Toujour Delacour escrita por Maga Clari


Capítulo 5
Aristochats


Notas iniciais do capítulo

Salut, mes amies! Conhecem o filme "Aristogatas"? Achei bem fofinho pensar em Victoire dessa maneira. E vocês?
Bisous et à bientôt!



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Confesso ter tido um pouco de medo do que aconteceria ao contar o meu segredo para as crianças. Como reagiriam? Teriam vergonha? Deixariam de me idolatrar? Me veriam, de repente, como fraco, covarde, mocinho indefeso, um pobre coitado?

― Que medinho bobo! ― Fleur riu, aquele riso perfeito, que tanto amo. Estávamos ao redor de uma fogueira, no lado de fora de casa, na véspera do Thanksgiving daquele mesmo ano ― As crianças só estão ocupadas com a escola, por isso não escrevem como antes.

― Eu sentia algo parecido em relação aos meus pais ― confessei, pela primeira vez em toda a minha vida ― Ruivos, vestes de segunda-mão, traidores de sangue… Weasley’s. Uma maldição no meu ouvido por quase uma década, Fleur. Adolescentes podem ser cruéis…

― Acha mesmo que teriam vergonha de você?

― Eu teria.

― Bill!

Não consegui permanecer quieto em meu lugar. Acho que já comentei sobre as ondas em tempestades. É mais ou menos isso que ocorre em minha personalidade forte, como diria Dona Molly Weasley.

Fleur já estava habituada, e sabia direitinho quando brigar comigo e quando simplesmente ir atrás de mim, colocar os braços ao redor do meu tronco, um carinho silencioso que acalmava através de seu delicioso aroma de flores do campo.

― As crianças o amam, Bill.

― Tem certeza? ― perguntei, pois era meu pior pesadelo no momento.

― É claro que sim ― ela respondeu, e quase como uma confirmação, escutamos o ruído bruto de quem acaba de viajar pela rede flu. Fleur abriu os olhos e seu rosto se iluminou. Uma alegria travessa de quem esconde segredos ― Olha só, parece que temos visitas!

E aí ela correu, seus fios dourados flutuando em suas costas, à medida que tomava a direção do Chalé, para encontrar nossos filhos, sujos de fuligem. 

Não consegui reprimir a surpresa estampada em minhas feições.

― Era pra ser uma surpresa ― Fleur declarou, seu olhar travesso, fazendo-me recordar os velhos e bons tempos de adolescente.

Nem tive tempo para dizer qualquer coisa ao perceber que as minhas três crianças já haviam tomado a casa, falando alto, correndo, bagunçando tudo. A barriga de Louis roncava feito um leão, Dominique já se preparava para me trocar pelo Oceano (dessa vez, colocando protetor), então foi justamente Victoire quem se lembrou do real motivo da visita:

― Pensei que fosse morrer de tanta saudade, papai ― disse ela, encontrando um espaço no sofá cheio de mochilas e apontando para o lugar vago perto de si ― Que foi? Vai recusar um pedido de sua princesinha?

E eu ri, porque ela aprendeu com a mãe a fazer aquela carinha capaz de me fazer viajar até o fim só para deixá-la feliz. Oh, ma petite victoire!

― Senti falta disso também ― confessou, outra vez, quando a puxei para aninhar-se em meus braços. 

Fleur percebeu que era um momento de pai e filha, então ocupou-se com Louis e sua tagarelice que parecia não ter fim. Já Victoire era o extremo oposto. Educada, polida, uma pequena aristocrata desde que proferiu as primeiras palavras. Como se a herança francesa pudesse transbordar-se em suas próprias etiquetas. 

Mas acontece que Victoire ainda é, e sempre será, minha menininha. Por isso, sempre que possível, permito que seu lado manhoso floresça, que deite em meus ombros, que me deixe protegê-la de todas as maldades, porque eu sei que há muita maldade em nosso mundo. Observei-a, então, brincar com meu colar de conchas. Ela parecia compenetrada, analisando cada pingente como se observasse a jóia mais preciosa do mundo.

― Vamos catar conchinhas, papai.

― Não está meio velha pra isso? 

― Nunca!

Antes que eu perceba, estamos os dois correndo pela costa pedregosa, segurando cestinhas coloridas, as mesmas que costumávamos levar em nossos primeiros anos no Chalé. Victoire assume a tagarelice de Louis, e a cada cinco minutos inicia um novo assunto, como se para impedir que o silêncio entre nós ocorra. Ela fala sobre Hogwarts, sobre as amigas, sobre Teddy, sobre os primos, sobre seus planos para o futuro. Eu assisto aqui e ali, apenas bobo em observá-la narrar todas as novidades. De repente, seus olhos azuis cruzam a direção da maré baixa, que havia acabado de trazer-nos um presente. O mais bonito que já teria aparecido até então.

Lembro-me como se fosse ontem ao segurar a pequena concha suja de areia. Suja não. Mergulhada. Pois não importa quanto tempo passe, ela sempre terá a memória de que um dia havia-se unido àquela confusão de corpos estranhos, produzindo o mais belo resultado de amor entre duas espécies diferentes. No caso da concha em questão, me refiro às pérolas. Mas não é sobre pérolas que tenho falado esse tempo todo. Você já deve ter percebido.

― Você podia levar pra mamãe ― declarou minha aristochat.

― É. Também achei a cara dela.


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