Perséfone estava cansada. Cansada de sua mãe ficar enchendo a cabeça dela com aquele monte de baboseira, querendo controlar cada passo de sua vida. Bufou alto enquanto caminhava pela calçada.

Já não era mais uma menina, era uma mulher formada e muito bem capaz de tomar suas próprias decisões. E ela, definitivamente, não queria se casar com Apolo (o pretendente que sua mãe arranjou para ela). Em pleno século XXI e Deméter querendo fazer um casamento arranjado! Aquilo foi a gota d’água.

Por isso que Perséfone não pensou duas vezes ao sair pela porta de casa e caminhar sem rumo querendo despistar sua mãe. Bem que seu pai poderia fazer algo, mas ele abstinha-se de tudo que a envolvesse, Hera não gostaria de vê-lo dando atenção a uma filha fora do casamento.

Honestamente, Perséfone queria liberdade. Amava sua mãe, mas tudo tem limite.

Estava tão perdida em pensamentos que nem reparou quando passou pelas portas de um café. Estava tarde e ele estava prestes a fechar. Sentiu-se culpada, mas não tinha o que fazer. Talvez um chocolate acalmasse seus nervos.

— Um chocolate por favor — pediu enquanto separava o dinheiro.

O atendente se demorou um pouco, parecia perdido e Perséfone não entendeu. Já Hades não conseguia ouvir mais nada. Sua atenção estava completamente dedicada à ruiva de olhos verdes a sua frente. Nunca havia visto mulher tão bonita na face da Terra.

Depois de muita insistência de Perséfone, o atendente pareceu voltar àquele planeta e foi preparar seu pedido.

Sentou-se em uma mesa no canto, encostada na janela e soltou os cabelos, passando as mãos no rosto tentando entender toda a loucura da situação que acabara de passar. Nem em mil anos que se casaria com Apolo. Sua mãe não sabia, mas ele já tinha dormido com metade da faculdade, além de ser completamente irritante e arrogante.

—Seu pedido, senhorita. — o atendente lhe trouxe seu chocolate e ela não pode deixar de reparar na tatuagem de rosas negras que subiam pelo seu antebraço e se escondiam debaixo da camisa preta.

— Gostei da tatuagem. — ela lhe disse, sorrindo.

— Muito obrigada. — ele sorriu — é uma boa lembrança.

Ela levantou os olhos para analisar o rosto dele e se perdeu completamente. Olhos e cabelos negros, pele pálida e um sorriso encantador. Percebeu que em seu pescoço tinham outras tatuagens que não conseguiu distinguir por causa do colarinho da camisa. Esta que ela adoraria tirar. Suspirou sem perceber.

— O que faz aqui sozinha, senhorita? — Hades perguntou e antes que soasse estranho, completou. — Digo, parece estressada.

— As vezes é difícil lidar com minha família. Ainda mais quando parece que eles acham que não sei andar com minhas próprias pernas. — deu um gole no chocolate.

— Entendo esse sentimento. Esse anseio por liberdade. — Hades sentou-se na cadeira a sua frente.

—É sobre isso? Sua tatuagem? — perguntou, não se aguentando de curiosidade.

Hades pode ver um brilho em seus olhos verdes e não pode deixar de sorrir.

— A do antebraço não. Mas a da costela sim. — disse, com malícia na voz.

Perséfone já estava completamente fora de si. Mal se reconheceu quando ouviu as palavras saírem de sua boca.

— Você se importaria em me mostrar?

O sorriso que surgiu nos lábios de Hades foi tão conquistador quanto o de Perséfone.

A noite dela terminou bem melhor do que quando começou.