Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 6
Capítulo 05




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Amigos em Potencial

 

Naquela noite eu não consegui dormir, algo em mim vibrava e eu não sabia dizer se era ansiedade, medo, tristeza ou alegria. Era uma confusão de sentimentos que me manteve acordada até o sol raiar. Os raios entravam pela janela colorida, transformando meu quarto em um arco-íris. Observo as ondas se chocarem contra a areia debaixo da sacada, aqui, diferentemente de Elfdale, era quente, tropical e barulhento. Podia ouvir a vida acordando, os cavalos relinchavam, os criados andavam pelo castelo, com seus sapatos tilintando no chão de mármore, e, a poucos quilômetros daqui estava uma vila de súditos, podia ouvi-los murmurando, levantando-se para mais um dia de trabalho.

Queria passear pelas aldeias ao redor do castelo, talvez ali eu me sentiria mais em casa.

— Bom dia, milady — Uma das minhas damas de companhia fala, abrindo a porta do meu quarto — Trouxe seu café da manhã.

Pela primeira vez percebi sua face, fina e altiva, seu nariz era empinado e as maçãs de seu rosto são altas e rosadas. Seus olhos eram quase felinos, de um tom amarelo queimado, contrastando com seu cabelo crespo e curto, preso em um coque no topo de sua cabeça. Sua pele negra parecia brilhar, como se os raios de sol ficassem alegres ao tocá-la. Mas algo em sua beleza chamou a minha atenção: suas veias, marrons como o tronco de uma árvore.

Uma dríade, a ninfa das florestas.

— Você é uma dríade — Exclamei, arregalando os olhos e abrindo um largo sorriso — Não é possível!

— Sim, milady — Diplomática e indiferente ao mesmo tempo.

— Eu achei que só existiam humanos nessa parte… — Soprei, aproximando-me dela — O que faz aqui?

— Trabalho aqui, milady — Retrucou sem me olhar, repousando a bandeja repleta de comida na mesa circular — Precisa de mais alguma coisa?

— Seu nome, por favor… — Ela deve estar me odiando naquele momento, mas eu precisava saber mais sobre ela, afinal, eu não era a única criatura não humana naquele castelo e isso, por algum motivo, me deixava aliviada.

— Milady…

— Devo estar sendo rude, mas… Hum, gostaria de saber quem você é — Falei, observando seu corpo rígido e magro, em vestes marrons escuras e compridas, com uma fita tom de areia em seu cabelo, formando um laço na parte de trás de seu coque — Estou sendo obrigada a morar aqui e gostaria de ter amigos.

— É Phyx, milady — Disse, curvando-se para ir embora.

— Me chame de Kyan — Peço, apontando para a outra cadeira da mesa — Coma comigo.

— Assim que terminar o seu café, milady, toque o sino e venho buscar — Sua voz é gentil, mas por um momento eu achei que ela ia brigar comigo, talvez pedir educadamente para que eu calasse a boca — Aproveite sua comida, milady.

— Obrigada, Phyx — Desisti, encarando o chão, envergonhada.

— De nada, milady — E assim partiu, me deixando sozinha nesse quarto imenso.



Depois da conversa estranha, eu estava sem fome, bebericando do café que havia na bandeja, amargo e terroso, meu paladar agradecia depois do exagero de doce na noite anterior. Meu corpo ainda estava envolvido pela camisola de seda branca, abraçando as curvas de meu quadril com delicadeza. Sentada em minha cama, observando a brisa brincar com as cortinas, eu pensava no que faria hoje. Talvez andar pela praia, encontrar umas conchinhas e, quem sabe, mergulhar, porém, antes que eu pudesse planejar alguma coisa, escuto duas batidas em minha porta.

Sem pensar duas vezes, me aproximo da madeira e a abro, deparando-me com Dominic, vestido com roupas que nunca imaginei que ele usasse: uma calça escura e uma camisa larga cor de areia, parecia descontraído, apesar de seu olhar severo que repousava em cima de mim.

Seus olhos de um azul poderoso percorriam a extensão do meu corpo, observando-me e analisando-me. Em cada parte de mim que ele olhava, eu a sentia queimar de ódio, até que que parou em meu rosto, fuzilando-me como se estivesse se segurando para não me matar. O vento que vinha da praia era incapaz de acalmar o fogo raivoso que queimava dentro de mim.

— Pervertido… — Sibilei, entrando no quarto e me enrolando no cobertor — Nunca viu uma mulher antes, seu idiota?

— Quem foi que abriu a porta de pijama? — A sua voz é indiferente, como se meu corpo fosse apenas mais um de todos que já viu. Eu não significava absolutamente nada para ele.

— E quem foi que bateu à porta do meu quarto a essa hora da manhã? — Retruquei, parando a poucos centímetros do seu rosto.

— Ah, não me diga que está magoada por que não desejo você? — Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios enquanto seus olhos estavam grudados nos meus.

— Eu… — Tento falar, mas o choque de sua presunção embola as palavras dentro de mim.

— Acredite quando digo que sua presença aqui é insignificante para mim — Falou, apoiando-se no arco da porta — Está aqui para servir ao meu pai e só isso…

“Insignificante…”, penso “É isso que eu sou…”.

— Fora… — Sopro, sem conseguir olhá-lo.

— O que? — Indagou, seus olhos vasculharam meus movimentos em busca de algum sinal de fraqueza.

— Eu disse fora — Minha voz é dura como pedra. Ergo minha cabeça, não podia ser abalada por um humano, muito menos por Dominic — Saia do meu quarto, Dominic!

— Kyanite… — Ele tenta falar, mas o interrompo.

— Fora! — Coloco minhas mãos em seu peito e o empurro para longe.

Dominic grunhi, cerrando o maxilar e, por uma fração de segundo, pensei ter visto uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Seu olhar, frio e feroz, cai sobre mim como um tiro, fazendo todo o meu corpo tremer, seus olhos diziam tudo: “Se eu pudesse matar você, já estaria morta”.

— Meu pai… — Rosnou, repousando suas mãos em seu peito — Quer falar com você.

Sua voz ofegante é como um aviso, fazendo meu sangue gelar. Há poucos segundos eu estava pensando sobre caminhar na praia sozinha, aproveitando o meu resquício de liberdade, mas eu havia esquecido que não era mais dona de mim. Estava sob a guarda do rei Evander e ele definiria a minha vida de agora em diante.

Sem mais o que falar para Dominic, fecho a porta na sua cara, adentrando em meu quarto e colocando uma roupa. Eu precisava engolir o meu ego para fazer o que é certo para Elfdale e para honrar o sobrenome Liadon. Não envergonharia o meu pai, me recusava a fazer isso, e se ele foi capaz de servir o rei Evander, eu também seria.



Usando minha calça escura, uma camiseta de mangas compridas e minhas botas de caça, eu avancei pelo castelo, caminhando pelos corredores límpidos e silenciosos. O rei Evander estava na sala do trono, apoiado elegantemente em uma mesa de madeira escura, acompanhado pelo que presumo que sejam seus conselheiros e guarda-costas, discutindo estratégias. Ao lado do rei estava Dominic, fuzilando o mapa de Elvenore como se fosse capaz de atear fogo apenas com o olhar. Nicholas também estava no cômodo, sentado em uma cadeira e com sua cara enfiada em um livro.

— Está atrasada — A voz de Evander ecoou pelas paredes, ele não estava nem um pouco feliz.

— Eu estava… — Ele não queria me ouvir.

— Não quero desculpas — Falou, finalmente me olhando — Venha para perto. Como poderei lhe explicar as coisas se está tão longe?

— Sim, majestade — Assenti, aproximando-me da mesa.

Ele, usando um conjunto preto, semelhante a um terno, parecia alguém da Baixa Corte, o que me fez estranhar sua presença ao meu lado. Não parecia tão feroz e severo.

— Nosso domínio se estende das cadeias de montanhas de Elderdragon até as terras mais ao leste de Elvenore, que pertencem a Baixa Corte de Wilmott — Seu conselheiro, um senhor de cabelos e barba brancos falou, apontando para o mapa — Tudo abaixo do Mar Partido não pertence a Vossa Majestade.

— Algumas Aldeias Menores juraram obediência a mim — Disse, mostrando um conjunto de vários desenhos de casa ao redor da parte superior do mar — Mas tudo abaixo dessa linha não segue o meu comando.

— Eu sei disso — Avisei, analisando Elvenore — As bruxas não gostam de ser dominadas, principalmente por humanos. Os magos, espalhados por toda a parte inferior de Elvenore, seguem a magia deles…

— Estão errados — O corpo inteiro de Dominic estava tensionado, como se pudesse socar qualquer coisa a qualquer momento. Percebo que havia trocado de roupas, agora uma manta preta cobria seu peitoral — Deveriam ser nossos súditos.

— As pessoas podem escolher não seguir vocês — Retruco, encarando, observando sua mão fechar em punho em cima da mesa — Podem viver livremente sem pagar impostos à coroa.

— Nós oferecemos segurança — Rebateu, sem nem me olhar. “Eu sou indiferente”, pensei — E ordem.

— Kyanite está certa — Evander se pronunciou, calando-me — Nem todos devem servir à coroa, Dominic. Somos uma monarquia e não uma ditadura — Ele se vira para mim, inexpressivo — Quero apenas uma aliança, como tenho com o seu povo Kyanite.

— Alianças são bem mais difíceis de fazer — Minha voz sai diplomática, como se eu estivesse conversando com Novak — Meu pai… — Sinto minha garganta fechar, pisco algumas vezes para afastar o choro — Meu pai costumava dizer que ganhar a confiança de alguém é bem mais difícil do que apenas dominá-la.

— Draiko sempre foi um indivíduo muito inteligente — Nicholas falou, fazendo sua voz ser escutada pelo cômodo.

— Obrigada — Disse, sorrindo em sua direção.

— Ele era bom em seguir ordens — Rosnou Dominic, se afastando da mesa — Ela não está pronta para a missão, pai. Ela fala como se não tivéssemos terras para cuidar.

Movimento a minha boca para retrucá-lo, mas Evander se pronuncia primeiro.

— Kyanite pensa em um bem maior, Dominic — Ele se vira para seu filho, sua postura ereta e rígida lhe davam um ar de superior e isso me dava medo. Se Evander podia calar quem quisesse apenas com palavras, imagina o que ele é capaz de fazer com suas armas ou durante suas guerras de expansão — Ela está pronta sim para sua primeira missão.

— Do que estão falando? — Indago, levantando-me.

— Quero que faça algo para mim, mas antes preciso treiná-la. Saber o quão apta está para o que virá.

— Eu não sabia que serviria a você, majestade — Sibilei a última palavra. Se fosse insana, eu gritaria, mas precisava me manter centrada e inabalada — Achei que ficaria aqui para…

— Você está aqui para aprender a liderar — Sua voz parece cansada, como se eu o estivesse irritando. Primeiro ele me elogia na frente de Dominic e depois me trata como insignificante, uma pedra em seu sapato — E um bom líder precisa ser um bom ouvinte.

— Não se você é um rei… — Murmurei revirando os olhos e felizmente ninguém me ouviu, ou apenas fingiram não me ouvir — Claro, majestade.

— Terá aulas todos os dias. Três de luta, com Warner e Dominic, e três com Zya, a tutora de Nicholas — Explicou, ou melhor, ordenou — E uma aula por semana com Evangeline, precisa aprender as etiquetas de uma princesa…

— Mas… — Tento o interrompê-lo, porém ele me ignora

— Participará dos eventos das Cortes, assim como o seu pai. E você não quer envergonhá-lo, não é? — Incitou, voltando seu olhar para mim

— Não…

— Então estão todos dispensados — Falou, vitorioso — Nicholas, leve Kyanite até a torre de Zya.

— Claro, meu pai — Curvou-se perante ele, abrindo os braços logo em seguida para mim — Vamos?

— Eu… — Suspirei, arrumando a postura, sentia que havia perdido uma batalha — Sim, vamos.

Usei toda a minha força para controlar as minhas emoções, eu podia explodir ali, mandar o rei para o quinto dos infernos. Eu não era sua boneca e sentir que ele podia mandar em mim como bem quisesse me deixava fervilhando de raiva. Entretanto, tudo aquilo era para o bem de Elfdale, meu pai deve ter passado por tudo isso, aprendido regras de etiquetas para não passar vergonha nas outras Cortes e seguido as ordens do rei Evander para deixar tudo em ordem.

Respirando fundo, eu sigo Nicholas pelo castelo em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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