Jealous Guy escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 1
Jealous Guy




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O ruído de batidas baixas na porta ressoou pelo quarto, mas não fez questão de se mover.

Encolhida embaixo do cobertor azulado estampado com desenhos de luas minguantes douradas, sentia seu corpo quase que anestesiado em razão da torturante dor, que a fazia estacar e desejar nunca mais tirar a cabeça do travesseiro macio.

Iniciara do lado esquerdo, tanto tempo antes que mal saberia dizer. Sua tentativa de controle se fora há muito, quando constatara não poder fazer nada para que parasse – anos antes. Não havia cura, não havia feitiço nem poção que fizesse parar os sintomas fortes da enxaqueca, a qual, descobrira por suas imensas pesquisas sobre o assunto, ocorria mais intensamente naqueles que tinham sangue mágico.

Racionalmente, sabia que estava confortável, vestida em moletons grossos contra o forte inverno que insistia em esfriar as paredes de pedra daquele castelo; no cômodo de cortinas completamente fechadas para bloquear a iluminação, potencializada pela neve que se acumulava nos jardins de Hogwarts há semanas, mas a dor era paralisante, frustrante e insuportável.

Em certo ponto de sua pré-adolescência simplesmente se conformara – e a todos ao redor – que haveriam esses episódios de enxaqueca, mas simplesmente detestava, tanto quanto tocar no assunto com qualquer pessoa. Era mais forte do que ela e tinha muito poder sobre quem era em certos momentos, pois, simplesmente, não havia o que fazer a respeito, senão esperar passar.

A porta abriu e se fechou lentamente quando não houve resposta, percebeu sob o eco da própria dor. Logo, notou o colchão da cama se afundar suavemente ao seu lado, o intruso se sentando às suas costas. Rose apenas continuou abraçada ao travesseiro, tentando não apertar os olhos para que a tensão não fizesse doer mais, evitando qualquer movimento.

— Rose. – Ouviu James chamar muito baixo.

— Como entrou aqui?

Murmurou, sem realmente se preocupar com a transgressão à proibição expressa. Era James, afinal de contas, estava habituado a testar os limites da escola, ainda que não concordasse.

— Tenho meus truques.  – Pode imaginar o sorriso maroto se esticando no canto direito dos lábios bem desenhados, mas não se moveu. Então, ele levou uma das mãos ao seu ombro, apertando com cuidado. – Eu fiz uma poção para você.

Se manteve em silêncio por um instante, os dedos apertados no tecido do cobertor pesado, a garganta tensa por segurar o choro, pois já sentia suas vias fechadas e os olhos inchados e estava cansada de chorar; contudo, ao mesmo tempo, segurar as lágrimas tornava tudo pior.

— Não consigo. – Soluçou. – Vou vomitar se tentar.

Esse era um dos motivos para se manter completamente estacada ali. A dor era tão insuportável que fazia seu estômago dar voltas no mesmo ritmo, enjoando-a. Não se lembrava a última vez que tinha comido, mas sabia que não vinha vomitando mais porque, simplesmente, não havia mais nada para vomitar, restando apenas a eterna sensação de náusea.

— Pensei nisso. Coloquei na fórmula um elemento inibidor de enjoo. – Com um suspiro, Rose finalmente se voltou ao primo, demorando para focá-lo na semiescuridão, os olhos esverdeados a encarando com seriedade sob os óculos de lentes quadradas até que sorriu brevemente, o tom baixo. – Confia em mim. Vai te ajudar.

Surpreendentemente, James tinha muito talento para poções. Sabia que ele se interessava por pesquisas nessa área – a única matéria que o via realmente estudar com afinco – e, talvez, até pela medibruxaria em si. Mas havia o Quadribol e este era o destino do filho mais velho de Harry Potter: alcançar as expectativas construídas muito antes dele nascer.

Por mais evitasse falar a respeito e não atribular ainda mais as relações de sua família, James carregava como um fardo o nome e o sobrenome de alguém tão lendário. Portanto, seria o que deveria para que Albus pudesse ser a ovelha-negra dos Potter e tudo estaria em seu devido lugar – exceto ele mesmo.

Seus olhos se abaixaram para o pequeno frasco que ele tinha entre os dedos compridos, pacientemente lhe estendendo o líquido incolor. Só podia imaginar que gosto aquilo tinha, mas James conhecia seu quadro de enxaqueca e, por isso, não continuou a hesitar. Não era possível que a deixasse pior do que já estava.

Com uma careta sentiu o gosto misturado de especiarias, quase a fazendo vomitar, mas logo o aromatizante sabor maçã tomou conta de sua boca, imediatamente fazendo a náusea passar. Não podia afirmar ser exatamente saboroso, mas não parecia completamente intragável e, ao menos o inibidor de enjoo instantaneamente fizera efeito a levando a se perguntar o que havia de diferente naquela fórmula em relação as que a própria Rose testava.

Contudo, mal podia pensar racionalmente naquele instante. Apertou o frasco entre os dedos e fechou os olhos, levando a mão fechada contra a testa enquanto respirava fundo e algumas lágrimas incontroláveis escorriam por sua têmpora e se perdiam no travesseiro. Havia alguns exercícios, principalmente de respiração, que a acalmavam e diminuíam em um grau a dor, mas nos dias piores, não havia nada que pudesse fazer.

— Você pode... fazer aquilo com os dedos?

Pediu em um tom embargado. A dor por trás de seus olhos parecia apenas aumentar, ainda que o quarto estivesse bastante escuro e a sensação de amargura por aquilo não parecer estar próximo do fim eram iminentes.

— É claro.

Rose se arrastou sob o cobertor, voltando a abraçar o travesseiro enquanto James se ajeitava às suas costas. Então, os dedos dele se entremearam aos seus fios ondulados, num tom escuro demais de ruivo, àquela altura certamente embaraçados, chegando até o couro cabeludo, onde começara a lentamente massagear, suavemente apertando alguns lugares a ponto de sentir calafrios do início da coluna até a lombar.

Aquela era uma das poucas coisas que conseguiam aliviá-la naqueles momentos e estava grata que não sentisse qualquer onda de enjoo por causa do perfume que ele costumeiramente usava. Percebia algum fluxo de magia não verbal emanando dos dedos quentes contra sua cabeça, mas James sempre se recusara a falar que tipo de feitiço usava. Assim, poderia recorrer a ele quando precisasse e, de certa forma, Rose sabia que sempre precisaria.

O silêncio se estendeu por muito tempo, pois mal conseguia manter um diálogo decente. Contudo, James a surpreendeu quando o quebrou justamente para abordar um assunto, no mínimo, atípico entre eles.

— Ouvi falar sobre o que aconteceu. – Apesar do tom baixo e claramente cuidadoso, a fim de escolher as palavras certas, sentiu os próprios músculos mais tensos. – Chorou tanto por causa dele que acabou com enxaqueca, não é?

Rose se manteve em silêncio, ciente a que seu primo se referia, sem querer dar continuidade ao assunto, sem querer confirmar: estava chorando por causa dele. Passara a noite toda assim e só não continuara pela manhã, porque se vira mais paralisada pela dor da enxaqueca do que qualquer outra coisa.

Odiava o efeito que Scorpius tinha nela, odiava gostar tanto dele, odiava que James a conhecesse tão bem.

Desde o início, ele nunca perguntava sobre seu namoro ou emitia qualquer opinião a respeito, mesmo sendo um dos tópicos favoritos de seus familiares há algum tempo, pois primeiro viera sua amizade com o filho do “inimigo” e, então, sem que surpreendesse ninguém, o namoro.  

James apenas anuíra ao fato de que ela gostava do colega, aparentando, ao menos, respeitar isso e não subestimar seu julgamento. Nunca incentivara nem falara nada contra. O fato de não se dar bem com Scorpius devido à personalidade muito combativa de ambos, dentro e fora do campo de Quadribol, fora um fator decisivo para que ele simplesmente se afastasse.

Mas Rose também via... Estava ali o tempo todo.

Às vezes no olhar esverdeado e repentinamente mais brilhante ao encará-la; às vezes no sorriso raro e pequeno, quase hesitante; às vezes no tom de voz mais suave com que se dirigia à Rose; mas, certamente, estava o tempo todo no respeito e no cuidado que tinha com ela. James parava para ouvi-la desde que se lembrava e conhecia todos os seus limites, inclusive o que o fizera simplesmente parar de bater de frente com o garoto que ela gostava, sem que precisasse pedir.

— Não quero falar sobre isso. – Murmurou de maneira mimada, ouvindo o suspiro baixo. Momentos depois, James parou de massagear sua cabeça e fez menção de se afastar para sair, mas Rose encontrou forças para segurá-lo pela capa. – James.

— O quê?

Se virou, parecendo se arrastar ao redor de seu próprio eixo, o encarando debaixo, uma vez que ainda se encontrava sentado contra a cabeceira da cama. Com os olhos estreitos, notou que as feições estupidamente harmoniosas cobertas por uma barba rala se encontravam contrariadas. Contudo, o tom ainda se mostrava quase delicado, provavelmente devido à sua enxaqueca.

— Você pode ficar? – Sem se importar, notou a própria voz arranhada. Estava a ponto de chorar novamente e não se importava que ele presenciasse. – Estou cansada de ficar sozinha.

Notou que ele engoliu em seco, quase que subitamente sem saber o que fazer em seguida, mas Rose apenas fechou os olhos ante outra pontada em sua cabeça, se encolhendo contra ele como podia, as lágrimas silenciosamente escorrendo até o lençol, intensificando a dor em sua cabeça e os próprios soluços frustrados.

Rendido, James respirou fundo e, finalmente, se deitou ao seu lado, puxando-a contra si em um abraço compreensivo, a bochecha em sua cabeça sem pressionar muito e os dedos distraidamente brincando com os fios ruivos que se espalhavam pelo travesseiro. Era acolhedor, tanto pela forma como parecia quente contra si, tanto pelo modo como se mostrava cuidadoso ao redor dela e, embora se esforçasse, não era exatamente fraternal.

— Você é boa demais para o Malfoy. – Ele murmurou, dessa vez sem se importar em expressar uma opinião tão direta. – Você sabe disso, ele sabe disso.  

Mesmo com os olhos marejados e inchados incomodando, encarou os olhos esverdeados por um momento constatando a sinceridade subitamente latente. Com um suspiro cansado, se ajeitou um pouco melhor contra o pescoço dele, esperando que a dor de cabeça passasse, assim como todo o resto.

Ainda assim, sabia que continuaria a se perguntar, todos os dias, porquê Scorpius não a olhava como James. 

FIM


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Notas finais do capítulo

Testando y testando esse casal.
Eu simplesmente amo a ideia de Rose e James!
Todas as fics que eu li sobre eles são bastante criativas e exploram as coisas de forma diferente de Scorpius e Rose, numa nova perspectiva eu diria.

O título é inspirado na música de mesmo nome de John Lennon, que eu não paro de ouvir nos últimos tempos.

Enfim, me deixem saber saber se gostaram dessa breve inspiração! ;)



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