Mal chegou a casa verificou que no seu telemóvel já existiam diversas chamadas não atendidas vindas de Johann; esquecera-se completamente do compromisso que ele fizera sobre lhe telefonar para, mais tarde, lhe dar informações sobre o seu próximo projecto. Decidiu, então, telefonar de volta.

            - Tudo bem, Ella? Estava a ficar preocupado contigo… – Como lhe sabia bem ouvir estas palavras.

            - Peço desculpa, Johann. Fui dar um passeio até à catedral e esqueci-me completamente do telemóvel em casa.

            - Oh, não te preocupes, eu já tinha deduzido isso, já sabes que não precisas de pedir desculpas. - Johann era sempre tão compreensivo consigo que se Ella não o tivesse conhecido anos depois de ter nascido iria jurar que era seu pai. - Agora, não pensando nesses assuntos que te arreliam: estás pronta para ouvir qual vai ser o teu novo e grande projecto?

            - Sim, e espero fazer um bom trabalho!

            - Tu não irás fazer um bom trabalho, mas sim um óptimo trabalho! Tu vais participar na organização do videoclipe da… Jordin Sparks! - Ella mal podia acreditar no que tinha ouvido. Se calhar, nem tinha ouvido e apenas imaginado. - Eu sei que não tem nada a ver com o teu estilo, com o que estás habituada a trabalhar, mas também sei que adoras as letras dela… E ela concordou comigo: nada melhor do que tu para trabalhares com ela!

            - Eu nem acredito. - E, realmente, ela não queria acreditar. - Mas, como o Johann disse… eu não estou habituada a trabalhar com o estilo de música da Jordin.

            - Não te preocupes com isso, minha querida. - Quão bom era ouvir alguém chamar-lhe de minha querida. Johann sempre chamava Ella de querida assim que sentia o pessimismo dela à tona, como uma bomba prestes a detonar e explodir com tudo o que se tinha construído até então; gostava de a ajudar, de a fazer sorrir. Ella tornara-se importante para Johann, era como um filha, a filha que nunca tivera.

            - Mas e se eu a desiludir? E se eu desiludir a si?

            - Nada de preocupações, eu sei que posso contar contigo – tens feito trabalhos magníficos! E, desta vez, terás um colaborador que, por acaso, é novo aqui na empresa. - Um colaborador novo… foi o que Ella pensou. Nunca tinha tido nenhum colaborador para a ajudar em nenhum videoclipe, nem tinha a certeza de que queria um. Quem seria ele? - E, antes que perguntes, amanhã vais ver quem é. Tenho a certeza de que irás gostar dele e de que se irão dar bem.

            - Assim o espero. - Na realidade, Ella assim o esperava.

           - Bem, e nada de te mostrares anti-social. Eu conheço muito bem a menina fala-baratas que existe no teu interior. - Lá estava ela: a espontaneidade de Johann, a única capaz de a animar, de a fazer sentir-se amada. Não era à toa que Johann era como um pai para si.

            - Vou tentar…

            - Promete! - Prometer… uma coisa difícil de se fazer, principalmente quando se desconhecia o motivo de o ter que fazer. Ella estava reticente em prometer, mas Johann nem se fez rogado com essa indecisão. - Ella! - Era um tom autoritário, porém, conseguia distinguir a amizade e a fraternidade presente nele, por isso mesmo, Ella sorriu.

            - Sim, eu prometo que não me vou mostrar anti-social, senhor Johann.

            - Umas vezes chamas-me apenas Johann, e, sinceramente, eu prefiro assim! Senhor Johann é para quando for velho, não conseguir falar mais e andar de bengala.

            - Johann. - Ella logo se emendou, como que se desculpando por lhe ter chamado senhor Johann.

            - Melhor, minha querida. Agora tenho de desligar. Amanhã podias vir um bocado mais cedo para conheceres o teu colaborador?

            -Não tem problema, assim o farei. - E, apesar do medo de o conhecer, sentiu-se um pouco curiosa e ansiosa.

            - Então… boa noite, e descansa, Ella, tu precisas.

            - Eu sei, obrigada por tudo. Boa noite, Johann.