Quando Adrien chegou na casa de Marinette, a encontrou fitando seu livro de feitiços, segurando uma caneca de café quente. Um cenário perfeito para o clima atual da cidade de Paris.

O loiro fechou o guarda-chuva e o colocou no canto. A chuva aumentou à medida que ia para a casa de Marinette e agora já era possível ouvir trovoadas.

— Vim o mais rápido que pude. O que houve? – a garota o encarou, notando a sua presença só depois que ele falou. Em seguida voltou o seu olhar para o livro novamente.

— O Félix... Ele... – Adrien sentou do lado de Marinette, já se preparando para ter seu coração arrasado. Félix era seu primo por parte de mãe e também namorado de longa data de Marinette, a garota por quem ele era apaixonado. Apesar disso, Adrien sempre respeitou o relacionamento dos dois, por mais que doesse.

— Marinette? O que aconteceu? – questionou, estranhando o tom da melhor amiga. Ela parecia estranhamente apática, o que não era típico. Esperava que Félix não tivesse feito nada de ruim à ela, porque se tivesse...

— O Félix me pediu em casamento. – Adrien quase se engasgou com a saliva. No entanto forçou um sorriso, queria estar feliz por eles.

— Isso é ótimo! Parabéns a vocês! – Marinette o encarou, com a expressão ainda sem vida – O que há de errado? – para ele, muitas coisas. No entanto, não entendia a reação de Marinette. Não era o que ela queria? Casar e ter uma bela família?

— Ele me pediu em casamento, mas eu teria que desistir da magia e fazer um ritual de purificação. – o loiro finalmente notou em que página o livro de feitiços estava aberto, na página que falava como fazer um ritual para abdicar da magia. Ele não ficou completamente chocado. Sua família por parte de mãe não tinha conexão com a magia, só não imaginava que ao ponto de querer que Marinette desista dela. Afinal, ele mesmo era mágico pela parte do seu pai. Se bem que, isso explicava porque os Graham de Vanily não faziam questão de ter contato com os Agreste.

— E você pretende desistir? – Marinette era uma ótima feiticeira e adorava essa vida. Adrien ficaria mais triste ao saber que ela iria desistir de uma parte de si mesma por Félix, do que ficou com a notícia do casamento. Ele nunca pediria para que ela fizesse isso.

— Eu não sei.

Os dois permaneceram em silêncio. Adrien não queria pensar como o garoto que era apaixonado por Marinette, mas sim como o melhor amigo dela. Seria assim que deveria ajudar ela a decidir.

— Já sei o que podemos fazer. – ele ficou de pé, atraindo a atenção dela.

— O quê?

Adrien segurou a mão de Marinette e a levou para a sala.

— Deita no tapete. – ela não se moveu – Vamos fazer um ritual de possibilidade. Você vai ter uma ideia de como seria a sua vida sem magia, casada com o Félix, baseada nas suas decisões e vontades atuais.

— Entendi. Ótima ideia! – Marinette pareceu ter se animado e pegou algumas velas na gaveta. – As velas vão ajudar a canalizar melhor o poder e reduzir a chance de erros.

— Certo. – a garota deitou e Adrien colocou as velas em volta do corpo dela.

— Sabe como fazer o feitiço?

— Teoricamente, sim. – ela o encarou – Eu nunca fiz, ok? Mas eu vou ter cuidado, eu juro!

— Tudo bem, eu confio em você. – Adrien sorriu – Você vai ser espectador? – o loiro não tinha certeza se queria ver de camarote a vida de casados de Félix e Marinette, no entanto a garota segurou a sua perna e o dirigiu um olhar suplicante ao notar que ele estava prestes a negar.

— Sim, claro. – ela sorriu e se ajeitou.

— Obrigada. – sussurrou e se ajoelhou ao lado dela. Marinette fechou os olhos e Adrien estendeu as mãos suspensas sobre o corpo dela, com as palmas viradas para baixo.

O brilho esverdeado saiu das mãos de Adrien e envolveu Marinette, em seguida o envolveu também e acendeu todas as velas ao redor. O loiro se concentrou no feitiço e tomou cuidado para não errar uma palavra que fosse. Não imaginava que algo muito grave aconteceria caso ele errasse, no entanto, não tinha o desejo de descobrir.

— Volo tamen iuxta uotum tuum videre facultatem fatum tua consilia! Ostende mihi!

Adrien sentiu suas pálpebras pesarem, em seguida ele piscou lentamente e quando abriu os olhos, se viu sentado em uma poltrona. Ao olhar em volta não reconheceu o local, provavelmente a futura casa de Marinette e Félix depois de casarem – o que já era o suficiente para dar uma pontada no seu coração.

— Amor! Cheguei! – Marinette entrou na casa pela porta da frente. Linda como sempre e com uma barriga saliente. Marinette estava grávida. Adrien deu um sorriso triste, estava feliz por ela – Ah! – ela pegou um bilhete na geladeira e leu – "Talvez eu me atrase hoje. Beijos, do seu admirador não-tão-secreto". Parece que meu querido esposo acertou sobre o atraso. – ela riu. Adrien tinha mania de deixar bilhetes na geladeira para o seu colega de quarto, Nino. Agora ele se perguntava se era de família, visto que Félix tinha deixado um para a esposa também.

Marinette largou a bolsa no sofá e voltou para a cozinha. Ele não a seguiu, decidiu ficar na sala, afinal, era só um espectador na cena e de onde estava, tinha vista para onde ela estava. Não tinha muito o que fazer, a não ser ficar parado e observar. Pelo menos as coisas estavam tranquilas até o momento, pois Félix não estava em casa e ele não precisava presenciar os dois trocando carinhos apaixonados.

Por um momento ele quis viver ali, exatamente nesse cenário. Ao notar que pensava nisso, forçou-se a parar, Marinette estava com Félix, não com ele. Era Félix que viveria aqui com ela, não ele. Seu coração doeu, mas não era como se fosse uma dor desconhecida.

Adrien voltou a observar Marinette e piscou várias vezes ao notar um brilho avermelhado em uma das gavetas, era Marinette usando magia. Ela usou seus poderes para abrir a gaveta e trazer uma tigela para onde estava. O loiro levantou e foi até ela, sabia que ela não sabia que ele estava ali, mas sentiu vontade de perguntar o que estava acontecendo.

Marinette usou magia mais algumas vezes enquanto cozinhava e Adrien tentava elaborar uma teoria. Se o que estava vendo era baseado nas vontades e possíveis decisões de Marinette no momento atual, significa que ela tinha conversado com Félix e o feito entender que pedir pra ela desistir dos poderes era idiotice? Ou será que Marinette tinha mentido para ele?

Alguns minutos se passaram e ouviu alguém chegando, só podia ser Félix.

Adrien se preparou para entender o que estava acontecendo, mas assim que a porta se abriu, ele ficou ainda mais confuso.

— Desculpe o atraso, eu fiquei até mais tarde pra corrigir algumas provas. – a pessoa que chegou não foi Félix e sim ele mesmo. Marinette sorriu e beijou o Adrien do futuro.

— Tudo bem. Estou fazendo lasanha, daquela que você gosta.

— Eu não sou o marido mais sortudo do mundo? – Adrien fez menção de abraça-la, porém Marinette usou sua magia para pará-lo.

— Você acabou de chegar e claramente precisa de um banho. Depois disso, você pode me abraçar o quanto quiser.

— Assim você me entristece! – os dois riram e o Adrien do futuro passou por dentro do Adrien espectador quando foi na direção da sala. Nada demais aconteceu, porém Adrien, que não conseguia se mover por conta do choque, pareceu ter acordado no momento e decidiu que já era hora de voltar. 

O loiro agitou as mãos, fazendo a magia surgir.

— Iam vidimus quae ego volui! Suscipe me! – Marinette e Adrien voltaram a si, como se estivessem emergindo de um mergulho. – O que...

— Adrien... – Marinette estava sentada no tapete. Por alguns minutos nenhum dos dois falou nada e pela sua reação, o possível futuro que viram foi uma surpresa tão grande para ela, quanto para ele. – Eu... Você viu tudo, não é? – ele apenas assentiu, sem forças para levantar do tapete. A garota se aproximou dele e segurou a sua mão – Acho que isso não é novo. – disse, em um sussurro, desviando o olhar.

— Como assim?

— Sempre foi você. – o encarou com intensidade, fazendo o coração de Adrien bater mais rápido. – Eu acho que só não queria admitir.

— Marinette... Está... Está dizendo que quer ter um futuro comigo? – questionou, embora depois do ritual seja meio óbvio que sim. Mas Adrien ainda não conseguia acreditar, parecia bom demais para ser verdade.

— O Félix é uma boa pessoa, mas... Existe uma parte de mim que ele não aceita e eu não quero mudar. Você não me faria mudar.

— É só por isso? Só por eu te aceitar e ele não? – imaginava que não, mas precisava perguntar, precisava de uma confirmação. Tudo estava acontecendo tão rápido.

— Não.

— Você o ama? – ela ficou alguns segundos em silêncio. Não para pensar, mas sim para criar a coragem.

— Não. – Adrien deu um longo suspiro – Eu tenho um carinho por ele, sim. Mas não o amo. Eu amo você, Adrien. – o loiro fechou os olhos e deixou a cabeça cair para trás, recostando-a no sofá. – Você me acha uma inconsequente, não é? Eu deveria...

— Eu também te amo, Marinette. – segurou o rosto dela – Sempre amei. E aquela visão do ritual que você teve, é aquilo que eu quero para o nosso futuro também. – aproximou seu rosto, colando as testas. Por mais que quisesse beijá-la, Marinette ainda deveria terminar as coisas da maneira correta com Félix antes. – Eu nunca diria para você desistir da sua magia, porque ela faz parte de quem você é. E eu amo cada pedaço seu. – os olhos dela estavam marejados. Marinette sorriu abraçando ele com força.

— Obrigada, Adrien.

— Não me agradeça. Só fique comigo.

— Para sempre? – ele assentiu – Ótimo, pois eu não pretendia deixar você ir tão cedo!