Vozes da Eternidade escrita por Koushirou


Capítulo 5
Incestuosamente gay


Notas iniciais do capítulo

Olá! Boa noite. Como vão nessa madrugada?
Cá estamos mais com mais um capítulo.
Quero aproveitar esse espacinho para dizer que criei um instagram e adoraria tê-los por seguidores (e os seguir, também). @KoushirouYoshi.
Espero que gostem!
Boa leitura e até logo.



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A campainha tocou e Milo finalmente respirou. Achou, sinceramente, em um pensamento que veio do fundo de seu ser, que Camus ia pular em cima dele e bater nele até cansar, tamanho desgosto e psicopatia que refletia em seus olhos. Sentiu uma gota de suor escorrer em suas costas. Nem o maior cara que já enfrentou na vida havia lhe causado aquela sensação de pânico-pré-surra.

O ruivo fechou as portas dos armários e direcionou-se a porta, abrindo-a. O louro observou o movimento, seguindo-o com a cabeça, e ouviu a voz de Afrodite vinda do corredor do prédio.

— Olá, Camus — e o apartamento todo se encheu com o perfume de flores ao que a porta foi fechada. Logo ambos estavam na cozinha. — Bom dia, Milo. Como vai?

— Oi... — disse ainda um pouco pasmo. — Bem, e você?

— Estou ótimo — e o pisciano sabia ser a pessoa mais animada do mundo quando queria. Algo, de fato, encantador.

O silêncio se fez quando o novo visitante viu o pote de balas quase completamente consumido sobre a mesa e, então, pareceu entender a situação. Olhou para Milo e para Camus, observando o francês andar de um lado para o outro no cômodo coletando algumas coisas enquanto mastigava bolinhos doces e coloridos quase como se mastigasse a alma de alguém. E, por incrível que possa parecer, seu portar era extremamente esbelto e sua expressão, puramente neutra. O que entregava o fatídico estado de espírito de Camus era sua forma de comer e sua insaciável compulsão por açúcar.

— Quer ajuda? — ofereceu educadamente e recebeu um olhar quase petrificante do dono do apartamento.

— Não. Obrigado — e foi tudo. Afrodite compreendeu ainda mais e teve certeza de que seu vizinho estava possesso, indignado, puto, louco da vida... Ou, traduzindo, de mau humor. Concordou com a cabeça sob o olhar atento do escorpiano e se aproximou dele.

— Vou com o Milo para a sala... Se precisar de ajuda nos chame! — sorriu amarelo e puxou o outro consigo quase o matando. Camus nem pareceu ouvir.

Ambos se sentaram na sala, o grego confuso com tudo aquilo. O que raios...? Não se recordava de Camus ser uma pessoa tão odiosa assim.

— Ele está de mau humor — Peixes avisou para o escorpiano, e este balançou a cabeça.

— Percebi. Ele sempre come doce assim?

— Só quando está com raiva de algo — olhou fundo nos olhos azuis escuros. — Você fez algo para ele?

— Não! — Milo se defendeu imediatamente. — Eu acordei, fui até a cozinha e encontrei-o comendo balas e mexendo no armário. Aí eu perguntei se ele estava de mau humor e achei que ele ia...

— Te espancar com um extintor de incêndio até você morrer?

— Isso — exasperou-se ainda mais. — E a cena...

— Até pareceu estar refletida nos olhos dele?

— É — e, então, se apavorou. Camus era um psicopata real? — Ele... Ele mata pessoas? — sussurrou com o coração acelerado e Afrodite riu gostosamente observando a expressão de pânico alheia.

— Não... Ainda não — riu ainda mais. — Ele tem algo conhecido como Misantropia — brincou. — Ok, falando sério agora: Camus só não gosta muito de pessoas. Principalmente quando ele não se lembra delas, já que isso é um insulto ao intelecto dele. Mas isso é só um detalhe que piora o mau humor matinal. Nosso querido amigo tem um mau humor matinal incrível, principalmente quando não dorme bem. E está de ressaca.

— Camus não se lembra de mim? — inquiriu e começou a entender.

— É o que eu desconfio — ajeitou-se no sofá, cruzando os braços sobre o peito, abaixando seu tom de voz. — Se ele lembrasse que você é o pentelho que incomodava ele no ensino médio, ele não te odiaria assim. Apenas te evitaria para conversas mais complexas, já que, naturalmente, te acharia insignificante. Mas ele te olha como se quisesse te espancar com o pé da mesa, a única explicação é a memória dele ter falhado bruscamente. Camus não costuma odiar as pessoas sem motivo. Na verdade, é o homem mais centrado que já vi.

— Ah — só conseguiu dizer isso.

— Embora ele deteste o convívio social, claro. Ele só é chato, mesmo. Odeia tudo só para ter o que fazer.

— Como você... Como? — ergueu o olhar para os olhos de Afrodite o encarando um pouco surpreso demais pelo conhecimento do louro sobre o francês.

— Somos amigos bem próximos — explicou sorrindo de canto, um sorrisinho ardiloso e cheio de malícias escondidas. — Eu almoço aqui quase todos os dias, por isso cheguei para te salvar de uma morte cruel. Talvez ele acabasse matando a sua mãe em um barco na Sibéria — sorria como se falassem do clima. — Desde o final do ensino médio compramos apartamentos vizinhos, por coincidência, e o convívio diário acabou se tornando uma amizade. Até hoje, mesmo depois de anos, Camus odeia que eu escute música alta e eu ainda faço isso — riu.

— Isso é surpreendente — deixou o comentário escapar. — Quando eu ia imaginar vocês dois como amigos? No ensino médio vocês não se falavam quase nada mais do que o necessário e agora andam juntos. Isso parece um sonho louco, com maconha.

— Nah... — brincou com as almofadas pequenas colocando-as em seu colo. — As coisas mudam. Principalmente quando passamos da adolescência para a fase adulta, embora Camus ainda tenha crises adolescentes sem nem perceber. Essa é uma delas. Ele fica insuportável até dormir.

— Vocês até parecem irmãos — negou com a cabeça olhando para o tapete claríssimo.

— Eu não poderia ser irmão dele — e seu olhar, pior do que seu sorriso, não escondia seus pensamentos — Acho que seríamos até mais do que irmãozinhos. 

— O que? — Milo respondeu por reflexo, não captando a possível malícia da frase. Ainda estava preocupado com Camus. — Acho que eu nunca guardaria tantos detalhes sobre alguém.

— Ah, sim. Você guardaria, pois ou você guarda ou você morre — sorriu mais uma vez.

Vozes da Eternidade

Estava quase criando raízes sentado na grama, apoiado na árvore, com os olhos fechados. Verdade que havia tomado analgésicos como pensou, mas não a ponto de morrer por uma overdose de aspirina. Seria muito ridículo chegar ao hospital com uma parada cardíaca por dipirona.

Para evitar acabar no hospital, optou por tomar o remédio e sentar-se no jardim dos fundos da casa, fechar seus olhos e deixar o vento bagunçar seus cabelos enquanto tentava meditar. A única coisa que trouxera de sua religião para seguir diariamente era a meditação, algo que lhe relaxava e acalmava veementemente. Mentiria se dissesse que não pensava mais no que ocorreu entre ele e Mu no meio da bebedeira, mas fazia seu máximo para não se guiar por aquelas memórias. Jurou para si mesmo, enquanto se banhava, que não ia deixar aquilo estragar a amizade que detinham há tanto tempo.

Havia sido um descuido brutal de sua parte fazer aquilo, pedir daquela forma um desejo que guardou no fundo de seu ser desde os tempos escolares. Era como se jogar de um precipício e esperar encontrar algodão ao fim. E sabia não ter ocorrido nada entre ele e o amigo, pois ambos dormiram vestidos e muito distantes. Mu se encolheu na cama como se esperasse um ataque de algum monstro terrível, então provavelmente depois daquele pedido suicida o amigo lhe levou para casa e, por estar tarde demais, acabou ficando para dormir. Talvez o próprio Shaka tenha pedido a sua estadia. E a sensação de pedir algo era tão degradante...

E estava magoado. Frustrado. Perdido. Havia engolido aquele sentimento há tempos e nada lhe faria cuspi-lo... Exceto o álcool.

Vozes da Eternidade

— Saga... — Kanon chamou manhoso e alongando o nome. Estava agarrado ao irmão mais velho que ainda dormia, jogados no chão da sala de alguém. — Saga, seu filho da puta, acorda.

— Sou seu irmão — resmungou, se movendo preguiçoso. — Minha cabeça está estourando, doendo loucamente. Não fale alto.

— Acorda, Saga! — chamou de novo, o apertando. — Onde caralhos alados nós estamos?

— E você acha que eu sei? — respirou fundo. — Acho que estamos na casa do Aioria. Ou do Ettore. Ou do Aldebaran. Ou na nossa, nem sei.

— Na nossa, não — respondeu.

— Como você sabe?

— Lá não tem um tapete tão fofinho assim. E não é tão limpa.

— Você que limpa a casa — sorriu. — Se não gosta, faça um curso.

— Vá se foder — mandou, ajeitando-se em cima do mais velho. — Vá se foder.

— Não. Me sinto bem assim — sorria gentilmente, mesmo que ainda de olhos fechados e esticado no chão alheio.

— Você ainda é o gêmeo gostoso. Eu sou o bonitão boa pinta.

— Você é tão incestuosamente... Gay?

— Por que incesto é considerado pecado? — Kanon questionou se espreguiçando ainda jogado em cima de Saga sem nem se importar se estava o esmagando e sufocando, enterrando os dedos nos fios mais escuros que os seus e os puxando um pouco.

— Por que será? — rolou os olhos mesmo com eles fechados. — Quanto você pesa? Está me esmagando... Faça uma dieta e pare de puxar meus cabelos, tem os seus para puxar.

— Eu peso o mesmo que você, idiota — até iria socá-lo, mas estava grogue demais para isso. — Se não está bom, vou sentar em cima de você. Além do mais, puxar o seu é mais gostoso.

— Tentador — riu, ignorando o comentário sobre seus cabelos.

— Ah, jura?

— Juro — sorriu de canto, se ajeitando no tapete macio.

— Se eu soubesse onde estamos, te agarrava.

— Isso é só uma desculpinha que eu sei.

Talvez se os gêmeos não estivessem tão ocupados com seu próprio diálogo estranho e extremamente pessoal, teriam ouvido a movimentação e conversa no cômodo ao lado.

— Odeio essa dor de cabeça pé no saco — alguém tragou um pouco do próprio cigarro. A cintura enrolada no lençol bordô e seu corpo nu jogado na cama ao lado de outro que estava totalmente a mostra.

O quarto à meia-luz, fechado, em tons de vermelho, branco e cinza, levemente bagunçado.

— Então é simples: não beba — a resposta foi curta.

— Aí não tem graça — riu baixinho.

— Então não reclame se sua cabeça dói — suspirou. — Meus lençóis sempre ficam fedendo depois de você vir aqui. Custa parar com esse hábito enquanto está na minha casa?

— Sim, custa — riu e apagou o cigarro no cinzeiro, virando-se para o rapaz ao seu lado e tomando-lhe os lábios, sendo rejeitado. Fez careta. — Perché foge?

— Não gosto disso.

— Você não costuma reclamar dessas coisas — apontou seriamente. — O que houve?

— Quando é que você vai contar para o Afrodite — recebeu um olhar duro —, Maske?

— Perché quer isso agora? — sentou-se na cama, encarando o parceiro que ainda mantinha-se deitado, sua coluna ereta. — Já faz tanto tempo! Não faz sentido.

— Justamente por isso — se aproximou dele, desejando o acuar. — Porque Afrodite jamais te perdoaria e eu não aceito mais ser o segundo. "Perché", Ettore Maske Adami, meu senso de justiça não me permite. Não faz mais sentido ser a segunda opção de uma pessoa como você.

— Me recuso! — levantou-se, indignado. — Você não pode exigir isso de mim. Nosso trato sempre foi não exigir nada um do outro e, de repente, você quer exigir que eu te assuma?! Bêbado ainda, por acaso?

— Não estou exigindo que você me assuma, até porque não sou uma garota indefesa que precisa ser assumida. Estou dizendo que você deve contar ao seu namorado de anos que você o trai. Se quiser ficar comigo depois disso, não é problema meu.

— Você não pode se meter nisso! — passou as mãos pelos cabelos, possesso. Prestes a socar o amante.

— Posso e devo — levantou-se também, seriamente.  — Tanto posso, quanto vou, e se você não o fizer, eu o farei. Seu namorado ficará sabendo, e todo o nosso ciclo social, também.

— Maldito seja, então — indignou-se ainda mais, começando a procurar suas roupas. — Você me paga! Ninguém me ameaça! Fique sabendo disso!

Ettore vestiu-se, ainda caminhando pelos corredores da casa, deixando-a e indo em direção ao seu carro, batendo a porta e arrancando. Jamais contaria a Afrodite, jamais deixaria que ninguém contasse a Afrodite.


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