Eu nunca me esquecerei de você escrita por Lola


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo! Bão dimais?
Finalmente outro cap. Muito obrigada por quem está acompanhando a fic e comentando, isso tudo dá um gás pra não parar de postar, é ótimo receber os feedbacks de vocês sobre o que estão achando.
Esse cap é bem introdutório, mas espero que dê pra sentir o gostinho do que está por vir.

xoxo



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Capítulo 5

“Como te hei-de fazer ver

as meias distâncias

que nos separam das coisas?

 

É o nosso confronto num outro sítio

que nos proporciona

o arrepio de estarmos aqui.”

 

Daniel Maia Pinto Rodrigues

 

 

Sara ficou em silêncio, olhando para Brass – para além dele. O detetive continuava falando sobre o acidente de Grissom. Uma parte do seu cérebro estava atenta a cada palavra, processando as informações como se sua vida dependesse disso. Já outra parte se permitia entrar em um pânico silencioso e devastador. Grissom havia sofrido um acidente horas antes, e todas as evidências indicavam que foi no exato momento que ele estava indo encontrá-la. Ele estava bem, Brass havia dito, mas havia um “porém”.

— Ele está sofrendo de uma espécie de amnésia – explicou Brass – aparentemente ele não consegue se lembrar de nada que aconteceu nos últimos 10 anos.

Sara continuou em silêncio, lutando contra uma quantidade enorme de pensamentos. Então isso significava que ele não se lembrava dela. Significa que ele não se lembrava de tê-la beijado. Sentiu-se extremamente egoísta com tais pensamentos, e tentou afastá-los o mais rápido possível.

— Mas ele está bem – sua voz saiu pesada – ele vai ficar bem, certo?

— O médico nos garantiu que sim. Ele também disse que esse tipo de amnésia é passageira, e que ele deve começar a se lembrar das coisas nos próximos dias.

 Sara sentiu um onda de alívio tomar conta de si. Pelo o menos ele ficaria bem. Mesmo que ele não se lembra-se dela agora, isso não seria permanente. Não poderia ser.

— O resto do pessoal já está sabendo?

— Catherine está no laboratório nesse momento, ficou responsável por falar com o resto da equipe e avisar Ecklie.

— Certo. Obrigada por me avisar, Jim.

Brass olhou atento para a mulher a sua frente, sentindo todo o esforço que Sara estava fazendo para se manter serena com a notícia.

— Sara... Grissom me disse que ele estava vindo pra cá, antes do acidente acontecer.

— Ele disse?

— Não, mas agora eu acabei de confirmar.

Sara olhou descrente para o amigo, sem saber muito bem como reagir.

— Nós havíamos combinado de almoçar –

— Você não precisa me dar uma explicação – ele a interrompeu – eu só queria dizer que você não precisa disfarçar sua preocupação. Já faz algum tempo que eu sei que você e Grissom estão... – Brass pensou, procurando as palavras certas – estão tentando descobrir o que fazer desse relacionamento de vocês.

— Nós não temos um relacionamento – Sara disse rapidamente.

O homem suspirou – Nada de relacionamento, mas sentimentos então.

Sara não discordou.

— A questão é que, eu não sei exatamente em que pé as coisas estavam entre vocês nesses últimos dias, mas eu e Catherine chegamos a conclusão de que você seria a melhor pessoa para ficar com ele nessa próxima semana.

Brass viu a expressão confusa de Sara, e continuou sua explicação – Estamos com uma baixa de pessoal no noturno, ele vai precisar ficar uma semana de licença, em observação. O médico disse que devido o trauma e toda a coisa da memória, ele pode ter alguma convulsão ou até mesmo desmaiar. Você já está de licença nos próximos dias, além de ser uma das poucas pessoas próximas a Grissom.

— Okay...

— É nossa opção mais simples, no momento. Mas caso você fique desconfortável, eu preciso que você me diga isso agora, para pensarmos em uma outra solução.

Sara mexeu nervosamente suas mãos, sentindo que novos pensamentos confusos estavam tomando conta de sua cabeça. Ela poderia lidar com um Grissom completamente diferente, que nem mesmo se lembrava dela?

— Certo, eu posso ficar com ele.

— Tem certeza?

Sara sorriu levemente para Brass – Grissom é meu amigo, acima de tudo. E ele está precisando de ajuda... Só espero que a cabeça dele não seja tão dura, e se lembre logo de tudo.

Brass gostou da resposta de Sara.

— Ótimo! Ele vai receber alta amanhã. Vou passar no apartamento dele agora para pegar um muda de roupa e produtos pessoais, voltar para o hospital e ver como ele está. Mais tarde entro em contato com você para decidirmos como vamos fazer para buscá-lo.

— Certo – Sara concordou, enquanto sentia seu estômago revirar.

///

Distâncias são relativas. As vezes você pode se encontrar preso na mesma sala que alguém, e mesmo assim entre vocês haver um abismo de distância. Ou talvez vocês possam estar separados por um oceano, e a distância não existir. Sara sentia que as milhares de distâncias entre ela e Grissom haviam finalmente sido quebradas. Mesmo eles trabalhando juntos, vendo um ao outro todos os dias, o espaço entre eles sempre fora enorme. Com o tempo, essas distâncias se encurtaram e alongaram, e após os últimos acontecimentos, após terem se beijado, era como se finalmente eles houvessem conseguido ultrapassar todo o espaço, e finalmente alcançando um ao outro.

Mas onde eles estavam agora? Quando finalmente as coisas pareciam estar se ajeitando, Grissom perde a memória. 10 anos de intervalo era tempo demais. E Sara não fazia ideia do homem que ela encontraria naquele momento. Ele poderia se lembrar dela? Será que o que eles sentiam era forte o suficiente para ele se lembrar exclusivamente dela? Mesmo que um lado bastante oculto de Sara gostasse daquela fantasia, seu lado racional não a permitia acreditar nisso.

— Você está bem? – Brass sentou-se ao lado de Sara na recepção do hospital, colocando uma mão amigável em seu ombro.

Ela acenou e sorriu.

Brass havia ligado para ela no dia anterior após visitar Grissom, contando que ele estava bem e poderia mesmo receber alta no dia seguinte. De acordo como o médico, o quanto mais Grissom pudesse entrar em contato com seus ambientes familiares, maiores seriam as chances de sua memória retornar. Com isso Sara teria que passar uma semana com ele em seu apartamento, levá-lo ao laboratório, e ajudá-lo com qualquer coisa que colaborasse para sua melhora. O detetive ficou de encontrá-la no hospital para ajudar no que precisasse.

— Sr. Brass? – o médico de Grissom apareceu.

— Bom dia, doutor.

— Gil já está esperado por vocês. Inclusive bastante agitado com a saída.

— Grissom agitado, eim? – Brass usou seu melhor tom de sarcasmo – Parece que realmente estamos de volta no tempo.

— Antes de vocês entrarem, gostaria apenas de repassar algumas informações. Você é a pessoa quem vai ficar com o paciente? – perguntou apontando para Sara.

— Isso mesmo.

— Você irá perceber que ele pode ter algumas alterações de humor nos próximos dias, algumas dores de cabeça e talvez tonturas. Tudo isso faz parte do processo de recuperação do paciente.

— Certo.

— Caso ele se sinta mal por várias horas seguidas, e a dor na cabeça não passe tomando algum analgésico, você precisa trazê-lo de volta para o hospital o mais rápido possível. É normal que ele sinta algum desconforto, especialmente nos momentos que as memórias voltarem à consciência. Outro fator importante é que vocês fiquem em locais familiares para ele.

— Sim, nós vamos ficar no apartamento dele – completou Sara, sentindo seu estômago revirar com o fato.

— Então ótimo! Ele está esperando por vocês no quarto dele.

— Obrigada doutor – Brass cumprimentou o médico antes de rumarem para o elevador.

(...)

Um estranho no próprio corpo. Grissom sentia-se desajeitado na própria pele, como se algo estivesse faltando ou fora do lugar. Olhou mais uma vez seu reflexo no pequeno espelho que uma enfermeira havia emprestado. Seu rosto era seu, porém, todas as coisas que o compunham eram diferentes. Agora ele usava barba, tinha uma quantidade maior de rugas, olheiras profundas, muito mais cabelos brancos. Havia ganho alguns quilos nos últimos anos, e já não se sentia tão disposto.

O médico dissera que boa parte do estranhamento vinha do acidente, mas aquela sensação de não conseguir lembrar-se como havia parado ali, naquele momento de sua vida, era terrível. Havia conseguido dormir apenas devido os remédios, pois tentou de todas as maneiras lembrar de alguma coisa dos últimos anos. Nada.

Era como estar perdido, porém sem opções de caminho para escolher. Perdido em um deserto, onde qualquer direção parecia bastar.

— Não vai ser olhando tanto para o espelho que sua memória vai voltar, será?

Grissom desviou sua atenção para a porta do quarto, vendo Brass entrar por ela.

— Sempre bastante animador, Jim – Grissom sorriu, colocando o espelho sobre a cama, pegando uma sacola com seus pertences – Nitidamente os anos não me fizeram muito bem... – disse abertamente – Desde quando eu uso uma barba?

— Faz uns dois anos, eu acho...

— Nunca gostei disso.

— E quem entende o que se passa nessa sua cabeça? – Brass ironizou – Talvez Sara, mas não acho que ela saiba por que você decidiu usar barba.

— Sara?

— Isso mesmo, Sara – Brass virou-se para a porta – Ela está lá fora, digamos que vocês têm um relacionamento interessante.

— Nós somos um casal? – Grissom sentiu seu estômago revirar e seu coração falhar levemente. Seria mais um de seus relacionamentos sem futuro?

— Vocês são mais como... Dois cabeças duras? Eu não sei qual seria o termo mais apropriado, vou deixar que vocês descubram, ou re-descubram sozinhos.

Grissom olhou confuso para seu amigo, sem entender nada do que ele estava dizendo.

— Sara é uma das peritas do turno da noite, você é o chefe dela.

— Oh.

— Houve um pequeno acidente ontem e ela também está de licença, então ela vai ficar com você nos próximos dias.

— Eu já disse que posso ficar sozinho, não precisa que ninguém fique comigo.

Brass revirou os olhos – Eu vou chama-la. Não aja como um idiota e simplesmente aceite.

Grissom franziu o rosto em indignação, como se uma pancada na cabeça o fosse fazer tratar alguém mal.

Então Sara entrou, vestindo seu melhor sorriso de dentes separados e expressão doce.

— Oi, Griss.

Grissom a observou atentamente, processando cada detalhe da mulher a sua frente.

— Acho que nós já nos conhecemos, mas nitidamente eu não me lembro – ele também sorriu galanteador, estendendo sua mão para ela – uma pena.

Sara aceitou o cumprimento, e sentiu um pouco de tensão aliviar seus ombros.

Linda. Grissom pensou antes que pudesse se conter. De repente uma sensação familiar inundou seus sentidos, e foi como se seu coração derretesse no seu peito. Foi como achar um caminho no deserto, um horizonte para o qual havia uma saída rumo a sombra e água fresca. Mas o que aquilo tudo significava?

— Sara, esse é o Gil de 10 anos atrás – Brass disse se divertindo em observar os dois a sua frente – rapidamente você irá perceber que esse novo Gil é um pouco mais falante, porém com as mesmas manias estranhas de sempre. Talvez você possa se aproveitar do falante.

— Um Grissom falante, é? Essa eu vou adorar ver – a morena brincou em resposta.

Grissom revirou os olhos impaciente com as provocações.

— Nitidamente percebo que tenho uma ótima fama.

— Logo você se acostuma. Quem sabe você não aproveita pra alavancar algumas coisas na sua vida que o Grissom atual não estava conseguindo fazer?

Sara havia entendido bem a indireta de Brass, mas sabia que Grissom não.

— Se eu soubesse exatamente do que você está falando, facilitaria bastante.

— Siga as evidências – Sara disse.

Grissom gostou do que ouviu, pois era o tipo de coisa que ele mesmo diria.

— E para onde estamos indo agora?

— Para o seu apartamento. Sara irá ficar com você pela próxima semana, caso você passe mal ou precise de alguma ajuda.

— Tudo bem.

— Nenhuma objeção? – Brass suspeitou.

— Não. Quem em sã consciência rejeitaria essa bela companhia? – sorriu para Sara, saindo do quarto logo em seguida.

A mulher ficou de boca meio aberta, espantada com a facilidade que Grissom parecia dizer tudo aquilo. Era completamente atípico e difícil de assimilar. Ela poderia facilmente se acostumar com sua nova versão.

— Ele não era exatamente assim há 10 anos – disse Brass.

— Não?

— Não. Definitivamente mais leve e falante, porém não ao ponto de flertar publicamente com alguém do trabalho.

Sara não disse nada, sentindo-se um pouco desconfortável e ao mesmo tempo aliviada. Grissom estava bem, isso era a coisa mais importante do momento. Ele não havia se lembrado dela, mas definitivamente o “primeiro” contato deles não havia sido o pior.

(...)

O caminho até o estacionamento foi feito em silêncio, com Sara divagando sobre como sua vida havia chegado a esse ponto.

— É aqui que eu deixo vocês – disse Brass com o mesmo tom cansado de sempre.

— Obrigada, Jim – Sara lhe deu um rápido abraço.

— Não vá se esquecer que você também precisa descansar e se cuidar – ele disse, referindo-se ao incidente com Mark, que ainda era visível pelos hematomas nos braços de Sara.

— O que houve com você? – Grissom questionou, olhando atentamente para uma macha rocha no braço da mulher.

— Bom... Eu... – Ela gaguejou, sentindo dificuldade em juntar as palavras. Não sabia por que falar sobre aquilo estava sendo tão difícil. Era apenas Grissom. Ele quem a salvou.

— Ela pode te contar isso depois – Brass interrompeu, vendo o desconforto de Sara – Agora eu acho melhor vocês irem, quem sabe você não se lembra de algo ao chegar em casa?

Ela sorriu para o amigo e foi para o banco do motorista, deixando que Grissom se despedisse e entrasse logo em seguida ao seu lado.

— Então, onde eu moro atualmente? – ele perguntou divertido, olhando para a mulher ao seu lado.

Então algo aconteceu. De repente sua mente se encheu com uma imagem, onde ele e Sara estavam em um carro muito parecido com aquele, porém ele era o motorista e ela a passageira. Sua cabeça doeu instantaneamente, enquanto via a memória pausar e não se estender. Tudo que ele conseguiu lembrar foi de Sara ao seu lado, parecendo encharcada, com cabelos molhados e o rosto pálido. Mas ela estava sorrindo para ele, e aquilo preencheu seu coração.

Posso facilmente me apaixonar por você. Ele pensou. Talvez eu já esteja.

— Grissom, tudo bem?

Sara colocou a mão em seu ombro, chamando sua atenção. Sem perceber ele estava de olhos fechado e com a mão na cabeça. Voltou-se para ela e forçou um sorriso.

— Estou bem, minha cabeça apenas doeu um pouco.

— Você se lembrou de alguma coisa? Quer voltar pro hospital?

— Não, eu estou bem – ele sorriu mais abertamente, sentindo a dor se esvair lentamente – acho que me lembrei um pouco de você.

Sara olhou para ele animada – O que você lembrou?

— Nós estávamos em um carro parecido com esse, acho que estava chovendo, nós estávamos molhados – o coração de Sara acelerou. Ele havia se lembrado do beijo deles?

— E? – ela tentou não parecer muito hesitante.

— Só.

— Só?

— Tem algo mais para lembrar?

Sara enrubesceu, o que não passou despercebido por Grissom.

— Não! Não... Ontem... Ontem nós trabalhamos em uma cena, estava chovendo... Voltamos juntos no seu carro para o laboratório, foi isso.

Ele olhou curioso para a mulher ao lado, sentindo que ela estava escondendo algo dele. Porém, achou melhor não pressionar. Ele ainda estava confuso sobre a natureza desse tal relacionamento entre eles.

— Certo.

— Certo – ela disse, ligando o carro – Pronto para conhecer sua casa?

— Sem dúvidas.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham que vai rolar? Grissom vai se lembrar, não vai se lembrar... Ele vai tentar algo com Sara... O que será eim? hehehe vamos aguardar pra ver.



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