Frutos do Porão escrita por zkephra


Capítulo 4
Empecilho




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{Por Armin Arlert}

“Finalmente, o último quarto!”, pensei enquanto me dirigia para o quarto do fundo do corredor. Cabo Levi tinha nos dado a tarefa de limpar toda a sede da tropa de exploração naquele dia. Feito isto, estaríamos liberados de nossas atividades até a hora do jantar. Estávamos divididos em duas equipes: uma responsável pela parte interna e outra pela parte externa da sede. Pelo menos para tirar poeira eu sou útil.

Enquanto eu caminhava para lá, a porta ao meu lado se abriu.

— E aí, Mikasa? Falta muito? — perguntei.

— Só esse do fundo do corredor.

— Deixa esse comigo.

— Não, Armin. Se o limparmos juntos será mais rápido.

— Ei! Deixa esse comigo e vai lá logo se encontrar com o Eren!

Mikasa corou.

— Ei! O que foi? — perguntei — Aposto que passaram o dia ansiosos para terminar logo o serviço e se encontrarem. Vai lá!

— Tem certeza?

— Ah-ham! Vai logo.

— Tá bom! — Mikasa saiu sorrindo.

Nunca achei que um dia fosse ver esses dois realmente juntos. Pelo menos uma notícia boa no meio dessa situação deprimente em que nos encontramos.

Entrei no quarto com o material de limpeza e imediatamente levei um susto.

— Historiya! Ah! Quis dizer, Majestade, me des.. desculpe. Eu não sabia que você estava aqui, por isso entrei sem bater.

— Sem problemas, Armin! — ela disse sorrindo — e já falei para parar com esse negócio de “Majestade”.

Historiya estava sentada à mesa, lendo um livro, trajada em suas vestes reais. Me arrependi de ter recusado a ajuda da Mikasa. Se ela estivesse ali, eu ia me sentir menos embaraçado.

— Não sabia que ainda estava em Trost.

— Devo ficar aqui até o dia da cerimônia em homenagem aos soldados. Sabe se a Hange san e o cabo Levi já voltaram?

— Nem vi que saíram.

— Eles foram se reunir com os repórteres para ver como está sendo a aceitação do povo sobre a notícia. Estou ansiosa pelas respostas.

— Entendo. Mesmo tendo sido divulgadas pela manhã, são notícias reveladoras. Bem, eu estou limpando alguns quartos como o capitão Levi nos ordenou. Se importa se eu limpar o seu?

— De modo algum, na verdade, eu posso te ajudar.

— De jeito nenhum! Você é a rainha, lembra?

— Armin, pare de me tratar como se de um dia pro outro eu tivesse virado um ser de luz que merece adoração! Sou a mesma de antes, igual a vocês.

Seja como Krista Lenz ou Historiya Reiss, as palavras "um ser de luz que merece adoração" me parecem bem adequadas para descrevê-la. Claro que isso não vem ao caso.

— Olha, deve sempre se lembrar, que ainda que esteja como rainha só porque é a última Reiss, você está aí por um motivo muito importante, que é...?

— Ser um símbolo para o povo.

— Exato! E o povo enxerga reis e rainhas como salvadores e protetores que merecem sua servidão. É por isso que para interpretar bem o papel de uma rainha, você deve cultivar isso no seu dia-a-dia. Desde que foi coroada, está aqui para ser servida. Só deve agir quando isso for demonstrar que você está protegendo a população. Como quando você estava ajudando as crianças do subterrâneo ou no caso do titã de 120 metros. Fora isso, seja apenas uma rainha que merece a nossa mais sincera servidão.

— Mas, Armin, isso não se aplica aqui, onde não tem ninguém me vendo...

— Sem "mas"! Apenas fique quieta aí lendo seu livro enquanto eu sirvo à vossa Majestade fazendo o serviço, está certo? — falei de forma veemente.

Aquilo assustou Historiya, fazendo-a voltar o rosto para seu livro e apenas responder:

— Sim.

Seu rosto doce levemente amedrontado me fez ter pena e quase lhe pedir desculpas, mas precisava cumprir meu objetivo primeiro. Depois que terminasse voltaria a ser legal e ficaria tudo bem. Historiya se fazia de forte, mas ela era mais sensível que as folhas secas que caem das árvores. Isso dava vontade de colocá-la em um local seguro para que ela nunca pudesse nem mesmo se arranhar. Por isso eu achava que a posição de rainha era bem apropriada para ela.

Fui tirar o pó dos móveis, começando pela mesinha de cabeceira. Nela havia um papel dobrado. A carta da Ymir, provavelmente. Quando chegou a hora de tirar o pó da mesa onde Historiya estivera lendo, ela já não estava mais lá. Estava debruçada sobre a janela observando o que acontecia do lado de fora.

— Ei, Armin! Aqueles não são Eren e Mikasa lá longe? — ela perguntou de repente.

Segui seu olhar e vi duas pessoas sentadas à sobra de uma árvore. Pareciam estar se beijando.

— Eles mesmos — respondi.

— Eles estão juntos, então!? — ela perguntou animada.

— Sim.

— Desde quando? — ela perguntou mais animada ainda.

— Desde hoje de manhã. Pelo menos foi quando eles me contaram.

— Nossa que bom! Estou tão feliz. Eu achava que isso nunca ia acontecer.

— Pensei a mesma coisa.

— Estou muito feliz mesmo!

— Eu também, afinal, eu e Eren teremos uma vida curta. — eu disse enquanto pegava a vassoura e começava a varrer — É melhor aproveitá-la enquanto podemos.

Ela não respondeu. Olhei em sua direção e vi que seu belo sorriso tinha se fechado e agora ela tinha um olhar vazio em sua face.

— O que foi, Historiya?

— Ahn?

— Você... parece ter se lembrado de alguma coisa que te chateou.

— Ah! Isso. Eu... só lembrei da época que eu tinha inveja deles. Foi logo depois que a Ymir foi embora. Eu via aqueles dois sempre juntos. O Eren tava sempre com uma cara de pamonha perto da Mikasa, sem saber o que dizer, mas eles estavam um com o outro e isso era o que importava. Quando eu via isso, ficava cheia de raiva me perguntando por que eles tinham esse direito e eu e a Ymir não. Hoje eu sei que não é questão de direito, é apenas o que é. Sorte talvez.

— Entendo.

Historiya se sentou novamente à mesa e eu voltei a varrer. Quando terminei de limpar tudo, disse em um tom de brincadeira muito forçado (na verdade, desde que voltamos de Shiganshina, acho que não sei mais o que é rir):

— Terminei a limpeza de vossos aposentos, Majestade! E peço permissão para me retirar de vossa presença.

— Permissão não concedida, vassalo. — ela respondeu, entrando na brincadeira.

Levantou-se de sua cadeira e veio até mim.

— Agora você receberá a punição por não obedecer minha ordem de parar de se referir a mim como "Majestade" e por não ter me deixado ajudá-lo na limpeza do quarto.

Eu estava com a vassoura em uma mão e um balde com flanelas na outra. Para minha surpresa, Historiya envolveu seus braços ao redor de meu pescoço e deu um beijo em meu rosto. Eu senti-me corar na hora. Depois, ela continuou com os braços em volta do meu pescoço e ficou olhando para mim. Então ela corou e um ar de riso começou a surgir em seus lábios, tomando conta aos poucos de toda a sua face. Foi aí que ela desatou a rir, soltando-me.

— Eu não sirvo para fazer esse tipo de brincadeira! Devo estar mais vermelha que você! — Ela disse entre risos — Você é uma pessoa boazinha, Armin. Eu não ia te dar um tapa, então, achei que essa seria uma boa maneira de te dar uma lição.

Eu permaneci ridiculamente em silêncio, fitando-a.

— Ei! Armin! Está me ouvindo?

— Sim.

— Acho que, pela sua cara, é desnecessário pedir pra você não contar isso a ninguém, não é?

— Certo! Eu vou embora agora, sim? — disse e sai.

— Espera, Armin!

Fechei a porta e ela não veio atrás de mim. Caramba! Eu adorava a Historiya. Ela é tão meiga! Que momento adorável! Se pelo menos eu não estivesse morrendo de vergonha...

Hoje não. Mas talvez um dia... eu me declare à Historiya. O máximo que ela vai dizer é "não".

O que eu estou pensando!? Ela é a rainha! A RA-I-NHA. Ela não pode se casar com qualquer um, certamente quando for se casar hão de escolher alguém de alta patente. Aliás, o Eren seria uma ótima opção: o titã e a rainha. Perfeito até! Que bom que ele e a Mikasa já estão juntos, assim ninguém virá com uma ideia dessas, eu acho. Se vierem, a Mikasa mata!

Além do mais, eu não sou digno disso. De ter uma mulher que me ame, como o Eren tem a Mikasa. Eu sou só um fraco que está vivo porque roubou o lugar do comandante. Nem dá pra acreditar que aqueles dois conseguiram me salvar no lugar do comandante. Era para que, agora mesmo, eu estivesse morto, incinerado pelo calor do titã colossal, e o comandante Erwin estivesse aqui, juntando ao nosso quebra-cabeças as peças que foram achadas no porão, elaborando o plano que vai salvar o povo das muralhas. Eu aqui, só sirvo para tirar poeira e ter devaneios amorosos que nada acrescentam à situação. Como sempre, o inútil do Armin Arlert. Que tolice a minha! Pensar que eu poderia acompanhar os meus amigos sem nunca atrapalhar ninguém. Agora mesmo, eu sou um empecilho para todas as pessoas desta ilha, não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

Olá, leitores!

Espero que estejam gostando da história! Se vocês leram até aqui é porque devem estar gostando da minha escrita. Nesse caso, gostaria de indicar que vocês dessem uma olhadinha na minha fanfic contestshipping (Pokémon) chamada "Love awaits in Johto". Se não conhecerem o casal, não tem importância! Dá uma olhadinha lá, que, quem sabe, vocês não se interessam?

Até o próximo capítulo!

zkephra.



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