A Mata escrita por Alessandra


Capítulo 7
Capítulo 7




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Antônio paralisado só pensava em uma maneira de escapar dali. E mais importante, como ela conhecia seu pai?

— Como você sabe quem é meu pai? – Antônio pergunta a Yanna.

— Ah, eu o vejo em seus olhos. – Yanna sorri — Eu o vejo no seu rosto, eu o vejo em seu coração.

Ela para seu desfilar constante e olha em seus olhos.

— João, há muito tempo atrás, estava neste mesmo lugar que você está agora. Olhando para mim cheio de choque e perguntas infinitas. – ela sorri com a lembrança. — Queria saber como era ter pele de árvore, como meus filhos andavam por aí, de onde surgimos, o que queríamos, porque o queríamos aqui conosco.

Ela deixa de sorrir e seu olhar muda para um negro profundo.

— Mas, João não gostou muito das respostas, e ele quis fugir. ELE NÃO NOS QUIS.

E eu prometi a ele, se eu não o tivesse, teria seu primogênito e aqui ele está. – ela diz sorrindo, mas não mais um sorriso suave e sim, cruel e cheio de más intenções.

— Agora, primogênito de João, vou contar minha história a você e você como seu pai decidirá... mas, Antônio – Yanna diz sorrindo maliciosa — Não creio que como seu pai, você sairá daqui com vida.

*****************************************************

Yanna era uma jovem índia feliz e contente com sua tribo. Seu pai era um cacique poderoso e respeitado, tribos rivais vinham e o desafiavam, mas nunca o venciam. Seus ancestrais sempre estavam ao seu lado nas batalhas e o grande Kuanan saia vencedor.

Isso, até aparecer um homem misterioso. Um índio diferente, com olhos verdes claros e íris de um amarelo alaranjado parecendo fogo.

Ele desafiou seu pai pelo direito de comandar a mata e desposar a jovem Yanna.

Kuanan, vendo que o homem de olhos estranhos não tinha uma alma boa, disse não a sua proposta de casamento e aceitou o desafio.

Kuanan e o homem, que se chamava Kaitoã, travaram uma ferrenha batalha, bem contra o mal. Fogo cheio de luz, contra fogo frio e cheio de maldade. O choque dessa luta, matou uma árvore poderosa de onde os ancestrais, tiravam sua força de proteção. Com o choque, Kuanan e Kaitoã caíram ao chão. Kuanan com o peito aberto e Kaitoã com largos cortes pelo corpo todo, ambos esvaindo em sangue. Kuanan foi o primeiro a perecer, mas, Kaitoã, ainda tinha uma réstia de força e lançou uma maldição: Yanna, seu destino será árido, tu se juntarás á arvore seca. Sem amor, seus filhos, serão pequenos pedaços de cascas de árvore. Nunca conhecerás o amor de um homem, nunca sairá daqui e nunca, nunca será feliz.

Yanna, foi sugada pela árvore que outrora era fonte de proteção e agora seria sua prisão.

A cada semente que caia dos galhos, um filho era gerado, mas, eles eram incompletos, não tinham alma e empatia. Eram secos como a árvore que a prendia. Andavam pelas matas, atraiam homens para o olho e eles lá pereciam. Levavam seu coração a Yanna, como oferendas. Como se de maneira tortuosa, achassem que assim, uma alma viria.

Anos, centenas de anos, centenas de filhos e centenas de corações. Até que chegou João.

João, um jovem bonito e vivaz, que eles observavam passear e caçar. Cantava e brincava, exalava alegria sem fim.

E eles queriam aquilo para eles. Queria a alegria, queriam sentir.

E Yanna tentou seduzi-lo, tentou fazer João ficar com ela. Mas, ele foi roubado dela. A cobra dourado o roubou!

 

João, 20 anos

 

João caminhava pela mata e sabia que estava sendo seguido. Das últimas vezes, as criaturas ficaram mais ousadas, mais próximas. E ele sabia, que era questão de tempo para eles o pegarem.

Quando durante a caminhada, ele viu o Olho da Mata, ele sabia que havia chegado a hora.

Seria sua última vez na mata.

João, vinha de uma família com dons especiais, falar com os mortos, ver o futuro, visões e premonições.

E desde criança, ele sabia que chegaria a hora que ele veria a mulher árvore. E que ele precisava passar por isso para seguir a vida. Por isso ele entra sem medo na clareira das criaturas estranhas.

Ele vê a mulher árvore surgir em um redemoinho que crescia e crescia, até que ela estava ali, olhando para ele.

— Olá, jovem rapaz, – a mulher árvore disse — Enfim nos encontramos.

— Eu sou Yanna, a dona dessa mata e esses, meus filhos. E nós queremos você aqui conosco. Venha para nós, João. Faça parte de nossa família.

João não se surpreendeu pela mulher árvore saber seu nome, ele sabia que esse dia chegaria. Sabia que seria difícil resistir a sedução de Yanna, mas, ele não queria viver ali, ele queria ser um homem livre.

Yanna começou a se aproximar dele e toca seu peito. E ele vê a história de Yanna passar por seus olhos. Naquele momento, João começa a sentir o vazio encher seu peito, todo sentimento que fazia João ser João, estava sumindo... até que ele viu um brilho dourado alguns metros a frente.

O brilho o atrai, e ele rastejava em sua direção. Então, João se deu conta que seu braço, estava começando a mudar. Sua pele estava ficando igual de Yanna. Ele se concentra na cobra, que brilhava mais e mais e ela levanta a cabeça e o encara com olhos azuis estranhos, com um brilho quase humano.

De repente, uma voz invade sua mente.

— João, se concentre. Sinta sua família, sinta sua força e seu amor. Deixe que a força deles o preencha. Agora, João!

A voz lembrava a do seu pai, Antônio Carlos. Seu pai falecerá há 1 ano atrás, de um ataque cardíaco fulminante. A dor ainda o invadia dia a dia e saudade era enorme.

Escutar a voz do seu pai, deu forças a João que se concentrou e deixou os sentimentos o invadirem. Ele sentiu a cobra começar a subir em suas pernas e surpreendentemente, seu toque era quente e familiar. Nada frio, nada viscoso, só natural.

Conforme a cobra o envolvia, João se sentia mais forte.

Yanna, sentindo a mudança na energia de João, dá um passo atrás e a cobra que já estava no pescoço de João, avança e a ataca!

— Aaaah, – Yanna grita — Sua maldita!!

— Não, maldita é você. – João diz já recuperado e com o corpo voltando ao normal.

— Você, Yanna, você não lutou contra o mal que a dominou, você deixou Kaitoã vencer. Você, decidiu renegar Kuanan e seus ancestrais.

— Eu fui amaldiçoada, como ousa? – Yanna grita, revoltada.

— Você tinha poder para lutar contra a maldição, seu medo e covardia a venceram. – João diz — Mas, eu não tenho medo, eu confio nos meus ancestrais e eu vou vencer.

João, com a cobra enrolada em seu braço, ergue o punho e o vento corre pelas matas, os filhos de Yanna gritam e se fundem as árvores ao redor. Yanna fica parada com os cabelos revoltos e cheia de ódio no olhar.

— Você até pode escapar de mim, João, mas teu primogênito virá para mim, e ele, eu não perderei. – Yanna promete.

João lança o vento em direção a Yanna e ela se funde a velha árvore seca e lá desaparece.

Ofegante e ainda atordoado pelo poder que corre pelos seu corpo, João olha para a cobra que começa a deslizar do seu braço para o chão e ela o guia para a saída do Olho da Mata.

E João volta a escutar a voz na sua mente.

— Não volte para cá nunca mais, nunca mais entre em mata profunda.

E ela começa a se afastar, mas, João grita.

— E meu primogênito, isso foi real, o que ela disse? – ele pergunta com medo.

— Sim, seu primogênito será como você, atraído pelo poder da mata, na hora dele, na batalha dele, só ele pode decidir que lado seguir. E se ele decidir por nós, eu estarei lá.

E a voz e a cobra se vão.

E João nunca mais entrou em mata profunda.


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