Elvenore: A Revolução Das Marés escrita por Pandora Ventrue Black


Capítulo 23
Capítulo 21




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Rochas e Mar

Eu senti como se tivesse flutuando, meu corpo parecia uma pena sendo carregada por um vento sereno. Era quente, mas não chegava a ser desconfortável, era um calor semelhante a uma xícara de café em uma tarde fria, sutil e delicado. Minha pele parecia ter sido moldada com o mármore mais frio do mundo, rígida e forte, tão dura que era difícil elevar o meu braço.

Tudo ao meu redor era luz e nesse momento eu percebi que estava sonhando. Era uma claridade amena, não machucava os meus olhos, mas era estranho encarar um vazio iluminado. Escuto o som fraco de uma sinfonia ser tocada por um piano, a melodia é triste e devagar, deixando-me cada vez mais sonolenta. Luto contra as minhas pálpebras, sentindo tudo ao meu redor mudar.

Começo a cair.

A queda era brutalmente longa e apesar de me mexer loucamente não conseguia me agarrar a absolutamente nada. Meu estômago se revira, subindo até a minha gargante, queria gritar, mas o medo entupia o caminho da minha voz. A brisa, outrora amena e tranquila, agora atingia a parte inferior do meu corpo com ferozmente. Não estava certa, mas sentia o vento ferir a minha pele, deixando arranhões e marcas roxas nas minhas pernas e costas. Movimentar a minha cabeça para enxergar os machucados era impossível, mas eu sentia cada ferimento.

Eu cai cada vez mais fundo em uma ravina infinta.

O tom claro que me rodeava foi gradativamente substituído por um tom marrom escuro de um lado e azul-escuro do outro. Um desfiladeiro. Estava despencando de um desfiladeiro em direção ao mar. O som das ondas se tornou aterrorizante, chocando com tanta fúria contra as rochas que mais parecia uma guerra entre deuses poderosos e antigos.

Urro, finalmente sentido a minha voz escapar pelos meus lábios. Minha garganta queima, como se tivesse bebido um chá extremamente quente. Não me importo com a dor, estava mais preocupada em me manter viva ou, pelo menos, acordar desse pesadelo. Puxo minhas pernas pesadas até o meu peito, formando com o meu corpo uma espécie de bola.

Rezo para acordar.

Rezo para atingir uma área do mar que não tenha pedras.

Rezo para voltar a flutuar.

Rezo por uma morte rápida e indolor.

Minhas preces não são atendidas.

— Socorro! — Um grito gutural desliza pela minha boca no momento em que me choco contra as pedras pontiagudas.

Minha pele é aberta e dilacerada em diversos pontos, fazendo meu sangue escorrer pela água do mar. Uma onda de dor percorre o meu corpo, fazendo todas as minhas células gritarem. Temia ver o estrago, mas precisava me tirar dessa terrível situação. Tento manter a respiração regular, mas cada inspiração e expiração eram dolorosas demais. Sentia algo preencher meus pulmões, um líquido denso e viscoso: meu sangue.

Engasgo, sentindo meu corpo tremer de frio.

Preciso sair daqui.

Reúno minhas já extintas forças para respirar fundo. Lágrimas escorrem pelos meus olhos como cachoeiras, tudo em mim ardia e doía como nunca antes.

— Kya! — Alguém me chama a distância — Kyanite!

Eu não sabia quem era, mas a voz me deu esperança.

Rezando para o meu corpo tão ter sido severamente danificado a ponto de nunca mais se curar, eu abro os olhos, sendo cega logo em seguida por uma luz clara e forte. Um rosnado escapa de meus lábios e a dor toda se esvai, sendo levada pelo balanço do mar.

Eu sentia o meu rosto molhado, meio grudento e forço meus olhos a se acostumar com a claridade. Sinto mãos quente me ajudarem a me sentar, me agarro a elas para conseguir respirar sem sentir o sangue fervilhando nos meus pulmões.

A primeira inspiração foi divina, sem dor e sem interrupções. O cheiro amadeirado e fresco acalma meu coração. Eu estava segura.

— Kay… — A voz fala mais uma vez, me afastando de meu torpor.

— Skander — Murmuro tão baixo que nem ele foi capaz de ouvir.

Nossos olhares se encontram, mais lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Eu estava tremendo, podia ouvir meus dentes batendo um contra o outro. Meu coração batia tão rápido que mais parecia escalar a minha garganta, querendo sair pela minha boca. Contenho um grunhido de medo misturado com raiva.

— Pesadelo? — Indagou, permanecendo na minha frente, de joelhos na frente da cama improvisada em que eu estava.

Apenas afirmo com a cabeça, deixando o oxigênio se espalhar pelo meu corpo.

— Está acordada agora, está tudo bem — Sussurrou, tocando a ponta da minha trança.

— Sim… — Suspirei, enxugando minhas lágrimas com as mangas da minha camisa — Eu te acordei? — Observo sua cama improvisada no chão, do outro lado da sua cabine/escritório — D-Desculpe-me.

Ele sorri, dando um aperto sutil em minhas mãos.

— Não se desculpe por coisas que não pode controlar — Seu rosto se aproxima do meu, fazendo meu coração acelerar.

Algo em Skander me fazia vibrar toda vez que eu o olhava, talvez fosse seus lindos olhos ou até mesmo seu sorriso encantador. Eu só sabia que naquele momento não havia ninguém melhor para estar ao meu lado, nem mesmo Phyx. Capitão Valir repousa um beijo sutil em minha testa, levantando-se.

— Fique aqui, descanse mais um pouco — Pediu, afofando a minha cabeça — Volto logo.

— Mas…

— Por favor — Ronronou, encarando-me.

Suspiro, assentindo com a cabeça. Skander era teimoso, provavelmente mais teimoso do que eu, quando tinha algo em mente, era impossível contrariá-lo. Talvez seja por isso que o Sirena Vermelha seja um navio de excelência (mesmo quando devia grandes quantias para coroa, coisa que meu amigo rapidamente resolvia com a ajuda do Conde; Skander sempre tinha um plano B), assim como seus marujos. Conde Thorton viu algo em Skander que poucas pessoas enxergam: sua determinação.

Não demorou muito para ele voltar com uma bandeja de café da manhã com queijos, pão e café. Sorrio, balançando a cabeça.

— Não precisava fazer isso — Falei, sentindo um calor tomar conta de minhas bochechas.

— Você merece muito mais do que um simples café da manhã na cama, Kya — Disse, sentando-se ao meu lado — Enquanto estiver na minha casa, será tratada como uma dama, ou melhor, uma princesa.

Nossos olhares se encontram mais uma vez, fazendo uma onda quente percorrer o meu corpo.

— Correção: navio — Brinquei, bebericando do café.

— Como quiser, dona — Um sorriso malicioso surge em seus lábios.

— Está com ciúmes do Lycan? — Indaguei, revirando os olhos e lutando para não rir — Só pode estar brincando…

— Não, não… Só gostei de como ele te chamou — Ele segura a minha mão, acariciando a palma com cuidado — Mas acho que ainda prefiro princesa.

Engulo em seco, meu coração palpitava como louco, eu tinha certeza que Skander podia ouvir ele se chocar contra o meu peito.

— Kya… — Sua voz era rouca e baixa, um ronronado sensual, fazendo um calafrio percorrer o meu corpo — Posso beijar você?

Sinto meu estômago revirar. Eu deveria dizer não, ele é o meu amigo e não queria estragar a nossa amizade, mas algo dentro de mim queria aquele tipo de proximidade. Sua mão desliza pela minha coxa, esquentando cada célula do meu corpo. O capitão inclina seu rosto na minha direção, deixando poucos centímetros de distância entre o meu nariz e o dele.

Ele beija a minha mão, demorando mais do que o necessário. Sentia o calor de seu beijo queimar as minhas veias. Skander sabia muito bem o que uma mulher queria e eu o odiava por isso.

— Tudo bem. Eu posso esperar — Sua mão coloca uma mecha rebelde de meu cabelo atrás da minha orelha.

Calo-me, observando sua expressão de espanto misturada com orgulho.

— Seus olhos estão… — O seu toque quente que outrora massageava a minha coxa sobre para o meu queixo, ele me analisava e se divertia com o rubor que tomava conta de minhas bochechas — Corais.

Um suspiro escapa de meus lábios. “É claro que estou corais, seu idiota!”, era o que eu queria gritar “Está manipulando a minha cabeça!”

— Estão lindos — Sorriu balançando de leve o meu rosto antes de soltá-lo.

Estão lindos… Dominic nunca disse isso sobre os meus olhos.

— Preciso ir para o convés — Falou, ainda sentado na minha frente — Pode ficar aqui se quiser, não estamos longe da nossa primeira parada.

Apenas balancei a cabeça positivamente.

— Lycan virá te chamar quando chegarmos — Levantou-se, sem tirar seus olhos de mim.

Skander sai do seu escritório, me deixando sozinha, enrolada em seus cobertores e meus sentimentos.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Não demorou muito para Lycan bater à porta e a essa altura eu já estava vestida apropriadamente, com calças escuras, uma manta de linho branca e meu espartilho escuro que suportava duas adagas.

— Estamos atracados, dona — Avisou com um largo sorriso no rosto — Estamos lançando os botes no mar.

— Obrigada, Lycan — Afastei-me da janela e segui para o convés.

Os marujos habilmente desciam dois barcos pequenos, um vazio e o outro com alguns suprimentos. Skander já estava em um dos botes no mar, sem camisa, arrumando a água e os alimentos que levaríamos para a ilha. Gotículas de suor e água salgada em sua pele bronzeada refletiam a luz do sol, pareciam um rei, principalmente com o seu cabelo completamente solto, sendo levemente bagunçado pela brisa marinha.

Sinto minhas bochechas aquecerem quando meu olhar encontra o seu abdômen musculoso e suas costas. Tudo nele havia sido esculpido por anos de trabalho pesado, levando sacas do navio ao porto e barris de farinha, arroz e vinho para dentro do Sirena Vermelha. Suas costas, levemente mais queimadas do que seu rosto, pareciam ser feita de um mármore brilhoso e firme, cada músculo saltava a medida que ele usava sua força.

— Gosta do que vê, dona? — Lycan brinca, sorrindo de forma brincalhona e maliciosamente.

O fuzilo com o olhar.

— Vou aceitar isso como um sim, aye?

— Para um pirata, você é muito presunçoso, Lycan — Sibilo, cruzando os braços.

— Meus olhos nunca me enganam, dona — Estufou o peito e deu um passo na minha direção.

— Fala como se tivesse os dois, camarada — Skander esbravejou, subindo até o convés com a ajuda de uma escada gasta e velha.

Me pergunto a quantos anos o capitão Valir usava aquela escada…

— Touché — Sorriu, passando as mãos pelos dreads.

— Tivesse os dois? — Indaguei, arqueando a sobrancelha — Posso ver perfeitamente os dois olhos dele.

— É porque o oftalmologista de Lycan é muito bom, Kya — Skander fala prendendo seu cabelo em um coque baixo e extremamente desleixado.

— Sim, senhorita. Se estiver com algum problema de vista… — Um sorriso malicioso surge em seus lábios enquanto ele esconde seu olho direito — Procure o Hunter, o açogueiro de Guenivere.

Antes que eu pudesse responder ou até mesmo demonstrar a minha descrença e susto com a informação, Lycan mostra seu olho de vidro, perfeitamente redondo e brilhoso. Sinto minha boca pender e meus olhos encontram os de Skander, que mais parecia se divertir com a minha surpresa.

— Eu… — O choque bloqueava qualquer palavra que tentava sair pela minha boca.

— Chega de assustar a minha convidada, seu verme — Skander falou num tom brincalhão, dando um tapa sutil no ombro de Lycan, aproximando de mim logo em seguida — Vamos. Os botes estão prontos.

Apenas balanço a cabeça, olhando para Lycan mais uma vez, observando ele colocar sua bolinha no lugar. Skander desce sua mão quente e calejada pelas minhas costas, dando o sinal para eu continuar a andar. Chego até a escada de madeira podre e cordas velhas e desço até o bote, rezando para que nenhuma gotícula de água do mar toque a minha pele.

Me sento bem no meio do bote vazio, na esperança de evitar qualquer contato com o mar. Depois veio Skander, seguido por Lycan e mais dois marujos. Observo o horizonte, um punhado de areia e coqueiros ocupava a minha vista, era grande, provavelmente seria classificada com uma ilha de porte médio, pois havia uma mata densa e algumas áreas mais altas, tipo planaltos. Não sabia exatamente onde estávamos e nem como aquela extensão de terra se chamava, pois o capitão do Sirena Vermelha decidiu me deixar no escuro em relação a nossa jornada, mas estava ansiosa com a nossa aventura.

Com o barco dos suprimentos perfeitamente preso ao nosso bote, avançamos pela água em direção a ilha.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Não demorou muito para alcançarmos a areia da ilha e para a minha surpresa ela era fina e delicada, como pequenos grãos de pólen. Pulo do bote direto para a terra, evitando qualquer contato com a água e os outros homens parecem não se importar.

Começo a me aventurar sozinha, me aproximando da vegetação e ficando atenta ao que os animais estavam dizendo. Assumo que estou meio enferrujado com a minha audição, pois passei muito tempo no castelo onde tudo ou é um silêncio sepulcral ou o barulho incessante dos serviçais. Fecho os olhos e respiro fundo, o odor salgado e fresco invade minhas narinas, acalmando meus nervos e meu coração.

Concentro-me na vida ao meu redor, captando todo e qualquer som.

Finalmente consigo sentir a vida da selva pulsar dentro de mim, minha conexão com a natureza se torna o ar que respiro e as pernas que uso para andar. Abro os olhos e a flora brilha diante de mim.

— Gostou? — Skander pergunta se aproximando.

— É lindo — Murmuro, sentindo meu coração pular de alegria.

— Mas o que viemos procurar está mais dentro da mata — Avisou, tocando a minha mão — Preparada?

Me viro para ele, o sol batia em seus cabelos, fazendo seus fios mais claros brilharem como ouro. Seus olhos tinham um brilho meio verde tão intenso e apaixonante que sinto meus joelhos vacilarem. Antes que eu pudesse responder, ele segura o meu queixo com o polegar, levantando o meu rosto.

— Você reflete a luz do sol como um cristal, Kya — Sua voz ricocheteia nos meus ossos, fazendo um calafrio percorrer a minha espinha.

Ele olha para trás, em direção ao bote e depois volta sua atenção para mim.

— Eles vão demorar mais um pouco — Falou, segurando meu rosto com sua mão quente e áspera — Venha, quero te mostrar um lugar especial.

Seu toque fazia meu corpo arder e tremer ao mesmo tempo. Diferentemente do frio sedento de Dominic, Skander faz minha pele vibrar e toma o meu corpo com um calor arrebatador, algo em mim, no fundo do meu ser, clama por mais. Eu inconscientemente precisava de seu toque, de seu amor e de seu cuidado.

Ele segura a minha mão, incentivando-me a falar.

— Guie o caminho — Soprei, observando-o sorrir.

— Ay-ay, capitã.

 

✵ ✵ ♔ ✵ ✵

 

Nós adentramos a vegetação por uma trilha areia branca à direita. O caminho é coberto por palmeiras, formando um teto de folhas compridas, verdes e aconchegantes. A brisa marinha sopra o meu cabelo com cuidado, bagunçando-os levemente e esfriando meu corpo a medida que avanço pela mata.

Skander caminha na minha frente, com sua mão direita apoiada no cabo de seu punhal, preso ao coldre que ele carrega no peito. Apesar de estar em silêncio, observando tudo ao nosso redor, podia sentir a sua felicidade. Ele olhava para trás sempre que podia, certificando-se de que eu ainda o seguia e toda vez que o fazia, nossos olhares se encontravam, fazendo-me corar.

Ele é tão lindo que me pego pensando no motivo de ainda não ter se casado, ou ao menos ter uma noiva. Provavelmente seu maior inimigo quando se trata de relacionamentos duradouros seja o mar, muitas mulheres querem um parceiro em terra, principalmente para ajudar com a casa e crianças. Creio que Skander não esteja pronto para dizer adeus a sua liberdade incondicional.

— Chegamos, Kya — Falou, abrindo espaço para mim.

Meus olhos encontram uma cachoeira de água cristalina, eu podia ver o fundo de beleza indescritível, cheio de pedras brancas e roliças, assemelhando-se a neve. Perco o fôlego quando paro para analisar toda a paisagem. A água caia em um poço redondo e claro, recoberto por uma vegetação viva e vibrante. Ali o cheio salgado desaparecia, dando espaço para um odor mais terroso e leve.

Antes que pudesse falar qualquer coisa, sinto gotículas frias tocarem o meu corpo.

— Entra — Skander estava dentro do poço, sem camisa e com um sorriso malicioso no rosto.

Balanço a cabeça e mordo o lábio inferior.

Esse lugar certamente era o paraíso.

Tiro minha camisa, calça e bota, ficando apenas com um vestido fino de linho e minha calcinha, que me serviam como roupa de baixo. Não perco tempo e rapidamente pulo na água. Sou abraçada por uma sensação de frio reconfortante, idêntica às vezes que os flocos de neve mais pesados caiam no meu rosto quando ainda morava em Elfdale.

Estava tão feliz que quando volto a superfície, Skander comenta sobre o meu sorriso.

— Gosto de você assim, mais relaxada — Disse, nadando até mim — Gosto mais ainda quando seus olhos se parecem pedrinhas de âmbar.

Sinto um calor violento tomar conta do meu rosto. A vergonha deveria ser tão óbvia, pois uma linha fina e alegre se formava nos lábios do capitão do Sirena Vermelha.

— Ainda não aprendi a controlar… — Murmurei, acanhada — É difícil.

— Não queria que aprendesse — Resmungou, ficando perigosamente perto — Eu gosto de poder ler suas emoções pelos seus olhos.

Suas mãos quentes tocam a minha cintura e, por mais que o tecido de linho impeça o contado direto da minha pele com a dele, sinto seu calor ser transportado para mim. Sua pegada é forte e direta, colando o meu corpo ao dele.

— Posso te beijar, Kyanite Liadon? — Sua voz era tão rouca, que fez todos os meus pelos se arrepiarem.

Seus olhos se deliciam com os meus lábios semiabertos e depois encontram os meus, fazendo o meu coração cair até o meu estômago. Me apoio em seus ombros para não afundar, por mais que suas mãos, agora segurando meu quadril com força, me impedisse de fazer isso.

Suspiro no momento em que sinto seu corpo arder ainda mais. Skander fervia junto a mim.

Sem esperar a resposta sair dos meus lábios, ele aproxima sua boca de meu pescoço, beijando-o com cuidado e delicadeza. Cerro o maxilar e deito a cabeça para o lado, dando-o mais espaço para trabalhar. Era tão gostoso que podia sentir um calor crescer entre as minhas pernas.

— Isso é um sim? — Sua fala mais parecia um grunhido — Eu não consigo mais me controlar perto de você, Kya…

— Só me beija, seu idiota — Resmungo colocando seu rosto em minhas mãos.

Um brilho malicioso surge em seus olhos e finalmente nossas bocas se encontram em uma dança perigosa e apaixonante. Estava beijando o meu amigo, o cara que me provocou com sua dança e elogios desde o primeiro momento que nos conhecemos. Eu sabia que o que eu estava fazendo era uma loucura, afinal eu sou uma elfa e ele é um humano, não poderia apresentar ele como meu namorado (muito menos como marido) para os anciões de Elfdale, mas naquele momento minha cabeça estava focada em outras coisas.

Não tinha noção do quanto o queria até esse instante e sequer imaginava o quanto Skander me desejava. O beijo começou devagar, como se ele estivesse experimentando meus lábios, se acostumando com a curvatura da minha boca para só depois aprofundar o beijo. Suas mãos agarravam a pele macia do meu quadril, pois Skander parecia cansado com o tecido do meu vestido.

Podia ouvir seus grunhidos e gemidos se intensificarem a medida que seu beijo me dominava cada vez mais. Sua boca provava a minha com voracidade, ele parecia um animal sedento e eu era sua presa favorita. Sua língua toca a minha, inicialmente com cuidado, porém, quando permito seus avanços, ele deixa todas as barreiras do cavalheirismo para trás.

— Skander… — Um gemido baixo escapa de meus lábios, fazendo ele parar de me beijar, para analisar os meus olhos.

— Acho que finalmente encontrei meu som preferido — Sua mão esquerda acaricia meu pescoço, afastando alguns fios rebeldes.

Recupero o fôlego e encaro seus olhos, que agora estavam mais verdes do que nunca.

— Qual é? — Perguntei, tocando seu maxilar, fazendo carinho em sua barba para fazer.

— Você… — Murmurou, aproximando do meu ouvido, beijando e mordiscando o meu lóbulo — Gemendo o meu nome.

Um guinchado vergonhoso escapa de meus lábios, mas ele é rapidamente silenciado por mais um beijo. Dessa vez, Skander faz minhas pernas envolverem seu quadril, enquanto ele agarra minhas coxas com força. Podia sentir o seu desejo por mim se espalhar pelo meu corpo e se eu não tomasse cuidado, acabaria perdendo ainda mais o juízo.

— Kya, você não tem ideia do quanto espero por esse momento — Ronronou, olhando fixamente para os meus olhos.

Calo-me, enfeitiçada pelo seu olhar.

— Não precisa dizer nada, querida — Beijou minha bochecha com cuidado — Não quero te pressionar a nada.

— Skander, eu…

— Obrigada pelo beijo, dona — Um sorriso brincalhão surge em seus lábios.

Reviro os olhos e repouso minhas mãos em seu peito.

— Meus olhos… — Tento perguntar, quando o pego encarando-me.

— Corais — Respondeu sem hesitar — Levemente roxos… Agora eu realmente não sei o que está sentido. Nunca vi seus olhos assim.

Roxos… Eu o desejava mais do que um simples beijo. Meu corpo trava ao juntar os pedaços de conhecimento sobre as cores dos olhos de um elfo. Eu queria, mesmo que inconscientemente, levá-lo para a cama.

— Bem… Hum — As palavras se amontoavam na minha garganta — Quer dizer que… Uh.

— Deixe-me pensar — Ele morde seu lábio inferior, analisando-me por inteiro — Está vermelha como um tomate e isso só significa uma coisa…

Engulo em seco, não tinha como eu ser mais estúpida.

— O roxo… — Continuou, aproximando sua boca da minha orelha mais uma vez. Eu podia sentir meu corpo arder, tanto de vontade quanto de vergonha — … Quer dizer que quer fazer amor comigo.

Arfo, sentindo o calor entre minhas pernas se tornar mais forte e avassalador.

— Estou certo? — Podia sentir que ele estava sorrindo, mesmo não podendo ver o seu rosto.

— Hum… — “Se recomponha, Kaynite!”, gritei mentalmente — Devemos ir! — Praticamente cuspi as palavras, pulando seu colo e nadando até a beira — Lycan e os outros devem estar nos procurando.

Uma risada rápida ocupa o ar, fazendo eu corar ainda mais.

— Certo. Tudo bem, cherrie — Falou, passando a mão pelos cabelos molhados.

“O que esse homem está fazendo comigo?”, resmunguei, apressando-me para me vestir. “Vamos, pense em algo! Ah! O dia em que você caiu naquele buraco!”. Não podia ser vista com os olhos roxos, nem pelos marujos e nem por Skander!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Comente, assim a história permanece viva.



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