Eu olhava o céu chorar. Suas lágrimas doces escorriam pelo vidro da janela. Apoiei meu queixo em minha mão no parapeito da janela. Minha respiração embaçou um pedaço do vidro.

 Desenhei coisas sem sentido algum com meu dedo, para apagar com a manga de minha blusa logo em seguida. Alguma coisa molhou minha face. Olhei para cima. Achava que a janela havia sido aberta pelo vento sem eu notar, e que a chuva molhava meu rosto, contudo, senti um gosto salgado em meus lábios. Lágrimas? Não, eu tinha que esquecer aquele dia...

Levantei-me afastando os pensamentos e fui deitar-me, logo após uma ducha quente.

Sentia minha cabeça pesar, afundando no travesseiro branco. Por mais que tentasse esquecer, aquilo voltava e me atormentava cada vez mais e mais, dia após dia: a culpa. Fechei meus olhos em mais uma de minhas frustradas tentativas de esquecer, de apagar tudo.

Estava sentado no banco de trás de um carro. Um Volkswagen vermelho, para ser mais exato. Havia uma mulher loira no banco passageiro. Logo reconheci: Rosalina. Doce, meiga, inteligente, popular... Nem sei como podia ser amigo dela, e ela correspondia essa amizade. E dirigindo o carro... Um rapaz de cabelo suavemente longo, de um preto vibrante e de pele morena... Era eu? Não podia ser, era aquele dia.

A estrada estava molhada e a chuva que ainda permanecia a cair não cessava. Conversávamos e conversávamos, e por um erro meu, o carro derrapara na pista molhada, e batera em uma casa. Os moradores do sobrado saíram intactos por um triz, mas não podia dizer o mesmo de Rosalina. Sai do carro destruído correndo, temendo o pior. Infelizmente, não consegui impedir. Naquela noite chuvosa, eu tinha pressa de chegar em casa, alias, deixa-lá em sua casa e declarar-me. Mas fui tolo, patético, covarde...

Acordei em um impulso. Levei minhas mãos ao meu rosto, com arrependimento. Precisava voltar a dormir, mesmo tendo a certeza de que o sonho ia repetir-se, pois precisava acordar cedo logo pela manha. Afinal,o enterro de Rosalina seria no dia seguinte.