The Call escrita por LisRou


Capítulo 7
V. Camada translúcida


Notas iniciais do capítulo

Chegueeeei, aaaaaaahhhh!

Me desculpem pela demora, narnianos de plantão e donos do meu coração. Tive 4 trabalhos da faculdade pra fazer e isso acabou tomando todo meu tempo livre, inclusive minha criatividade com o capítulo. Eu queria passar um pouco de tristeza e agonia (que serão temporários, não me matem!), mas ao mesmo tempo quis passar esperança. Ele tá curtinho comparado aos outros, mas tá imprescindível pro decorrer da história. Está emocionante!

Podem continuar me enchendo de teorias que eu adoro, inclusive adoro cada um! Obrigada pelo carinho e incentivo! ❤

Boa leitura! *-*



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POV. Susana

 

Adentrei o banheiro com rispidez, soltando uma respiração aliviada por encontrá-lo vazio. Num restaurante cheio como aquele, só poderia ser resposta dos céus por me proporcionar aquele tempo sozinha para acalmar minha respiração e tranquilizar meu coração muito agitado, que ameaçava a qualquer momento transpassar minha pele.

Pousei minhas duas mãos espalmadas na pia e respirei fundo, observando meu reflexo caótico: meus olhos estavam vermelhos assim como meu nariz e pescoço, as mechas em minha coluna estavam uma bagunça assim como minhas emoções.

Droga... Como isso pôde acontecer justo aqui?

Havia um nó em minha garganta junto a tensão que não me deixava. Eu queria sumir por ter ficado exposta daquela forma na frente deles graças àquela fantasia que teimava persistir no meu subconsciente. Parecia tão real, como se eu pudesse sentir cada palavra, cada emoção, cada sentimento... Por mais que seja doloroso demais admitir para mim mesma, eu não podia evitar: seria impossível... esquecer.

Soltei uma respiração pesada, como se meus pulmões não suportassem a ideia de libertarem o peso do mundo sobre eles. Por que era tão difícil esquecer?

Por que era tão doloroso pensar em Caspian?

Céus, eu sou tão patética... Já se passaram três malditos anos e nada do meu coração e mente entenderem que nada daquilo existiu! Sempre soube que seria difícil essa luta dentro de mim para extraviar essas lembranças de minhas memórias e meu coração, mas parece que quanto mais eu tento, mais elas se tornam fixas e indeléveis feito tatuagens permanentes, e mais o meu coração fica entregue.

Mais eu amo aquela fantasia...

Tudo em minha volta parecia ser perda de tempo, pois eu jamais poderia vê-lo novamente. Eu precisava me solidificar mais nisso e não nesse sentimento que parecia não ter fim, muito pelo contrário. Precisava encontrar minha paz, mas como se tudo dentro de mim estava vivenciando um furacão doloroso?

Suspirei mais uma vez e me sobressaltei quando a porta se abriu e um corpo de um metro e cinquenta e três adentrou por ela com agilidade, fechando-a com pressa, o vestido pêssego sobrevoando também. Eu encarei os olhos de safira assustada pela invasão, mas também incomodada por Lúcia estar, mais uma vez, me vendo na minha fragilidade.

— Su, o que aconteceu? — Ela disse num tom bem baixinho e tranquilo, como se quisesse passar para mim o seu autocontrole e sua paciência. Uma raiva ameaçou eclodir na boca do meu estômago. Como Lúcia conseguia ser assim, tão... tão tranquila? Tão cheia de... paz? — Está tudo bem?

Deixei a raiva de lado e engoli em seco, desviando o olhar, me controlando para não descontar tudo nela novamente.

— Está sim — menti na cara dura, a voz um pouco rouca. Clareei a garganta. — Não é nada.

— Como não é nada, Susana? — Em passadas apressadas minha irmã já estava do meu lado. Senti a ponta dos dedos gelados tocarem meu ombro desnudo. — Você estava chorando. Alguma coisa aconteceu, e se você não me contar, não poderei te ajudar.

— Eu não quero sua ajuda. — Falei ríspida, contemplando seus olhos pela primeira vez naquele embate. — Eu não preciso da ajuda de ninguém porque eu estou bem.

— Não! — Lúcia se sobressaltou, colocando um pouco aquela paz de lado. Eu era péssima porque, naquele breve instante, fiquei satisfeita de ter feito isso com ela. — Você não está bem, eu posso ver. Posso sentir.

— Lúcia, por favor...

— Eu não vou te forçar a nada, Susana. — Ela respirou fundo e colocou sua cabeça no lugar, segurando minhas duas mãos e olhando-me profundamente. — Mas não queira me dizer que você está bem quando na verdade está triste, angustiada. Eu quero te ajudar. E vou estar sempre aqui caso queira me contar.

Eu soltei uma respiração pesada e longa, olhando para o nosso reflexo em frente ao espelho, mas na verdade querendo enxergar o que havia sobrado naquela mulher entristecida, fria e cruel que me encarava de volta. Os olhos azuis, antes cristalinos, agora eram duas esferas opacas e sem vida. Não tenho nada para contar, senti as palavras na ponta da língua, mas meu coração as reteu, porque no fundo eu sabia que tudo, absolutamente tudo que me machucava estava acontecendo dentro de mim e transparecia no meu rosto. No meu olhar. Nas minhas atitudes.

A única coisa que eu tinha que fazer, era me afastar.

Me afastar de tudo aquilo.

*

 

O jantar não durou muito tempo porque assim que retornamos para mesa, aleguei mal estar e que precisava ir para casa descansar. Meus colegas entenderam — graças ao episódio caótico — e não se opuseram, pelo contrário: Anne me incentivou, dizendo que amanhã era um outro dia e que se eu descansasse, iria amanhecer melhor para conversarmos. Michael evitou seus comentários engraçadinhos e foi tão sério quanto Anne, parecendo preocupado comigo de verdade.

Fiquei tocada, é claro, mas não pretendia lhes contar que estava tendo um surto de saudade repentina por um príncipe telmarino fruto da minha cabeça.

Também não pretendia contar para John, principalmente. Sua preocupação comigo foi extrema, além das medidas, e ele não me deixou em paz o retorno inteiro. Ele queria porque queria saber o que aconteceu, porquê eu estava chorando e pedindo por favor repentinas vezes, aparentando estar em outro mundo, outra dimensão — palavras dele. Me esquivei dele com todo cuidado e esforço. Esconder segredos de um militar altamente treinado era um sufoco terrível que esperava que, num futuro próximo, eu não fosse mais precisar passar por isso porque não se repetiria.

Nunca mais!

Lúcia respeitou meu silêncio e ficou dessa maneira, apenas ouvindo meu diálogo monótono com Johnny e suspirando de alívio quando estacionamos em frente a nossa casa. Não demorou muito para nossa mãe nos recepcionar, acenando para o carro que partiu após entrarmos.

— Então, meus amores... — Ela foi dizendo após entrar, encaixando a maçaneta no trinco. — ...Se divertiram?

O silêncio breve fez com que ela ficasse mais atenta em nós duas. Lúcia e eu nos entreolhamos e, trantando de disfarçar, minha irmã sorriu sem jeito.

— Sim, mãe — ela pronunciou rapidamente e colocou uma mecha atrás da orelha. — Foi divertido. Susana me apresentou seus amigos, todos eles são bem bacanas.

— Ah, do jeito que sua irmã deve ter amigos e admiradores, eu imagino que sejam bacanas mesmo — minha mãe se aproximou de mim e me observou, afagando minha coluna. Se minha mãe soubesse que só tenho dois colegas, acho que ela não acreditaria. — Fico feliz de ter gostado, minha filha. — Se dirigiu à Lúcia.

— Sim, foi legal. A Su já pode preparar a próxima saída — ela continuou disfarçando seu desconforto muito bem, estreitando um pouco o olhar na minha direção para eu dizer alguma coisa. — Não é, Susana?

Engoli em seco e forcei um sorriso para nossa mãe bem ao meu lado, querendo muito correr para o meu quarto.

— Claro. — Fui fria, deixando transparecer uma mísera parcela da minha ansiedade. — Vou descansar, mãe, estou muito cansada. Um beijo pra senhora — estalei o dito cujo na sua bochecha, já me virando em direção às escadas.

— Mas você nem me contou direito como foi...

— Depois eu te conto — deixei as duas para trás e me forcei a não correr os degraus, tirando meus sapatos no meio do caminho e indo finalmente para meu canto particular e tranquilo.

Bom, só por fora era tranquilo. Porque dentro de mim, apesar de estar sozinha com a quietude do meu quarto, gritos infindáveis da minha alma em meus tímpanos eram ensudercedores e insuportáveis. Assim que me tranquei, deixei que as lágrimas rolassem mais uma vez com uma sensação esquisita no âmago. Girei minha cabeça em direção à janela e levantei meu olhar ao céu, não vendo nitidamente as estrelas por conta dos meus olhos estarem embargados e naquele momento houve arrependimento em meu peito. Memórias e mais memórias cresciam diante dos meus olhos, deixando-me pior e muito mais confusa do que estava, lembranças dos dias ao lado de um certo rei, o rei que meu coração havia escolhido como dono e que não podia ser mais nada para mim, porque nunca, nunca mais o veria.

Por que tornar tudo aquilo real para mim se nunca mais poderei vê-lo? Se nunca mais irei retornar novamente?

— Isso tudo é uma perda de tempo. Uma perda de tempo! — Esbravejei para mim mesma e sequei meu rosto com grosseria, quase machucando minha pele no processo. Eu precisava matar Nárnia dentro de mim! Precisava deixar de acreditar de uma vez por todas em todas aquelas fantasias e histórias de criança!

Retirei minha roupa e entrei no chuveiro, molhando desde meus cabelos até cada poro do meu corpo, arrepiando-o, tentando aliviar meus músculos. Fechei os olhos e pendi a cabeça para trás, permitindo que a água escorresse na pele sensível e me estiquei, alongando minhas terminações nervosas e relaxando pela primeira vez naquela noite.

Era por isso que o certo seria me privar até mesmo daquelas saídas. Eu poderia relaxar de outras maneiras, sem precisar passar o tempo em locais como aquele ou com pessoas que poderiam trazer à tona memórias que queria esquecer. Sairia menos com Lúcia. Até mesmo os meus irmãos que já não tenho tanto contato como antes não ficaria tão próxima, me isolando de tudo que me afetava. Me aproximaria mais de John, me alinharia à ele porque, no fundo, tinha esperança de que suas experiências pudessem se sobrepor ao que meu coração sentia.

Assim que terminei de me banhar, coloquei meu conjuntinho de dormir e me deitei, cobrindo-me da cabeça aos pés. A escuridão me cegou e todo o peso do meu peito e da minha consciência foram o pontapé para que, num piscar de olhos, eu estivesse entregue ao sono.

E adormeci.

 

— Majestade! Rainha Susana, por favor! — Uma voz me despertou. Não sabia se tinha dormido, ou se apenas fiquei muito perdida em meus pensamentos, que nem percebi onde estava.

— Como você sabe meu nome? — Sussurrei, mas me assustei ao perceber como minha própria voz soou alta e estridente no local. O meu subconsciente estava de brincadeira comigo mais uma vez. 

— Você não vai desistir de me ajudar, vai? — A voz desconhecida soou mais uma vez.

— Te ajudar no quê? Quem é você? — Perguntei e tentei me pôr de pé, ou me mover, mas todos os ossos do meu corpo pareciam estáticos. A única coisa que podia fazer era mexer meus próprios lábios.

— Eu não deveria estar aqui, majestade. Preciso da sua ajuda! — A voz do garoto parecia mais confiante daquela vez. — Mesmo que se sinta imponente, saiba que preciso da sua ajuda! — Sua entoação vocal começou a ficar mais fina e aguda, mais humana... como de uma criança. — Você é a única que pode ajudar a me tirar desse lugar escuro e frio. Me ajude, por favor... — O desconhecido começou a chorar de novo, soluçando. Sua agonia era tão profunda que me comovia. Mexia profundamente comigo.

— Como posso ajudá-lo? Estou presa, não consigo me mover.

— Apenas siga seu coração... Não se esqueça de nós, majestade.

Naquele momento, uma camada translúcida me envolveu e consegui mover meu corpo, sentindo como se meu espírito finalmente tivesse contato com minha pele e ergui meu rosto, olhando ao redor da escuridão. De repente, um rugido alto, mais alto que as palavras do garoto e minhas se sobressaiu por todo o lugar, estremecendo a fina camada que se parecia com magia e ecoou estridente, fazendo-me esconder minha cabeça e tímpanos com as mãos. Meu corpo se arrepiou dos pés a cabeça, meus músculos ficaram fracos, minha mente pareceu prostada como eu e as lágrimas vieram, porque eu reconheceria Àquele rugido em qualquer lugar que estivesse.

Minhas roupas dançavam com o soprar do vento forte, junto com uma coroa de flores na minha cabeça. Eu sentia que parecia uma dríade do bosque.

— Susana... — A Voz dEle ecoou.

Virei-me rapidamente procurando a Voz que conhecia tão bem, mas parecia que a mesma vinha de todos os lados.

— Não... Isso não é real... — Eu disse para mim mesma, apesar de sentir o sorriso em minha voz porque tudo dentro de mim sabia que era Ele.

— Continue dizendo isso e você será infeliz, Susana. — A voz estava mais sólida, tão estridente quanto o rugido.

— Eu sou infeliz graças à Você! — Apontei para o nada por simplesmente estar sozinha, mas de alguma forma conseguia saber que Aslam estava ali, me ouvindo, me observando.

— O arrependimento e reconhecimento são os primeiros passos para redenção. — Seu timbre parecia triste. Decepcionado. — Não foi isso que esperei de você quando a fiz retornar, querida.

— Eu não queria voltar e você sabe disso.

— E não acha que poderia me convencer do contrário? Me pedir? Se um filho pedisse ao pai pães, sabe que ele não daria pedra ao invés do alimento, quanto mais Eu, filha...

Um soluço sacudiu meus ossos e chorei como criança, me ajoelhando no vão daquele lugar, sentindo o duelo de esperança e realidade mais afiado dentro de mim. Eu seria capaz de pedir? Logo pedir, que nunca foi o meu forte, tão pouco minha facilidade?

— Não fuja de quem você é — a voz de Aslam repercutiu em meu coração, deixando-me a deriva de que a realidade poderia ser facilmente confundida com aquela fantasia ocasionada por mim.


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Notas finais do capítulo

Lágrimas nos olhos com essa aparição desse Personagem Único e maravilhoso, mesmo sendo fruto do subconsciente de alguém.

Até o próximo capítulo e obrigada mais uma vez por estar acompanhando a história! ♡



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