O Ataque da Raiva escrita por Kirstenyster


Capítulo 1
O Ataque da Raiva




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A Raiva apareceu sorrateiramente na sala.

Com o cuidado de uma veterana de guerra, ela analisou o terreno. A Garota encarava uma página do Word em branco. Os dedos batucavam incessantemente a mesa de madeira. Diversas abas de pesquisa abertas no navegador e rabiscos no papel ao lado indicavam um trabalho pendente.

Um cenário propício.

Meticulosamente, a Raiva esticou o primeiro de seus tentáculos e o posicionou sobre os ombros da Garota. A Garota sentiu o peso, mas não se moveu.

Duas horas se passaram, enquanto um traço piscava numa tela em branco, a Garota bufava em exasperação e a Raiva fixava firmemente cada uma de suas ventosas. O primeiro tentáculo era crucial para o sucesso da missão. Ele precisava estar bem posicionado para não cair durante as próximas etapas.

Primeira fase concluída com sucesso. Agora, precisava de uma brecha para posicionar o segundo tentáculo. Esse era mais simples que o primeiro, pois os hospedeiros normalmente não lutavam contra ele.

A Garota levantou-se ao soar das onze e foi até a cozinha para lavar os pratos, uma atividade que ocupa as mãos, mas deixa a mente livre. A Raiva viu uma oportunidade e enlaçou o segundo tentáculo ao redor da cabeça da Garota, sem preâmbulos. A Garota sentiu o peso, mas não se moveu.

A Raiva se acomodou por um tempo, concentrada em sugar energia e aumentar de tamanho. Mas logo chegaria a hora de usar o terceiro tentáculo, e esse era o pior de todos.

Normalmente, os hospedeiros não ligavam muito para o peso dos dois primeiros tentáculos. Alguns até mesmo conviviam com eles por vários dias. Mas o terceiro, às vezes, causava reações de desperdício de energia, o que descolava as ventosas e podia obrigar a Raiva a ir embora. Ela precisava de uma brecha específica, clara, e precisava ser cuidadosa ao posicionar o terceiro.

Quando o celular antigo e lento da Garota deixou de reproduzir a música e se recusou a funcionar, a Raiva cometeu um erro.

Com sede de mais energia, a Raiva envolveu o terceiro tentáculo ao redor do tórax da Garota. A pressão foi firme e repentina. Uma mão agarrou o celular e o atirou longe. A mesma mão voltou à pia e esfregou os potes de plástico sujos, com força, batendo-os contra a superfície de granito.

A energia utilizada naqueles gestos quase fez com que a Raiva perdesse o terceiro tentáculo, que mal havia posicionado. Conseguiu se manter conectada apenas por uma ventosa. Fora precipitada, e agora a Garota estava ciente da presença da Raiva ali. Mas tudo bem, tudo bem. Ainda tinha dois tentáculos firmes. Podia esperar o dia inteiro, até a Garota estar distraída, e então tentar posicionar o terceiro de novo.

A Garota finalizou as atividades que deveria fazer na cozinha, e a Raiva se aprumou, verificando se o ambiente permitiria uma nova tentativa.

Então, a Garota pegou a Arma Secreta.

Só a visão daquela caixinha com sachês fez a Raiva perder a última ventosa do terceiro tentáculo. Isso não podia estar acontecendo.

Quando o aroma de maçã com canela subiu da caneca com desenho de preguiça, a energia baixou tanto que a Raiva precisou fazer força para se manter. Usou de seus truques mais baixos para isso: incômodo com a própria roupa, insetos, calor, coceira, fio de cabelo na cara. Mas nada impediu a Garota de beber aquele líquido quente. Com esse movimento, o segundo tentáculo caiu.

Mesmo assim, a Raiva ainda tinha firmeza no primeiro tentáculo. Se não o perdesse agora, poderia tentar de novo mais tarde. Não podia deixá-lo cair, em hipótese alguma. Se precisasse, o usaria para amarrar as mãos da garota e impedi-la de ser produtiva.

Então, a Garota usou o Golpe Final.

Com uma certeza inabalável, duas mãos se posicionaram num teclado de mesa, diante de uma página do Word em branco. A Raiva tentou fazer o primeiro tentáculo se mover. Nada aconteceu.

Com a experiência de uma veterana de guerra, sabia reconhecer quando era derrotada. A Garota era obviamente mais forte do que pensava. Enquanto as teclas eram pressionadas, a Raiva soltou o primeiro tentáculo voluntariamente e se retirou, sentindo um enorme respeito pela adversária.

A Garota sentiu a leveza e parou de se mover. Encarou a primeira linha na página antes em branco

“O Ataque da Raiva”

e sorriu.


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