Às vezes eu sinto que nunca fui o suficiente. Nesses momentos, amedronto-me só de pensar que não a fiz feliz ao longo de todos esses anos. Tem dias que é difícil manter as esperanças, mas, de todos os jeitos, tento procurar um único vestígio de luz que me ludibrie, a ponto de me fazer pensar que ficará tudo bem, mesmo com todos os contras que parecem infinitamente maiores que os prós. Mas foi ela quem me ensinou a ser assim, esperançoso, então o quão injusto seria se eu deixasse isso de lado quando ela mais precisava?

Aterrorizava-me o simples pensamento de uma vida sem ela presente. Em todos esses anos que passamos juntos, eu era a escuridão, e ela era a luz que me guiava e me tornava uma pessoa melhor a cada dia. Porque ela tinha esse dom incrível de ver beleza em ruínas abandonadas e transformá-las no mais bonito dos castelos.

Ouso dizer que sou egoísta. Egocêntrico a ponto de querer que ela passasse mais tempo comigo do que o previsto. Se eu pudesse, me colocaria em seu lugar sem pensar duas vezes. Era insuportável vê-la tão fragilizada e sentir-se exorbitantemente impotente, sem poder fazer nada para ajudá-la.

Os médicos diziam que era questão de tempo, que agora só lhe resta descansar. Insistiam para que ela permanecesse calma e que aproveitasse os próximos meses. Mas Astoria era inteligente, ela sabia o que estava escrito nas entrelinhas daquelas palavras tão cruéis. Ainda assim, nenhum de nós ousava tocar no assunto. Definitivamente, Astoria Greengrass era a pessoa mais forte que eu conhecia.

A verdade é que eu daria a minha vida facilmente no lugar da dela se fosse possível. Afinal, ela me salvou tantas vezes que eu seria incapaz de contar.

Mesmo tão debilitada, ela permanecia radiante como o sol. Era como se nada pudesse tirar a sua luz. Uma vez, Astoria disse-me que eu era como a lua, silenciosa e misteriosa. E eu disse que ela era como o sol. Naquele momento, peguei-me pensando, será que a lua e o sol podem pertencer um ao outro? Eu nunca disse aquelas palavras, mas Astoria sabia a resposta antes mesmo que eu pudesse dizê-las. “É por isso que existem os eclipses”, ela disse. “Para que pessoas como nós possam se encontrar”. Talvez essa tenha sido uma das coisas mais belas que eu escutei em toda a minha vida.

Então peguei-me pensando: como podíamos ser tão desafortunados? Quando eu finalmente tive um vislumbre do que era a mais pura felicidade, ela estava me deixando aos poucos, sem qualquer explicação. E o pior de tudo: eu não podia impedir. Apesar do momento difícil, o nosso amor desafortunado criou recordações que estariam sempre comigo. Memórias que ainda iríamos escrever por mais alguns meses, e que eu guardaria comigo como um tesouro precioso. Afinal, eu ainda teria muitos momentos e oportunidades para fazê-la sorrir, e esse seria o meu maior presente.

Então, despertando-me de meus pensamentos noturnos, Astoria se pronunciou, mais uma vez era como se lesse a minha mente.

— Podemos não estar destinados a ficar juntos, mas, definitivamente, fomos destinados a nos amar. E não há nada que eu queira além disso. Nosso amor foi a minha história mais bela.

De fato, nosso amor era regido pelas estrelas, mas, ainda assim, o universo era cruel e, por algum motivo, teimava em impedir que ficássemos juntos. Certamente, ela teria a mim até o seu último segundo. E, quem sabe, talvez na próxima vida possamos reescrever as estrelas.