Fio 80 escrita por LeChevalier


Capítulo 1
A pergunta é! A resposta?


Notas iniciais do capítulo

Leia por conta e risco! xD~



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Mais um inverno se iniciava e com ele, as férias anuais de Saga e Shaka. Férias que eram sempre minuciosamente planejadas assim que a última viagem se dava, Shaka fazia questão, apesar do roteiro ser sempre o mesmo, uma vez que o destino era sempre o mesmo: os Alpes austríacos. Saga até tentava, de tempos em tempos, convencer o marido a variar nem que fosse de cidade ou clima, mas Shaka nutria a obsessão em passar frio. 

Assim, mais uma vez estavam lá, sentindo frio, mesmo sob a proteção de uns dois quilos de roupas.

E o que não podia faltar nas férias do casal era o dia especialmente reservado para compras, que obviamente era coisa de Shaka. E não, não se tratava de comprar souvenirs e presentinhos para os mais queridos, se tratava de comprar roupas para uso cotidiano.

Moravam na Grécia e se fossem pessoas normais, comprariam suas roupas na cidade em que residiam, mas não eram pessoas normais, ou no caso, Shaka não era uma pessoa normal, portanto, passava o ano inteiro sem sequer comprar uma cueca, e talvez isso fosse proposital. 

Para Saga, Shaka dizia que não precisava comprar nada pois as roupas das últimas férias ainda estavam novas, o que não era mentira.

Já para Shaka, o evento não era nada demais, o fato dele sentir necessidade de fazer compras apenas uma vez ao ano e especificamente no penúltimo dia da viagem de férias, não era mais do que pura coincidência.

E fazer uma compra anual lhe era bastante conveniente por motivos de odiar shoppings, não ser muito fã de pessoas e muito menos de vendedores que perseguem o cliente como se fossem almas penadas oferecendo ajuda. A energia aplicada para não tratar ninguém mal, já que as pobres almas estavam apenas cumprindo com suas funções, era enorme, mas Shaka podia ser chato, mas não era grosso, ou pelo menos tentava não ser.

Então nada mais certo que simplesmente evitar se expor a um ambiente tão hostil quanto um shopping ou um comércio. Já bastava ter de socializar e lidar com os colegas de trabalho, chefe e o resto do mundo.

E assim como o dia de compras era uma tradição, a discussão pré-dia de compras também era. Sempre que Saga era comunicado sobre o roteiro do dia seguinte, mesmo quando ele já sabia o que iria acontecer, tinham a mesma discussão básica sobre Shaka não precisar comprar nada, pois ele tem um guarda-roupas com mais de duzentas camisas, sendo que metade delas estavam intocadas, pois Saga as presenteou ao marido e por alguma razão, ele não se  agradou com tais demonstrações de afeto. Pelo menos essa era a única conclusão que chegou, já que as roupas ficavam esquecidas mofando no armário, apesar de Shaka seguir elogiando o gosto do marido. 

As roupas ignoradas eram roupas de marca; camisas caras, bonitas e de qualidade. Saga realmente tinha um bom gosto e estava sempre muito bem vestido. Agora porque o marido não apreciava vestir as roupas que ganhava do companheiro de gosto tão formoso, era uma pergunta que Saga sempre se fazia. Além da inconveniente quantidade de roupas que aumentavam nas malas, que já se encontravam apertadas por causa das roupas da estação fria.

Então Saga, após declarar derrota na discussão que antes mesmo de começar já estava perdida, se encaminhou para o centro com o marido, que foram recebidos com um "bem-vindos de volta" pelo senhor alfaiate da loja, que também era sempre a mesma.

No entanto, Shaka não estava tendo um dia agradável. Algo entre dormir e acordar não deu certo para ele e estava claro como os olhos azuis que possuía que seria o mundo a lidar com isso. 

Assim sendo, após entrar na loja e cumprimentar a mocinha de longos cabelos castanhos claros, que estava tão quieta e perdida em pensamentos que mal parecia respirar e que por consequência não escutou o cumprimento fez Shaka se zangar de vez.

— Mocinha... ei, a senhorita! — Estalava os dedos impacientemente no alto do rosto da pequena moça, que com o ato piscou algumas vezes e franziu o senhor.

— Em que poderia ajudá-lo, senhor? 

— Bom dia para a senhorita também. Poderia me dizer se tem aquela camisa azul da vitrine no número 4? — Apontou para a peça, atraindo o olhar da vendedora na mesma direção.

— Não senhor, não temos. — Respondeu simplesmente, sem mudar a posição.

— Mas você não vai olhar?! — Indignando-se.

— Não senhor. Eu vendi hoje mesmo a última peça desse modelo. 

Shaka se sentiu um idiota, mas estava sem paciência para se mostrar mais amigável, fechando ainda mais a cara.

— Certo… moça, é o seguinte, eu moro num país quente, então preciso de camisas finas, você saberia dizer se esse modelo esquenta? Me disseram que quanto maior o fio, mais leve e fino ele é!

— Essa é fio 80, senhor. Olha, eu tenho esses outros modelos aqui, você gostaria de dar uma olhada?

— Não moça, eu quero saber se o fio 80 não esquenta! Porque se proceder, eu quero uma camisa assim.

— Senhor, eu tenho esses outros modelos aqui, mas é fio 40. Talvez sirva a seu propósito.

— Mas moça, fio 40 esquenta?

A moça parecia não estar satisfeita em atender Shaka, da mesma forma que ele não estava satisfeito em ser atendido por ela. Saga assistia aquele debate infértil sem saber como reagir, se dava risada ou se sentia vergonha. Felizmente a loja estava vazia e assim ninguém presenciava aquela discussão sem cabimento entre os dois.

— Senhor, eu acredito que não faça diferença se o fio é 40 ou 80! — disse, reunindo todas as camisas em uma pilha.

— Senhorita, se não fizesse diferença, por que então existiria a informação dos fios? Veja bem…

Essa foi a deixa para Saga, toda vez que Shaka vinha com um "veja bem", era mau sinal. Convidou o senhor alfaiate, que assistia a tudo ao lado, para tomar um café e rumaram os dois para fora da loja, deixando a dupla para se entenderem.

— …eu preciso comprar roupas leves, meu país é quente demais. A fio 80 é mais fresca que a 40 ou não? E tem número 4 deste modelo aqui? — Mostrou uma camisa vinho.

— Eu tenho esse modelo aqui. — Pegando um modelo diferente do que o questionado.

— Minha senhora, a pergunta é: você tem esse modelo aqui?, a resposta é?! — Shaka jogou para o alto qualquer intenção de tentar ao menos ser educado. 

— Só tenho número 3! Gostaria de experimentar? 

— Não. Uma moça de outra loja me explicou sobre o fio das camisas, procede ou não? 

— Senhor, eu não sei. Por favor, nesse caso, vá comprar suas roupas com a outra moça, está bem? Com sua licença!

A jovem, sem nenhuma paciência, deu as costas ao cliente e se dirigiu para o interior da loja, deixando um Shaka boquiaberto para trás.

***

Sentado à mesa, após o almoço, durante a sobremesa, mais calmo, mais cansado e sem ter feito nenhuma compra, Shaka bufou frustrado.

— Está mais calmo agora, Shaka? Eu pedi desculpas para o alfaiate em seu nome. Aquela mocinha é neta dele, — disse, rindo da expressão de vergonha do esposo. — ele aceitou as desculpas sem pestanejar. Disse que o namorado dela terminou o relacionamento e por isso o mal humor. Então ficou elas por elas…

— Então está explicado tão mal atendimento, nada profissional. Patético. — Bufou novamente.

— Shaka, você também está longe de ter sido um bom cliente, foi um belo papelão. Eu devia ter filmado sua cara, você estava vermelho de nervoso! — Ria, se divertindo com a recente memória.

— Como pode, Saga? A menina não sabe nem distinguir uma camisa fio 40 da 80?! Ela saber disso seria o básico!

— Não, Shaka. Você pesquisar isso é o básico, já que você é o interessado. — Recebeu um olhar emburrado do esposo, ao mesmo tempo que balança a cabeça em negativa.

— Acho isso lamentável, Saga...

Finalizaram o almoço e voltaram para o hotel. Saga sentia satisfação por ter visto os planos do companheiro não terem se concretizado. Não é como se fosse algo de suma importância, roupa Shaka tinha, e em ótimo estado, mas foi ótimo sair da rotina de forma tão inusitada, rendendo um bom causo para contar aos amigos quando voltar, causos que eram raros, já que as férias sempre eram a mesma coisa.

E enquanto pensava sobre justamente contar a cena cômica protagonizada pelo esposo, Shaka o despertou da divagação.

— É, Saga… acho que ano que vem iremos para outro lugar nas férias. Fica a seu cargo escolher, está bem?

Que tipo de sonho, ou pesadelos, Shaka teve para ter acordado azedo, Saga definitivamente não queria saber, mas jamais perderia a oportunidade de escolher o próximo destino. Com certeza optaria por um lugar quente, pelo menos assim Shaka não precisaria discutir sobre tecidos e qual tipo de camisa é apropriada para o clima grego. 

Isso se Shaka realmente levar adiante a ideia de deixar na mão de Saga a escolha e organização da próxima viagem.


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Notas finais do capítulo

A capa linda foi feita pela minha rainha @Laisve!
Obrigada, meu bombom!

Horrível escrever e formatar no cel, eu tô sem PC por uns tempos. Tá difícil a vida.

Sobre a fic:

O Shaka é chato, mas gosto dele.
Mas é chato ainda assim.

A fic é sem pé, nem cabeça e não me responsabilizo! Espero que gostem!



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