Frutos do Porão escrita por zkephra


Capítulo 1
As considerações de Eren




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800068/chapter/1

{Por Eren Jäger} 

 

— Então, Eren? Não vai mesmo dizer nada? – insistiu Armin.

— Não! Não há mesmo nada o que dizer. Talvez... quando eu conseguir juntar as peças melhor. Mas por hora são informações sem sentido.

— Tudo bem então.

Naquele dia havia ocorrido uma reunião importante na qual ficou decidido que contaríamos ao povo das muralhas a verdade sobre o mundo. Essa verdade fora deixada escrita por meu pai em livros que ele guardou no porão da nossa casa a fim de que eu os encontrasse algum dia. O fato é que a humanidade fora das muralhas não pereceu e aqueles que vivem lá fora querem nos matar.

Desde que eu li aquelas páginas, memórias do meu pai atormentam a minha mente mais do que nunca e toda hora cometo alguma gafe, tendo reações abruptas devido a alguma memória. Armin sabe que estou lembrando de coisas e por isso quer ter acesso às novas informações para poder cruzar ideias. Ele é o melhor de nós nisso, no entanto, o que estou pensando pode colocar outras pessoas, a rainha, em perigo. Por isso quero pensar bem antes de dar com a língua nos dentes por aí. Não vou esconder isso por muito tempo, só quero pensar mais um pouco.

— Mas e então? Você já teve alguma memória? – eu perguntei mudando de assunto.

Eu tenho o poder dos titãs que me foi passado pelo meu pai. Assim como ele foi um dia, eu sou o titã de ataque. Armin acabou de ganhar o poder de titã, ele é o titã colossal. Nós que temos o poder dos titãs, temos também as memórias das pessoas que tiveram o mesmo poder de titã antes de nós. Todas as memórias que tive até agora foram do meu pai.

— Não! – respondeu Armin nervoso – Olha! A Mikasa está voltando!

Mikasa caminhou até nós calmamente. Estava tão magra! E sem fome. No jantar ela quase não teria tocado na comida se eu não insistisse. E eu sei muito bem porque ela está assim.

— Vou levar vocês até seus quartos – Armin disse e se virou, nós o seguimos.

Quando recuperamos a Muralha Maria, na batalha de Shiganshina, perdemos 199 soldados, restando apenas nove. Assim, Hange disse que até o próximo recrutamento podemos ter um quarto para cada um.

— Todos nós estamos hospedados no segundo piso – informou Armin.

Terminando a subida das escadas, virando à esquerda, nos deparamos com um corredor comprido onde havia várias portas. Um corredor de quartos individuais que eram reservados para os oficiais de alta patente. Parece que agora, com tantos mortos, nós nos tornamos a alta patente. Nós que há três meses éramos apenas recrutas.

— Os de vocês são esses aqui – Armin apontou para duas portas do mesmo lado da parede – e o meu fica logo aqui em frente. Podem me chamar a qualquer hora.

Nós três nos despedimos e entramos em nossos quartos. Eu sentei na minha cama e fiquei pensando em tudo que estava sobre mim. O poder dado ao meu pai, e agora a mim, para libertar o povo. Um poder que eu não consigo usar corretamente e nem em sua totalidade. Um poder que te mata treze anos depois que você o recebe. Me restam menos de oito anos de vida... Não vou viver mais depois disso. Depois disso, não vou existir mais.

A angústia que me consumia era enorme. Eu não tinha grandes planos na vida: apenas exterminar os titãs da Terra e reconquistar o mundo lá fora. Depois disso não tinha nada de mais em mente. Mas agora eu sei que não há apenas titãs no mundo lá fora. Há nações, e elas querem a nossa morte porque somos demônios, somos o povo de Ymir. Podemos nos tornar titãs e representamos um perigo a eles por isso.

Ainda assim, vencer essas nações seria o suficiente para ter acesso ao mundo de novo. Mas eu só tenho oito anos para fazer isso. Seria tempo suficiente?

— Droga.

Antes, não importava o quão ruim a situação estivesse, eu ainda conseguia me alimentar da esperança de vencer os titãs e conhecer o mundo lá fora, mas depois que li os livros do meu pai e vi as memórias dele eu não tenho mais esperança nenhuma.

Sempre achei, que não importava quão difícil ou complicada fosse uma situação, você precisava lutar para vencer. Sempre soube que lutar não era garantia de vencer, mas não dava pra vencer sem lutar. No fundo eu sempre acreditei que se lutasse venceria. Mas agora, pela primeira vez, eu não sei se vale a pena lutar. Eu só quero ficar aqui parado e aproveitar cada segundo de vida a mais que eu conseguir antes que venham destruir o povo das muralhas.

Mãe? Mikasa? Era assim que vocês se sentiam, não é? E eu achava as duas covardes por isso. Agora eu sou um covarde também!

Me joguei de barriga pra cima na cama, coloquei os braços atrás da cabeça. Apesar de toda essa miséria, eu não tinha vontade de chorar. E apesar de todos esses pensamentos eu sabia que iria acabar lutando, iria acabar fazendo tudo o que me fosse ordenado para salvar a humanidade, isto é, a humanidade dentro das muralhas. Esse sou eu. Eu nunca desisto. Mas essa é a primeira vez que não sei o que fazer.

Não importa! Alguém mais inteligente que eu vai pensar em alguma coisa. Somos uma equipe, e vamos conseguir.

Peguei minha chave dentro da camisa e fiquei encarando-a.

— Pai...

Pai, porque guardou esse segredo por tanto tempo e porque deixou pra mim a tarefa de resolver isso tudo sozinho? A coordenada não funciona no nosso sangue, pai!

A lembrança do único momento em que usei a coordenada invadiu minha mente. Estava desesperado para salvar a Mikasa, todos nós na verdade, e em um último ato de desespero eu soquei a mão daquele titã. Então todos os titãs o atacaram e nós conseguimos sair ilesos dali. Em seguida lembrei-me de Dina, a primeira esposa do meu pai, recebendo a injeção no alto da muralha e sendo jogada, transformando-se em um titã, aquele mesmo titã que eu matei.

A Dina tinha sangue real, o único sangue no qual a coordenada funciona. Coincidentemente foi quando encostei no titã dela que eu consegui utilizar a coordenada. Então, tem que ser verdade: se eu encostar em um titã de alguém com sangue real, eu posso utilizar a coordenada. Mas a única da família real que resta é a própria rainha, a Historiya. Parece uma ideia muito doida transformar a rainha em titã. Além do que, nem temos mais injeções para tal. Que bom que eu não falei isso em público. De qualquer forma, devo relatar isso em breve, não devo esconder algo assim.

Eu ainda fitava a chave.

Pai, eu matei a Dina, a sua primeira esposa. Mas ela era um titã. Foi ela que matou a mamãe, pai. Ela matou o Hannes san também, e estava prestes a pegar a mim e a Mikasa.

— Mikasa...

Mikasa, acho que se você não tivesse dito todas aquelas coisas eu nunca teria ido socar o titã e nós nunca teríamos chegado ao porão e descoberto toda a verdade.

— Ah! – suspirei soltando a chave e colocando minha mão atrás da minha cabeça de novo.

Fechei os olhos e pus-me a mentalizar as doces palavras dela. "Obrigada, Eren! Por ficar comigo, por me ensinar a maneira certa de viver, por me aquecer enrolando esse cachecol em mim". Eu imaginava claramente sua voz e a lembrança do seu rosto sorridente era vívida.

— Pequena Mikasa...

Só quando disse aquelas coisas, eu descobri que representava muito para você.

"Não! Isso tem que estar errado! Está... errado!", eu a ouvi lamentar enquanto eu relatava sobre a maldição de Ymir e fiquei sem saber o que dizer a ela ou ao Armin, que escrevia meus relatos.

Aliás, em se tratando de Mikasa, eu nunca sei bem o que dizer. Claramente ela está sofrendo pela minha morte mais do que eu mesmo. Além disso também tem o Armin. Nós três sempre estivemos juntos, mas eu vou morrer em oito anos e o Armin em treze. É horrível!

Detesto a minha morte e detesto a morte do Armin! Quanto à Mikasa, vai ficar completamente sozinha. Isso se sobreviver em meio a essa situação hostil. Embora seja muito forte, ela não é imortal, não é mesmo?

Abri os olhos. A dor de imaginar que ela poderia morrer, mesmo quando eu não estivesse mais aqui, me machucou. Eu quero que ela fique bem e a partir de agora vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tal. Levantei da cama em um só salto com a decisão tomada. Já chega de ficar quieto diante dessas coisas. Preciso dar um pouco de conforto para ela.

Assim, saí do meu quarto e fui em direção ao dela.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Frutos do Porão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.