Lenora e Phillip — Um amor quase impossível escrita por Sami


Capítulo 5
Capítulo 4




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Capítulo 4

(...)

A tarde seguinte depois de um grande baile foi como todas as outras que Lenora tinha desde que debutou, a sala encontrava-se vazia e sem qualquer cavalheiro que se julgasse um pretendente em potencial para cortejá-la. Não que ela estivesse insatisfeita com isso, pelo contrário, preferia a ausência de seus pretendentes se todos fossem como Haskett ou pior, desprovidos de um mínimo de inteligência.

Além disso, ela fizera questão de espantar qualquer moço que se aproximava e fazia isso com um sorriso no rosto; a contragosto de sua mãe.

Ela passara o restante da noite e até parte daquele dia pensando nas palavras absurdas de Lady Coublepett, ela sequer conseguiu dormir depois de ouvir a mulher sugerir que ela e Phillip deveriam se casar. Ela conseguia imaginar o escândalo que tal união causaria e chegou a imaginar como suas famílias iriam reagir com a notícia.

Céus e terra iriam ruir, mares secariam e ambas famílias se digladiariam por causa disso.

Apesar de ela ter brincado com a possibilidade.

Em outras palavras, aquilo era uma grande loucura!

Phillip era ótimo, ela admitia. Bonito, inteligente e bem humorado, qualquer moça seria sortuda em tê-lo como marido. Mas ela não poderia se incluir nisso, sabia que ele queria casar-se por amor e não faria isso com ele. Prendê-lo a um casamento sem amor.

Lenora tinha quase certeza que teria mais um de seus dias durante uma nova temporada, contudo algo inédito aconteceu naquela tarde, ela viu um buquê de jacintos à sua espera. Junto com um cartão e uma pequena bolsa presa a ele. Primeiro pegou o cartão, curiosa sobre quem tinha lhe mandando flores e leu seu nome escrito junto a um recado curto:  

“Esqueci de agradecê-la pela ajuda com Lady Coublepett, suas trinta libras estão na bolsa.” P.

Ela voltou seus olhos para o buquê, jacintos. Suas flores preferidas desde sempre. Novamente leu o cartão, ela sabia de quem era e percebera que Phillip fizera questão de esconder de sua família quem enviara. Lenora abriu a bolsa e realmente, as trinta libras estavam lá, como fora prometido.

Lenora não imaginou que Phillip fosse mesmo pagá-la por ter ficado ao seu lado quando Lady Coublepett se aproximou, não fizera aquilo por querer o dinheiro dele. Como já deixara claro antes, gostava da mulher fofoqueira e fizera aquilo por considerá-lo um grande amigo.

— Recebeu flores?

— Flores? Quem as mandou?

Ela virou-se no mesmo instante em que ouviu a voz surpresa de sua mãe e logo em seguida de seu pai. Ela viu Lady Grace e Lorde John Barrington parados a poucos metros de onde estava, olhando para a filha com clara animação, mas era a reação de sua mãe que mais parecia exagerada, de fato.

Os olhos castanhos da mulher brilhavam em um tipo de expectativa que a própria Lenora não estava criando e os lábios finos esticados... O sorriso já dizia tudo, estava mais do que claro que a mulher mais velha já imaginava a filha num vestido de noite branco e no casamento grandioso que falava sempre planejar para ela. Já a reação de seu pai era algo mais sutil, ele também se mostrava surpreso pelo buquê recebido — em quatro temporadas Lenora nunca ganhou flores de algum pretendente sem que fosse sua mãe a pessoa que armara a ocasião — e sorria mais discretamente; com a mesma expectativa que fazia-se presente na face da mãe.

— É — Lenora percebeu que ficou constrangida por eles estarem vendo-a segurar um buquê, ela não sabia o motivo, mas não gostou daquela sensação. — Jacintos.

Sua mãe sorriu ainda mais.

— E quem foi o cavalheiro que as enviou? Nós o conhecemos? — perguntou animada. — E por favor, não me diga que foi o visconde Weston quem as mandou. Vi os dois dançando ontem, não me espantaria se ele enviasse a você flores.

Seu pai arregalou os olhos.

— Dançou com um Weston?

Lenora olhou para os dois em silêncio, a diferença entre suas reações ao mencionar que ela dançara com Phillip na noite passada era algo que ela não conseguia simplesmente ignorar. A rixa das famílias era real, comentada por todos e nunca esquecida, mas a forma como seu pai mencionou Phillip...

Foi completamente diferente de como a mãe o dissera.

— Eu não o reconheci no momento até ele convidar-me para uma dança — começou a contar, usando a mentira que Phillip lhe falara para contar e aumentando-a um pouco mais. Tornando-a mais convincente. — Não podia recusar porque não seria nada gentil e ele é visconde, o que todos pensariam se eu o fizesse?

Sua mãe pareceu pensar.

— Fez o certo. — ela a elogiou.

— E as flores são dele?

Lenora sentiu o corpo ficar rígido, as flores vieram dele junto a um cartão e trinta libras. Como contaria isso a eles sem que ambos não fizessem perguntas? Mentir não era o certo e apesar de isso ser o mais sensato a ser feito, se acaso dissesse que outro cavalheiro mandou as flores, deixaria os dois apenas mais ansiosos por respostas.

Ela assentiu devagar.

— Sim, são dele.

Foi a reação de sua mãe que a assustou. Lady Grace parecia prestes a ter algum ataque do coração!

— Além de dançar com você lhe enviou flores? — exclamou a mãe, levando a mão até o coração. — O que o Weston tentará fazer em seguida? Cortejá-la?

Seu pai olhou com os olhos arregalados para a mulher enquanto Lenora apenas ria daquela impossibilidade.

— Ele não fará isso! — assegurou ele. — Obviamente foi apenas um gesto pela dança de ontem. Não há nada com o que nos preocuparmos.

Lenora abriu a boca, mas logo a fechou porque não sabia o que dizer. Olhou para o buquê de jacintos em sua mão e em seguida para seus pais. Ela já esperava por uma reação contrária devido a dança que tivera com Phillip na noite passada, mas não esperava aquela mesma reação por causa de um buquê que, não tinha significado algum para os dois.

De fato, Phillip apenas fizera um gesto, mas não por causa da valsa e sim por ela ter ficado ao seu lado enquanto Lady Coublepett o transformava em mais uma de suas vítimas.

— A convida para dançar, lhe manda flores... Me preocupo de ele querer transformá-la em sua viscondessa! — exclamou assustada. — Ouvi dizer que ele está em busca de uma noiva... Deus nos ajude se ele decidir escolher Lenora!

Os olhos de Lenora se estreitaram brevemente, por um momento ela cogitou fazer alguma brincadeira sobre o assunto, mas descartou a ideia quando lembrou-se das fofocas sobre Phillip em busca de casamento. Já fizera algo semelhante na noite passada com Lady Coublepett, mas ela sabia que era apenas brincadeira.

Sua mãe iria achar que era verdade e teria um ataque cardíaco!

— Mamãe — Lenora a chamou. — Está agindo como se o Weston tivesse a intenção de cortejar-me. Posso assegurar para a senhora de que as flores não significam nada, é apenas uma gentileza pela valsa.

Seu pai concordou.

— Lenora está certa, não há com o que nos preocuparmos — disse Lorde Barrington, a convicção em sua voz era quase contagiante. — Nossa filha sabe que qualquer rapaz daquela família não é ideal para marido. E como disse antes, ela apenas aceitou dançar com ele porque seria rude de sua parte lhe negar isso.

Lady Grace cruzou os braços.

— Lenora nega muitos pedidos de dança e aceita o do único rapaz que queremos que fique longe?

Lenora revirou os olhos.

— Eu disse que não o reconheci! — defendeu-se, mentindo, é claro.

Lenora reconheceria Phillip mesmo se ele estivesse usando uma máscara.

— Não dance novamente com ele! Sabe que deve manter distância de qualquer membro daquela família!

Lembrou sua mãe.

Lenora assentiu, contendo o riso que parecia aos poucos crescer em seus lábios. Aquele tipo de reação por ela ter dançado com Phillip não era surpresa, Lenora sempre se preparava para aquele tipo de conversa. E, apesar de John parecer mais indiferente com a valsa e os jacintos que recebera, não podia negar que seu tom era rude ao mencionar Phillip e sua família assim como o de sua mãe.

— Ao menos ele soube que flores lhe mandar — resmungou a matriarca Barrington.

Claro que Phillip lhe enviaria jacintos, ele sabia que aquelas eram suas flores preferidas, ela lhe contou isso antes. Apenas não esperava que ele ainda se recordasse de tal detalhe.

— Vou deixá-los cientes de que não jogarei o buquê fora.

— Lenora...

— Mamãe, são jacintos! — ela mostrou o buquê animada.

Não jogaria o buquê fora, não por ter sido Phillip a enviá-lo, mas porque eram jacintos. Lenora achava que não precisava encontrar outra justificativa para isso.

Ela demorou para responder, olhou para o marido como se esperasse por alguma ajuda em tentar convencer a filha de que ela teria de jogar o buquê que recebera fora, mas tudo o que seu pai fez foi apenas dar com os ombros.

— Deixe que ela fique com as flores, — disse ele calmamente. — São apenas flores, não há nada para nos preocuparmos e também, acredito que o Weston não tentará cortejá-la e...

— Claro que não, querido — respondeu Grace antes que ele prosseguisse com sua fala. — Lenora espanta qualquer pretendente em potencial, me surpreende que o visconde Weston a tenha enviado flores, pois claramente não tem conhecimento do quão difícil é essa menina.

Lenora piscou surpresa diante a mudança drástica de reação da mãe, foi possível perceber o tom de repreensão em sua voz, nada do qual ela já não estivesse acostumada a ouvir. Na verdade, achava graça da insistência dela quando Lenora claramente já tinha desistido de encontrar um bom marido.

— Um momento, a senhora está irritada por eu ter recebido flores do visconde e irritada porque não o espantei?

Questionou, não por querer saber da resposta, mas apenas porque sabia que isso irritaria ainda mais.

Lady Barrington a olhou e apenas semicerrou os olhos, mostrando que não achara graça de sua fala.

— Querida — Lorde Barrington sentou-se ao lado de Grace e comeu um biscoito amanteigado. — Lenora irá casar-se no tempo certo e com o homem que ela julgar adequado para si.

A jovem concordou mentalmente com isso.

— E não será o Weston! — finalizou o pai, prevendo que a mulher estava prestes a protestar contra Phillip.

— Não irá encontrar um bom marido se continuar espantando todos os pretendentes que se aproximam dela, não concorda? — devolveu sua mãe, olhando para a filha e depois para o marido.

— Não vamos falar sobre casamento, agora, vamos?

Lenora olhou para as duas pessoas a sua frente, fixou os olhos por mais tempo em seu pai como se implorasse que ele começasse outro assunto ou simplesmente a salvasse de um novo sermão sobre casamento.

— Mas é claro que sim! — respondeu Lady Grace. — Você, minha filha, precisa se casar ou acabará se tornando uma solteirona.

— Eu não me importo de ser uma solteirona — disse com despreocupação. — Veja Lady Coublepett, ela vive perfeitamente bem sendo solteira e é respeitada por onde passa.

— Por Deus, não diga uma barbaridade dessa aqui! — repreendeu a mãe. — E Lady Coublepett já foi casada, caso seja interessante saber.

— Sim, mas cinco anos depois seu marido veio a falecer e desde então ela não casou. E olha só aonde ela chegou!

— Você não irá imitar os passos daquela mulher!

— Não disse que o faria. — defendeu-se.

Não existia temor na demora, Lenora sabia que precisava apenas de tempo para encontrar alguém que realmente considerasse bom para ela. Alguém como Phillip, amigo, engraçado e claro, inteligente o bastante para entender seu humor incomum.

— Eu era exatamente como você, minha filha — contou a mãe. — Não permitia que qualquer cavalheiro se aproximasse até que conheci seu pai.

Ela olhou de forma apaixonada para o homem ao seu lado, ele retribuiu aquele olhar.

— E no momento em que fomos apresentados ao outro eu senti... Um turbilhão de sensações e emoções, — prosseguiu, deixando escapar um curto riso. E começou a listar tudo o que sentira naquele dia.

Lenora sentiu uma pequena inveja dos pais, Lady Barrington costumava contar sempre que possível a incrível história de como conhecera Lorde Barrington em sua segunda temporada e de como isso mudou sua vida.

Ela queria isso para si, alguém que a olhasse tão apaixonado como seu pai olhava para sua mãe, mas sabia que jamais receberia aquele olhar de um cavalheiro, pois todos que a olhavam ou enxergavam seus irmãos mais velhos ou ela os espantava antes que isso viesse a acontecer.

Demoraria para encontrar alguém que a amasse como os pais se amavam.

— ... Um casamento por amor. — Lenora imitou a fala da mãe ao mesmo tempo em que ela a dissera, mudando apenas o tom de sua voz.

— Basta procurar pelo homem certo — disse sua mãe, olhando-a.

Lenora torceu os lábios numa careta.

— Procurar? Mamãe, posso admitir que não há nessa sociedade alguém que faça-me pensar em casar. — a jovem olhou para a mais velha e depois para o pai. — E todos são estúpidos demais ou apenas se interessam pelo meu dote.

— O futuro duque Haskett já tentou cortejá-la e você o expulsou. — Lady Grace a lembrou, isso tirou da jovem um tremor de puro desconforto. — Ele era um ótimo pretendente. Nunca entendi por que fizera isso.

— Porque ele é a junção perfeita dos dois tipos que quero distância — respondeu, seu pai, John parecia segurar o riso diante de sua fala. — Estúpido e interesseiro.

— E eu jamais permitiria que minha filha se case com um libertino como Haskett, — alegou o pai. — Seja ele futuro duque ou o próprio rei.

Lenora olhou em direção a mãe, aquelas eram quase as mesmas palavras que a filha lhe dissera durante o baile da noite passada.

— Um dia minha filha, encontrará o homem certo e seu coração irá bater mais forte e vai perceber que nem mesmo você pode fugir do amor.

Ela balançou a cabeça, mas no fundo achava que acabara de ser amaldiçoada pela própria mãe.

— Até lá, continuarei espantando aqueles que não façam meu coração bater mais forte.

A expressão de sua mãe mudou para uma careta irritada, tanto Lenora quanto John riram alto quando perceberam a mudança acontecer e a fala da mais nova pareceu cessar o assunto sobre casamento.

E durante um tempo, os três conversaram um pouco mais sobre o baile passado, espalhando algumas fofocas que descobriam durante a noite.

Lenora voltou sua atenção para o buquê de jacintos que recebera de Phillip. Ela sabia que a intenção das flores era apenas para agradecê-la pela companhia, afinal, ele escrevera sobre isso no cartão que viera junto com as trinta libras oferecidas.

Mas ela não deixou de pensar na sensação que teria se acaso recebesse flores de um pretendente real e torceu, para que encontrasse alguém como Phillip, que soubesse de sua preferência de flores. 

 

 


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