Um barco viking enorme estava estacionado em frente ao prédio da empresa. Antes que me pergunte, sim, ele tinha rodas, como se fosse um carro alegórico. Não era um barco normal, ok? Até porque nem perto do mar nós estávamos.

De qualquer forma, uma aglomeração de gente estava ao redor, tanto pessoas do meu trabalho quanto curiosos da rua, todos querendo saber o motivo de tudo aquilo.

O que mais me surpreendeu, no entanto, foi ver meu vizinho na frente dos meus colegas, bradando em voz alta: "Eu quero falar com o seu líder!". Uma frase bem alienígena, se me permite dizer.

Encontrei minha colega terminando uma ligação e perguntei: — O que significa tudo isso?

Ela me explicou: — Olha eu não sei direito, mas parece que esses malucos aí tão com raiva porque a empresa comprou umas terras que supostamente eram deles.

— E eles vieram aqui reclamar?

— Como pode ver.

— Pelos céus, eu não acredito nisso. Já não bastava os MST, agora a gente tem guerreiros medievais também.

— Alguém tem que avisar pro chefe fazer investimentos em lugares mais seguros.

— É.

— O que a gente vai fazer?

— Chamar a polícia, né.

— Eu chamei, eles riram da minha cara. Disseram que não são pagos pra bater em herói de fantasia.

— Ai ai. Eu tenho uma ideia. Mas é muito arriscado.

— O que?

— Eu posso.... tentar falar com ele. O líder.

— E você conhece ele?

— Ele.... digamos que.... é meu vizinho.

— Você precisa arranjar um lugar melhor.

— Eu sei, eu sei...

Saindo de perto da colega, eu me dirigi lentamente para o meu vizinho.  Ele me reconheceu logo: — Vizinho!

— O que você tá fazendo aqui? — eu perguntei, em voz baixa.

— Reclamando aquilo que é meu, que é nosso! — ele tirou uma espada da bainha, levando ela pro alto. — Nós, vikings, não vamos deixar que vença a injustiça!

— Mas o que foi que aconteceu?

— Esses cães sarnentos roubaram nossas terras. — a afirmação dele foi seguida de grunhidos de aprovação de seus colegas — Expulsaram nossas famílias. Massacraram nossa cultura! E o que temos agora? Nada! Mas isso não vai ficar assim!

— Mas, amigo, você já não vive em um apartamento? Vai ficar brigando por causa de um pedaço de terra?

— Você não entende, não é, vizinho? — ele me olhou com seriedade e eu senti que eu ia morrer ali mesmo. — Você está com eles, também?

Olhei para minha colega, pedindo socorro. Ela mandou eu me virar.

— É-é. Eu trabalho aqui. — confessei.

— Leve-me ao seu líder.

— Olha, cara...

O maluco me pegou pelo pescoço como se eu não pesasse nada, e gritou: — LEVE-ME AO SEU LÍDER!

— Tá bom, tá bom, tá bom, tá bom! Pelo amor de Deus, não me mata não!

Ele me pôs no chão e eu apressadamente me dirigi até dentro do prédio. Dava pra ouvir o murmúrio curioso das pessoas ao redor, ainda mais considerando que eu estava acompanhado de um... doido.