Time Of Us escrita por BIA


Capítulo 2
Pretending is the best what we do


Notas iniciais do capítulo

Ok eu sei que muitos devem estar me xingando incansavelmente pela demora, até eu estou fazendo isso. Peço um pouco de compreensão, não estava em um bom momento ou clima para postar ontem conforme tinha prometido. Porém, eu tardo, mas nunca falho. Afinal, tenho outro motivo muito bom por demorar tanto, trago pra vocês um capítulo bem longo (quase 5000 palavras) e com algumas surpresas que eu acredito que não estejam preparados. Inclusive, já aviso para um certo episódio que eu garanto que vocês jamais assistirão da mesma forma depois do capítulo de hoje. Sobre indicações de música, ouvi muitas para escrever esse aqui, mas selecionei uma cuja letra traduz exatamente o que acontece nele: Pretending- Glee Cast (Melhor canção original por eles já composta e sim injustiçada com casais com Finchel também, é o carma).
Gostaria de agradecer mais uma vez, a todos que tem me incentivado e cobrado para que continue. Nem eu esperava uma repercussão assim. Com essa força de vocês tudo fica mais maravilhoso, empolgante e vale a pena de ser feito!

Boa leitura a todos!



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Três da manhã e uma certa garota de pijama vermelho conjunto de calça listrada e blusa moletom estampando os dizeres: “I love fried chicken” se encontrava totalmente sem sono em sua cama, cheia de pacotes de salgadinho vazios e migalhas. Sam estava deitada com o celular sobre seu tórax e os fones de ouvido no último volume. As mãos batiam levemente contra o colchão, conforme o ritmo da música que tocava. Costumava ouvi-las na tentativa de finalmente conseguir dormir, determinado ritual nunca falhava. Apesar de quase estourar seus tímpanos, o barulho era algo que a relaxava e a embalava num sono profundo eficientemente.

No entanto, naquela noite parecia não ter êxito algum. Mesmo já tendo passado por todas as músicas de sua playlist: os acordes singulares do Red Hot Pepers, o rock punk de Blink 182, as clássicas do Imagine Dragons e até mesmo Avril Lavigne, considerada a sua cantora favorita. Só havia uma canção a qual evitou ouvir e pressionou o botão “avançar” na velocidade da luz: Running Away, do AM.

O motivo, mais do que evidente: por mais que quisesse, não poderia permitir que as lembranças fossem travessas e lhe transportassem ao dono dos olhos castanhos mais tênues e excitantes que conhecera. Insistia que sua cor favorita era marrom por ser a mesma do molho de carne, porém os globos oculares da mesma coloração que um dia já a olharam com tanta ternura e desejo, certamente, estavam por trás de sua preferência.

Entretanto, custaria a ela admitir isso. Então fazia aquilo que costumava fazer muito bem, assim como Freddie: fugir. E continuava assim: fugindo, até mesmo das coisas boas. Das recordações sobre os beijos. Os toques. As gargalhadas que deram juntos até suas barrigas doerem. Os momentos que foram os melhores de suas vidas. De tudo. Esse era o jogo próprio deles e não sabiam se um dia mudariam. Desse jeito continuavam, desperdiçando dias e o pior, mais e mais tempo.

O refrão de “Complicated” estava prestes a se repetir pela sétima vez quando seu celular vibrou. Ela se espantou, afinal o voo de Carly levaria cerca de doze horas e ficaria incomunicável momentaneamente, por segurança. Não tinha como ser ela. Ficou mais chocada ao levar o aparelho até seu campo visual e constar a notificação de quem menos esperava receber naquelas horas tardias:

Fredalupe 03:04 - Hei, tá acordada?

 

Um fato curioso e desconhecido é que Samantha Puckett adquiriu o hábito de mudar o nome de Freddie regularmente na sua lista de contatos. Toda semana um lembrete no peraphone a alertava de altera-lo e as opções iam das mais variadas a criativas: Frednerd, Fredweird, Fredutine, Fredbag e tantas outras. E é claro, tinha uma razão engenhosa para isso. Desde que notou o retorno da paixonite de infância por Carly, ela se viu obrigada a tentar tirar o moreno da sua cabeça e se forçar a lembrar do quão ridículo o achava quando mais nova. Voltar a provocá-lo, zoa-lo, pregar-lhe peças pareciam boas estratégias. Logo, reforçar os motivos do porquê o odiava também poderiam funcionar e o mais importante: a proteger de seus sentimentos insanos. Mas, Sam Puckett estava sendo muito falha. Se esquecera que até a medida mais extrema que tomara em todos os seus dezessete anos de se internar em um manicômio, fora completamente ineficaz de afastá-la do que sentia em relação a ele. A única coisa que estava fazendo era enganar a si mesma. Podia dissimular que esquecera “Freddie”, porém o efeito que lhe causava jamais!

Os sentimentos permaneciam ali, nas mordiscadas que dava nas pelinhas de sua boca. Tentado amenizar e extravasar o nervoso e as demais sensações que tinham sido desencadeadas, automaticamente, com a mensagem: ansiedade, raiva e a inegável felicidade.

⁃ Maldito nerd! - soltou em voz alta sem perceber e depositando um soco no travesseiro.

Questionava qual motivo teria de estar sendo importunada naquele horário, ainda mais por ele. Cogitou em ignora-lo e retornar a apreciar a trilha de seu álbum predileto. Porém, era incontestável, já estava envolvida. Intensificou suas mordidas enviando a mensagem, que obviamente, não estaria isenta de grosseria:

 

03:05 - O que você quer Benson?

Estava curiosa sobre o que ele digitaria. A curiosidade se converteu em apavoramento ao receber uma notificação mais intimidadora:

 

Chamada Fredalupe

Dessa vez soltou um palavrão. Sam prometeu a si mesma que não atenderia, mas não teria escapatória. Situava-se em uma emboscada, afinal, agora não restavam mais dúvidas de que estivesse mesmo acordada.

⁃ A sua mãe por acaso esqueceu de te colocar pra dormir pra você tá me ligando a uma hora dessas?

⁃ Não eu só ... não consigo dormir. O que tá fazendo?

⁃ Olha não que seja da sua conta, mas tava escutando música.

⁃ Alguma da Avril?

Surpreendente como Freddie Benson a conhecia tão bem. Além da canção, apostava seguramente que ela estaria de meias coloridas, convicta de que aquilo lhe traria sorte. Acertaria em cheio, inclusive, o estilo e quais cores usava: azul com estrelas brancas e vermelha de bolas. Sorriu espontaneamente ao imaginar alguém tão intimidador como ela refém de uma superstição tola.

⁃ Yep. E o rei dos bobões o que tá fazendo?

⁃ Ah...eu...- correu os olhos pelo quarto freneticamente procurando por uma desculpa convincente. Atentou-se para o armário repleto de cópias físicas dos jogos de videogame que colecionava - ... jogando “World of Warlords.”

⁃ Hilário... tá em que nível agora?

⁃ Ah no...no 133.

⁃ Espera, me disse semana passada que tava no 140.

⁃ Ah não! Acho que me enganei, devo tá louco! É o 142.

Um ótimo mentiroso reconhecera um péssimo de longe. Samantha era em espetáculo em mentir. Freddie, uma verdadeira catástrofe. Podia não ser nenhuma expert no assunto geek, todavia tinha ciência acerca dos níveis do jogo: o limite era de cento e vinte. E sendo tão habilidosa descobriria a farsa, inevitavelmente, pelas gaguejadas e os intervalos de tempo que notou do outro lado da linha.

⁃ Não te vi ir embora hoje...

⁃ Pois é, eu desci com a Carls e fui embora depois disso. Não tinha mais porque ficar aí entende?

Julgou como indiretas tais palavras. O ferindo profundamente e fomentando ainda mais a necessidade que tinha de confirmar se tinha algo, de fato, errado. Por isso, a telefonou. Precisava ouvir sua voz. Precisava escutar da boca dela. Precisava se livrar das perturbações que o incomodavam.

⁃ Sam?

⁃ O quê?

⁃ Tá tudo bem?

O diálogo foi interrompido por uma pausa. Caso não escutasse a respiração dela afirmaria que o telefone ficara mudo de repente. A garota foi pega de surpresa, dificilmente era questionada a respeito do que sentira. Tampouco por Freddie. Gostaria muito de ser sincera. Gostaria de se abrir. Gostaria de xingá-lo por ser tão covarde ou por afronta-la as três da manhã com uma ligação daquelas. Todavia, não colocaria em prática seu anseio. Outra vez, estava a fugir.

⁃ Claro que tá nerd, por que não estaria?

Evitou suspirar alto com a intenção de que ela não percebesse. Entendeu que suas preocupações não seriam amenizadas. Teria de lidar com as incertezas pelo resto da madrugada. Afinal de contas, conhecia a diaba loira o suficiente para captar sua determinação em resistir dar o braço a torcer.

⁃ Bom...acho que vou tentar dormir e deixar você fazer o mesmo.

⁃ É também acho que devia descansar pra sua limpeza de carrapatos de amanhã cedo.

⁃ Boa noite, Sammy.

⁃ Boa noite.

Perdeu inteiramente o rumo. Esqueceu até de chamá-lo por um dos codinomes de sua lista.

“Sammy”.

Indiscutivelmente, detestava que as pessoas a chamasse assim, visto que soava fofo e vulnerável. Entretanto, ao ser pronunciado delicadamente pelo rei dos idiotas, o apelido se transformava num ponto fraco. Em nenhum momento Freddie a chamou de “Sammy”, após romperem. Era a primeira vez que demostrava essa afeição proibida desde então. Não pôde evitar: desmontou um sorriso bobo ao virar-se para o lado esquerdo e encolher-se em posição fetal. Provavelmente, adormeceria com um motivo plausível de se entregar aos sonhos.

“Chega de celular por hoje”— advertiu a si própria, o jogando para baixo do travesseiro.

Enquanto alguém desligava seu aparelho telefônico, um outro alguém ainda continuava a mexer no MaxPad demasiadamente gigante. Indo até as músicas, apertou o play. Consentindo com a emissão dos acordes e, posteriormente, dos primeiros versos:

“Did I tell I knew your name, but it seems that I’ve losted it?”

 

oOo

A loira saiu para dar algumas voltas com a Sterling 64 naquele fim de tarde. Arriscou transitar por entre todas as ruas, avenidas e os trechos próximos as rodovias possíveis. Sentia-se livre e realizada. Necessitava de algo que a distraísse sobre os acontecimentos de ontem. Preferia acreditar que Carly fora passar o final de semana com o avô em Yakma. Era mais confortante.

Decidiu passar rapidamente no Bushwell para ver Spencer, queria se certificar de como ele estava. Uma boa amiga não abandonaria o irmão de sua melhor amiga naquela circunstância.

Conversaram brevemente enquanto comiam alguns tacos de macarrão. Spencer aparentava estar ainda muito abalado, confessou que chamou por Carly inúmeras vezes durante o dia achando que ela estivesse dormindo. Repassou a informação de que a irmã e o pai aterrissaram com segurança à Itália e que providenciariam um novo número de telefone para que Sam e os demais pudessem conversar com a morena.

Se despediu dele e involuntariamente saiu pela porta. Ficou tão atenta aos desabafos de Spencer que se esquecera absolutamente da opção de descer pelo elevador. Cruzando a porta se deparou com a do 8D. Recapitulou as vezes que pegara Freddie espiando pelo olho mágico aguardando ansioso por Carly. Indagou para si se haveria a chance de um dia ele já tê-la olhado por ali cobiçando sua chegada. Ponderou que era inútil pensar nessa possibilidade, nunca a olharia ou ansiaria por seu regresso.

Decerto, meditar sobre aquilo serviria de estímulo para partir novamente sem prestar esclarecimentos. Mas, o aval que recebera em forma do apelido carinhoso durante a madrugada a impulsionou para que girasse a maçaneta da porta.

Entrou cuidadosamente no apartamento. Marissa não estava em casa, provavelmente deveria estar em algum culto da igreja cujas pessoas conservadoras e fanáticas como ela se reuniam propagando dogmas e preceitos ultrapassados e supérfluos. E o inquilino, T-Bo, também não. Devia estar mega atarefado cheio de vitaminas para preparar na loja. Passou pelo estande “kit limpeza” imposto na entrada pela ex-sogra psicótica cheio de álcool em gel, desinfetantes e anti-bactericidas. Burlou a regra obrigatória de tirar os sapatos, não obedeceria àquela mulher nem mesmo na sua ausência.

Foi em direção ao corredor onde parou a poucos passos da segunda porta à esquerda. A hesitação tomou-lhe conta por alguns segundos.

“O que você está fazendo, Sam Puckett?”— meditou.

Preparava psicologicamente para infiltrar-se no local mais íntimo da vossa majestade do paraíso nerd. A tempos que não entrava naquele cômodo. Num momento de bravura abriu a porta, subitamente. Encontrando Freddie sentado na cama segurando seu PeraPod. A camisa xadrez verde escura e apertada que usava realçava seus músculos bem como sem tom de pele levemente bronzeado. Apresentou um semblante surpreso ao vê-la, achando que estivesse tendo alguma espécie de alucinação. Em outros termos, uma miragem encantadora.

⁃ Sam! Não te ouvi bater.

⁃ Eu nunca bato Fredutine.

⁃ O que veio fazer aqui?

⁃ Sai pra testar a minha “bebê” e como tava por perto quis verificar se o cara aí da frente não estava cortando os pulsos. Você não o viu?

⁃ Não, ainda não. Preciso vê-lo eu sei...

⁃ O que tá fazendo?

⁃ Vendo o programa de ontem... Quer... ver?

Foi até ele um pouco relutante, apreensiva e incerta se ocupar o lugar ao seu lado era realmente apropriado a se fazer. Sentou-se muito à beirada da cama prevendo a possibilidade de escorregar rumo ao chão. Decidiu pegar impulso com seu corpo, a fim de ajeitar-se mais para o meio do leito. E sem pretensão alguma apoiou o peso de sua mão esquerda sobre a direita de Freddie.

Foi uma eventualidade do destino certeira.

Lá estava ela de novo... Quem mais poderia ser? A tensão que sempre se instalava entre os dois, só que desta vez, essa se prostrou mais inconveniente e invasiva. Escancarando de forma brutal as portas que trancavam à sete chaves a memória referente ao episódio considerado o mais fervoroso e sigiloso que vivenciaram. Suas mentes estavam sendo invadidas de forma truculenta e não se tratava da primeira vez desajeitada que tiveram em comum acordo antes do rompimento definitivo à meia noite.

Não. Correspondia àquela vez específica. Da exceção. Da única vez que Sam e Freddie não conseguiram se conter. Perderam totalmente o controle e a sanidade, chegando a conclusão de que ambos eram realmente loucos. Pois, foram capazes de abaixarem suas retaguardas completamente e se permitiram ter uma recaída. Ou melhor, A RECAÍDA.

Nem sequer estando mais juntos como namorado e namorada.

E como era de costume, ninguém sabia...

Ninguém sabia além deles dois.

E ninguém nunca saberia.

Flashback

Aquilo que por muitas vezes fora classificado por Freddie Benson como um verdadeiro demônio, na realidade se assemelhava muito mais à figura de um anjo que repousava sua cabeça com os cachos bagunçados sobre o travesseiro. Sam estava deitada de costas para ele, passava o dedo indicador em movimentos circulares sobre o lençol de linho e olhava fixamente para a janela. Pressionava seus lábios um no outro com força, como se isso a ajudasse a absorver o que tinha ocorrido minutos atrás. Freddie tinha gotas exageradas de suor pelo corpo todo e encarava o teto com uma feição confusa: assustada e extremamente satisfeita ao mesmo tempo.

Nem eles sabiam como aquilo tinha acontecido. Decidiram ir até o quarto do garoto na intenção de solucionarem o problema da melhor amiga, que estava bastante magoada pelo fato do pai não poder comparecer à festa de aniversário que ela organizara com tanto afinco a semana toda.

Num instante estavam um ao lado do outro sentados na cama: Freddie com o notebook no meio das pernas tentando acessar e desvendar os códigos de acesso restritos de localização da base militar onde o Coronel Shay atuava e Sam, bem essa apenas bebericava uma lata de refrigerante. Porém no outro, se encontravam daquele jeito: nus e com as respirações totalmente ofegantes e descompassadas.

Talvez tenha sido a forma como se sentiram confortáveis um com o outro pela primeira vez em muito tempo. Talvez tenha sido o fato de Freddie não ter se importado com seu telefone se espatifando em pedaços por culpa de Sam. Talvez tenha sido a forma como ele sorrira de lado para ela quando a viu chegar ao prédio naquela tarde compenetrada no seu iôiô.

Talvez.

Todos poderiam ser considerados fatores decisivos e determinantes, entretanto foi apenas o toque acidental e sutil de suas mãos uma sobre a outra o responsável por romper as barreiras e libertar tudo o que estavam sentindo e se esforçando em guardar para si mesmos. Não teria muito o que fazer, uma vez que já se entreolhavam de um modo escancaradamente eletrizante.

“5,4,3,2,1...”

O recorde foi quebrado, bastou menos de meio milésimo para que tomassem os lábios um do outro imediatamente. Os toques gradativamente deixavam de ser inocentes e se tornavam cada vez mais inapropriados. A conduziu apressadamente para a cabeceira da cama junto a necessidade que tiveram em se livrar das peças de roupa com tanta urgência. O atrito entre seus corpos emanava ondas de prazer, cujo pico se elevava mais e mais até o ápice. E antes que pudessem se dar conta, tinha acontecido.

Logicamente foi muito melhor do que quando perderam a virgindade. Não houve nervosismo ou tensão sobre os passos que seriam dados. Não houve constrangimento ao se depararem com suas intimidades expostas. Não houve receio por parte dele em machucá-la ao penetra-la. Não houve apreensão do que sentiriam no momento que seus corpos se unissem. Houve espontaneidade, naturalidade, excitação e o mais importante, algo que eles reprimiam com o maior empenho em relação ao outro: amor.

A garota passeava pelas reflexões em sua mente, sentou ainda de costas para ele mantendo fixado o olhar para a janela. Se encontrava assustada e se cobrando incansavelmente uma explicação do porquê permitiu que aquilo ocorresse. Suas costas nuas foram encaradas como um convite para que o rapaz se aproximasse dela, apoiando a cabeça entre a curva de seu ombro e o pescoço. Acariciou suavemente o local que apresentava uma pinta marrom, bem abaixo das costelas. Ela podia sentir seu corpo inteiro se arrepiar de novo, mas precisava sair daquela situação o mais rápido possível, pois era o correto a se fazer.

Levantou-se em um ímpeto, procurando e vestindo suas roupas espalhadas exageradamente pelo quarto em lugares distintos. Procurava fazer aquilo o mais depressa possível, ficava evidente seu nervosismo e ansiedade, devido não somente a sua rapidez como também às suas mãos trêmulas. Quanto a Freddie, esse alterou seu semblante satisfatório para um absolutamente confuso, franzia seu cenho enquanto observava a garota vestir os trajes ligeiramente.

⁃ Aí onde você vai?

⁃ Eu tenho que ir. - disse de maneira curta e fria enquanto vestia sua regata.

⁃ Ir? Ir pra onde?

Não teve resposta alguma. A única coisa que ouvira foi um “Merda” enquanto ela tentava se equilibrar num pé só para calçar uma de suas botas que se encontrava próxima a minutara de um robô. Levantou-se indo em direção a ela com esperança de obter uma justificativa.

⁃ Sam? Sam?

Faltava apenas encontrar a cardigan cinza de listras para que finalmente se visse vitoriosa por ser arrumar em um tempo recorde. Mas, o nerd fora mais ágil, assim que avistou embaixo da cama correu para pega-la. Desesperada, ela se colocou à sua frente, se esforçava em esticar os braços e as mãos em uma tentativa frustrada de recupera-la.

⁃ Me devolve!

⁃ Não até você me responder - se opôs pegando no pulso dela fortemente.

Apesar de considerar possível que ele escutasse e sentisse as batidas aceleradas do seu coração, um breve silêncio instaurou-se entre eles. Sam direcionou seu olhar para o chão, buscando coragem em relação ao que diria. Afinal, seria muito mais fácil escapar daquele quarto sem dizer uma única palavra a se justificar. E ela realmente não queria ter que fazer isso, no entanto era o certo a ser feito:

⁃ Olha Benson... a gente pode só fingir que isso nunca aconteceu?

⁃ O quê? Por quê?!

⁃ Você sabe por quê.

⁃ Não, me diz porque Sam.

⁃ Por que é estranho e errado!

Disse tão ríspida que as palavras saíram em um tom mais elevado do que planejava. Agradeceu por ter a certeza de que a Senhora Benson não estava em casa, pois ela a teria ouvido e iria até o quarto desesperada se certificando do que acontecia ali. Definitivamente, não teria nada para piorar a situação do que aquela mulher em estado de histeria a acusando de abusar do filho.

Mesmo o tom sendo hostil, o que mais doeu foram as palavras ditas: estranho e errado. Ah se pudessem, seriam as palavras que riscariam e baniriam para sempre de todos os dicionários do planeta. Os machucavam da forma mais dolorosa possível lembrar que depois de muito persistirem foram obrigados a crer que estavam fingindo que poderiam um dia dar certo. Apesar de terem feito amor genuinamente, o que importava não era a verdade, mas as consequências que ela traria consigo. Foram coagidos de novo a acreditarem na teoria da conspiração que todos criaram contra a paixão deles.

⁃ Sam eu...

⁃ Vamos esquecer tá bom? Não é tão difícil assim, é só fingir que nada aconteceu. Nós somos muito bons nisso lembra?

E realmente eram.

Fingir era o que faziam de melhor, mas só porque não eram excelentes em lidar com a verdade do que sentiam um pelo outro.

⁃ Nós temos que focar em ajudar a Carly, hoje à noite precisamos ficar do lado dela durante o programa e o resto dos dias sendo os melhores amigos do mundo como sempre fomos. Dá pra fazer isso?

⁃ Sam eu não acho que...

⁃ Por favor, pela Carly.

Uma pena ter sido interrompido pela loira, o resto da frase seria justamente que não achava que se tratava da Carly e sim deles. “Pela Carly.” Mal sabia ela que Freddie não seguia mais o mantra de “fazer as coisas por Carly” a muito tempo. Somente uma pessoa era capaz de fazê-lo agir ou até mesmo desistir de algo em prol de sua felicidade e do seu bem-estar e ela estava bem à sua frente.

⁃ Tá bem...É isso mesmo que você quer?

E embora não fosse a sua vontade, precisava parecer que era.

⁃ É.

⁃ Ok...

A voz do jovem saíra rouca e falha, acompanhada de um olhar meramente frustrado. Assentir com aquilo só fez seu coração se partir instantaneamente. Não pensava em mais nada e nem percebera que permaneceu nu na frente dela desde o início da conversa. Quando se deu por vencido a devolveu sua cardigan. Sam, mais do que depressa, a vestiu enquanto caminhava rumo à porta. O deixou sem dizer uma sequer palavra, porém em sua mente ecoavam tantas. Podia transparecer ser absurdamente fria e rude na frente dele, mas internamente estava devastada. Há tantas coisas que queremos e que negamos sem ao menos conseguir explicar o porquê. Poderia expor tantos argumentos que levavam frango frito ser a melhor comida do mundo, contudo só encontrava uma explicação para recusar o único cara que já amou:

Amar compreende vários significados. Não implica necessariamente em ficar juntos. Amar pode ser aceitar ficar separados um do outro, pois aquilo é o melhor para a pessoa amada. Mesmo que doa reconhecer que esse “melhor” no momento não seja você.

Essa era a maior prova de amor que Sam Puckett poderia dar a Freddie Benson naquele momento. Não permitir que embarcasse na montanha russa instável e insana que ela era, não depois de fazer coisas horríveis com ele as quais nunca se perdoaria. Como arruinar suas chances prósperas no acampamento nerd que refletiriam no futuro da faculdade ou o pior, tê-lo privado de conhecer alguém muito melhor que ela. Alguém que as pessoas não julgassem como sendo a escolha “errada”.

E quem era o melhor?

Sam por bancar a durona? Ou Freddie por concordar passivamente com aquilo? Mesmo estando naquele exato momento desolado e sozinho em seu quarto torturado pelo cheiro do perfume dela que ali ficou impregnado?

Definitivamente, nenhum dos dois.

Quem acertara mais uma vez era Spencer. Pois, era ele quem sabia como defini-los: nenhum era melhor que o outro, não passavam de dois verdadeiros “manés”.

Fim do Flashback

 

Claramente pressentiram todo aquele déjà vu simultaneamente. Tinham plena consciência do quão perigoso era e sabiam que a probabilidade de seguirem o mesmo rumo era grande. Justamente, por isso, a regra dos “cinco segundos” nunca mais foi quebrada, porque ao brincar com fogo as chances de se queimar ou de causar uma explosão são altíssimas.

Sam retirou sua mão de modo imediato sobre a dele, impedindo que o mergulho profundo e letal dos olhos azuis nos castanhos se concretizasse. Voltaram a permanecer sem graça num silêncio predominantemente torturante. Ela com a postura comprimida mexendo suas mãos e dedos inquietos uns nos outros e ele disfarçava como se estivesse prestando atenção em cada cena exibida na tela do eletrônico.

Contudo, até mesmo tensões tem prazo de validade. E um dos dois precisava acabar com aquela logo:

⁃ Acha que fingimos bem ontem?

O empenho dela poderia ser reconhecido como válido, mas também ineficaz. O nervosismo tomou conta de Freddie, deduzia que se referia ao incidente da ligação constrangedora que deixou escapar seu anseio secreto em tê-la de volta e da dissimulação paspalha que encenaram.

⁃ Quando a Carly decidiu ir - completou, para o alívio dele.

⁃ Ah! Eu não sei...Talvez, acho que sim.

⁃ É pelo menos você se saiu melhor do que eu imaginei Benson, jurava que te veria agarrado as pernas dela implorando aos berros para que ela não fosse, igual uma garotinha.

⁃ Não, as coisas mudam.

⁃ Algumas não...

Por mais que tenha enunciado o desdém em uma entonação baixa, isso não impediu que ele a ouvisse. E mesmo tendo a chance de refuta-la, preferiu insistir na construção de uma conversa sadia e compreendia como “sadia” relembrar as alfinetadas dos velhos tempos:

⁃ Você também se saiu muito bem Puckett, terceira vez na vida que te vi chorar.

⁃ É que sabe, você pode ser tão pateta que me emociona às vezes...Claro, sem ofensa a você ou ao resto dos patetas do mundo.

Conseguiu arrancar uma risada sincera dele e, que, sucessivamente, também a contagiou. Freddie se permitiu admira-la naquele momento de desconcentração. Samantha Puckett era considerada por ele quando criança a menina mais assustadora que conhecera, agora suas definições ainda prevaleciam atreladas ao conceito assustador, porém atualizaram-se para assustadoramente linda. Desde que seu guarda roupa mudou, expunha mais o seu corpo, principalmente a região do colo que causara efervescências em qualquer cara com os hormônios à flor da pele. Sua gargalhada espontânea mantinha o equilíbrio entre o encantador e o sexy. Ah e seus cachos dourados... foi necessário que Freddie passasse a língua sobre seus próprios lábios a fim de conter o impulso que sentia em ajeitar uma de suas mechas teimosas que insistiam em cobrir o brilho dos olhos de diamantes.

Provocá-lo com xingamentos depreciativos e agressivos não era nada perto daquele tipo de provocação.

Teve medo de ser flagrado perdido em cada detalhe do corpo dela. Voltou sua concentração à tela mais uma vez, que exibia o quadro clássico que representaram pela última vez: “O cowboy de bigode e a fazendeira tonta que achava que o bigode fosse um esquilo.”

⁃ Quantas vezes já assistiu?

⁃ Eu não sei, comecei a ver lá pelas 17:30 quando cheguei do shopping.

⁃ Do que mais vai sentir falta?

⁃ Tudo.

Tudo. Sam refletira sobre o que seriam as definições de “tudo” para Freddie. Não se tratava de suas habilidades esquisitas tecnológicas ou dos momentos cômicos e de divertimento. Obviamente, não poderia ser outra coisa: Carly Shay. Observava atentamente a maneira como se portava assistindo ao programa no tablet. Sem dúvidas, deveria estar encantado pela sua voz fina e delicada. Ou maravilhado com os olhos escuros dóceis em perfeita harmonia com a boca rosada.

Presumir tais motivos magoava tanto Sam. Ele acreditava fielmente de que o fato dela chorar fosse raro, quase que improvável, isso porque nem imaginava que a garota se debulhou em lágrimas incontáveis vezes por sua causa. Como quando se deparou com a cena dele curtindo cada segundo da dança com Carly na noite do baile da “Garota que escolhe” no Groovy Smoothie. Ou o dia que correu atrás do nerd no estacionamento do shopping se desculpando por provocar sua demissão da Pear Store e ele cuspiu acusações pesadas a ela, incluindo: “Você sempre estraga tudo! Cada parte da minha vida que eu dou um passo pra frente, faz questão de me fazer voltar dez para trás.”

As situações diversas, o motivo sempre o mesmo. E aquela, com certeza, seria mais uma delas.

Entretanto, reflexões permitem a construção de uma lógica que nem sempre chegam, necessariamente, à reposta exata. Carly poderia não ser a resposta e, na verdade, não era.

⁃ Bom, a mamãe aqui tem que ir.

⁃ Já vai Sam?

⁃ Sim, amanhã tem aula.

⁃ E desde quando você liga pra escola?

⁃ Eu ligo quando eu preciso me preparar psicologicamente para a detenção que sei que vou ganhar da Senhorita Briggs e do Senhor Howard depois da aula, por isso preciso comprar meu estoque de comida pra conseguir aguentar ficar até mais tarde naquele inferno.

Não era porque a amiga partira que Samantha Puckett deixaria de ser ela mesma. Gostava e muito de sentir a adrenalina liberada no seu organismo quando fazia coisas erradas.

Saiu pela porta do apartamento sozinha em direção ao elevador no final do corredor, ou pelo menos, achava que assim estava. Além da sensação eminente de queimação na nuca, sua habilidade de visão periférica, que aprendeu a utilizar com prontidão quando estava detida, a alertou para a presença de alguém que a acompanhava logo atrás: Freddie.

Apertou o passo adentrando no elevador, se encostou à parede e cruzou os braços. O encarava do outro lado, estava com uma das mãos no bolso e a outra acenando para ela. O cavalheirismo de Benson em segui-la não foi em vão, surgira da necessidade tremenda em vê-la antes que ela fosse embora. Depois da apreensão que passou na noite anterior, não queria de maneira nenhuma passar mais uma noite em claro sufocado pelas paranoias.

Fisicamente, não estavam próximos. Mas, o olhar que trocavam naquele instante, era capaz de aproxima-los para tão perto. Considerou seriamente em desistir e permanecer com ele mais um pouco. Repensou se deveria ir até o térreo e conduzi-la a rua matando a dúvida incessante de como seu cabelo ficaria com o vento neles batendo pilotando a moto.

“5,4,3,2,1...”

O tempo que tinham de colocar alguma atitude em prática se esgotou. O orgulho impediu que fossem ágeis. As portas do elevador se fecharam por completo.

 

“Mantendo os segredos seguros a cada movimento que fazemos. Parece que ninguém está deixando para lá e isso é uma vergonha! Porque se você sente o mesmo: como é que eu vou saber? Nós iremos um dia dizer as palavras que estamos sentindo? Alcançar o fundo e derrubar todas as paredes? Ou iremos para sempre ficar só fingindo?”

Pretending – Glee Cast


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Notas finais do capítulo

Alguém aí se surpreendeu? Confesso que estou me divertindo com as apostas que muitas pessoas fizeram com alguns spoilers que dei que e passaram bem longe do que realmente ia acontecer. Abaixa aí que temos chuva de tiros e referências. Quem aí conseguiu pegar todas?
Bom antes de mais nada vamos relembrar de algumas coisas importantes:

*Running Away by: AM é a música que toca de fundo durante o primeiro beijo deles em iKiss, considerada a música Seddie pelos fãs. Temos uma grande relação entre o primeiro verso da música e o fato de Sam mudar o nome de Freddie constantemente em seu celular: “Eu já te disse que eu sei o seu nome, mas parece que o perdi?”. Não obstante, também temos o fato deles sempre fugirem até mesmo “das coisas boas” que seriam os sentimentos que sentem um pelo outro e que ainda insistem em reprimi-los.

*Em iGoodbye Gibby pede para que Freddie vá com ele no dia seguinte comprar comida e coisas para a fuinha que ganhou do cara ranzinza do shopping.

*O episódio em questão da recaída que Sam e Freddie tiveram foi em iMeet First Lady, pra quem não lembra nesse episódio eles hackearam o sistema federal, surpreendendo a Carly para que conseguisse se comunicar com o pai no aniversário dele. Inclusive, tem um momento do dia seguinte de quando os três chegam da escola ao apartamento e por estar tão feliz Carly pede um abraço triplo entre eles e aparentemente Sam e Freddie resistem. Conseguem entender o porquê agora? Podem rever lá e vir me cobrar! Afinal, se formos pela lógica eles mantêm vários segredos entre si no decorrer da série então quem nos garante que não tenham mais deles que não foram mostrados nas câmeras?

*Quando Sam e Freddie saem correndo do apartamento nesse mesmo episódio deixando Spencer em uma saia justa para dar a notícia triste à Carly sozinha, ele os xinga de “manés”.

*Com relação de quando Sam e Freddie perderam a virgindade sei que temos várias especulações de que talvez realmente tenha rolado antes do término, porém como eu sou uma pessoa mega romântica mantive nessa história como se tivesse chegado aos finalmente em iLY, não que tenham se permitido curtir uns amassos bem calientes antes disso.

*World of Warlords é o jogo citado em iStart a Fanwar que Spencer e Freddie aparentemente são fascinados e viciados, uma sátira feita ao World Warcraft.

*Nesse capítulo também temos referências dos episódios iChristmas, iWanna Stay With Spencer, iOMG, iLost my mind, iCan’t take it, iSpeed Date, iSpace Out, iLost my mind, iGet a Banned, iQ, iDont wanna fight ,iPearStore e até mesmo a uma das falas da Sam dita em Sam e Cat especificamente em The Killer Tuna Jump. (Ufa! Quem aí pegou todas?)

*Sobre a fala que coloquei que se passaria em iPear Store foi invenção minha. Deduzo que ele tenha falado algo assim com ela, pois no final do episódio ele estava muito bravo e teceu inúmeras acusações a Sam. Também acredito que ficou muito claro o quanto ela se arrependeu e só aceitou o emprego pra ficar perto dele (Old).

Bom pessoal acho que ficou evidente aqui foi como a memória afetiva/sexual é uma coisa de doido não é? Eu espero do fundo do meu coração que tenham gostado de mais um capítulo e que a espera tenha valido a pena. E aí me contem? O que acharam? Declarações sobre o flashback? O que acham que vem a seguir? Algum palpite? Será que teremos uma luz no fim do túnel no próximo?
Espero todos aqui novamente em breve, lysm♡



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