P.O.V Do Beck

Flashes daquela maldita noite vinham e voltavam com força. Me atormentavam, eu já não conseguia mais dormir e nem fazer minhas coisas direito. A culpa pesava em mim, seu peso era enorme e sufocante. Como eu pude fazer aquilo? Magoei a mulher que amo. Foi apenas mais uma discussão, eu não deveria ter saído de cabeça quente, não deveria ter ido encher a cara achando que a raiva e toda a frustração passariam, eu apenas fiz foi piorar as coisas.

Brigamos pelos motivos de sempre, seus ciúmes e por causa da minha mãe. Minha noiva e minha mãe estavam se estranhando já fazia um bom tempo. Jade estava muito irritada naquela noite, batemos boca por quase meia hora, ela como sempre estourada gritou comigo e jogou um dos enfeites de cerâmica da sala contra a parede num acesso de raiva.

Eu simplesmente a deixei surtando sozinha e bati a porta indo embora da sua casa. Saí no meu carro nervoso e de cabeça quente me enfiando no primeiro bar que encontrei.

E foi ali que cometi a maior burrada da minha vida.

Bebi até chegar num ponto deplorável, nem lembro direito como consegui voltar pra casa. Na manhã seguinte acordei com uma baita ressaca, diante do espelho enquanto lavava meu rosto me deparei com as marcas causadas pela merda que cometi quando estava chapado.

No bar eu conheci uma moça, forcei a mente até conseguir recordar algumas coisas. Lembrei de tê-la paquerado, e quando fomos parar enfiados no banheiro, dentro de uma das cabines tudo se tornava um grande borrão.

Eu só tinha uma certeza, naquela maldita noite, acabei traindo a Jade.

Ela ficou sabendo porque foi me procurar no dia seguinte, queria fazer as pazes e até tinha uma viagem em mente, queria passar o final de semana comigo em Santa Monica. Para curtimos a praia e nos divertir juntos como há tempo não fazíamos.

Os chupões em meu pescoço e a culpa me entregaram. Acabei confessando e pedindo perdão. Jade não quis mais nem olhar na minha cara, ela foi embora em silêncio, estava arrasada. Doeu vê-la retirar a aliança de noivado e deixar sobre a mesinha de centro antes de ir embora.

"Eu sei o que fiz de errado
Deixei seu coração despedaçado
É isso o que diabos fazem?
Te deixei tão mal
Aonde apenas tolos vão
Eu abalei o anjo em você"

Depois daquele dia eu virei escravo da minha culpa. Ia para o trabalho feito um zumbi, não dormia e nem comia direito. As coisas se tornaram monótonas. O erro me consumindo à cada instante. Eu me sentia um lixo por tê-la traído. Não foi apenas flertes ou trocas de beijos com uma completa desconhecida.

Fui adiante perdendo toda a razão e minha fidelidade, eu nem mesmo poderia culpar a bebida.

A culpa era somente minha. Perdi a mulher que amava porque a traí daquele jeito.

"Agora eu estou saindo do chão
Subindo até você
Preenchido com toda a força que eu encontrei
Não há nada que eu não possa fazer"

Toquei a campainha desesperadamente, ela sabia que era eu. Fazia quase um mês que não atendia minhas ligações, havia apagado todas as nossas fotos das redes sociais além de ter me bloqueado.

Ela não estava saindo com ninguém, eu tinha a absoluta certeza. Ela só estava completamente magoada e com toda a razão.

Eu já estava que nem louco, só queria vê-la. Gritei por seu nome até cansar e ficar rouco. A vi pela janela enquanto me olhava com um semblante sem emoções. Eu não sairia dali até ela descer para falar comigo.

Sentei na varanda, minha aparência devia estar horrível. Até mesmo um sem-teto parecia melhor que eu, minhas roupas estavam amassadas, me dei conta da camisa do avesso e dos meus tênis imundos. Toquei meu rosto sentindo minha mão pinicar, era a barba crescida e meu cabelo estava até maior.

Tomei um baita susto e sobressaltei quando fui atingido por um jato de água fria. Eu nem tinha a ouvido abrir a porta e se aproximar, olhei para a morena ali parada na soleira, segurava um balde de plástico.

— Cai fora ou vou chamar a polícia! - Avisou.

— Pode me dar 100 banhos de água fria, eu não ligo. Pode me xingar, me bater e cuspir na minha cara, sei que mereço... Pode ligar para a polícia ou ligar para seus primos vir aqui me dar uma surra, eu não vou nem me importar... Mas por favor, não faça qualquer coisa sem antes me ouvir. - Implorei.

Se fosse preciso, eu ficaria de joelhos.

Ela soltou o balde e cruzou os braços me encarando.

— Você têm 5 minutos. - Cedeu.

— Sobre aquela noite eu... Sei que vacilei. Estou aqui porque não consigo mais viver sem você, minha vida virou um inferno, nunca foi minha intenção machucar você, eu só quero você de volta. Eu te amo tanto, amo mais que a mim mesmo. Nunca amei outra mulher na minha vida. Você é única e me odeio por ter te perdido, fui um idiota e você não merecia aquilo... - Tomei fôlego. - Passei esse mês todo me corroendo, todo dia têm sido difícil levantar da cama, eu nem consigo trabalhar direito e...

— Você está ridículamente horrível, Oliver. Mais feio que um zumbi. - Me interrompeu.

Eu quis rir, mas nem tinha humor para tal coisa.

— Você têm razão, estou mesmo acabado. Eu só penso em você dia e noite. Sinto sua falta. Eu te quero de volta mais que tudo... Aquilo foi um erro. Um grande erro. - Falei.

— Como acha que me senti quando me contou da traição? Aquela merda me machucou muito! Você me traiu com uma qualquer. Não foi fácil ouvir aquilo da sua boca, ao menos você foi sincero! Acha que têm sido fácil para mim? Também estou sofrendo, caramba! Você me conhece e sabe que sou intensa, tudo que sinto têm um peso em dobro! Eu fiquei completamente arrasada e muito decepcionada! Eu confiava em você... Eu ainda te amo. - Seus olhos marejaram e sua voz embargou.

— Também te amo. Me perdoa, Jadelyn. Por favor, só me dá essa chance, sei que posso me redimir. Você é a mulher da minha vida, eu ainda quero casar e construir uma família com você. - Fui sincero.

"Eu preciso saber agora
Saber agora
Você pode me amar novamente?
Eu preciso saber agora
Saber agora
Você pode me amar novamente?"

— Você quer que eu confie e volte te amar como antes? Por mais que eu te ame, algo se quebrou. Não é a mesma coisa, meus sentimentos estão abalados. - Doeu ouvir aquilo.

Ela segurava o choro, deixei minhas lágrimas rolarem.

"Eu preciso saber agora
Saber agora
Você pode me amar novamente?
Eu preciso saber agora
Saber agora
Você pode me amar novamente?"

"Você pode me amar novamente?"

— Não mereço uma segunda chance? Você nunca vai conseguir me perdoar? - Perguntei com pesar.

— Todo mundo merece uma segunda chance, até mesmo você, Oliver, por mais que eu tenha jurado te odiar. Eu não consigo te odiar. Mas saiba que ainda dói, não é algo que vou apagar da memória, a confiança está quebrada, você vai ter que se esforçar. Se quer meu perdão, eu te dou. Se quer minha confiança novamente, lute para reconquistá-la. Se me quer como tanto afirma, mostre que ainda é merecedor do meu amor. - Lançou suas condições.

Ouvi dizer que traições são imperdoáveis e ela estava me perdoando passando por cima do próprio orgulho porque me amava.

"É imperdoável
Eu roubei e queimei sua alma
É isso que demônios fazem?
Eles causaram o pior pra mim
Destruíram tudo
Eles destroem anjos como você"

— Está me perdoando de coração? - Ainda não havia caído a ficha.

— Estou. - Confirmou.

Aquilo só mostrava o quanto ela era maravilhosa.

"Agora eu estou saindo do chão
Subindo até você
Preenchido com toda a força que eu encontrei
Não há nada que eu não possa fazer"

— Posso te abraçar agora? - O que eu mais queria era poder tocá-la.

— De jeito nenhum, você está fedendo. - Torceu o nariz.

— Ei, eu tomei banho! - Protestei.

— Ontem? Ou só esqueceu de passar o desodorante? - Zombou.

Me afastei envergonhado, ela tinha razão. Eu acabei vestindo a camisa suja na hora da pressa. Eu fedia a suor por conta do calor insuportável, estava sem desorante e transpirando.

— E essa camisa do avesso? Não quer entrar e tomar água, não? - Perguntou.

— Acho uma boa ideia. - Cocei a nuca sem jeito.

— Nem meu avô têm esse tamanho de barba. Vem, ainda têm umas roupas suas socadas numa sacola debaixo da cama. Ainda bem que não queimei. Você pode tomar banho, tirar essa roupa molhada. - Abriu a porta.

A segui para dentro. Tomei banho, ela havia me convidado para almoçar. Fiz a barba com o depilador descartável que ela tinha me dado.

— Bem melhor. - Sorriu quando saí do banheiro arrumado.

— Posso te abraçar agora? - Me aproximei.

Ela apenas assentiu e permaneceu parada. A envolvi num abraço cheio de saudades, inalei seu cheiro que me fez tanta falta, a morena cheirava a baunilha e menta.

Jade me apertou e ficamos ali naquele momentinho por um tempo, nos braços um do outro.

Após o abraço ela se afastou.

— Nada de beijos. Você terá que merecer. - Avisou. - Vamos lá para baixo, vou dar uma aparadinha no seu cabelo. Daqui à pouco ele vai passar do meu. - Me fez rir.

As pontas já batiam nos meus ombros.

Descemos, fomos para a varanda evitando sujar lá dentro. Como sempre, Jade aparava as pontas do meu cabelo deixando o comprimento na altura do pescoço ou próximo da nuca. Ela era a única que eu permitia deixar cortar. Sua mão macia e leve me dava sono.

Depois de me limpar, começamos a rir porque devíamos ter feito aquilo antes de eu tomar banho... Apenas tive que lavar o pescoço e a nuca, e colocar uma camisa limpa.

Almoçamos juntos selando as pazes e nosso reatamento. Eu estava disposto a reconquistar sua confiança e merecer o seu amor seguindo suas condições. O pior já havia passado, Jade tinha me perdoado.