Contraste escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 11
Capítulo 11




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Passei o sábado na casa da Luna com direito a almoço especial, bolo de aniversário e um desenho que Izzie me deu de presente. Tudo o que ela conseguia fazer eram rabiscos, mas ainda assim eu achava todos lindos. Contei a eles sobre as comemorações durante a semana e ouvi sobre a pequena viagem de férias que haviam feito para Portugal, onde a filha viu o mar pela primeira vez.

No meio da tarde Nev levou Izzie para uma soneca e acabou dormindo com ela, dando a Luna e a mim a oportunidade de conversar sobre coisas mais pessoais. Inevitavelmente eu mencionei Harry e como nossa noite havia sido divertida, mas Luna foi a que mais falou a respeito de uma briga que ela e o marido tiveram durante a viagem.

Neguei o convite deles para jantar e fui para casa pouco depois das sete, eu estava cansada de todas as comemorações que tive durante a semana e queria uma noite decente de sono antes de ir para a casa dos meus pais no domingo, onde o último bolo daquele ano me aguardava.

Eu estava deitava na minha cama com os cabelos ainda molhados do banho recém tomado quando meu celular tocou. Quando vi o remetente da mensagem nas minhas notificações eu já sabia qual seria o conteúdo daquela mensagem sem nem mesmo precisar ler o texto.

“Hey Gin, tudo certo? Cheguei na cidade essa manhã e fico até segunda. Que tal sair pra curtir a noite e depois você aproveita o hotel comigo?”

Pousei minha maçã mordida no colchão ao meu lado e digitei minha resposta imediatamente:

“E ai Mike, tudo bem? Não to no clima dessa vez, fica pra próxima. Bjs.”

Joguei o aparelho de novo no colchão e continuei assistindo ao episódio de Friends que eu já tinha visto umas trinta vezes.

Quando cheguei na casa dos meus pais no dia seguinte eles me recepcionaram com abraços, meu prato preferido para o almoço e o melhor bolo do mundo, que por sorte era feito pela minha mãe e tradição garantida nos meus aniversários há muitos anos. Ron e Mione também estavam lá e passamos uma tarde muito agradável todos juntos. Minha mãe me deu um cachecol que ela mesma tricotou e que ficou lindo. Eu já tinha uma gaveta cheia deles e provavelmente nunca havia comprado um cachecol na vida, mas gostei da nova cor.

—Como você passou o dia do seu aniversário? - Minha mãe perguntou.

—Trabalhei até as seis e a noite fomos em um bar e numa balada com o pessoal da equipe, foi bem divertido.

—Aniversário é pra ser comemorado em família Ginny, não com um monte de gente qualquer.

—Eles não são um monte de gente qualquer, são meus amigos. Ron e Mione estavam lá também para representar a cota da família.

—Foi uma noite muito divertida, seus amigos são ótimos. - Mione comentou e minha mãe não falou mais nada.

—Só estranhei o Olívio não levar o namorado dessa vez, aconteceu alguma coisa? - Ron questionou, pegando mais um pedaço do bolo que ainda estava sobre a mesa entre nós.

Eu sabia que meus pais não gostavam desse assunto e conseguia ver seus rostos fechados, mas não me importei e continuei conversando com meu irmão.

—Eles terminaram no mês passado, não estava mais dando certo.

—Que pena, o Will era um cara bem legal.

—Pelo que Olivio dizia era um pouco ciumento demais também, não sei, ele parece estar bem com o fim.

—Quem era aquele rapaz que foi falar com você pouco antes da gente sair, Gin? Você parecia meio irritada.

—O modelo que eu tinha fotografado naquele dia, ele vai ser a capa do próximo mês. - Me virei para a minha cunhada para responder. - Ele deu em cima de mim o ensaio todo e por coincidência estava na boate também.

Ela chacoalhou a cabeça com desaprovação em resposta à minha expressão entediada, eu certamente não precisava explicar a ela quão chato isso era.

—Ridículo. - Ela comentou.

—Você insiste em ficar trabalhando nesse ambiente com esse tipo de gente, não é de se estranhar que essas coisas aconteçam. - Meu pai interrompeu a conversa e eu me virei para ele.

—É por isso que a gente implica Ginny, só estamos preocupados. Talvez se você tivesse um emprego mais normal. - Minha mãe corroborou.

—Se esse tipo de situação é o requisito pra chamar de emprego normal vai ficar complicado arrumar alguma atividade remunerada, porque no último escritório que eu trabalhei o meu chefe me pediu um boquete. E eu te garanto que ele estava completamente vestido.

De canto de olho vi Hermione segurar uma risada e olhar para baixo.

—Ginny, olha a boca! - Meu pai vociferou, as orelhas vermelhas de irritação, exatamente como minha mãe também estava.

—Ué, mas foram essas as palavras que ele usou, só estou repetindo. Você deveria gritar com ele, não comigo. - Fiz minha melhor expressão de desentendida.

—Cara, com essas palavras mesmo? - Ron perguntou interessado, deixando os dois ainda mais irritados.

—Sim. Eu fui pedir dois dias de folga na semana do fechamento porque ia fazer um curso de fotografia e ele negou. No mesmo dia a tarde quando não tinha mais ninguém na sala ele se apoiou na minha mesa e disse que nunca tinha recebido um boquete de uma ruiva.

—Que cuzão!

—Ronald, olha a boca você também!

—Ué, mas vai dizer que você não concorda que ele foi cuzão mesmo? - Meu irmão se virou para eles e perguntou com a mesma expressão que eu usei.

—Isso não são modos. - Minha mãe nos repreendeu.

—E depois disso? - Ron ignorou e se virou novamente para mim.

—Falei para ele que não conseguiria ajudar e saí. Nos dias do curso eu faltei sem avisar ninguém e quando voltei contei ao RH o que tinha acontecido e o motivo das minhas faltas. Mas eu saí da empresa alguns dias depois disso, então não sei o que aconteceu com ele. Eu já tinha todo o meu equipamento e estava fazendo alguns ensaios nos finais de semana, não via a hora de abandonar aquele inferno.

Ron, Mione e eu continuamos conversando tarde adentro, mas meus pais não interagiram mais conosco depois disso e logo depois se retiraram para a sala. No fim da tarde nos despedimos deles, agradeci novamente o presente e fui para casa, levando comigo o que sobrou do bolo.

Já faziam dois dias que Harry e eu não nos falávamos, então assim que terminei meu banho e voltei ao quarto a primeira coisa que fiz foi remediar essa situação.

“Oi Potter, como foi o seu final de semana?”

Ele sempre me respondia quase imediatamente, mas dessa vez sua resposta demorou alguns minutos para chegar.

“Olá Gin, foi bem parado. Visitei meus pais ontem e passei o dia no sofá hoje, agora acabei de fazer pipoca e vou assistir um filme. E o seu?”

“Com dois bolos e dois almoços com meus pratos preferidos. Acho que agora as comemorações acabaram”

“Tenho a impressão de que se você tivesse mais comemorações do que teve, seu próximo aniversário chegaria enquanto você ainda comemora o anterior haha Nunca gostei muito de comemorar meu aniversário.”

“Sério? Eu acho o melhor dia do ano.”

“O que você está fazendo agora?”

“Deitada na minha cama, TV ligada, nada interessante.”

“Vem assistir filme e comer pipoca comigo ;) Amanhã você vai trabalhar direto daqui.”

Toda a preguiça que eu estava sentindo se evaporou e eu levantei da cama antes mesmo de digitar minha resposta.

“Ótima ideia, eu adoro pipoca ;) Chego em vinte minutos.”

“Estou te esperando.”

Ao invés de pegar uma mochila para colocar as roupas que eu usaria para trabalhar no dia seguinte, eu as vesti e coloquei minha escova de dentes e uma camiseta de pijama na minha bolsa transversal. Antes de dez minutos inteiros eu estava pronta para sair e com tudo que precisava para minha noite fora. 

Harry abriu a porta para mim só de cueca e com uma tijela de pipoca nas mãos, o que eu considerava uma visão e tanto. Na sala mesmo tirei a roupa que estava usando e troquei pela camiseta que havia levado, depois o segui até o quarto e me joguei em sua cama. Puxei seu travesseiro para mim e me acomodei de frente para a TV enquanto ele selecionava o filme.

—O que vamos assistir?

—A Freira.

—Que tipo de filme é esse? Não me diga que você me chamou aqui pra me assistir um filme religioso.

—Claro que sim, achei que um bom drama gospel combina com a sua personalidade. - Ele iniciou o filme, apagou a luz e veio em minha direção. - É um spin-off de Invocação do Mal.

—Oi? - Olhei para a tela no momento exato que o nome do filme surgia. - Não! Harry, eu não posso assistir terror, depois eu não consigo dormir.

Eu sentia minha voz um pouco esganiçada e mais alta do que o normal, os meus olhos arregalados em sua direção. Ele estava deitado no colchão, completamente relaxado, mas eu tinha me sentado para olhar diretamente para ele. Contrariando a reação que eu esperava, ele caiu na risada.

—Você sabe que eu te chamo de garota só como uma provocação sexual, mas na verdade você é uma adulta, né? - Perguntou com a sobrancelha erguida.

—Ha ha, muito engraçado. Mas é sério, eu não consigo dormir depois.

—Eu estou aqui pra te ajudar a dormir depois, vem. - Harry esticou a mão e puxou minha camiseta.

Me arrastei no colchão e deitei ao seu lado.

—Sim, hoje você está, mas eu não vou conseguir dormir amanhã também, e depois e provavelmente pelos próximos três meses.

—Exagerada.

O filme começou com aquele ar fantasmagórico que já não me deixava relaxar.

—Juro que se eu não conseguir dormir eu vou te fazer ficar acordado comigo.

—Eu te ajudo a dormir, garota. - Ele prendeu seus braços ao meu redor e apertou seu quadril contra minha bunda, mas eu já estava tensa demais para corresponder.

—Hoje e pelos próximos três meses também.

Eu estava morrendo de medo, mas estava curiosa. A primeira vez que a freira apareceu eu gritei e me grudei a ele ainda mais, mas no fim sua gargalhada me fez rir também. Quando as cenas assustadoras se tornaram muito frequentes eu achei que era melhor apenas escutar a história, então virei de frente para ele e fechei os olhos com o rosto contra seu peito.

Quando o filme terminou ele parecia que tinha acabado de assistir a uma comédia, já eu estava com medo até de ir fazer xixi sozinha. Harry teve muito trabalho para me fazer relaxar e mais trabalho ainda para me convencer a apagar a luz antes de dormir, mas nada se comparou ao tempo que eu levei para finalmente adormecer mesmo com ele ressonando tranquilamente atrás de mim.

Na segunda quando entrei novamente no meu apartamento depois de um dia tranquilo de trabalho a tarde ainda nem havia acabado, o que indicava que eu ainda teria umas boas horas de luz do dia para aproveitar. Eu tinha algumas edições para aprovar e isso gastou boa parte da minha noite. Quando desliguei o computador e decretei meu trabalho terminado, quase dez da noite, o sol de verão começava a se por.

Me deitei na minha cama e liguei a TV, deixando a barulho de fundo me distrair enquanto eu checava algumas notificações e mensagens. Quando levantei a cabeça do celular e olhei em volta, o sol já tinha desaparecido completamente e minha única fonte de luz era a TV ligada.

A visão do corredor escuro através da porta aberta do meu quarto me causou o primeiro desconforto da noite e eu me levantei de um salto para acender as luzes. Voltei para o quarto com a casa devidamente iluminada, mas o corredor, ainda assim, era algo que eu não conseguia ignorar.

Por que é que todo filme de terror precisa de um corredor? E por que é que eu preciso de um corredor em casa?

Me levantei e fechei a porta do quarto, o que eu raramente fazia. Isso me deu alguns minutos de paz, até eu começar a olhar demais para o pequeno espaço entre o armário e a parede onde uma sombra se projetava. Eu sabia que era a sombra de um casaco que estava pendurado do lado do meu guarda roupa, mas precisava se parecer tanto com uma pessoa encapuzada? Ou com uma freira?

A lembrança da bendita freira me deixou imediatamente alerta e desconfortável. Enquanto eu ainda tentava me convencer de que aquilo não é real, meu vizinho de cima derrubou alguma coisa que fez um barulho seco ao mesmo tempo em que um gato miou do lado de fora da minha janela e eu dei um pulo.

—Eu vou matar o Harry.

Eu estava com sono devido as poucas horas que dormi, mas toda vez que estava quase dormindo uma cena do filme me ocorrida e eu ficava imediatamente alerta outra vez. Nem ousei tentar apagar a luz, depois de um tempo liguei a TV para preencher o silêncio, mas nem assim.

Quando o cansaço começou a levar a melhor de mim e a inconsciência já estava próxima, abri brevemente os olhos e a TV mostrava uma criança de pijamas caminhando por um corredor escuro e segurando apenas uma lanterna, porque é claro que a propaganda passando àquela hora da noite só poderia ser de mais um filme de terror. Isso foi suficiente para me despertar novamente e eu desisti.

Peguei o celular do lado do meu travesseiro e após um clique certeiro no contato desejado, levei o aparelho ao ouvido com convicção, porque eu estava falando muito sério quando disse que ele também não dormiria se eu não conseguisse dormir.

—Ginny? - Harry me atendeu com a voz rouca e confusa na minha segunda tentativa.

—Eu não consigo dormir. - Planejei dizer isso de forma ameaçadora, mas no fim saiu como um lamento choroso.

Sua risada sonolenta me irritou, porque eu não estava achando aquilo nada engraçado.

—Não acredito que você estava falando sério.

—Claro que eu estava falando sério, por que eu mentiria sobre aquilo?

—Já tentou contar carneirinhos? - O tom de piada não fez muito pelo meu humor.

—Já tentei de tudo, inclusive acender todas as luzes da casa e isso não tem graça. - O tom ameaçador finalmente estava ali.

—Tem um pouco de graça sim.

—Eu estou morrendo de sono e preciso estar no estúdio amanhã às nove.

—Já tentou fechar os olhos e relaxar?

—Harry, se fosse fácil assim eu já estaria a dormindo há duas horas.

Ouvi quando ele soltou um suspiro pesado e logo em seguida o barulho do interruptor.

—Garota você não pode ser real, não é possível.  Me da quinze minutos e eu chego aí.

Agradeci e desliguei, feliz por não ter precisado pedir com todas as letras para que ele viesse. Harry chegou poucos minutos depois com cara de sono e segurando o capacete, e eu o recebi com meu melhor sorriso aliviado e um abraço de agradecimento.

Ele se despiu e me seguiu até o quarto só de cueca, apagando todas as luzes pelo caminho. Quando nos acomodamos e ele me abraçou, eu apaguei menos de dois minutos depois.

Acordamos os dois atrasados no dia seguinte e mal tivemos tempo de desejar bom dia um ao outro. Nos vestimos o mais rápido possível, saímos de casa juntos e trocamos um beijo rápido na estação de metrô antes de cada um ir para um lado. Quando me sentei em um banco disponível no vagão, recebi uma mensagem que me fez rir.

“Tem certeza que você tem 28 anos?”

“Vou perguntar pra minha mãe no fim de semana pra ter certeza”

Para compensar a calmaria do dia anterior, tive um dia bem corrido no trabalho que me obrigou a ficar até depois do horário, o que era um acontecimento muito raro. Quando finalmente entrei em casa, já passava um pouco das sete da noite e meu celular mostrava uma nova mensagem do Harry.

“Me avisa quando chegar em casa para eu buscar minha moto.”

Ele havia tentado me ligar duas horas antes e eu respondi rapidamente que estava ocupada e falaria com ele depois, então imagino que esse fosse o assunto. Respondi dizendo que havia acabado de chegar e ele me disse que estava vindo.

Harry levaria uns vinte e cinco minutos para caminhar até aqui, o que me dava tempo suficiente para um banho. Quando minha campainha finalmente tocou eu já estava sentada no sofá com meu pijama e de cabelos molhados. Abri a porta e o recebi com um beijo que deveria ser rápido, mas nunca era.

—Dia corrido?

—Sim, é tão difícil eu sair mais tarde que quando acontece o dia foi daqueles.

—Qual seria o tipo de imprevisto que te prenderia no trabalho até agora? Alguém com vergonha de tirar a lingerie?

Eu adorava como ele estava sempre curioso sobre o meu trabalho e respondia a todas as suas perguntas com prazer.

—Não, só foi difícil decidir a temática para a próxima capa porque a equipe da modelo tinha uma ideia muito fechada do que queriam e não condizia com os padrões do que fazemos.

—O que eles queriam?

—Um tema muito infantil, o que fica fora de questão para nós. Eles estavam relutantes em aceitar todas as nossas outras sugestões e negociamos por um tempão até dizermos que se eles não escolhessem outra coisa o contrato estaria suspenso.

—E no fim o que aconteceu?

—Vamos receber uma resposta amanhã. Mas voltando ao seu palpite, aconteceu uma vez do ensaio ser cancelado no dia das fotos porque a modelo ficou com vergonha e desistiu ou das fotos não serem publicadas porque um dos modelos desistiu um dia antes.

—E o que acontece quando eles desistem?

—Não acontece nada, eles só não recebem. Está no contrato que eles tem o direito legal de desistir de tudo até vinte e quatro horas antes da publicação. Não publicamos fotos íntimas de ninguém sem total consentimento e isso inclui deixar a pessoa livre para mudar de ideia até o último momento.

—Justo. - Ele comentou depois de ponderar por um segundo. - Não vou demorar muito então, você deve estar querendo descansar.

—Aonde você vai? - Perguntei com a sobrancelha arqueada.

—Para casa.

—Você acha mesmo que hoje eu já consigo dormir como se nada tivesse acontecido dois dias depois de assistir àquilo? Eu te disse que isso ia acontecer, então pode se sentir em casa e me dizer o que quer jantar, porque você não vai a lugar algum.

Harry me olhou com uma expressão confusa quase cômica e eu pude ver o momento em que ele se conformou de que eu não estava brincando.

—Gin, eu estou usando um short e camiseta e tudo que tenho comigo é a chave de casa, como supostamente eu iria trabalhar amanhã?

—A gente acorda mais cedo e você vai de moto até lá antes do trabalho, tenho quase certeza que tenho uma escova de dentes reserva, você pode ficar. Você nunca dorme vestido mesmo, essa parte é fácil. - Pisquei para ele e me sentei no sofá. - Então, o que você gostaria de comer? Podemos pedir alguma coisa, por minha conta hoje.

Ele riu como se não acreditasse no que estava ouvindo, mas sentou-se do lado das minhas pernas no sofá e escolheu junto comigo o que pediríamos no aplicativo de entrega de comida. Depois do jantar eu me lembrei de algo que havia prometido a ele e me retirei tempo suficiente para voltar com meu computador.

—Aqui, as fotos de que te falei. - Virei o notebook em sua direção quando selecionei a pasta que estava procurando.

—Agora essa visita está ficando interessante. - Harry comentou distraído, olhando com atenção as únicas fotos sensuais que eu tinha de mim mesma. - Essa sua amiga era fotógrafa também? As fotos ficaram muito boas.

—Não, ela é editora, eu estava brincando de ensiná-la a fotografar.

—Não consigo imaginar um contexto em que eu faria essa pose na frente de um amigo. - Apontou para a tela, onde eu aparecia encarando a câmera e abaixando a alça do sutiã.

—Nunca fomos amigas de fato, ela era uma colega de trabalho, e a gente meio que estava tendo alguma coisa nessa época.

Eu julguei minha frase normal, mas Harry se virou para mim com muito mais atenção.

—Você é lésbica? - A expressão confusa deixou a pergunta engraçada e eu ri.

—Se estamos aqui hoje, é óbvio que não.

Ele riu também, se tocando de como a pergunta havia sido impensada.

—Corrigindo então, você é bissexual?

—Não sei, Harry. Eu nunca me preocupei com essas definições porque elas não fazem a menor diferença para mim, gosto de pensar que eu sou livre para usar meu tempo com quem eu quiser, independente do gênero.

—E você gosta de usar seu tempo com mulheres?

—As vezes, não aconteceu muitas vezes.

—Elas eram especiais?

Franzi o cenho antes de responder, tentando encontrar uma maneira de explicar.

—Não, elas tinham alguma coisa que me atraía e vice versa, só isso. E eu precisava de algum parâmetro para ter certeza de que na maioria das vezes prefiro usar meu tempo com homens, qual a melhor forma de descobrir?

Harry passou o braço sobre o meu ombro e me puxou para mais perto.

—Engraçado que essa explicação faz sentido vinda de você. - Ele plantou um beijo na minha bochecha e continuou olhando as fotos comigo encostada nele.

No dia seguinte eu estava no meio do ensaio quando recebi uma mensagem dele:

“Saí do trabalho depois do almoço hoje, então se ainda precisar de companhia para dormir você vem aqui para casa porque não tem nada que me faça levantar desse sofá hoje. Beijos.”

Sorri para o celular e voltei o celular para o meu bolso, deixando para responder depois.

—Olha ali Hannah, é o sorriso Potter de novo. - Ouvi Colin cochichar atrás de mim.

—Está ficando bem frequente, não está? - Nossa amiga respondeu e eu mostrei a língua para eles.

Eu fui para a casa dele naquele dia e no próximo, e no próximo também. Depois de duas ou três semanas eu já sabia que poderia dormir sozinha na minha casa sem problema nenhum, e Harry muito provavelmente sabia disso também, mas hábitos gostosos são muito fáceis de criar. Dormir agarrada à ele sem dúvida era um desses hábitos, e eu não parecia ser a única que pensava assim.

Eventualmente diminuímos a frequência para alguns dias por semana, mas quando o outono começou e as temperaturas se tornaram mais baixas, Harry e eu já estávamos tão habituados a passar a noite juntos que eu tinha certeza que ele também estranhava quando eu não estava do lado.


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Notas finais do capítulo

O que a gente aprende com esse capítulo, é que quando você quer ver a pessoa com mais frequência, até um filme serve como desculpa. Não precisa agradecer pela dica de romance hahaha
Espero que vocês tenham gostado desse capítulo, não deixem de me contar nos comentários.
Beijos e nos vemos em duas semanas.