Bloody Devotion escrita por Eliander Gomes


Capítulo 1
Herança — Parte 1




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O homem parava em frente ao portão da enorme mansão de seu pai; o lugar que um dia foi sua casa também. Em sua mente, ele só conseguia pensar na reação de seus irmãos ao ser escolhido como herdeiro. Inveja? Raiva? Como eles se sentiriam em relação ao irmão? Era o que ele pensava. Afinal, ele havia deixado a mansão há muitos anos. E quem poderia culpá-lo? Ele não se sentia à vontade naquele lugar; nunca se sentiu. Porém seu pai tinha fortes expectativas sobre ele.

As pessoas que o esperavam na porta da mansão eram um bando heterogêneo. Os mais proeminentes eram seus irmãos mais novos; Depois, seu pai e sua mãe, que lhe deram abrigo quando criança. O que eles poderiam pensar dele agora? Bem, Parecia que essa linha de pensamento durou apenas um momento. Anúbis sai, parecendo estar levemente aborrecido.

— O pai está pedindo que entre. — Foi o que disse, de forma seca e rápida.

Naturalmente o pai deles não ouviu devido à chuva que caia. Mesmo para um homem como ele, seria difícil escutar com o barulho da chuva e a distância da porta da mansão até o portão.

O resto da família encarava-o seguindo seu irmão; ambos sem se importarem com a chuva que os molhavam.

O pai deles sorriu gentilmente: “Que tipo de presente você vai nos dar? Ainda não me esqueci do que disse quando saiu de casa.”

— Não tenho um presente ou qualquer outra coisa parecida comigo.

— E eu tenho algumas coisas que você precisa examinar. — Ele disse enquanto avançava.

Embora estivesse se aproximando de seu pai, ele parou por um momento, antes mesmo de entrar na mansão. Seu irmão mais novo, Anúbis, já se secava com uma toalha enquanto era auxiliado por alguns servos.

— Por que não entra? — Pergunta sua mãe, demonstrando preocupação.

O rapaz finalmente entrou e rapidamente as servas o cercaram e o ajudaram a se secar, enquanto seus demais irmãos fechavam a enorme porta da mansão. Seu pai parou em frente a enorme escadaria, se virando para trás e continuando a falar.

— Nós compramos muitas coisas no leilão semana passada. Felizmente, eu finalmente consegui adquirir o item que tanto sonhei em minha juventude. A expedição trouxe vários deles na verdade, mas imagino que não está interessado, estou certo?

O homem parecia ignorar o que o pai dizia, de certa forma era verdade, mas ele não podia evitar. Ele sentia os olhares frios de seus irmãos, mesmo de sua mãe.

— Está tudo bem em tratá-lo apenas como hóspede, se é o que deseja. Mas assim que eu sair da mansão, daqui a uma semana, ela será sua. Ela e todas estas terras que a cercam. Você será o novo herdeiro de tudo isso.

— Peço perdão se pareci rude, meu pai. Sinto muito.

— Não se preocupe sobre isso. Eu conheço os seus genes, afinal, eles são meus genes também.

— Pai, antes que continuássemos, eu gostaria de dizer algumas palavras.

— Pois bem, vá em frente.

— Eu agradeço a sua confiança, e agradeço ter considerado me tornar herdeiro, mas...

— Considerado? — Disse seu pai, o interrompendo. — Não é uma mera consideração. Você será o novo herdeiro.

— Era sobre isso que gostaria de falar. Eu não quero ser o herdeiro da família.

— Sim, eu sei disso. Mas você mudará de ideia assim que vier até minha sala. Vamos?

Ele parecia conflituoso sobre seus sentimentos. Embora ainda mantivesse a compostura, todos naquela sala conheciam o homem, afinal eles o viram crescer.

— Você é o mais impetuoso, o mais forte, o mais inteligente. É meu filho preferido. — O pai falava com a boca cheia, mas todos sabiam que o tom que ele usava naquele momento era um tom de piada. Ele não falava sério, de fato.

O homem suspira e finalmente decide seguir o pai. Os demais, no entanto, se dispersaram, cada um foi para uma direção diferente.

— Pai, o que tem feito?

— Nada demais.

Assim que o homem começou a subir as escadas, ele percebera o olhar de um de seus irmãos mais novos, o único que ficara parado enquanto os outros se dispersavam. Aquele que o perseguia quando criança, Kai. Embora seu rosto neutro, o homem sabia exatamente o que o garoto pensava naquele momento. As cicatrizes que adornavam as bochechas de Kai eram muito evidentes, e Kai sabia com certeza que seu irmão mais velho não estava prestando atenção nele.

"Eu vou te matar", Kai afirmou friamente em sua mente.

O pai puxou uma cadeira para o filho e logo em seguida sentou-se em sua mesa.

— Bom, vamos direto ao ponto. Eu sei que você não quer ser o herdeiro da família. E eu conheço seus motivos.

O homem permanecia calado enquanto seu pai falava.

— A nossa lei é clara; os títulos só são passados para os herdeiros após a morte, quando o lorde atual se vê incapaz de governar ou quando simplesmente o lorde atual deseja se aposentar. Para mim foram os dois últimos.

A colocação de seu pai fez o homem refletir sobre o que poderia ter acontecido. Ele não teve muito tempo para refletir, no entanto, pois seu pai continuava a falar.

— Como já deve saber, o rei Drakon morreu há alguns meses, durante a expedição. Seu filho assumiu o trono, embora ainda jovem. E eu sinto que as coisas vão mudar drasticamente nos próximos anos devido a isto. Então, visto que eu já estou velho, e já consegui a vida que sempre sonhei... decidi me aposentar. Os ideais do rei são muito similares aos seus, sabia disso?

— O que quer dizer?

— Assim como você, ele odeia a ideia de subjugar uma espécie apenas por ela ser inferior em força.

O homem se absteve de palavras.

— Bom, a escravidão foi o que construiu nosso reino, no entanto. Então, sobre o tratado com os demais continentes, ele disse que manteria a palavra. E, sinceramente, agora as outras raças têm bons motivos para cumprirem o tratado com menos resistência.

— Foi difícil construir essa “paz”, seria idiotice jogá-la fora.

— Você está certo.

— Então, o senhor achou que por todos estes pontos que foram colocados aqui...

— Bom, você tem a oportunidade. A chance de mudar o pensamento de todos a respeito dos seus ideais. O que me diz?

— Por quê? — Ele parecia inconformado com a escolha do pai. — O senhor nunca pensou como eu. Eu sei que não te interessa renunciar a tantos escravos ou do estilo de vida atual...

— É aí que se engana, meu filho... no fundo, eu também sou como você.

Sim, ele sabia disso. Mas queria finalmente ouvir da boca de seu pai algo assim. Ele conhecia seu pai e entendia seus sentimentos. Ele sempre teve medo de agir, de fazer algo a respeito, mas agora ele tinha uma chance.

— Bom... É isso. Eu me retirarei dentro de uma semana. Estou pensando em ir morar no continente Jasfik.

— Enquanto aos meus irmãos?

— Eles não farão nada. Nem eles se atreveriam a ir contra a lei deste país. Você está seguro, por enquanto. O que me diz?

O homem não sabia qual resposta dar. De um lado, ele tinha certeza do quão problemático tudo aquilo seria..., mas ele tinha finalmente a sua chance de fazer alguma coisa a respeito. Ele finalmente teria o controle da família Lumiya, uma das doze grandes casas do continente.

Ele encontrou sua mente vagando profundamente em pensamentos.

Por um lado, essa decisão incitaria ira entre seus irmãos; talvez uma guerra pelo controle da casa poderia surgir. Embora muito ele tinha certeza de que não seriam tolos o suficiente para escancarar essa intenção. A alta sociedade não permitiria tal coisa. Traição, mesmo dentro de pequenas proporções, era tratado com nada menos que a morte; mesmo que conseguissem tomar o controle, eles morreriam antes que pudessem fazer algo. Nenhum deles era tolo.

Porém, por outro lado, ele sabia que poderia finalmente fazer algo a respeito de todas essas raças que viviam em Hastermash.

— Pois bem, meu pai... aceitarei a oferta.

O velho sorri e se levanta.

— Pois então não ficarei eu no caminho.

— Porém, eu fiquei afastado da nobreza nos últimos anos.

— Não se preocupe com isso, já orientei alguns de meus servos para lhe auxiliarem nisso. De qualquer forma, não deveria se preocupar tanto. As expedições para o continente negro trouxeram novos ares para a nobreza. Grande parte das casas trocaram seus líderes, nós não somos exclusividade neste assunto.

— Isso é verdade?

— Sim. Muitos se aposentaram como eu, outros acabaram morrendo. De qualquer forma, você terá a oportunidade de criar aliados, ou seja lá o que tenha em mente.

Existem doze casas. Doze famílias. Seus nomes são, respectivamente, Bara, Horan, Lumiya, Solas, Yevrin, Gargoyle, Banshee, Korhil, Rakiya, Hagara, Garm, e Abrogar. Doze casas, cada uma possuindo um território. E no centro destes fica o décimo terceiro território, o território de Drakon, a família da realeza que governa o continente.

O homem que acabara de assumir a casa dos Lumiya era seu filho mais velho, Simon Lumiya. Ele era, de certa forma, famoso no continente, e tinha sido nomeado duque pelo próprio rei pela vez em que matou um dragão que ameaçava as terras de seu pai. De todos os lordes vampiros novatos, ele era sem dúvidas o mais promissor.

Além de Lumiya, havia mais quatro casas que trocaram seus líderes nos últimos meses. Uma delas era Solas, que tem a história mais trágica dentre todas as trocas. Dois de seus integrantes tiveram o desprazer de obter um item mágico em suas buscas, uma caixa selada, que pensaram conter um tesouro inigualável dentro. A pobre nobreza foi, no entanto, dizimada ao abrir o objeto, revelando uma maldição rara que se alastrou por todo o condomínio principal. Não foi uma morte imediata, na verdade eles nem sequer perceberam o perigo até que já fosse tarde demais. Todos os vampiros na casa morreram. Mas houve uma única vampira que permaneceu viva.

A maldição não era eterna, então assim que a morte visitou o lugar a caixa evaporou, simplesmente desapareceu, levando consigo a maldição que preenchera o lugar anteriormente. A garota sortuda — ou azarada — era ninguém menos que Karen Solas, uma jovem vampira que era rejeitada por sua família. A garota vivia isolada em uma pequena cabana com seu servo, nos confins do continente, devido a seu frágil corpo que a impediu de viver uma vida normal. Na maior parte, ela estava sozinha, tendo pouca interação com outras pessoas na vila ou fora dela.

A garota, no entanto, evitava falar. Ela quase nunca o fazia. O seu servo sempre tomava a iniciativa de se mover por ela. Mas diferente de muitos outros servos vampíricos, ele o fazia por vontade própria. Ela nunca o submetera a qualquer tratamento desumano. Muito pelo contrário, ela confiava sua vida ao seu servo.

Naquela noite eles entraram juntos na mansão. A garota hoje estava bem melhor que no passado, embora ela tivesse em mente que jamais poderia se tornar alguém que trouxesse respeito aos demais vampiros do mundo. Mas ela possuía outras armas; armas estas que estava disposta a usar para alcançar o topo da hierarquia.

— Marcos.

— Sim, M’lady.

— Sentes o frio que engloba este lugar?

— Talvez queira que eu busque um casac...

— Não foi isso que quis dizer. Sentes-te?

O mordomo parecia indiferente, embora tivesse entendido sua mestra. Ele a cobre com um pequeno cobertor que carregava consigo, conduzindo-a para dentro da mansão.

— É um lugar tão grande, tão vazio. Como puderam viver tanto tempo em um ambiente desses?

— Logo se acostumará a sua nova casa, M’lady.

— Não.

Como poderia? Embora fizesse parte de uma das doze grandes casas de Hastermash, ela nunca se sentiu como uma nobre. Seus aposentos sempre foram humildes, e mesmo tendo alguém que fizesse tudo por ela, a garota não se sentia superior aos demais a sua volta. Aquele dia em questão, ela sentia-se bem, e sua vontade de falar parecia transpassar seu espírito quieto. Talvez os fantasmas daquela mansão não a deixassem dormir tranquilamente, e ela tinha ciência disso.


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