aquilo também lhe rendeu uma boa tela. Victoire pintou a cena do estacionamento e nada parecia mais certo, mais honesto e mais vívido. Portanto, não achou que as coisas algum dia pudessem fugir do seu controle. Foram dois casos bem-sucedidos. Duas telas maravilhosas. Mas fugiram.

Em sua defesa, Victoire só queria ajudar Mabelle. Ela tinha um carinho enorme pela prima, desde a primeira vez em que a viu, tantos anos atrás. Mabelle era filha adotiva de tia Gabrielle e tia Martha e Victoire estava de férias em Paris, com os seus pais e sua irmã mais nova, quando as tias a trouxeram do abrigo para sua nova casa, para sua festinha de boas-vindas à família Delacour. Foi encantador ver aquela menininha de dez anos, olhos e cabelos bem castanhos, entrar em suas vidas. Victoire sempre fora a mais velha da família Weasley, nunca tivera alguém de sua idade, exceto Ted, mas agora tinha Mabelle, pelo lado da família Delacour. Mesmo morando em países diferentes, nunca deixaram de manter contato uma com a outra. Interurbanos, cartas cheias de glitter e com cheirinho de morango e postais dos lugares que conheciam. Quando sua mãe contou que a prima passaria aquele ano com eles, em um intercâmbio para melhorar o seu inglês, Victoire não poderia ter ficado mais feliz. Imediatamente, se sentiu um pouco responsável por Mabelle e quis ajudá-la em sua adaptação. Deu um banho de loja na prima, como Dionne e ela costumavam chamar, apresentou-a às pessoas legais da escola e a afastou do pirado do Greg Fletcher.

No entanto, Victoire cometeu um erro gravíssimo no percurso. Ted a avisou sobre aquilo, sobre não ser exatamente sensato brincar com a vida das pessoas. É claro, Victoire não enxergava as coisas por aquele ângulo e acreditou de verdade que Justin O’Brian estava interessado em Mabelle. Viu sinais que não existiam. Pior, ela incentivou aquela loucura, até a própria Mabelle se sentir esperançosa. No fim, Justin não estava interessado em Mabelle. Estava interessado em Victoire. E agora, ali estavam elas, diante daquilo que lhe parecia outro erro e se tornaria um erro maior ainda, porque Victoire não conseguiu se segurar:

― Você e Ted não combinam.

― Como é? ― Mabelle piscou, seu sorriso se desfazendo.

― Vocês não têm nada a ver um com o outro ― explicou, bastante ciente de que estava sendo maldosa e nem sabia o porquê agia assim. Ela não era daquele jeito. ― Isso nunca daria certo, Mabelle.

― Por quê?

― Porque eu conheço o Edward. Você não é o tipo dele. ― Aquilo era uma mentira. Victoire não sabia qual era o tipo de Ted. Mas de repente… de repente não queria que nenhuma garota fizesse o tipo dele. Exceto… ela não quis pensar naquele “exceto”.

― E o que você sabe sobre isso? ― bradou Mabelle, brava. ― Você nunca namorou, não sabe nada sobre essas coisas. Você é só uma virgem patética que não entende nada de amor. Vous êtes une personne très ignorante!

 Aquilo havia machucado. Mabelle compreendeu isso e uma sombra de arrependimento passou por seus olhos, mas não se desculpou. Ela lhe deu as costas e saiu correndo do estúdio improvisado, que ficava no porão do Chalé das Conchas. Victoire olhou para o seu mural inacabado, borrado de tinta e imperfeito. Sua vida um dia lhe pareceu esplêndida, mas agora se parecia muito mais com aquele mural estúpido. Um novo sentimento tomou conta do seu coração. Algo semelhante a tristeza. No fim, Mabelle estava certa. Victoire não sabia nada sobre o amor. Sobre a vida. Sobre as pessoas. Sobre si mesma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹Jogo de fliperama de dança.

E aí, o que vocês acharam? Me digam nos comentários. Não fiquem com muita raiva da Mabelle, lembrem-se que ela é o equivalente a Tai do filme, e a Tai não é uma má pessoa. E aqui, vivemos numa realidade em que Victoire foi a responsável por juntar Neville e Hannah, um casalzinho formado já na meia-idade rs. Aqui, Fleur e Gabrielle também não tem uma diferença de idade muito grande, ok? Talvez uns cinco ou seis anos. Assim, é possível Victoire e Mabelle serem primas e terem a mesma idade (além do fato de que Mabelle foi adotada já grandinha). Um adento não muito importante, eu amo a música desse capítulo, é basicamente a música da minha vida, o que é algo bem ruim de se dizer, mas é isso. Todas as canções desta fanfic serão dos anos 90, afinal, esta é uma fic que se passa nos anos 90, e tive que usar todo o meu arsenal de conhecimentos da época para fazer isso acontecer HAHA. Aliás, espero que vocês tenham conseguido captar por todas as referências que essa história se passa nos anos 90.

Beijos e até a próxima :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Suddenly You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.