Ladybug deveria estar feliz. Fazia cerca de dois aos que ela, Chat Noir e os demais heróis derrotaram Hawk Moth. Embora os meses depois disso foram um total caos, visto que Hawk Moth era ninguém menos do que Gabriel Agreste, pai de Adrien – que inclusive era Chat Noir. Mas depois disso as coisas foram melhorando e agora, ela deveria estar feliz. Mas não estava.

Há algum tempo atrás ela tinha uma paixão enorme em Adrien, mas que não era retribuída. Ao menos ela achava que não. Acontece que Adrien, ou melhor, Chat Noir, amava Ladybug, que era ela mesma. Só que ele eles não sabiam disso.

Marinette superou a paixão com o tempo, mas pelo visto Adrien não. Desde que se confessou pra valer, e não foi retribuído, o Agreste passou a se comportar de maneira fria e distante.

— O que há com você ultimamente? – indagou Marinette depois de repassar a rota de patrulha na noite seguinte, e mal receber um olhar do parceiro. Eles continuavam em atividade pois Hawk Moth tinha sido derrotado, mas Paris ainda tinha criminosos à solta e precisava deles.

— Ainda pergunta? Como você ficaria depois de ter levado um fora?

— Você não pode agir assim por causa de um fora! – ela não conseguia acreditar nisso. Sempre esteve ao lado do parceiro, até mesmo nos piores momentos, só não sentia mais nada por ele romanticamente. E isso nunca foi um empecilho antes, não deveria ser agora.

— Então eu deveria agir como?

— Como uma pessoa normal? Tipo, seguindo em frente? – gesticulou irritada, lutando contra as lágrimas que pareciam querer se formar – Meu carinho por você não mudou, Chat. Eu só...

— Gosta de outra pessoa, eu sei.

— Não, eu nunca disse isso. – era verdade, ao menos quando Adrien tinha se declarado. Só porque não amava ele, não significa que amava outra pessoa – Você está me interpretando errado. Eu disse que...

— Não me quer, eu entendi. Você dizia isso antes, quando tinha outra pessoa. Que no caso era eu.

— Era outra questão e... Acha que estou mentindo?

— Sinceramente? Acho. As pessoas mentem pra mim, meu pai mentiu. Por que você não mentiria? – a heroína piscou os olhos atordoada. Com a fala do loiro, Marinette percebeu que esse era um problema que não tinha a ver com ela e sim com o que as loucuras de Gabriel Agreste tinham feito com a cabeça do filho.

— Olha, eu sei que pode parecer ruim no início, mas... – foi interrompida quando estava prestes a dizer que aquilo era o melhor para os dois. Ela não podia ficar com ele por pena e ele precisava de tempo para si. Um namoro não curaria suas feridas.

— Não, você não sabe. Ninguém dá um fora em você, você é a "incrível Ladybug" e a "boa amiga Marinette", todos te amam. – a garota suspirou. Entendia que o amigo precisava de ajuda, mas era meio impossível fazer alguma coisa enquanto ele a insultava sem razão. Marinette sempre teve problemas com isso, com suas identidades e em como as pessoas viam e o que esperavam dela. Adrien também sabia disso e estava a atacando em seu ponto fraco. Não era justo.

— Adrien... – levou a mão até o ombro dele, que a afastou com um tapa leve.

— Quer saber? Esquece. Não quero ter essa conversa de novo. Tenha uma boa noite. – por fim saiu saltando entre os prédios na noite fria. Nada de "my lady" ou "Bugaboo".

Marinette cerrou os punhos, a vontade de chorar passou por um momento. Tudo bem que Adrien tinha seus traumas, mas descontar em alguém que esteve sempre ao seu lado, era idiotice.

A heroína usou seu ioiô para se locomover até a casa de Luka. Uma quadra antes, desfez a transformação e colocou o capuz da jaqueta sobre a cabeça, se protegendo da chuva fina que se iniciou.

Luka não morava mais com a mãe e a irmã, ele tinha um pequeno apartamento próximo a universidade aonde estudava música. Marinette ia lá de vez em quando, os dois poderiam ficar horas e horas conversando e cantando. Era uma boa distração e precisava dela agora.

— Marinette? – ele ficou surpreso ao abrir a porta, mas sorriu mesmo assim.

— Te acordei?

— Não, não. Estava fazendo o jantar. Aconteceu algo? – ela negou.

— Só queria conversar. – Luka deu passagem pra ela e fechou a porta, indo pra cozinha. Marinette o seguiu e sentou na bancada que dividia a cozinha e a sala. Marinette sabia que Luka gostava de sentar ali durante a manhã antes da aula e tocar algumas notas no seu violão. Era um lugar bom para pegar o sol que adentrava pela janela da cozinha.

— Você já jantou?

— Não.

— Tá bem, vou colocar um prato pra você.

— Obrigada. – ela tirou o capuz e sentiu o cheiro. Não sabia o que Luka estava preparando, e nem se incomodou em perguntar, mas sabia que deveria ser algo bom. – Desculpa ter vindo sem avisar.

— Não tem problema. Aliás, eu estava querendo te ligar hoje.

— Por quê? – Luka parou e deu uma risada.

— Não sei. Parecia que... Eu senti que tinha que falar com você. – balançou a cabeça – Depois eu desisti da ideia porque achei que você me acharia um pouco maluco. – eles riram.

— Não acho que você seja maluco. Na verdade, eu acho que precisava mesmo falar com você. – Luka tampou a panela e virou na direção dela. Ele sentiu algo na voz de Marinette... Algo triste. Já tinha visto ela assim antes, mas isso não tornava mais fácil. Ele não falou nada, deixou que ela falasse no tempo dela, com as palavras dela. – Eu falei com o Adrien recentemente e ele tem passado por questões pessoais que... Que tem sido ruins pra ele. – Luka sabia, assim como a cidade toda, que Adrien não era o mesmo desde que descobriu que seu pai era Hawk Moth. Mas quem podia culpa-lo por isso? – Eu tento ajuda-lo, mas... – Marinette deu outra pausa para respirar, porém não conseguiu segurar o choro dessa vez. Lágrimas saíram dos seus olhos e Luka andou até ela, mas não a tocou. Ela precisava daquilo precisava colocar a dor para fora em lágrimas. – Como ajudar alguém que constantemente te machuca? – nisso ela abaixou a cabeça, segurando o rosto com as mãos. Estava cansada, cansada de tentar e sempre sair ferida. Luka então se aproximou.

— Marinette, você quer ajudá-lo porque é uma boa amiga.

— Por que ficam falando isso? – questionou irritada.

— Porque é verdade. Isso não é uma ofensa, é um elogio. – ela o encarou. Soou diferente de quando Adrien falou – Eu poderia ficar o dia todo citando suas qualidades, mas esse não é o assunto. A questão é, que você é uma boa amiga e também precisa de bons amigos. – Luka colocou as mãos no balcão, uma de cada lado do corpo de Marinette, ficando com o rosto na altura do dela e a encarou profundamente – Eu entendo que quer ajudar, só que algumas pessoas precisam encontrar seus caminhos por si mesmas. Insistir em algo que te machuca só pra ajudar alguém, não deixa de ser masoquismo. Não é saudável. – Marinette não sabia se eram as palavras, a voz de Luka, ou os dois, mas o efeito que estava causando nela, que sempre causava, era como um arco-íris depois da tempestade.

— Eu sinto que poderia ter impedido isso de alguma forma.

— Marinette, eu sei que você tenta, mas às vezes não pode salvar todo mundo. Às vezes as pessoas precisam se salvar sozinhas. – Luka a tratava como uma heroína e sequer sabia que ela era a Ladybug.

— Você é o verdadeiro salvador aqui. Eu só... Venho pra cá chorando. – ele riu.

— Não que eu goste de ver você chorando, mas eu fico feliz que confie em mim pra isso.

— Acho que você subestima o quanto confio em você. – sorriu. Marinette confiava tanto em Luka, quanto em Alya para contar os seus segredos. E é claro, em Tikki, no entanto esta já ficava sabendo de todos eles.

— Eu sei que tem coisas que não me conta. – ela estava prestes a responder, porém Luka colocou os dois dedos sobre o lábios dela, exatamente como fez para roubar sua voz quando foi akumatizado e transformado em Silencer. Mesmo sem poderes, roubou a voz dela novamente – E eu não preciso saber, porque eu sei que confia em mim. – ele sorriu – Parece meio idiota, mas eu não preciso saber de nada sobre você, porque os meus sentimentos falam por si só. Quando eu vi você pela primeira vez, eu senti uma euforia que me acompanha até hoje. Você foi minha inspiração e minha angústia, minha letra e minha melodia, meu dia e minha noite, minha amiga e a mulher que eu amo. – Marinette sentiu seu coração bater mais rápido – Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós mas eu já disse uma vez o quanto eu gosto de você e estou dizendo de novo. Eu sei que é você quem gosta de salvar as pessoas, mas me deixe ser o seu herói somente esta noite.

— Luka... – as palavras fugiram e as lágrimas voltaram.

— Não precisa falar nada. Não precisa dizer que também me ama se não o sente. Só jante comigo hoje. – segurou a mão dela e depositou um beijo – Nossos corações podem fazer companhia um ao outro.

Marinette envolveu a mão de Luka com as duas mãos e depositou um beijo nela. Não sabia por quanto tempo guardava aquilo dentro de si, mas agora era o momento perfeito para falar.

— Eu também te amo, Luka. Eu não sei exatamente desde quando, mas quando você disse que eu era tão pura como uma nota musical e tão sincera quanto uma melodia, que eu era a música que tocava na sua cabeça desde que me conheceu, você passou a ser a música que tocava na minha. – Luka permaneceu paralisado, escutando com atenção – Eu passei por dias difíceis e você estava lá, eu tive frustrações e você estava lá, coração machucado e você estava lá. Você não está sendo meu herói somente esta noite, você sempre foi. E quero que sempre seja. Também quero ser a sua. Por favor, me deixe ser.

Luka colocou as mãos no rosto de Marinette, analisando cada traço, cada parte, cada detalhe que amava.

— Como eu poderia negar? – os dois sorriram e então juntaram os lábios em um beijo calmo, mas apaixonante. Apesar de ser uma experiência nova, seus corpos se encaixaram tão perfeitamente que pareciam terem sido feitos para esse momento.

A chuva aumentou e um raio lá fora assustou os dois, que separaram em meio a risadas.

— Acho que isso é um sinal pra eu verificar a comida. – encostou seus lábios nos de Marinette rapidamente e foi até o fogão. Enquanto ele provava o tempero, Marinette sorria ao perceber que aquela poderia ser sua visão de muitas noites. E ela esperava que fosse, porque estava cansada de apenas se machucar. Agora, ela iria se curar.