Ouriço escrita por Siaht


Capítulo 1
Ouriço


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas maravilhosas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, primeiro queria agradecer às organizadoras do Março Remadora por criarem esse projeto lindo e que me deu a oportunidade de escrever a minha primeira fanfic desse casal que eu adoro. E aproveito para recomendar que procurem as outras histórias do projeto (@remarchdora).
Espero realmente que gostem da minha contribuição! ♥



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{ouriço}

.

.

“que descuido meu

pisar nos teus espinhos

é essa mania minha

de olhar pro céu

com a cabeça ao léu

voando sem asa

vez ou outra esbarro

nos móveis da casa

e outra vez tropeço

nos próprios caminhos

que descuido meu

pisar nos teus espinhos”

.

.

Nymphadora Tonks era uma especialista em tropeços. No momento em que aprendera a andar, também aprendera a cair. Seu pai, Ted, costumava brincar que sua pequena ‘Dora nunca assimilara o conceito de “caminhar” de forma correta. Apesar de “correto” ser algo bastante relativo, a moça supunha que ele tinha razão. Tonks, de fato, era incapaz de dar cinco passos em linha reta. Pior, era incapaz de seguir qualquer linha reta. Seus percursos eram sempre sinuosos. E tudo o que fazia na vida era tropeçar. 

Durante 22 anos,  a moça seguira assim. Não era culpa dela. Sua cabeça tendia a voar, muito livre para se prender ao pescoço, e o resto do corpo ficava por ali, à deriva, tentando encontrar uma direção, esbarrando nos móveis da casa, tropeçando em todas as pedras no caminho. Não importava muito. Cada tropeção trazia consigo uma lição e o percurso esburacado tinha a vantagem das pausas não planejadas. Aquelas que a forçavam a apreciar a vista, a fazer alguma descoberta, a recalcular a rota. Havia beleza em viver desse modo, embora fossem poucas as pessoas que tivessem a ousadia de experimentá-lo. Ousadia, de qualquer forma, nunca fora algo que faltara à garota. 

Ainda assim, nem mesmo um espírito livre e amante das surpresas como o de Nymphadora Tonks estava preparado para tropeçar – de forma tão figurativa e literal – em Remus John Lupin. Jamais imaginara cair nos braços de um homem como ele: tão sério, tão melancólico, tão cercado por muralhas. Ele era mais velho do que ela, era um lobisomem, era cheio de espinhos. Era tudo o que ela não deveria querer, mas que por algum motivo queria. 

A própria Tonks não seria capaz de explicar o que acontecera. Lupin, afinal,  não era o tipo de pessoa com quem costumava se relacionar. E  talvez esse fosse o ponto. Os opostos se atraem, não é mesmo? Pelo menos era o que os ditados populares diziam. Ou talvez tudo tenha sido causado pela forma firme, porém gentil, com que o homem a segurara, quando ela desabara sobre ele em uma reunião da Ordem da Fênix. 

Aquele definitivamente não havia sido o momento mais gracioso da auror. Ela era uma das pessoas mais jovens daquela reunião e estava desesperada para provar seu valor, para assegurar que merecia estar ali. Mais do que qualquer coisa, Tonks acreditava naquela causa, queria lutar por ela e desejava ser levada a sério enquanto o fazia.  Tropeçar em um dos respeitados membros da primeira formação da Ordem era começar com pé esquerdo.

Remus, no entanto, havia impedido sua queda, lhe sorrindo de forma educada e inegavelmente doce. Tão doce quanto seus olhos que lembravam chocolate derretido. Marrom nunca fizer parte da complexa paleta que coloria o mundo de Nymphadora. Até aquele momento. Aqueles olhos, afinal, ficaram presos em sua memória por dias. 

Era um tanto patético, a própria garota seria a primeira admitir. Não entendia o motivo de estar se comportando como uma adolescente deslumbrada, mas isso não chegara a realmente preocupá-la. Era apenas uma quedinha inocente e inofensiva por um homem mais velho. Algo que superaria brevemente e  se tornaria uma fonte de futuras risadas. Não poderia estar mais enganada. Porque o tempo e  a convivência apenas intensificaram aqueles sentimentos. De repente “a quedinha” se transformou em um salto mortal de um despenhadeiro. Não havia nada que Tonks pudesse fazer além de cair. E, se fosse honesta, admitiria que não havia nada que desejasse fazer além de cair. Estava apaixonada por Remus e não sabia como poderia ser diferente. 

Lupin era uma miríade de antíteses. Era quieto e reservado, porém havia um toque de malícia e marotagem em sua personalidade que poucas pessoas conseguiam enxergar. Sua vida fora marcada por dor e tragédias, mas ainda havia luz em seus olhos. Olhos que viam esperança no futuro e beleza nas pessoas, mesmo nos mais sombrios dos tempos. Suas palavras muitas vezes carregavam verdades duras, contudo, nunca eram desprovidas de gentileza. Seu corpo era uma galeria de cicatrizes e hematomas e, ainda assim, era a pessoa mais linda que Tonks que já havia visto. 

Remus a fascinava. Cada novo detalhe que descobria sobre ele, a deixava mais encantada. A moça sabia que a recíproca era verdadeira. Sabia que ele também gostava dela. Não era uma pessoa pretensiosa, porém, também não tinha muita paciência para falsa modéstia. Conhecia as próprias qualidades, o próprio apelo e conseguia perceber quando alguém estava interessado por ela. E Lupin definitivamente estava. 

Isso, entretanto, não era tão positivo quanto soava. Remus poderia até ter um lobo espreitando sob sua pele, no entanto, quando se sentia ameaçado se tornava um ouriço, se encolhendo em si mesmo e deixando que sua superfície espinhosa afastasse o perigo. E ele se sentira ameaçado por ‘Dora e por todos os sentimentos que ela lhe despertava. Como não se sentiria? A mulher era tudo o que ele não era. Jovem, linda, vibrante, transpirando liberdade, cores e vida. Por algum motivo, que o homem não conseguia compreender, olhava para ele como se enxergasse algo que valesse a pena. Algo precioso.

Tonks queria se aproximar, queria estar mais perto, queria tocá-lo e fazê-lo dela de todas as formas possíveis.

No fundo, Remus também queria isso, mas todas as inseguranças, medos e aflições que o aprisionaram a vida inteira, o obrigavam a afastá-la. Ela dava um passo em direção a ele, ele recuava dois passos para trás. Era uma dança estranha e complicada. Uma dança truncada, em um ritmo caótico e cheia de tropeções. Mas uma dança da qual Nymphadora se recusava a desistir. No fim do dia, ela ainda era uma especialista em tropeços. Vivera sua vida inteira evitando as linhas retas,  abraçando os pequenos tombos, planando de forma estabanada em direção aos caminhos sinuosos apontados por seu coração. Não gostaria de existir de outra forma e definitivamente não saberia amar de outro jeito.


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Notas finais do capítulo

Uma contribuição curtinha e bem singela, mas espero que tenham gostado, porque amei escrever sobre esse casal pela primeira vez ♥
Beijinhos,
Thaís



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