Blue Days escrita por Lady Íris


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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  Megumi estava encolhido no meio da cama, ainda de pijama, fitando, inexpressivo a parede oposta. Havia um pote de caramelos aberto no chão que estava parcialmente revestido pelas embalagens cintilantes do doce.

    Gojo respirou fundo, fechando a porta atrás de si. Era um dia azul, então?

  Ele estava familiarizado com o código de procedimento. Sem barulhos altos, sem perguntas difíceis que ele não saberia responder, sem exigências.

   Megumi as vezes só precisava de um pouco de silêncio e calma para processar seja lá o que fosse que o estivesse rodando pela sua cabeça atualmente.

  Gojo aproximou-se da cama sem fazer barulho algum quando se deitou ao lado do rapaz.

  Em dias azuis, Megumi queria companhia. Algo estável em que ele pudesse se agarrar fosse física ou mentalmente em meio a turbulência.

  Assim, Gojo envolveu cuidadosamente os braços ao redor da cintura do rapaz e o puxou até pressionar o peito contra as omoplatas afiadas. O rosto descansando no mesmo travesseiro que  o outro, sentindo os fios negros e espetados fazem cócegas no seu nariz.

  Megumi estava tenso como um arco de corda, pronto para disparar, mas Gojo só o apertou mais um pouco, enterrando o nariz na nuca dele. O cheiro familiar do mesmo shampoo que usou para lavar o cabelo do estudante quando ele ainda era uma criança.

  Doce e levemente glicerinado.

  Aos poucos, a rigidez foi se esvaindo dos seus músculos, fazendo o rapaz amolecer contra seus braços. Uma mão errante agarrando-se com força na sua.

  Gojo beijou suavemente o ombro do rapaz.

  -Tudo bem agora, Megumi-chan- Murmurou  baixinho- Sabe que só precisa me chamar quando estiver se sendo assim, não sabe?

  Megumi assentiu levemente, sem falar.

   - Essa não é posição favorita, mesmo assim- Gojo continuou, sabendo que O garoto preferia se enrolar nele em seus próprios termos- Você quer trocar agora que está um pouquinho mais calmo?

  Megumi emitiu um pequeno ruído que Gojo só interpretou como sim por já o ter escutado muitas vezes. O mais velho afroxou o aperto e Megumi se virou em seus braços, escondendo o rosto em sua clavícula, como ele fazia desde sempre.

   Gojo acariciou suavemente suas costas, sentindo o tecido macio do pijama contra seus dedos. Havia umas pequenas cicatrizes por ali, que ele podia contornar mesmo por cima da roupa. Contou todas, como sempre fazia em momentos como esse.

 Megumi se remexeu um pouco mais e Gojo sentiu uma mão mais fria do que deveria ser legalmente permitida entrar debaixo da sua camisa e se estabelecer no meio do seu peito.

  Soltou um risinho divertido.

  - Você fazia isso desde que era uma criança pequena, sabia?

  Um par de olhos azuis curiosos viraram-se para cima, fitando-o, confusos.

 -A mão no meu peito- Explicou afastando alguns fios rebeldes do rosto do outro- Você fazia isso desde quando eu posso me lembrar. Só precisava segurar você por tempo suficiente.

  Um leve rubor subiu-lhe as faces usualmente pálidas e Gojo sentiu os lábios insinuarem um sutil sorriso. Apesar do tamanho, Megumi ainda era pouco mais que uma criança em muitos sentido. Ele ainda era amável, por exemplo, principalmente quando estava constrangido com algo bobo.

  Megumi revirou os olhos, o que não ajudava muito no papel de forçada indiferença que ele estava praticando quando ele ainda não havia penteado o cabelo e estava rosado até a ponta das orelhas.

   - Não fique assim, achei que você já sabia disso- Contornou com o indicador a curva suave da mandíbula. Ele tinha que fazer o rapaz comer mais, agora que ele estava finalmente perdendo toda a gordura de bebê das bochechas- Eu acho cativante.

  -Claro que acha- Megumi retrucou baixinho, voltando ao esterno do outro, onde não precisava o olhar nos olhos para falar.

  Gojo assentiu como se não ouvisse a ironia, muito mais concentrado em embalar o garoto junto à si. Se eles estivessem na sala, o homem teria sido tentando à balança-lo um pouco, enquanto sentados. Algo constante e firme que sempre fez o pequeno Megumi pegar no sono e até os dias atuais funcionava.

  O silêncio prevaleceu morno e agradável, nada mais que a respiração ritmada de ambos por mais um bom tempo.  Confortável e seguro como um cobertor de infância.

  -Papai?

  Gojo cantarolou baixinho em concordância, enrolando os dedos nos fios escuros para uma breve carícia.

  -Sim?

Megumi inspirou profundamente, o ar fazendo cócegas no seu pescoço, enquanto ele parecia mais que disposto a entrar debaixo da sua pele se dependesse dele.

  -Como eu quando era criança?

  Gojo considerou a questão por um tempo. Decididamente incomum, mas não é como se ele não tivesse dezenas de milhares de boas memórias sobre a época também, não fazia mal nenhum compartilha-las, principalmente se o rapaz estava num estado de humor tão delicado.

 - Pequeno- Respondeu com um sorriso despontando dos seus lábios- Você tinha seis anos quando chegou e eu lembro que meu primeiro pensamento era que você era pequeno para sua idade.

  Lembrava com clareza de detalhes do menininho minúsculo que acabou aos seus pés. Olhos redondos e azuis que pareciam atentos demais para serem carregados em um corpo tão frágil e delicado, branco como uma peça de porcelana. Parecia que ele podia quebrar com o toque forte demais.

  Gojo não tinha que vê-lo para imaginar o biquinho que Megumi estava fazendo no momento.

  - Você era uma criança quieta e reservada, muito parecida com o que você é hoje- Prosseguiu, as unhas roçando o couro cabeludo dele vagarosamente- Foi complicado fazer você começar a se expressar e mesmo depois disso, você ainda era um menino muito silencioso. E assustado como um coelho.

   Megumi bufou sonoramente.

  -Assustado?! Eu?

  -Sim- Riu baixinho- Eu lembro que você só andava segurando a barra da minha calça e detestava falar com estranhos. Você ficava facilmente sobrecarregado também.

   Megumi se encolheu nele, a mão livre torcendo a barra da sua camisa apenas para ter no que tocar.

  - Acho que ainda fico.

  -Provavelmente-Cobriu a mão com a sua, apertando os dedos- A diferença era que quando você tinha sete anos, eu podia pegar você no coloco e ficaria tudo bem. Você era um garotinho chorão, mas fácil de agradar.

  -Então não acho que eu teria me dado muito bem com os Zenin, uh?

  -Nenhuma criança deu- Gojo suspirou, apoiando o queixo no topo macio dos cabelos dele- Eu tenho certeza que podia ter feito melhor, mas pelo menos você podia chorar quando queria ou ser abraçado ou brincar. Ser um menininho bobo e fazer coisas de menininho bobo.

  Megumi franziu as sobrancelhas.

  - Eu não lembro muito de muita coisa, eu era pequeno, então só tenho memórias borradas de quando tinha seis anos- Murmurou baixinho- Mas eu lembro que uma vez estava chovendo muito forte e eu estava com febre e assustado e você pegou no colo e começou a cantar para mim. Você lembra disso?

  -Se eu lembro de quando você quase me enfartou com uma febre emocional?- Gojo bufou, revirando os olhos- No meio de uma tempestade, você nem estava doente, mas estava queimando de febre e não parava de chorar. À esse ponto eu não sei se cantei uma canção de ninar ou disse um feitiço de tão histérico que eu fiquei.

  Megumi riu baixinho, era um som agradável e delicado. Fazia o corpo todo dele se remexer. Retumbava até os ossos.

 - Eu não lembro disso.

  - Claro que não lembra, era eu que estava em apuros- Resmungou afetuosamente- Mas mesmo assim, você era uma ótima criança, Megumi-chan.

   -É bom saber disso- Havia um pequeno sorriso em sua voz, frágil, delicado- Yuuji e Nobara estão preocupados?

   Gojo afastou -se só o suficiente para poder olhar melhor para o menino. Com o cabelo bagunçado indo para todos os lados como de um ouriço, o rosto amassados dos lençóis e travesseiro, ele parecia infinitamente mais jovem.

  -Eles deveriam, Megumi-chan?

  Megumi franziu as sobrancelhas, mordendo o lábio inferior num hábito infeliz que Gojo nunca havia conseguido tirar.

  -Eles estavam apenas se perguntando porque você pulou uma refeição e um dia de treino- Embalou cuidadosamente o rosto do rapaz em uma das mãos e Megumi se inclinou para o contato, sem desviar o olhar- Mas eu garanti que não era nada demais, certo?

  - Não é nada demais.

  - E se fosse...?

  -Seria a primeira pessoa a saber, pai- Agora as bochechas do menino queimavam levemente manchadas de vermelho- Eu só fico me sentindo estranho as vezes.

  -Todos temos nossos momentos, lobinho- Se inclinou beijando a testa dele com afeto- E não precisamos passar por eles sozinhos.

  Megumi sorriu levemente.

 -Lobinho? Acho que tem um século que você não me chama assim.

 -Talvez- Apoiou a cabeça do rapaz no seu peito novamente- Agora, você se incomodaria em ouvir algo que pode ser tanto canção de ninar quanto um feitiço?

 Megumi riu um pouco mais alto dessa vez.

 —Por favor, papai.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dessa história! Eu tenho outra na mesma temática chamada Milk and Honey e About Storms, se você gostou dessa, provavelmente vai gostar das outras também.
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