Sweet Music escrita por Yumiko


Capítulo 1
She's not afraid


Notas iniciais do capítulo

RELOU!! Bom, gente, é o primeiro capítulo da minha nova fic. Foi feito com muito carinho e eu espero que gostem! A opinião de vcs é sempre muito bem-vinda para que a história evolua e também pq eu sou curiosa e gostaria de saber o q estão achando :3

Divirtam-se e beijinhos da Yumiko!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800544/chapter/1

TRIIIIIIIM!!! O som estridente do velho despertador  acessava meus tímpanos e chacoalhava minha cabeça que pesava, como se não houvesse descansado o suficiente.

Meti a mão no aparelhinho barulhento, mas este já estava tão velho que o botão de desligar havia perdido a sensibilidade; o som agudo persistia.

— Aaah. Droga! - Esbravejei.

Fechei minha mão em volta da pequena caixinha, pronta para jogá-lo na parede, quando uma figura pequena de cabelos espessos entrou no meu quarto.

— O que está fazendo, irmãzona?

— Oi, Chelsea.

Não sei se quebrar as coisas quando está com raiva era um bom exemplo pra minha irmã caçula, acabei por largar ele na cama.

Olhei pela janela, o sol estava estranhamente claro para aquele horário da manhã. "Já é quase verão" pensei em justificativa. 

— Na verdade nada. Tenho que me arrumar pra sair. Quero chegar cedo.- Pulei da cama e fui em direção ao guarda-roupas em busca do uniforme.

— Você ia jogar o despertador na parede...

— Claro que não, Chelsea! Acha que eu destruiria a casa pra me acalmar?

Ela claramente achava que sim.

— Tudo bem. Eu também quis jogar ele na parede ontem, quando mexi nele.

Minha cabeça se virou para ela instantaneamente.

— Você o que? - Minha cabeça associou instantaneamente a revelação de minha irmã com o brilho excessivo da janela.

— Mexi nele. Queria fazer ele funcionar melhor, sabe? Já está tão velhinho... - ela suspirou. - Não deu muito certo.

— Chelsea, que horas são?

— 7:15. Por quê?

— 7:15?! Oh, não! A reunião dos representantes! - Exasperei.- Por que não me chamou?

Puxei o jeans e uma blusa aleatória. Pulando para que a calça entrasse. Vesti a blusa depressa e olhei debaixo da cama, procurando pelos calçados.

— Irmãzona.

Eu a ignorei, enfiando de qualquer jeito meus materiais na mochila surrada. Corri para o banheiro com a escova de dentes.

— Irmãzona.

— Que foi, Chelsea?! - 

— Sua roupa. - Ela apontou para o conjunto escolar pendurado ao lado do espelho. - Você usa uniforme.

Grunhi com impaciência, me despindo e me vestindo novamente, na velocidade de um raio. Coloquei a mochila no ombro, desci as escadas  e disparei porta afora.

— Vá com cuidado! - Ouvi minha irmã se despedir, a voz cada vez mais baixa enquanto eu corria.

 

Eu já estava ensopada de suor quando avistei os altos portões do colégio, semiabertos devido ao horário. A maioria dos alunos chegava uns 20 minutos mais tarde. 

Entrei depressa.

— Está doente, menina? Nunca te vi chegar esse horário. - Disse o velho porteiro ao me ver.

— Tive um pequeno contratempo, sr. Stewart. Preciso correr. Até mais tarde! 

Correndo pelos corredores, eu me perguntava se os funcionários de uma escola realmente caíam nessa de que atrasamos por algo sério quando na verdade só estávamos  ignorando o despertador

— "Um contratempo." - Murmurei, rindo, enquanto reformulava a resposta dada ao senhor Stewart. - Estava aproveitando meu tempo com coisa mais interessante como babar no meu travesseiro enquanto os outros representantes se matavam de tédio na reunião.

— Então é isso que pensa das reuniões, Pearson? Olhei para cima... BEM para cima para olhar nos olhos do garoto absurdamente alto e, a menos de um metro de distância bloqueando a passagem da sala onde eu devia estar 30 minutos atrás estava Dajan, o representante-chefe.

A expressão não era de muitos amigos.

O chão poderia rachar entre nós dois para que eu pulasse naquele momento. Minha situação estaria melhor.

— Dajan! - Fingi naturalidade com um sorriso forçado, consciente que meu aspecto maltrapilho não melhorava muito minha situação. - Olha, mil perdões pelo atraso. Eu estava...

— Eu sei o que você estava fazendo.

— Ah... Sabe?

Da série: oportunidades valiosíssimas que perdemos de ficar em silêncio.  

— Coisa mais interessante.

— Ah... Não! Não, não! - Neguei em sobressalto quando notei que ele retomara minha fala. - Nada disso! Claro que não!

— Babando no seu travesseiro. - Ele continuou. Seu tom era de desprezo.

— Dajan, desculpe se eu me expressei mal e...

— Vai entrar na reunião ou ainda tem coisa mais divertida pra fazer? - sua voz era fria.

— Vou. Claro! - Afirmei. - Mas... Vocês não começaram ainda?

— Nenhuma decisão pode ser tomada se não for consenso entre todos os representantes. Por isso é tão importante que todos estejam presentes na hora marcada. Pois ser representante envolve responsabilidades e...

Minha cabeça se perdeu em pensamentos enquanto ele me humilhava. Olhei para a mesa.

Dajan e os outros representantes nunca gostaram de mim, é fato. E após um ano como bolsista em um dos colégios mais caros do país eu entendia o porquê.

A verdade é que pais como os dos meus colegas colocavam seus filhos nesse tipo de escola para conviverem com gente importante, e não com alguém que precisava trabalhar meio período pra fechar as contas.

Mas parece que não há desprezo ou ódio que não possam aumentar quando você abre espaço pra isso. E no momento eu estava sendo claramente odiada.

Sentei-me no canto enquanto o representante-chefe falava animadamente sobre os planos para o Festival de Verão, o maior evento estudantil do colégio Reardon em que os portões se abriam para que aqueles jovens ricos e inteligentes fossem admirados pelos demais. 

Devido ao atraso, decidi não fazer intervenções e, ao término da reunião, fui para a sala onde seria minha primeira aula. 

Coloquei minha mochila no meio da primeira fileira, obstinada em prestar mais atenção que de costume. O que gerou estranhamento em minha única amiga naquele lugar.

Foi o prazo de eu me acomodar na cadeira para que a pequena garota de cabelos curtos brotasse ao meu lado.

— O que está fazendo?

— Esperando a aula começar?

— Tá, mas por que aí?

— Preciso melhorar minhas notas se quiser manter a bolsa. - Respondi, olhando pelo reflexo da janela o cabelo bagunçado pela correria. - Porque se eu for depender do relatório do Dajan...

— Que se dane o Dajan! - Ela tomou o elástico das minhas mãos e começou a arrumar meus cabelos. - Sua menor nota desde que chegou foi 9,5. Vaaamos! Preciso decidir com que roupa eu vou!

— Pra onde? Aula de educação física?! - Questionei, preocupada pois não havia lembrado de trazer roupa.

— Não, Holly! E pare de mexer a cabeça! - Ela me deu um tapa na testa. -  Roupa para o show dessa noite.

— Show? Que show? - questionei, intrigada. 

— Terra para Holly! Só o show da banda mais popular da atualidade!

— Han?

— ONEFUSION! EU CONSEGUI!

Ela falou tão alto que as outras garotas na sala, que cochichavam entre si, viraram sua atenção para nós.

Em pouco tempo, todas elas estavam cercando minha carteira. Como se Bia fosse algum tipo de xamã que merecia ser adorada. 

— Você conseguiu?! - perguntou uma menina loira.

— Impossível! Os ingressos esgotaram em menos de duas horas! - disse a outra, desacreditada.

— Meu pai é dono do hotel em que eles estão. O agente nos deu o ingresso pessoalmente, como cortesia! - Respondeu Bia, com o peito inflado de orgulho.

— Seu pai é dono do Hotel Savoy? - Nossa! Que sorte!

Pra minha sorte, o professor Boris acabava de entrar na sala, o que fez as meninas voltarem aos seus lugares e Bia desistir de me puxar pro fundo.

Respirei aliviada, rindo sozinha de como a popularidade de Bia havia aumentado em segundos com a simples menção de uma banda.

**

Ao fim da última aula, tentei fugir da minha amiga insistente ao me dirigir a passos largos até meu armário.

Tentativa inútil.

— Onde você está indo com tanta pressa, ein?

— Bia, eu preciso correr para o meu trabalho. Vou precisar sair mais cedo hoje.

Destranquei o armário, retirando de lá uma blusa de moletom preta com capuz e os óculos escuros que para mais tarde.

Tive sorte de Bia não ter notado. Ela estava tão empolgada que não notara os trajes estranhos que eu colocara dentro da mochila.

— É perto, vou te acompanhar até lá!

Assenti, sem escapatória.

— Então, como eu estava dizendo antes daquelas enxeridas chegarem, eu consegui ingresso pro show dos rapazes!

Óbvio que eu já imaginava que eles hospedariam no melhor hotel da cidade antes mesmo de papai dizer, mas daí a me darem um ingresso... - Ela riu consigo mesma. - Isso não. Nunquinha! Nem nos meus sonhos mais doidos.

Silêncio. Entendi depois que ela aguardava a réplica.

— Ah, sim. Que legal, Bia!

— Legal? É incrivel! Metade das garotas desse país queriam estar na minha pele agora! - Ela frisou, em êxtase. - Vou vê-los cara a cara, e o melhor: em frente ao palco. Vai dar pra sentir o suor.

Estremeci, com um pouco de nojo da fala da minha amiga.

— É realmente um privilégio...

— E você tem que vir comigo. Vamos ficar a tarde na porta do hotel pra ver se eles aparecem na sacada. Eu poderia procura-los lá dentro mas papai me proibiu de entrar até que eles fossem embora... - Ela resmungou, fazendo biquinho - Enfim, à noite vamos no shopping, você me ajuda a escolher a roupa e a fazer uns cartazes e meu motorista te deixa em casa, que tal? - Seus olhos brilhavam. 

Havíamos acabado de chegar na loja. Empurrei a porta de vidro, com Bia ainda em meus calcanhares.

— Bia, não posso. Tenho muito trabalho aqui na confeitaria.

— E como tem.

Jade, gerente e, consequentemente, meu chefe, esperava do outro lado da bancada, com o meu avental em uma das mãos. Passei por baixo da bancada e Bia se inclinava a fazer o mesmo, até que Jade a conteve com a mão e apontou para a placa fixa na parede escrita a tinta, com letras garrafais "APENAS FUNCIONÁRIOS".

— Preciso ir! - eu disse, me despedindo.

— Não! Isso é tão injusto! O que farei sem você?

— Vai fazer os meninos do Onefusion se apaixonarem por você. - Murmurei docemente.

— Naaao! Holly! - Ela batia o pé. - Estou falando sério!

— Os quatro, de uma só vez! - Sorri para ela, enquanto amarrava o avental. - Eles não são bobos de não te notarem.

— Ma-mas. É minha chance! O que vou fazer?

— Coloca alguma roupa verde. Realça a cor dos seus olhos.

— Só isso não vai chamar a atenção deles... - Bia choramingou. 

— Faz com letras amarelo mostarda.

— Han? Mas que diferença isso faz?

— Amarelo dá sorte? - Tentei, dando de ombros.

— Bom, agora chega. - Encerrou Jade, já me empurrando pra cozinha. - Tchau , Beatrice!

Já longe dela, na cozinha, ele soltou um suspiro.

— Vou começar a proibir sua amiga de entrar na loja.

Eu ri em resposta.

Senti meu telefone vibrar, o que me fez puxá-lo do bolso da calça.

Havia acabado de receber uma mensagem.

LAD: Consegue ficar pronta em 20 minutos?

"Pode ser 30?" Enviei.

LAD: Esteja pronta em 25 minutos.

Observei a resposta, apreensiva.

— Jade... - Falei baixinho, já preparando meu olhar pidão. Ele rapidamente notou do que se tratava. 

— Não. - Ele foi enfático, balançando a cabeça.

— Por favor!

— Holly, eu não vou pegar seu turno de novo.

— Eu já fiz as massas ontem! Você só vai precisar colocá-las no forno.- Argumentei.  - Vamos, Jade! Não custa nada...

Ele negava com a cabeça.

— Eu pego dois turnos seus. 

Consegui despertar seu interesse, mas sabia que ainda não iria ceder.

— No final de semana. - Apelei.

— Prossiga.

— Também farei cupcakes de baunilha na terça.

— Com gotas de chocolate na massa?

— Com massa nas gotas de chocolate, você quis dizer. - corrigi, sabendo que o jogo estava ganho.

— Feito! Entreguei meu avental na mão dele, sorrindo.

— Não vai se arrepender!

— Espero que não.

 

Eu já estava indo embora quando me veio a mente. Um frio percorreu a espinha: eu quase esqueci o mais importante. O motivo pelo qual eu havia ido até lá e não mandado uma mensagem de texto simplesmente...

— Jade, você sabe onde está uma caixa vermelha que eu tinha deixado em cima da mesa ontem? Aquela que eu disse que era uma encomenda importante? - perguntei, apreensiva.

— Sei, sim.- meu chefe respondeu.- No lixo. Joguei fora.

Eu empalideci. Senti uma gota de suor frio escorrer da minha testa. 

— Uou! Parece que viu um fantasma, ein? - Ele riu. - Deixei sua caixa preciosa no armário.

Suspirando de alívio, resgatei-a rapidamente, coloquei a caixa debaixo do braço e saí da loja.

Enquanto caminhava discretamente até o ponto de encontro de sempre, eu vestia o moletom escuro, de forma que apenas uma parte extremamente necessária do meu rosto ficasse a mostra.

O silêncio da rua deserta foi interrompido pelo meu estômago barulhento, que não havia recebido comida desde o jantar do dia anterior. 

Ao avistar o carro de longe na rua vazia, coloquei os óculos escuros e apertei o passo, apesar de saber que a chance de nos flagrarem naquela parte morta da cidade era mínima.

Abri a porta bruscamente e joguei meu corpo no banco traseiro.

— Vidros. - Murmurou simplesmente o motorista.

Entendi o recado e subi os vidros. - Pronto.

— Tem certeza que ninguém te seguiu? - Seus olhos heterocromáticos fixavam-se em mim pelo retrovisor, com desconfiança. 

— Absoluta. - O tranquilizei.

O carro começou a ganhar velocidade.

Com a certeza de que ninguém poderia me ver por aquele vidro escuro, tirei os óculos e afrouxei um pouco o capuz. Precisava de ar.

Olhei para frente. Lysandre parecia não querer tirar o disfarce. Pois continuava com o chapéu escondendo os cabelos cor de giz  e os óculos escuros, mas não me importei. Eu o conhecia. Sabia que ele é daqueles que acreditam que o seguro morreu de velho.

— Lanche. - ele anunciou, depositando no banco de trás o saco de papel com  o desenho de um "M" dourado.

Meus olhos brilharam. Em poucos minutos eu estava devorando o cheeseburguer como se não houvesse amanhã, em meio a caretas de satisfação de finalmente estar comendo.

— Você lê pensamentos! Obrigada. - Tentei falar, de boca cheia.

— Imaginei que precisaria...

— Ah, é?- Perguntei, tomando um gole de refrigerante.

— Eles me alertaram que você para de mandar emojis quando está com fome.

Ri, agradecendo-os mentalmente por terem notado esse ato inconsciente.

Chegando mais perto do meu local de destino, avistei de longe a multidão olhando para um ponto fixo e, muito provavelmente, eles não dariam a menor importância para o carro que entrava na garagem. De qualquer forma não era válido arriscar, então me encolhi no banco de couro a medida que nos aproximávamos.

Lysandre entrava no estacionamento, contornando a fileira de carros para me deixar na porta do elevador de serviço.

— Já posso me levantar? - Sussurrei, colocando os óculos novamente.

— Eu lhe imploro que sim. - Ele respondeu, parando o carro. - Eles estão insuportáveis solicitando sua presença. Te alcanço daqui a pouco. É no 11° andar. Quarto 1104

— Valeu, Lys. - Agradeci, saindo do carro.

No elevador, eu tamborilava os dedos na importante encomenda. Nas primeiras vezes, me tranquilizavam dizendo que depois de muito tempo fazendo isso eu me acostumaria.

Ainda não havia acontecido.

Não sei como alguém se acostuma a se esgueirar pelas ruas, a fazer o máximo pra andar sem ser vista. Eu entendia a necessidade, mas detestava. Detestava andar por aí como uma criminosa e ter cuidado para que ninguém estivesse olhando para mim em um momento completamente inconveniente, como esse de agora.

Mas entendia era um sacrifício que eu tinha que fazer, em nome do passado e das pessoas que eu amava.

As portas de metal se abriram e o coração voltou a disparar.

Ninguém nos corredores.

De qualquer forma, por precaução, andei sorrateiramente até a porta que indicava ser a do quarto e girei a maçaneta dourada.

As luzes estavam apagadas. Eu só conseguia ver uma mesa de centro um pouco distante de mim devido a luz vinda do corredor.

— Eu trouxe o que vocês me pediram. - Falei, a voz trêmula.

Depositei, então, a encomenda na mesinha de centro. O silêncio ensurdecedor fazia meu coração bater mais rápido até que uma mão segurou meu ombro com firmeza.

Fiquei paralisada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, pessoal? Algum palpite sobre quem pode ser?? O que será que nossa Holly está aprontando, ein? O capítulo 2 já está pronto e sexta eu já libero ele pra vocês! Beijinhos e boa semana!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sweet Music" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.