Quando Naruto foi embora, prometendo que pegaria suas coisas e voltaria no mesmo dia. Por incrível que pareça, eu fiquei ansiosa. Me acostumei a morar sozinha depois que minha avó faleceu, mesmo com Sakura pedindo que eu fosse morar com ela. O que eu nunca aceitei, porque temia me acomodar e nunca correr atrás de uma casa para mim. Portanto, ao me deparar com a possibilidade de dividir o apê com alguém, inicialmente fiquei apavorada. Principalmente quando esse alguém transformou-se em um homem. Agora, no entanto, eu cogitava ao menos ter uma convivência tranquila com Naruto e talvez amigável. O que já era um avanço, considerando meu desespero anterior. Tudo mudou ao descobrir suas origens, ele era como eu, abandonado na vida. Não iria me fazer mal.

Fiquei de providenciar o contrato de locação para ele assinar, assim que eu o reconhecesse no cartório, e Naruto perguntou se podia se mudar ainda hoje. Porque seria um peso a menos no ombro do amigo, que só estava esperando que ele se acertasse para poder entregar o apartamento de vez. Cheguei a questioná-lo, se Naruto não acharia melhor continuar no apartamento em que estava, se de qualquer forma precisaria me ajudar com o aluguel. Naruto devolveu dizendo que o que eu iria cobrar era bem mais justo do que o aluguel do apartamento em que dividia com o amigo. De modo que, preferiu poupar o que pudesse, para não passar por apuros futuros. Pelo menos até se formar e conseguir um emprego melhor. Foi o que ele disse. O que me surpreendeu, Naruto era realmente responsável, assim como Sakura alertara. 

Talvez a estatística de que eu não me dava bem com os amigos dela poderia mudar, não é? Naruto não iria tornar minha vida um inferno, como eu imaginava. Foi com esse pensamento, que liguei para a minha amiga, disposta a contar tudo o que acontecera há pouco. 

Papo vai, papo vem, enfim Sakura confessou o que eu queria saber.

— Miga, eu te falei que não tenho muitas amigas confiáveis, né?

— Sim, Saky. — garanti, ouvindo-a com atenção. — Mas você falou da Shion e ela é da sua faculdade, além de ser namorada do seu amigo. Shion não se encaixa no contrário que você me disse?

— Depende — contrapôs — Shion é extrovertida, animada, linda de morrer, você viu. Todos gostam dela, mas, sei lá amiga, algo nela não me cheira bem. Eu e Shion não nos batemos muito, é tudo muito sutil, nos falamos com educação sempre. Porque Naruto e eu éramos próximos, amigos mesmo, o que me obrigava a conviver com ela. Só que ela é meio esnobe e muitas vezes já a vi se desfazer do Naruto por motivos idiotas, então eu não gosto muito da Shion como pessoa. Foi por isso que sequer cogitei te indicá-la, na real eu nem sabia que ela procurava um lugar para morar. Não somos próximas, aliás ela é toda pomposa, não entendo o que iria querer morando nessa região. — despejou tudo de uma vez e puxou o ar com força, continuando: — Eu sempre falei pro Naruto que pra mim Shion era alguém que eu não faria questão de ter muito próxima, ele achava que era ciúme, porque ela sempre se intrometia nas nossas conversas e tals. Bobagem. Acho que é isso, posso estar sendo injusta, mas é o que eu penso. Ela nunca mereceu o Naruto, é o que eu acho.

— Ela se desfaz dele porque Naruto é órfão, estou certa? — sondei curiosa — Você se sente mal e toma as dores dele por minha causa. Queria que ele e eu nos conhecêssemos porque somos dois órfãos abandonados na vida. Acertei, Sakura? — minha voz soou um pouco ressentida, mas eu não estava brava. Pelo contrário, ela se preocupava comigo e eu era grata à minha amiga por isso.

— Sim, amiga — concordou em um fiapo de voz — Sinto muito, Hina. Naruto me procurou assim que eu saí do seu apartamento. Ele não queria te conhecer antes porque namorava, mas acho que agora acabou mesmo.

— Calma, Saky — pedi, rindo de leve — Eu não estou brava com você por querer me jogar pra ele. Você teve seus motivos e eu entendo, agora vamos morar sob o mesmo teto. Dois órfãos abandonados, e sei que você está torcendo pra gente se apaixonar perdidamente, não está?

Estremeci diante dessa constatação, Naruto não iria morar comigo de uma forma romântica. Ainda assim era inusitado.

— Eu posso ser o cupido de vocês — respondeu e riu também. — Naruto têm os problemas dele, é meio fechadão, não costuma se abrir com facilidade. Mas é um bom homem e eu estaria mentindo se dissesse que não torço para vocês ficarem juntos. Agora ainda mais.

Gargalhei alto.

— Chega desse assunto! — ainda ria.
— Você é muito romântica, não é assim que as coisas funcionam.

— Ah, amiga — estalou a língua — Eu quero ver você feliz. — um suspiro — Assim como eu.

— Você tá pegando alguém — provoquei — Confessa, bandida. Por isso está toda romantica pelos cantos.

— Aí, Hina — sua voz subiu duas oitavas e ficou bem mais estridente — Ele é maravilhoso, lindo, moreno, alto... — fez um barulho parecido com um miado, Sakura tinha miado? — Prometo te apresentar assim que nosso lance ficar sério.

— Safada, sabia que tinha homem na jogada. Quando você fica avoada assim, boba e romantica é batata — constatei, divertida — Vê se toma cuidado e não mergulha de cabeça, seus rolos acabam mais rápido do que eu conto até dez.

— Dessa vez é diferente, amiga. Tô sentindo. 

— Pois não sinta, espere pra ver. — a repreendi.

Sakura sempre voltava chorando para mim e eu odiava vê-la de coração partido.

Com isso, ficamos tagarelando mais algum tempo e em seguida eu desliguei. Eu estava tão ansiosa para o retorno de Naruto, que resolvi fazer um bolo. Seria legal, certo? Um bolo de boas-vindas, demonstraria que eu sou uma boa anfitriã. Há, quem eu quero enganar, eu só pensava que iria morar com um homem que não era da minha família e que isso em hipótese alguma havia passado pela minha cabeça na vida. Pelo menos não até ficar sem emprego fixo. Terminei o bolo e finalmente fui me arrumar.

(...)

Naruto estava na terceira fatia de bolo e na segunda caneca de café. Era um sinal de que mandei bem na escolha da recepção.

— Eu nunca me dei com os amigos da Sakura, agora estou dividindo o apê com um deles. — divaguei comigo mesma, só que em voz alta.

— Cara, ela é a melhor pessoa que eu conheço. Eu nunca faria nada pra magoar uma amiga dela. — garantiu, eu até senti um quentinho no coração — Puts, isso tá muito gostoso... — e enfiou o resto da fatia toda na boca.

Achei graça.

— Que bom que gostou. 

— Se eu soubesse que seria tão bom mudar de apartamento, teria feito isso antes. — observou e riu, estreitando os olhos.

Tão lindo. 

Epa, sinal de alerta. Eu não posso achá-lo lindo, não de um jeito romântico. Volta, Hinata. Concentra, refleti em pensamento.

— Espero que nossa convivência seja pacífica, pense nesse bolo como uma bandeira branca. — brinquei, relaxando a postura no sofá.

Eu havia maquiado levemente meus olhos e apertado as bochechas para me dar uma cor. Vestia um short cintura alta e um cropped preto, que realçava ainda mais minha brancura. Mas, foi o que deu para achar, com o interfone tocando, indicando que Naruto chegara. Olhei para ele e fiquei desconcertada, Naruto me olhava fixa e intensamente. Eu não sabia o que aquele olhar significava.

— Nossa... — sussurrou, admirado, eu apenas franzi o cenho em resposta — Você é muito linda — parecia que ele me enxergava pela primeira vez, desde que nos conhecemos. — Eu err... — pigarreou, apatetado — Acho melhor... Eu... Hã... Vou ajeitar minhas coisas, mais uma vez obrigado pela recepção e o bolo, estava realmente divino. Boa noite, Hinata. — dito isso, Naruto não saiu mais de seu novo quarto, não naquele dia.

Deixando-me com aquela grande interrogação na cara, ele me achava linda?