Julie Finlay estava certa, Gilbert entendeu isso quando suas vinte ligações foram ignoradas, e em seguida seu telefone fora desligado. 

— Merda. – Gritou.

Como havia sido tão idiota? Era óbvio que Sara jamais iria querer olhar na cara dele de novo, ele havia gritado com ela, e dito coisas que não se lembrava. Este era seu maior problema, ele não se lembrava de nada do que tinha dito. Ao menos se soubesse com exatidão tudo que ela havia dito, e o que ele havia respondido, podia saber como concertar isto.

Ligou então para agência, tinha de cancelar sua viagem. Três semanas era tempo demais para esperar. 

— Gilbert, não existe maneira de cancelar. A multa é muito alta, nem que venda seus imóveis poderá arcar com isso. A não ser que tenha uma doença, ou algo muito sério, não tem como cancelar. São apenas três semanas.

“Apenas três semanas”.  Pensou Gilbert com ironia quando desligou o telefone. 

De malas feitas, embarcaria ainda essa noite, tentaria contato com Sara nas próximas semanas, porém sabia que seria em vão. De lá iria direto para o Brasil, e a agência que se fodesse se achasse que ele iria esperar um dia amais. Três semanas era seu prazo máximo, depois correria atrás de Sara.

Não deixaria seu amor escorrer entre seus dedos como água.

Gilbert contava os dias para que essa viajem terminasse, tentou fazer seu trabalho o melhor possível, para evitar regravações e possivelmente uma extensão da viagem. Queria que tudo passasse rápido.

— Você foi ótimo Gilbert. – Disse o agente responsável por ele nesta viagem.

— Que bom que está gostando. – Falou sem muita alegria, estava assim desde o início da viagem, o agente estava feliz por isto não ter influenciado em seu trabalho.

— Temos agora apenas de fazer uma seção de fotos para o lançamento da campanha e as propagandas. Precisamos do melhor fotografo que tivermos disponível.

— E você já pensou em uma fotografa? – Pareceu que a cabeça de Gilbert se iluminou naquele momento.

— Como assim?

— Deixa eu te mostrar algo.

Gilbert pegou então seu computador, logo abriu o navegador e entrou exatamente no site que queria. Também tinha algumas fotos que Sara havia tirado dele durante a viagem, e começou a mostrar ao agente.

— Mas essas fotos são espetaculares. – Disse o homem com os olhos brilhando, prevendo o sucesso garantido.

— O que você acha? Podemos contatar a agência. 

— Claro, vamos fazer um interurbano pro México, entrar em contato com a agência de fotografia e fazer um orçamento dessas fotos. 

— Você vai fazer um interurbano, mas não para o México. – Gilbert disse sorridente. – Para o Brasil.

— Gris, está louco? Brasil.

Agora estava na hora de Gilbert vender a ideia, era a única forma de ficar frente a frente com Sara sem ela ter que ignorá-lo. 

— Vai dizer que as fotos não valem a pena?

— Podemos achar um fotografo tão bom quanto, aqui nos Estados Unidos, quanto no México. – Retrucou.

— Foi apenas uma ideia. Você quem sabe. – Ele deu os ombros, falando com desdém.

Gilbert já estava de costas e um pouco afastado quando ouviu um suspiro resignado do agente. Gilbert soltou um sorriso no canto do lábio antes de virar-se para ele, então voltou a fazer uma expressão séria e sem importância, para tentar evitar o conflito de interesses.

— Sim?

— Me passe o número da agência. Vou ligar para lá. Mas faremos somente com essa fotografa, se ela não estiver disponível, procuraremos outra agência.

— Você quem sabe... – Disse neutro por fora, mas eufórico por dentro.

No outro dia, Sara estava sentada em seu sofá, olhando para o teto. Rezando para que o enjoo finalmente passasse.

— Por favor, que chegue logo os três meses de gestação para esses enjoos pararem. Pelo amor de deus. – Sara suplicava.

Ela parou de suplicar quando ouviu seu telefone tocar, olhou para o lado. Não era Gilbert, fazia algumas semanas que ele havia desistido de ligar para ela, e isto era bom. Precisava de um tempo para pensar.

As papeladas com Axel já estavam praticamente prontas, logo estaria legalmente divorciada, e se os próximos exames que fizesse estivessem bons, talvez pudesse levantar voo e ir falar sobre o bebê com Gilbert.

— Alô? – Atendeu ao telefone.

— Sara. – Logo ela reconheceu a voz do chefe. – Sei que ainda está de férias, mas surgiu um trabalho enorme. Querem fazer uma sessão de fotos e vão pagar muito bem, porém eles só aceitam você como fotógrafa. – Ele bombardeou tudo de uma vez só. 

— Calma. – Sara disse quando ele finalmente parou de falar. – É claro que não vou te deixar na mão. Mas agradeceria se me dissesse quando, como e com quem.

— Obrigado Sara. – Ele suspirou aliviado. – É um ator, parece que ele e sua equipe vêm na semana que vem direto dos Estados Unidos para o Brasil, serão de dois a três dias de fotos, você pode pedir a equipe que achar necessária para auxiliar. Não me disseram o nome, parece que não querem que a notícia que ele irá vir vaze até chegar. 

— Está ótimo. Eu só não posso na quarta-feira a tarde por que tenho uma... Um exame. – Disse corrigindo-se, ao lembrar-se da ecografia. – No mais estou disponível.

— Vou marcar as datas e horários. Aviso-te em seguida. Mas creio que já irão vir na segunda feira. 

— Tudo bem. Tenho algumas coisas para resolver na empresa de Axel, estou auxiliando ele já que os investidores estão pegando no pé dele por conta de ter sido preso. E como esposa oficial – falou com desdém – eu tenho que representa-lo em algumas reuniões. – Bufou.

— Deve estar amando isso não? – Disse irônico.

— Você nem imagina o quanto. – Riu.

— Certo. Então vou desligar e falar com a agência.

— Ah, só mais uma coisa. – Sara esclareceu a garganta. – Eu sei que pode parecer meio estranho, mas você poderia pedir para alguém deixar algumas frutas já prontas para o dia das fotos?

— Claro, está acontecendo algo Sar?

— Na realidade sim. – Merda, Sara não queria falar aquilo. Não ainda. – É que estou com a glicose meio baixa desde que vim de viagem e tenho que comer mais seguido, e como irei me esforçar bastante durante as fotografias seria bom ter alguma coisa para ir comendo durante o tempo para não prejudicar o... – Quase falou o “meu bebê”, mas engoliu as palavras. – O meu organismo. 

— Claro. Tudo pela minha melhor fotógrafa. – Riu. – Alguma preferencia?

— Não qualquer fruta serve. Só não pratos quentes, por favor, fazem alguns dias que não consigo colocar uma comida quente na boca. – Suspirou.

— Você está sendo acompanhada por um médico gástrico Sara?

— Claro. – Mentiu descaradamente. – Já estou tomando medicações, mas disseram que eles demoram um pouco para fazer efeito, dentro de algum tempo já devo estar bem. 

“Uns oito meses”.  Pensou virando os olhos.

Quando finalmente conseguiu despedir-se e desligar o telefone, ela colocou as mãos sobre a barriga. Naquela imensa casa, que nem era tão grande, mas sozinha parecia, agora seu bebê era sua companhia.

— Sabe bebê, - murmurou – não é que a mamãe não esteja feliz por você estar vindo. Eu sei que às vezes o que eu falo ou penso pode soar meio áspero, mas você é tão pequenininho e já está fazendo um estrago tão grande – riu sozinha – imagina quando minha barriga começar a crescer? Se você já me faz vomitar e enjoar agora, daqui uns meses eu não conseguirei fazer mais nada. O médico me deu remédios para enjoo, mas confesso que só tomei uma vez, tenho medo de te fazer mal. – suspirou – Eu confesso também que não estou preparada para ser mãe, mal sei segurar uma criança no colo. Como vai ser quando você nascer? Não consegui falar para seu pai sobre você, e depois do que ele me disse nem sei se ele te merece. – Seus olhos marejaram. – Queria que ele soubesse de você, que ele te quisesse, por que eu te quero e muito. E mesmo sendo tão pequenininho e estar acabando comigo, eu já te amo muito. – Sorriu. – Será que já podemos começar a pensar em nomes?