Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 17
Capítulo 17




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Exatamente como eu sabia que seria, meus pais absolutamente odiaram o fato de que pela primeira vez na vida eu não passaria o natal em casa. Pelo menos dessa vez eu não poderia reclamar de ser tratada diferente, porque Ron enfrentou a mesma tempestade nas três vezes que ousou fazer o mesmo.

Harry e eu nos decidimos por passar as festas de fim de ano em Praga, que era uma cidade que nenhum de nós dois havia visitado naquela época do ano e famosa pela decoração natalina que enfeitava uma das capitais mais bonitas da Europa. As passagens já estavam compradas, um apartamento reservado na minha conta do Airbnb e minha empolgação nas nuvens, mas ainda assim eu senti um friozinho desagradável na barriga quando estacionei o carro na frente da casa dos meus pais no fim de semana seguinte.

Não tinha hora boa para falar o que se sabe ser o estopim de uma bronca, então eu usei a deixa que eles me deram assim que Harry e eu nos acomodamos e nos servimos.

—E então, crianças, quais as novidades?

—Harry e eu vamos passar o natal e o ano novo em Praga! - Falei uma oitava mais alta, um sorriso maior que o necessário estampado no meu rosto.

—Que demais, a cidade é incrível. - Ron falou com os olhos brilhando.

—Sim, estávamos em dúvida sobre o destino, mas aí vimos as fotos dos mercados de natal que eles tem ali e decidimos que seria ideal.

Com a desculpa de dar atenção ao meu irmão, desviei o rosto dos meus pais, mas ainda consegui ver pela minha visão periférica quando eles estreitaram os olhos na minha direção, os rostos um tanto vermelhos. Nunca antes fiquei tão feliz em ter o Harry no mesmo ambiente que eu, porque eu tenho certeza que ele era o motivo daquilo ainda não ter virado uma cena dramática digna de um Oscar.

—Logo nas festas de fim de ano, Ginny? - Meu pai perguntou sério.

—O plano inicial era ir em janeiro, mas o Harry vai precisar viajar a trabalho. - Dei de ombros, como se o resultado fosse lógico depois disso.

—Vocês poderiam ir em fevereiro.

—Poderíamos, mas queremos ir no natal. - Respondi olhando diretamente para ele dessa vez, dando a entender que estava decidido.

—Onde vocês vão se hospedar? - Ron perguntou, mas antes que eu pudesse responder minha mãe nos interrompeu.

—Você sabe que ficam todos ansiosos para ver você e seu irmão, querida, acho uma falta de consideração muito grande você apenas não aparecer assim. Você sabe como eles são, principalmente tia Muriel.

Aquele comentário me fez rir, o que foi bom porque no fim quebrou um pouco do meu nervosismo por como eu havia respondido ao meu pai pouco antes.

—Ah sim, principalmente ela. Bom, diga que eu mandei um beijo e que, já respondendo a mesma pergunta de todo ano, sim, meu trabalho ainda é aquela pouca vergonha. - Antes que o assunto se prolongasse me virei novamente para. Ron. - Vamos ficar perto da Praça da Cidade Velha, perto do Relógio Astronômico. Demos sorte, eu achava que nessa altura já estaria tudo esgotado.

Meus pais não participaram mais da conversa depois disso, apenas mantiveram suas expressões de desagrado. Harry pareceu um pouco perdido no meio daquela interação, mas continuou conversando comigo e meu irmão, fazendo seu melhor para ignorar o clima ao redor.

—Espero que você pelo menos venha nos desejar um feliz natal antes de viajar. - Minha mãe falou com voz dramática quando me despedi dela.

—Claro que sim, nós viajamos na segunda antes do natal, então no domingo estarei aqui como sempre.

Quando nos acomodamos novamente no meu carro para voltar para casa, o primeiro comentário do meu namorado foi:

—Impressão minha ou eu não ia gostar muito da tia Muriel?

—Talvez não. Mas não se preocupe, ela com certeza te amaria.

Meados de dezembro era quando o banco em que ele trabalhava promovia uma confraternização de fim de ano para os funcionários, que dessa vez foi o motivo de eu tirar do guarda roupas o vestido longo e elegante que havia usado apenas uma vez no casamento de uma prima. Harry e eu passamos a maior parte do evento juntos, caminhando pelo luxuoso salão que a empresa havia reservado em um hotel cinco estrelas da cidade, enquanto ele me apresentava a seus colegas de trabalho e me contava discretamente as fofocas que sabia sobre eles.

O evento não foi de forma alguma chato, mas não chegou sequer perto da animação natural e espontânea com que eu e o resto da equipe brindamos o fim do ano no pub que a editora fechou só para nós. Não vou negar que era legal me olhar no espelho dentro de um vestido longo que valorizava meu corpo e apreciar os olhares do Harry para o decote avantajado que ele deixava, mas nada se comparava a poder falar alto em meio a uma musica mais alta ainda, usando minha mini saia preferida e uma bota confortável ao invés do salto alto.

No final de semana que antecedeu nossa viagem, Harry me convidou para jantar com os pais dele no sábado a noite, e assim eu encontrei os ilustríssimos senhor e senhora Potter pela segunda vez. Talvez porque todos soubéssemos o que esperar, o encontro passou longe de ser natural e descontraído, mas foi melhor do que o primeiro.

Eles vieram até Londres e nos encontramos em um restaurante extremamente elegante em que eu nunca havia entrado antes, onde passamos uma noite de cortesias e gentilezas ensaiadas, regadas a um vinho caro que eu teria facilmente trocado por um coquetel de vodka.

—Tudo certo para a viagem de vocês? - Harry perguntou aos pais.

—Sim, só espero que não esteja calor demais.

—Mãe, vocês decidiram passar o fim de ano na Austrália, se não estiver calor demais tem algo errado.

Ela franziu levemente o cenho, mostrando desagrado, e eu precisei segurar uma risada.

—E você já decidiu se vai ficar em Londres mesmo, querido?

—Gin e eu estamos embarcando para Praga na segunda, voltamos depois do ano novo. Decidimos de última hora, compramos as passagens há umas duas semanas apenas.

—Que bela escolha, Praga é linda. Vocês já conhecem a cidade?

—Eu não. - Harry respondeu por ele e se virou para mim, me incentivando a participar da conversa.

—Eu já fui no verão, alguns anos atrás.

—É o tipo de lugar que não tem como decidir qual a estação mais bonita. Algum lugar específico que tenha chamado sua atenção, Ginny?

—Eu só passei um dia pelo centro, então não consegui visitar cada cantinho da cidade. Mas eu me lembro que a vista do pôr do sol de cima da Dancing House é maravilhosa.

—Você ficou em alguma outra cidade? - James perguntou.

—Não, fiquei nos arredores de Praga mesmo, mas um pouco mais afastada do centro turístico. Eu fui para um festival de música eletrônica junto com meus amigos do trabalho.

—Ah sim.

—Draco me arrastou para um desses em Budapeste uma vez, eu estava bem cético, mas acabamos nos divertindo bastante.

—Quem mais conseguiria tal feito, não é? - Comentei com um sorriso pra ele.

—Pois é, quem mais. - Lily falou sem a mesma empolgação. - Você e Draco chegaram a se conhecer, Ginny?

—Nos encontramos uma vez na casa do Harry, algumas semanas atrás.

—Então ele está de volta a Londres?

—Por enquanto sim. - Harry respondeu sem prolongar o assunto, não dando a entender que queria continuar dando informações sobre o amigo.

—E como está Hermione? Tem tempo que não a vemos.

—Ela está bem, almoçamos juntos ontem. Vocês se lembram que eu disse que ela estava namorando? - Os dois concordaram com um aceno. - Ron, o namorado dela, é irmão da Gin.

—Mesmo? - Lily pareceu verdadeiramente surpresa. - Não sabia que você tinha irmãos, Ginny.

—Só um irmão, Ronald.

—Então foram vocês os cupidos que os apresentaram? - James perguntou entre uma colherada e outra de sua mousse.

—Na verdade não, eles estão juntos há mais tempo que nós. Eu conheci o Ron antes mesmo de conhecer a Gin, quando Hermione nos apresentou.

—Então com ou sem o parque perto da sua casa, esse encontro estava fadado a acontecer? - Lily perguntou sorrindo, o dedo apontando de um para o outro indicava que ela estava falando de nós dois.

O tom não me deixou ter certeza se ela considerava aquilo um bom ou mau sinal. Decidi por não tentar encontrar problemas onde talvez nem houvesse um, então apenas sorri de volta e fiz um aceno satisfeito com a cabeça.

—Pode apostar que sim, mãe. Se eu não encontrasse essa garota por acaso, eu iria procurar por ela. - Harry respondeu no mesmo tom sorridente que ela usou e pousou o braço sobre meus ombros, onde ficou até nos levantarmos para ir embora.

Quando nos despedimos e entramos no táxi que nos levaria de volta para casa, ainda não era nem perto do que eu considero tarde, mas achamos que seria uma boa ideia aproveitar que ainda estava cedo e ter uma boa noite de sono.

Minha mãe, em seu último ato dramático, cozinhou para nós quase uma ceia de natal completa, o que segundo ela era o máximo que podia fazer para que eu tivesse um natal em família naquele ano. Atitudes como essa me faziam rir e baixar um pouco a guarda, porque era nesses atos exagerados e ao mesmo tempo carinhosos que eu via que por baixo de toda aquela implicância e falta de compreensão, havia muito daquele famoso amor materno. Eu só gostaria que o sentimento fosse demonstrado de forma mais saudável e menos desgastante para todos nós.

Quando o dia da nossa viagem finalmente chegou, eu já não me aguentava de ansiedade e Harry não estava muito diferente, só era mais contido. Até mesmo o desconforto de saber que eu estava a metros demais do chão dentro daquele avião foi deixado de lado na minha mente, porque passamos o vôo todo tentando chegar a um consenso de como celebrar o natal e o ano novo, porque aparentemente tínhamos ideias bem diferentes do que seria uma boa maneira de fazer isso.

Pousamos em Praga no meio da tarde e não demoramos a encontrar um táxi para nos levar até nossa acomodação, mas como nessa época do ano o sol se punha bem cedo, as luzes de natal já estavam todas acesas quando avistamos os primeiros prédios do centro da cidade. Harry não parecia decepcionado com o que via e eu certamente estava mais do que satisfeita em rever aquela arquitetura impressionante, mas agora com uma companhia que conseguia deixar tudo mais bonito.

No fim combinamos que Harry decidiria a comemoração do natal e eu a do ano novo, o que nos pareceu justo para ambos. Como faltavam apenas dois dias para o dia 25 de dezembro, passamos nossa primeira noite caminhando pelo centro em busca de um restaurante que ele julgasse legal o suficiente para a nossa ceia.

No segundo dia, já com restaurante reservado e depois de uma boa noite de sono para nos livrar do cansaço da viagem, passamos o dia caminhando pelo centro histórico e a noite visitando cada uma das tendas do mercado de natal, onde trocamos o jantar por uma variedade de porções que cada um dos food trucks oferecia, e compramos algumas lembrancinhas para levar para casa.

No dia 24, no horário marcado para nossa reserva, Harry e eu entramos no restaurante espaçoso e bem iluminado que ficava na pequena ilha, entre um lado e outro da cidade. O frio não nos deixou aproveitar o terraço, mas conseguimos uma mesa ao lado da parede de vidro com vista para o rio e a ponte com as famosas estátuas.

A escolha do Harry para a noite foi um jantar num restaurante tradicional onde fosse possível experimentar a culinária local,  seguido de um longo passeio pelo centro iluminado da cidade, pois segundo ele nada mais significativo do que passar o natal olhando sem pressa para decorações natalinas.

Não éramos muito dados a romantismos e demonstrações exageradas de afeto, mas havia um clima diferente em andar de mãos dadas com alguém na véspera de natal, em uma das cidades mais bonitas do mundo, dividindo direto da garrafa o vinho que não terminamos durante o jantar. Em meio àquele clima gostoso de leveza, com o álcool subindo lentamente e longos momentos de um silêncio confortável, do tipo que só conseguimos com um certo nível de intimidade, nem vimos a hora passar.

O primeiro sinal de que já era oficialmente natal foi o barulho da primeira badalada à meia noite, que me sobressaltou porque eu não estava esperando, depois vieram alguns fogos de artifício.

—Mas já? - Harry olhou no relógio em seu pulso e se virou se frente para mim. - Garota, você precisa parar de roubar minha atenção toda, já está ofuscando até o natal.

O sorriso enorme no meu rosto morreu quando ele me beijou, as mãos segurando firmes na minha cintura enquanto seus lábios pressionavam os meus.

—Então você precisa parar de me atrair tanto desse jeito, Potter. - Respondi quando ele se afastou um pouco, meus braços ao redor do seu pescoço enquanto eu olhava para cima para encontrar seu olhar.

—Feliz natal, Gin. - O sorriso dele estava tão grande quanto o meu.

—Feliz natal, lindo.

O nosso olhar um para o outro tinha tanto sentimento que nenhuma palavra era necessária, eu sabia tudo o que aquilo significava e podia apostar que ele também.

—Vamos pra casa? - Ele sugeriu ainda em meio ao nosso abraço apertado.

—Vamos. - Mais um beijo demorado e continuamos nossa caminhada.

O pequeno apartamento que alugamos pelo Airbnb era composto de uma cozinha pequena e bem básica, um banheiro, uma sala bem decorada com vista para os prédios históricos da cidade e um quarto bem iluminado. Mesmo depois de um pouco bagunçado com as roupas que tiramos pelo caminho assim que chegamos da nossa comemoração de natal, ainda era um cenário agradável o suficiente para trocarmos os presentes de natal que eu planejei para nós.

Acordei lentamente na manhã seguinte, presa num emaranhado de braços, pernas e o edredom pesado que nos envolvia. Harry ainda estava dormindo tranquilamente atrás de mim, a respiração pesada de encontro ao meu pescoço. Me virei preguiçosamente na cama e senti o braço dele se apertar mais ao meu redor, mas ele continuou dormindo. Me levantei com cuidado para não acordá-lo e fui até a sala, onde minha mala estava.

Vesti o figurino muito relevador que havia trazido especialmente para essa ocasião, peguei o equipamento necessário e voltei para o quarto. Harry se mexeu e pareceu mais desperto quando me juntei novamente a ele na cama.

—Bom dia. - Falei quando ele esticou novamente para passar os braços ao meu redor.

—Algum motivo especial para você acordar primeiro do que eu na manhã de natal? - Harry perguntou ainda de olhos fechados.

—Estou meio ansiosa para trocar presentes.

Dessa vez seus olhos se abriram e ele me olhou confuso.

—Mas não combinamos que nosso presente seria passar as festas grudados e não compraríamos nada um para o outro?

—Não se preocupe, o presente que eu planejei inclui o que eu te dou e também o que você me dá.

Quando viu meu sorriso sugestivo, seu olhar se desviou do meu rosto e desceu pelo meu corpo, onde encontrou nada além da lingerie muito pequena que eu agora vestia. Quando me olhou novamente, ele já não parecia mais tão sonolento nem tão confuso.

—E posso saber o que você tem em mente?

Me virei o suficiente para alcançar a máquina fotográfica em cima da mesa de cabeceira e mostrei a ele com um sorriso de canto.

—Que tal fazer o meu trabalho hoje?

—Garota, eu amo as suas ideias. - Ele jogou o edredom de lado, se inclinou sobre mim e pegou a máquina da minha mão - Vou precisar de um pouquinho de ajuda com isso aqui. - Falou depois de olhar o tanto de botões.

—A aula gratuita de fotografia faz parte do presente. 

Ele se jogou o edredom para o lado de qualquer jeito e se levantou. Não disfarcei o olhar quando ele se espreguiçou e caminhou até o banheiro, num ritmo que eu sabia ser propositalmente mais lento que o normal. Quando Harry voltou ao quarto, estava carregando uma cueca boxer e uma camiseta que ele começou a vestir.

—O que você pensa que está fazendo? - Perguntei ainda deitada na cama, na mesma posição de quando ele saiu.

—Vestindo meu figurino de fotógrafo.

—Você pode vestir a cueca se quiser, o resto é dispensável.

Ele me olhou meio desconfiado, mas não questionou. Ajustei a luz e a velocidade da câmera para que ele não precisasse mexer em conceitos mais técnicos, e o ensinei rapidamente como enquadrar, centralizar e clicar para que a imagem não ficasse tremida. Quando Harry parecia menos perdido, passei o aparelho para ele e me ajoelhei no meio da cama.

—E então, o que você quer que eu faça? - Perguntei com um sorriso empolgado.

—Você é a profissional aqui, garota.

—Não, eu sou a modelo aqui, você é a visão por trás da câmera. O que você quer ver quando olhar essas fotos?

Ele estava de pé no pequeno espaço em frente da cama e me olhou pensativo, sem saber direito o que dizer. Resolvi abordar outro ângulo:

—Quando você vê fotos sensuais na internet, quais poses te excitam, Harry?

O olhar dele mudou com a minha segunda pergunta, e ele parecia mais empolgado do que perdido agora. Meu namorado recuou alguns passos e se sentou na pequena poltrona no canto do quarto, posicionou novamente a câmera em frente ao rosto e falou:

—Vai mais para trás e engatinha na minha direção.

Fiz o que ele mandou e parei quando cheguei na ponta do colchão, sem espaço para seguir em frente. Continuei olhando para a câmera na mesma pose de quatro, esperando o que vinha depois disso.

—Coloca o cabelo todo para um lado e abaixa um pouco, do jeito que você está, mas quero que você apoie os cotovelos no colchão. Isso, agora olha aqui. Agora sorri. Ai, garota.

A última parte me fez rir e ele acabou rindo também. 

—E agora?

—Vira, como se você fosse engatinhar de volta para lá, mas fica parada. - Fiz o que ele falou e aguardei enquanto ouvia o som abafado de alguns cliques. - Agora deita de bruços e flexiona os joelhos, tipo bem casualmente.

—O seu gosto pornográfico é bem interessante, Potter.

—E nesse momento eu to me achando o cara mais sortudo do mundo, com você gostosa pra caralho se oferecendo pra realizar todos eles. - A voz dele estava mais séria, sem a dúvida de antes e com aquele tom mais grave que eu gostava e sabia bem o que significava. - Fica de joelhos agora e senta nos seus calcanhares, de costas pra mim.

Ouvi alguns cliques quando joguei a cabeça para trás para arrumar o cabelo, depois olhei para trás e meu olhar encontrou a câmera.

—E depois?

—Abaixa uma alça do sutiã, depois tira ele. Bem devagar. Vira só o rosto e olha para a câmera.

Fiz o que ele pediu, lentamente, e joguei a peça no chão em um ângulo em que ele pudesse fotografar caso quisesse.

—Fica de joelhos de frente para mim.

Me virei de frente, mas cobri os seios com um dos braços e olhei para ele esperando o que vinha a seguir, embora eu já tivesse uma boa ideia.

—Tira a calcinha devagar.

—Eu não me importo de tirar. - Falei sem me mexer, os braços ainda cobrindo os seios. - Mas esteja preparado para tirar para a minha câmera tudo o que eu tirar para a sua.

Ele abaixou a câmera e me olhou desafiador. Sustentei seu olhar com um sorriso de canto, vendo a briga interna dentro dele. No fim o lado que ainda dava o sobrenome na Starbucks ganhou e ele falou:

—Tudo bem, então pode ficar como está, mas podemos fazer uma última pose?

—Claro, desde que eu não tire mais nada.

—Senta nos calcanhares de novo, de frente para mim, abre um pouco mais as pernas, olha para baixo e abaixa um pouquinho a lateral da calcinha, como se você fosse tirar.

Eu ri e olhei de canto para ele, porque isso era quase quebrar as regras, mas fiz o que ele pediu e esperei que tirasse a última foto. Ele abaixou a câmera quando terminou, levantou da poltrona onde estava e cruzou o passo necessário para me alcançar em um beijo excitado, que eu interrompi logo depois.

—Agora é minha vez.

—Ah Gin, isso é mesmo necessário? - Ele resmungou, parado em cima de mim e olhando para os meus seios e o movimento de sua mão neles. - Eu não sei nem como me comportar nessa situação.

—Pode apostar que sim. - Me remexi para sair de baixo dele. - E não se preocupa com isso, vamos fazer as fotos naquele estilo cara tímido que é gostoso sem esforço, você não vai nem precisar fingir. Senta encostado na cabeceira, como se você tivesse acabado de acordar.

Peguei a câmera de cima do colchão ao nosso lado e me levantei enquanto ele se ajeitava. Ajeitei novamente as configurações de luz e olhei para cima quando o vi tirar os óculos.

—Não, deixa os óculos.

Eu queria que ele continuasse relaxado e excitado, então não vesti nada além da calcinha que estava usando e me ajoelhei na cama logo abaixo dos seus pés. Quando seus olhos desceram pelo meu corpo, tirei a primeira foto.

—Mas eu ainda não fiz nada. - Harry falou confuso, quando ouviu o som do clique.

—Eu sei captar o momento, faço isso todos os dias. Agora dobra um dos seus joelhos e apoia o cotovelo, isso, com a outra mão ajeita os óculos e olha aqui sem rir.

Harry fez o que eu pedi, mas a expressão séria só durou até eu consegui clicar uma vez e ele caiu na risada, o que me fez rir também.

—Agora eu sei porque você é a fotógrafa, a vida é mais fácil desse lado aí da câmera. - Se explicou com as bochechas um pouco coradas.

Aproveitei a espontaneidade de quando ele falava para tirar mais algumas fotos e me afastei para o lado, dando mais espaço para suas pernas.

—Deita no colchão, mantém a perna dobrada assim e o braço atrás do seu pescoço. Isso, como se você estivesse distraído com alguma coisa atrás de mim, não olha para a câmera.

Eu não estava esperando fazer uma sessão de fotos completa, era mais pela diversão de sair da rotina e criar mais essa memória juntos. Ainda assim, era de certa forma excitante ver Harry posar para mim. Contrariando minhas expectativas, ele também parecia estar achando empolgante estar na frente de uma câmera, ou pelo menos empolgante o suficiente para as fotos serem um sucesso.

Fiquei de pé no colchão e coloquei um pé de cada lado de sua barriga, o jeito que ele olhou para mim daquele ângulo me deu a única foto até então em que seu rosto mostrava a mesma excitação que sua boxer preta não conseguia esconder. Sem que eu esperasse suas mãos se fecharam atrás dos meus joelhos e ele puxou o suficiente para me fazer cair sentada sobre seu abdômen.

A próxima foto mostrava seu rosto sorrindo com malícia, a maior parte das minhas coxas ao seu redor e suas mãos nas minhas pernas. Eu ainda não tinha visto nenhuma delas em detalhes, mas já sabia que essa seria uma das minhas preferidas.

—Satisfeita? - Perguntou com as mãos na minha bunda.

—Ainda não, mas prometo que já estamos quase acabando. - Estalei um beijo em sua boca e me levantei. - Vem comigo aqui na sala.

O cômodo não era grande, então me encostei na parede oposta à janela e indiquei que ele fosse até ela. O frio não nos deixaria abrir os vidros também, mas a luz e a vista já eram perfeitos para o que eu tinha em mente.

—Vira de costas para mim e aprecie a paisagem como você faria se estivesse sozinho.

Ele fez o que eu pedi e não se moveu enquanto eu mudava de ângulo para captar a cena da melhor maneira possível. Quando me dei por satisfeita puxei uma das cadeiras e me sentei para ter um bom ângulo da minha pose final.

—Ótimo, agora vira de frente para mim e encosta na parede, do jeito que você achar mais confortável. Agora você vai colocar a mão por dentro da cueca e fingir que está se tocando.

Ele me olhou com a sobrancelha arqueada, típico de quando dizia que eu estava indo longe demais.

—O combinado era não tirar a última peça.

—Você não precisa tirar.

Ele se deu por vencido e fez o que eu pedi, levantei a câmera e me posicionei novamente.

—É muito difícil fingir que eu estou me tocando.

—Então você pode de fato se tocar, ninguém aqui vai reclamar.

E foi o que ele fez, o rosto alternando entre olhar o que estava fazendo e olhar para mim. Tirei a foto que eu queria, deixei a câmera sobre a mesa de centro e voltei à mesma posição sentada, porque de todas as coisas excitantes que eu já tinha visto meu namorado fazer, aquela estava tão alta na lista que eu queria olhar com atenção.

—Terminou seu trabalho? - Harry me perguntou um tempo depois.

—Sim, mas você pode continuar por quanto tempo quiser.

—Sozinho não, vem aqui. - Pediu com aquele ar autoritário que eu gostava, e eu fui.

Ao fim do dia eu já tinha certeza de que queria que todos os natais da minha vida fossem daquele jeito, e se dependesse apenas da minha vontade, toda e qualquer outra data comemorativa poderia seguir o mesmo padrão e eu nunca reclamaria. O olhar no rosto do homem deitado ao meu lado na cama enquanto a gente dividia um pacote de batata chips e olhava juntos as fotos no pequeno display da minha câmera, me diziam que ele também adoraria essa ideia.


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Notas finais do capítulo

Eu amo esse capítulo, porque é o primeiro que mostra claramente quão apaixonados eles estão, e quanto isso não muda nada no estilo de vida que eles tem.
Talvez seja um aviso desnecessário, mas eu preciso dizer mesmo assim: deixar alguém tirar fotos íntimas de você só é romântico e bonitinho na ficção mesmo, então não façam isso na vida real, mesmo que a ideia seja tentadora, ok? As consequências são reais e infelizmente estamos cansadas de ver todos os dias mulheres cujas vidas viram do avesso por causa desse tipo de coisa.
Tendo dito isso, quem mais também queria ver as fotos que esses dois fizeram? Eu super queria, mas infelizmente não tem no google ahsuahusahs
Espero que vocês tenham gostado do capítulo, não deixem de me dizer o que acharam.
Beijos e até daqui duas semanas.



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