Além do véu da morte escrita por Helena Melbourne


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Acho que o Snape é um personagem que você pode amar e odiar ao mesmo tempo, eu, particularmente, me identifico com ele. Todos nós já tivemos um momento em que gostaríamos de ter falado alguma coisa, ou ter dito algo diferente e não tem mais volta...Mesmo assim, você repassa mil vezes na sua cabeça como poderia ter sido. Este é o momento do Snape...
Obs: os trechos retirados do livro estão sublinhados.
Obs 2: escrevi ouvindo When the party's over da Billie Eilish e Need da Hana Pestle.



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— ...me chamar de Sangue-ruim? Mas você chama de Sangue-ruim todos que nasceram como eu, Severo. Por que eu seria diferente? – essa pergunta o atormentava dia e noite, quando ia dormir, quando acordava... É impressionante como um momento singular pode definir todo o curso de uma vida, e este era o dele, mas o deixou escapar. Severo nunca tinha invejado os malditos grifinórios, sempre se orgulhara de ser um sonserino, até aquele momento... Desejava ter tido a coragem característica da casa vermelha.

Ele se debateu, prestes a responder, mas, com um olhar de desprezo, Lílian lhe deu as costas e caminhou para o buraco do retrato... Severo viu seus cabelos flamejantes e ondulados nas pontas balançarem às costas como um sinal. Sempre fora encantado por eles. Enquanto os olhos verdes o hipnotizavam, seus cabelos vermelhos produziam um efeito adrenérgico em suas veias da mesma forma que as flanela utilizada nas touradas trouxas estimulavam os touros, do mesmo modo como uma rosa vistosa chamava seus polinizadores, semelhante ao efeito de mariposas atraídas pelo fogo... Era um desejo suicida, impossível, controverso, hipócrita, contraditório e idiota, mas nem por isso sua mão foi impedida de segurar o cotovelo alvo, numa tentativa desesperada de mudar o destino tão certo de uma paixão fadada ao fracasso.

Lilian Evans estancou no lugar e seu corpo foi percorrido por um arrepio involuntário ao sentir o toque suave dos dedos longos do garoto trilharem o percurso de seu braço até seus próprios dedos e entrelaçá-los. Sem ao menos perceber, o clima de hostilidade se dissolveu aos poucos, carregando-se de um tipo de tensão diferente, que não era necessariamente ruim a nenhum dos dois. Severo nunca havia lhe encostado desta forma antes, os poucos toques que compartilharam pareciam tão castos e puros; este, no entanto, proporcionava uma corrente elétrica por todo seu corpo e alojava-se de maneira mais intensa no baixo ventre. Ela apertou com mais força a mão esquerda na maçaneta que surgiu no retrato, enquanto a outra era acariciada por Severo, suas pernas perdiam a força ao passo que ele se aproximava e colava seus corpos. O rosto magro encontrou a curvatura de seu pescoço e os lábios finos pousaram levemente naquele ponto sensível.

— Você sabe por que, Lily, sempre soube. Você sempre teve esse poder sobre mim, desde que sua voz se dignou a pronunciar meu nome infeliz. – ele sussurrou em voz rouca, como o mais profano dos segredos. O coração de ambos batia descompassado e a garota prendeu a respiração à partir da revelação. – E eu sou um desgraçado, Evans, sou mau, faço coisas ruins a quem merece, sou um seguidor de Você-Sabe-Quem, acredito em sua ideologia... Mas uma palavra sua e eu mudarei para sempre, porque meu coração te pertence mais do que a Voldemort. – um arrepio se seguiu a um beijo luxurioso depositado no pescoço e o ar preso se soltou em um suspiro prazeroso. A mente da garota era enuviada pelas novas sensações, abafando o alerta de sua consciência de que aquilo era profundamente errado. – Você é uma Sangue-ruim, Lilian, a diferença é que é minha Sangue-ruim. A diferença é que eu a amo tão profundamente quanto odeio o seu sangue. – Severo não sabia de onde lhe surgira tamanho ousadia para proferir aquelas palavras, entretanto, a proximidade ao corpo frágil, o aroma de maçãs frescas de seus cabelos, seu calor e sua pele sedosa debaixo de seus dedos lhe instigavam a continuar falando, ademais o tremor da estrutura da ruiva lhe proporcionava uma nova confiança. – A diferença é que eu a desejo ardentemente. – outro beijo pontuando sua frase. – ...Uma palavra sua, Lily e eu me rendo. – Um silêncio se seguiu à declaração, preenchido apenas pelos estalos dos lábios do rapaz contra a pele arrepiada, ele sorria ao notar o efeito produzido. Inspirou profundamente o perfume doce feminino, deleitando-se em cada nova investida que, até então, apenas tinha sonhado durante todos esses anos. Os dedos levemente ásperos produziam um carinho lânguido pela extensão do braço até as mãos delicadas.

— Severo... – Lílian sussurrou como um gemido baixinho. Lentamente, ela se virou e ele pôde ver seus olhos verdes tão voluptuosos quanto sabia que os seus deveriam estar. Quanto ele daria para tê-los assim somente uma vez voltados a ele, ao invés de para o Potter... No entanto, ele nunca os teria novamente, nem com lascívia como nesta fantasia que o atormentava de tempos em tempos, nem com o pesar e decepção daquela última noite que se falaram ou simplesmente com ternura como quando eram crianças. Ele jamais veria novamente os olhos verdes produzirem a luz incandescente em seu coração, quase devorado pela escuridão. Ele a deixou entrar pelo retrato de sua casa comunal sem explicar o porquê.

Agora, os vermes devoravam as orbes esverdeadas, o sorriso tímido, as curvas belas, as mãos aveludadas, os lábios rosados e o coração que nunca lhe pertencera. Ela voltaria ao pó da terra, indigna de tê-la, ao lado do Potter. Ele invejou o Potter no dia em que ela finalmente aceitou sair com ele, no dia em que lhe roubou o primeiro beijo, no dia em que se casaram... No entanto, lhe invejava ainda mais na morte por não estar condenado a viver uma existência sem ela. Se o perguntassem, ele trocaria de lugar com James Potter, sem pestanejar, pela simples oportunidade de apodrecer do lado da mulher amada. Agora, ele estava sozinho com suas palavras não-ditas e seus sonhos e fantasias a lhe atormentarem, ansiando pelo dia em que pudesse ser liberado de sua promessa de cuidar do garoto e ser agraciado pela morte merecida.

Ele nunca saberia o que ocorreria se tivesse dito a Lilian o monólogo que passava e repassava tantas vezes em sua mente. Porém, sabia que onde quer que estivesse seu lírio, parte de sua luz perfurava o véu da morte e lhe dava força e coragem para honrar sua descendência. E faria isso por ela, jamais pelo garoto, sempre por Lilian.

 

 


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou confuso, coloquei essa fantasia em itálico para ficar claro quando ela acabava, mas avisem se ficou confuso.
É isso aí... Nunca escrevi uma one shot, mas espero que tenham gostado e que eu tenha conseguido captar a alma atormentada do Snape, fundada na minha própria parte amargada da alma. Me perdoem algum erro, escrevi agora e já postei após uma pequena revisada.
Por favorzinhooo, comentem.



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