Sectumsempra escrita por nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A fanfic pertence ao projeto Fevereiro Drastoria (@drastoriafever) do Twitter.



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— E isso funciona mesmo? Ela tirou o vínculo?

Astoria não estava interessada na conversa — ao contrário de Pansy, que estava quase grudando o seu rosto com o de Tracey —, mas como tinham invadido o seu dormitório, não teve outra escolha além de escutar as fofocas que as amigas de sua irmã contavam.

— Funciona. Eles estão totalmente livres — Tracey assentiu, solene.

— Mas como? Dizem que quem tentar desfazer o vínculo, morre.

Não era difícil entender o porquê que Pansy estava tão interessada no assunto.

Ela não era a alma gêmea de Draco Malfoy, o garoto por quem ela tinha sentimentos desde sempre. Estando grudada com ele o tempo todo, não tinha sido difícil descobrir. Tudo tinha acontecido no dia em que Malfoy resolveu provocar um hipogrifo em uma aula de Trato das Criaturas Mágicas. Se eles fossem, ela teria saído com um arranhão feio no braço, mas não saiu, embora tenha fingido que saiu.

— Não, isso é história para que as pessoas não desvinculem — Tracey disse tão confiante que Astoria quase acreditou.

Mas Tracey Davis era uma excelente mentirosa. Começando pelo fato de ser uma nascida trouxa e em seis anos de Hogwarts nem uma única alma viva ter desconfiado.

— Eu escutei de bruxos na Travessa do Tranco, pensei em ir até lá, mas não poderia sozinha — Pansy pensou em voz alta.

— Mas as duas pessoas precisam concordar para o vínculo ser desfeito — Daphne entrou na conversa.

Parkinson bufou e ignorou a sua observação, voltando-se novamente para Tracey.

— Vai mesmo arriscar? Ele pode morrer — Daphne insistiu, antes que ela pudesse voltar a perguntar.

— Ou eu posso descobrir quem é — disse Pansy, desafiante — Se tem um vínculo e é possível desfazer, é possível rastrear.

— Puxa, você é tão inteligente! Como o resto do mundo não pensou nisso antes? — Astoria não conseguiu segurar a própria língua.

Recebeu olhares de desprezo, mas não encolheu-se, apenas exibiu um sorriso debochado por cima do seu livro.

Ela amaria descobrir quem era a alma gêmea de Parkinson. Ela já sabia? Ou nem tinha se dado ao trabalho de procurar, tão focada estava em se tornar uma Malfoy?

— E quanto a você? — perguntou Tracey em um tom neutro e cauteloso, que tornava incapaz de identificar se estava sendo amistosa ou hostil — Já sabe quem é a sua alma gêmea?

— Como se ela tivesse uma — Daphne cortou antes que pudesse responder.

Desviou o olhar, engolindo em seco. Mostrou uma face hesitante e frágil, que com certeza fez com que se sentissem satisfeitas por conseguirem atingi-la, e assim encerrou o assunto.

Sim, ela sabia.

Isso não significava que ela faria algo a respeito.

O mundo estava prestes a desabar em uma guerra sangrenta, não queria escolher um lado e ele claramente já tinha um lado pelo qual lutar. Apenas uma pessoa muito estúpida não perceberia isso. A conversa no Expresso com Pansy sobre não retornar a Hogwarts no ano seguinte, os seus desaparecimentos constantes... Não duvidaria se ele já estivesse envolvido.

De uma forma ou de outra, ela sairia lesionada, já que qualquer ferimento causado nele refletiria nela, e o inverso também.

Mas estava tudo bem. Não era como se ela tivesse muito o que perder, como se ela tivesse uma vida planejada para depois de Hogwarts. Ela não tinha a menor ideia do que fazer, e se morresse naquela guerra, não faria a menor diferença.

Então ela poderia simplesmente escolher o lado possivelmente perdedor, apenas para demonstrar uma resistência. O problema era que ninguém confiaria em uma sonserina, não importasse o quão ruim era a sua relação com a sua família.

Antes que considerasse a ideia de escapulir pelos corredores, Tracey comentou:

— Já está na hora do jantar. É melhor irmos.

Com sinais de concordância, as três caminharam em direção à porta, sem dedicar um único olhar a Astoria, como se não estivesse ali.

Observou-as desaparecer do seu campo de visão pela porta deixada aberta. Suspirou, levantando-se para fechar a porta. Não estava sentindo muita fome, não era raro que pulasse algumas refeições, embora Madame Pomfrey tivesse lhe dado um sermão certa vez por causa disso — duvidava que tivesse sido a pedido do professor Snape, por mais que ele se preocupasse com seus alunos, não se intrometia tanto em seus assuntos particulares.

Estava tudo bem, e de repente foi como se milhares de facas tivessem se enfiado por sua pele, em todos os lugares. Deixou escapar um grito agonizante, enquanto caía de joelhos no chão. Observou com horror o sangue encharcar o seu uniforme e a sua mão pressionada contra sua barriga. Em alguns segundos, uma poça de sangue se formou sob ela e sentiu-se tonta. Pôs a sua mão contra a mesa de cabeceira, tentando se levantar e lutar contra isso.

Agnes Monkleigh, uma aluna do sétimo ano, abriu a porta. Geralmente, sonserinos não reagiriam ao escutar um grito em um quarto, mas supunha que a guerra tinha deixado todos um pouco mais atentos.

— Mildred, chame o professor Snape, diga que é uma emergência! — ela ajudou a quintanista a se erguer.

No que Malfoy tinha se metido daquela vez? Ele não estava na escola? Ou tinha arrumado uma maneira de sair, e por isso passava tanto tempo desaparecido? Ou talvez os aurores tivessem flagrado-o cometendo algum crime e o tivessem impedido?

Sentiu a sua visão ficar borrada e então o fluxo do sangue foi aos poucos diminuindo, mas o sangue caído no chão não retornou — não seria nada higiênico, de qualquer forma. Pôde sentir os cortes se fechando antes de perder a consciência.

Por que aquelas coisas sempre aconteciam com ela e com mais ninguém?

Foi o que se perguntou quando abriu os olhos e viu o teto da Ala Hospitalar. As únicas vezes que frequentava, à procura de Madame Pomfrey, era para procurar uma poção para enxaqueca, cólica ou até mesmo quando a escola fazia a campanha de distribuição de poções apimentadas para impedir as ondas de resfriado durante os meses frios.

Ficou imóvel, sem dar sinais de que estava acordada, apenas tentando escutar ao redor. Pela visão que tinha da janela, não havia claridade externa, o que indicava que ainda era noite.

Escutou apenas uma respiração agitada algumas macas de distância, mas a cortina impedia a sua visão, o que era bom. Tinha uma pequena ideia de quem estava lá.

Puxou a barra da sua blusa, apenas para comprovar que todos os cortes tinham se fechado, embora tivessem deixado para trás cicatrizes, que estavam cobertas por alguma pomada que Madame Pomfrey tinha passado.

Que não tenham visto, ela torcia em silêncio.

Foram poucos incidentes como o arranhão do hipogrifo, mas em todos ela tinha sido discreta, e dessa forma ninguém nunca tinha descoberto. Mas seria difícil não desconfiarem quando tanto ela quanto Malfoy foram parar na enfermaria pela mesma razão.

Empurrou suas pernas para fora da maca, agradecendo pelo fato de não terem empurrado-a para dentro de alguma roupa hospitalar, embora seu uniforme estivesse manchado de sangue. A luz do escritório estava apagada, indicando que Madame Pomfrey estava dormindo.

Nunca tinha visto um aluno escapando da Ala Hospitalar durante a noite sem receber alta, mas provavelmente era porque as pessoas estavam ruins demais para escapar ou porque não queriam arriscar serem pegas pelo Filch ou pelos professores. Astoria preferia correr esse risco.

Moveu-se com cautela até as grandes portas que guardavam o cômodo. Girou a maçaneta lentamente, se perguntando tardiamente se Madame Pomfrey punha algum tipo de feitiço para identificar quando recebia visitas indesejadas durante a noite.

Algum som diferente no ambiente a fez olhar para trás, o que foi um erro. Pôde perceber, mesmo sob a luz tênue, que a cortina da maca de Malfoy estava corrida, e ele não estava dormindo.

Esgueirou-se pela porta sem dizer uma palavra.

A sua passagem pela Ala Hospitalar passou despercebida — o que foi quase que um milagre, considerando o quão rápidos os boatos corriam pelos corredores. Em compensação, todos estavam comentando sobre como Harry Potter quase matou Draco Malfoy na noite anterior. Era difícil de acreditar que o menino que sobreviveu tivesse lançado um feitiço tão maligno, mesmo que eles não se dessem bem, mas não demorou muito tempo para perceber que era verdade. Potter estava de detenção com Snape pelo resto do ano, e estava proibido de jogar a final de quadribol também. Isso não podia ser coincidência.

Não dirigiu uma única palavra a Malfoy depois da situação estranha e silenciosa na enfermaria, e ele também não fez qualquer questão de que isso acontecesse. Fosse o que estivesse fazendo, estava ocupado o suficiente para que nada nem ninguém ultrapassasse o seu caminho — o que, para Astoria, estava bom.

O resto do ano passou de uma maneira nublada para ela, quando tudo caiu na mesmice de sempre. Se preocupar em passar nas provas de final de ano, pensar em como seria suportar mais dois meses de férias em casa com sua meia-irmã e madrasta, pensar em como seria o seu futuro dali em diante, mesmo que faltasse dois anos para concluir Hogwarts. Afinal, que carreira ela seguiria? O seu tempo de decidir tinha se esgotado.

O professor Snape não tinha muita paciência para ser orientador.

— Não preciso dizer o porquê está aqui, certo? — ele perguntou com sua impaciência clássica, assim que ela se sentou na cadeira à frente da sua.

— Não, senhor.

— Ótimo. Em quais carreiras têm pensado seguir?

Sentiu pânico por um segundo, pensando que o professor se estressaria muito se perdesse o seu tempo com uma estudante que não tinha ideia do que fazer, então resolveu dizer a primeira coisa que passou pela sua cabeça, mantendo uma máscara de calmaria em seu rosto.

— Estive pensando, senhor, em seguir carreira no Ministério. Cooperação Internacional em Magia.

Observou o professor puxar um panfleto dentre os vários em cima de sua mesa.

— Para isso, vai precisar de NOMs em Feitiços, Poções, Transfiguração, História da Magia, Defesa Contra as Artes das Trevas e Herbologia. Eu me recuso a aceitar estudantes que obtenham menos de “Ótimo”, estamos entendidos?

— Sim, senhor.

Ela não se atreveu a comentar o fato de que os professores de DCAT nunca permaneciam mais de um ano no cargo.

— Os demais professores se contentam com um simples “Excede as Expectativas” até onde estou informado, mas é claro que a senhorita vai obter um “Ótimo” em todos os NOMs, não espero menos de meus alunos.

Assentiu com a cabeça, mantendo-se séria.

— Perguntas?

— Não, senhor.

— Então está dispensada, senhorita Greengrass.

Pegou a sua mochila do chão e caminhou em direção à porta.

A orientação talvez servisse para quem sabia o que queria fazer, mas ela não enxergava como ler um panfleto, que poderia ser distribuído pelos salões comunais, era uma orientação. Seria muito melhor se pudessem ter contato com profissionais das diferentes áreas, alguém que entendesse do assunto e pudesse explicar melhor as suas dúvidas.

A monotonia não durou por muito tempo. Pouco antes do final do ano letivo, quando as provas já tinham passado, o castelo foi invadido por Comensais da Morte, e Dumbledore foi morto. Não era o tipo de coisa que acontecia todos os dias.

As coisas ficaram um pouco mais complicadas depois disso.

— Bem-vindos à sua primeira aula de Artes das Trevas.

Assim que Astoria entrou na sala, estranhou o fato de que os alunos do primeiro ano estavam lá. As carteiras estavam afastadas, indicando que seria uma aula prática. Sentiu um nó no estômago, observando os seus colegas ao redor, que estavam impassíveis, como sempre.

— Hoje, vocês vão aprender como usar a Maldição Cruciatus.

Um silêncio fúnebre foi a resposta que Amycus recebeu.

Os seus olhos se encontraram com o de uma primeiranista da Lufa Lufa, e afastou-os quase imediatamente. A garota estava apavorada, e quem não ficaria? Ela tinha apenas 11 anos de idade, não deveria estar passando por aquele tipo de situação. E muito menos eles, com 16 anos, deveriam estar sendo ensinados a usar uma maldição imperdoável.

— Senhorita Greengrass.

Virou lentamente o seu rosto, encontrando-se com o professor.

Pôde sentir alguns olhares virando-se discretamente em sua direção como meros espectadores da situação. O olhar de Amycus era malicioso, como se ele estivesse esperando para fazê-la passar por aquilo há algum tempo, embora não entendesse o porquê. Não é como se ela tivesse causado problemas antes, tentava se manter fora da vista das pessoas.

— Escolha algum dos alunos — ele fez um amplo gesto para a fileira de primeiranistas.

Ficou parada por tanto tempo que o professor se impacientou, e puxou-a pelo braço para o centro da sala com brusquidão.

— Escolha — ele disse quase em sua orelha.

Ela não podia fazer isso.

Mesmo que fingisse, que escolhesse algum aluno e apontasse a varinha com o feitiço na ponta da língua, não conseguiria. O feitiço não funcionava quando a pessoa não queria que funcionasse, e ela não queria, então poderia ficar horas apontando a varinha e dizendo aquela única palavra. Mas e se funcionasse por acidente?

Sentiu uma ardência na região da bochecha e soltou uma exclamação de surpresa, sem conseguir se conter. Tocou quase imediatamente a região, sentindo a sua mão molhar-se com sangue. Amycus segurava uma afiada adaga em sua mão.

— Isso é o que acontece quando não obedecem ordens — ele se dirigiu ao restante da classe com bastante naturalidade — Volte para a fila, senhorita Greengrass.

Um limpo corte na bochecha era como os irmãos Carrow mostravam a toda a escola quais eram os alunos desobedientes. Eles poderiam apenas usar a maldição Cruciatus, mas era mais prazeroso ver os danos físicos, permitir que um corte começasse a cicatrizar, antes que outro surgisse. Feitiços não causavam esse tipo de efeito visível a longo prazo, embora eles não se contivessem em usá-los também.

— Precisa parar com isso.

Era a primeira vez que Malfoy se dirigia a ela, então precisou de alguns segundos para entender o que estava acontecendo.

— Parar com o quê? — perguntou, sem desviar o olhar da estante de livros à sua frente.

— De desafiá-los.

Conteve a vontade de revirar os olhos.

Ele devia estar muito preocupado com o seu rostinho para ter ido atrás dela.

— Eu não estou desafiando-os. Me desculpe se você se sente confortável em usar Cruciatus nos outros, eu não me sinto.

Puxou a lombada do grosso livro à sua frente e abriu-o, usando apenas o seu antebraço como apoio.

— Vai acabar matando nós dois com essa atitude.

Fechou o livro com força, sem ter absorvido uma única palavra.

— Me desculpe, mas até onde eu me lembro, eu quase morri no último ano por sua causa — elevou ligeiramente a sua voz, não o suficiente para que Madame Pince surgisse pelo corredor — Então, se pensa que um corte na bochecha se compara a uma hemorragia, tem sérios problemas.

Antes que pudesse se afastar, ele puxou-a pelo braço.

— Essa situação está completamente fora de controle — disse Malfoy com um tom de voz baixo — Não há nenhuma saída programada a Hogsmeade esse ano, os Comensais não querem se arriscar a nos deixar sem supervisão, no entanto... tem o recesso de natal.

— Do que você está falando?

— Vamos tentar desfazer isso.

Não precisou olhar em seu rosto para saber o que estava pensando.

— Certo — disse com indiferença.

Apesar de ser um período de tempo inferior a um semestre até a chegada de dezembro, passou como uma eternidade para Astoria. Geralmente, ela passaria o recesso natalino em Hogwarts, ou iria para casa apenas porque seu pai pediu a ela. Naquele ano, ele nem precisou pedir, ela simplesmente não assinou o seu nome para ficar no castelo no final do ano. Nenhum aluno assinou, pela primeira vez na história da escola.

Esperou todos os alunos saírem do trem, e sua família sair da plataforma para poder descer. Malfoy estava esperando-a, recostado contra uma pilastra de tijolos.

— Vamos? — ele estendeu a mão para ela.

Queria ignorar a mão dele, mas ajeitou a alça da mochila, que escapava de seus ombros, e segurou-a, sentindo a sensação familiar da aparatação logo em seguida.

Nenhum sonserino se preocupava com o feitiço rastreador do Ministério — que era imposto sobre todos os alunos no momento em que cruzavam as portas de entrada de Hogwarts —, pois sabiam que não funcionava direito em lugares mágicos, como a Plataforma 9 ¾ ou o Beco Diagonal. Era impossível determinar quem tinha usado magia, já que havia magia por todos os lados.

Malfoy não subiu o capuz preto para esconder o seu rosto, como ela tinha feito. Ignoraram os poucos transeuntes, caminhando em direção à Travessa do Tranco. Astoria nunca tinha ido até aquela área, mas ele parecia conhecer bastante bem a região, o que não deveria lhe estranhar.

— Aqui — foi apenas o que disse quando a guiou para uma das lojas estreitas.

Cruzou os braços, sem a mínima vontade de olhar ao redor, enquanto Malfoy aproximava-se e sussurrava com uma mulher.

— Você concorda? — a mulher dirigiu-se a ela.

— Ela concorda — Malfoy respondeu por ela.

— Estou falando com ela.

Deixou escapar um sorriso por alguns segundos, antes de voltar a ficar séria.

— Concordo.

— É impossível desfazer um vínculo — disse a mais velha.

— Mas você disse... — Malfoy começou.

— Eu posso fazer uma troca — ela o interrompeu — Ligar vocês dois a outras pessoas, mas a ligação não simplesmente se desfaz.

— Liga ele com a Pansy Parkinson — disse Astoria — Ela vai amar isso.

— Espera, isso vai fazer com que ela se ligue à alma gêmea da Pansy? — o loiro perguntou.

— Isso — respondeu a mulher.

— De jeito nenhum.

Astoria levantou uma sobrancelha.

— Perdão?

— Eu sei quem é a alma gêmea da Pansy e acredite, você não vai querer isso — Malfoy disse.

— É Crabbe ou Goyle?

— É o Blaise.

— E por que eu não ia querer isso? O Blaise é charmoso.

— É, você também vai ser bem charmosa quando tiver dois chifres na sua testa.

— Sim, deve ser tão terrível quanto ser alma gêmea de um Comensal da Morte.

Ele ficou mudo por alguns segundos com a sua resposta. Observou-o fechar a boca entreaberta e caminhar em direção à porta da loja.

— Sinto não poder ajudar — disse a mulher com sinceridade — Só posso trocar a ligação com outras pessoas, e não posso fazer isso se ele não concordar.

Não sabia o porquê ainda se dava ao trabalho.

Qual era o problema se fosse alma gêmea de Blaise Zabini ou quem quer que fosse? Não era problema dele!

Olhou por cima do ombro e viu pela janela que Malfoy estava esperando-a do lado de fora. Apesar de ter sido um gesto que não esperava vindo dele, virou-se para a lojista.

— Posso usar a sua lareira?

Não voltou a ver ou falar com Malfoy pelo restante do feriado.

O seu surgimento na sala de estar gerou desconfiança de seus parentes, já que ela só podia ter viajado de trem, e não tinha se aproximado deles enquanto estavam na plataforma, mas ninguém teceu comentários sobre isso.

Considerando a desistência repentina e inexplicável de Malfoy, decidiu não se preocupar mais com o vínculo.

Os Carrow estavam tão ocupados lidando com alguns alunos da intitulada  Armada de Dumbledore que quase pareciam ter se esquecido dela, exceto por alguns cortes e maldições ocasionais.

Aquele parecia que se tornaria o mais novo "normal" em sua rotina, mas então os meses se passaram, e maio chegou, trazendo o fim da guerra.

Tinham sobrevivido.

Apesar de não ter nenhum vínculo — além do feitiço da alma gêmea — com a família Malfoy, sentiu-se obrigada a comparecer quando ocorreu o julgamento dos crimes de guerra. Até aquele momento, todos os Comensais envolvidos tinham sido enviados a Azkaban, e por mais que Malfoy fosse detestável na maior parte do tempo, não queria que isso acontecesse com ele, mesmo que a prisão não fosse mais guardada pelos dementadores.

Foi um julgamento relativamente rápido, já que Harry Potter depôs a favor da família. Apesar da senhora Malfoy e seu filho terem sido inocentados, o senhor Malfoy foi condenado a Azkaban, embora tivesse sido uma pena relativamente leve comparada aos outros prisioneiros.

Pensou que a sua presença passaria despercebida, mas acabaram compartilhando o mesmo elevador na hora da saída.

Tentou se convencer de que os olhares que sentia eram apenas coisa da sua cabeça, e que o fato do seu coração se acelerar com a ideia era porque a ligação estava confundindo-a. Porque era completamente ilógico desenvolver sentimentos reais por uma pessoa com quem quase não trocou palavras, por mais que tivesse prestado muito mais atenção do que deveria por Draco Malfoy nos últimos meses desde o acontecido na Travessa.

— Senhorita Greengrass, estou correta?

Apesar de Daphne não estar ali, demorou muito tempo em perceber que se dirigiam a ela.

— Meus pêsames pelo seu pai, era um bom homem — disse a senhora Malfoy.

— Obrigada. Sinto muito por seu marido — respondeu apenas por educação, não sentia realmente.

Narcissa assentiu.

Lembrava-se de quando era criança e admirava o quão elegante ela era, independente das circunstâncias. O seu marido tinha acabado de ser sentenciado, sua irmã tinha sido assassinada havia pouco tempo e ela estava inatingível, era quase como se nada pudesse abalar aquela mulher. Ela voltaria para casa naquela tarde e tudo continuaria como sempre esteve.

— Cuidado onde pisa, não queremos que se machuque — a senhora Malfoy comentou, como quem não quer nada, assim que chegaram ao térreo, antes de sair do elevador.

Não era uma ameaça — nem faria sentido se fosse —, era uma observação que dizia claramente "eu sei quem você é", ou mais especificamente "sei que você é a alma gêmea do meu filho".

Antes que Draco pudesse sair, por um impulso que não compreendia, ela segurou a sua mão.

— Sinto muito pelo seu pai — soltou a sua mão e precipitou-se para fora do elevador.

Dessa vez tinha sido sincera, mas sentia mais por ele do que pelo senhor Malfoy.

Sentiu uma mão segurar o seu braço apenas alguns momentos depois, ainda no hall do Ministério.

— Eu também sinto muito pelo seu pai — disse Draco, sem soltar o seu braço — Quer conversar sobre isso?

Conversar sobre sentimentos não era algo típico da criação sangue pura, mas arrumar uma desculpa para sair e conversar também não era algo que sabiam fazer muito bem.

— Quero — respondeu, percebendo que não se importava de conversar sobre isso se fosse com ele.

Saíram de lá e foram para um restaurante, que ficava por perto e era frequentado com frequência pelos funcionários do Ministério. Conversaram sobre as suas famílias, sobre como foram os últimos meses depois da Batalha, sobre como imaginavam que seria o futuro, conversaram sobre tudo, como nunca tinham feito antes.

Astoria não queria ir embora de lá, mas em um certo momento precisou ir, perguntando-se se voltariam a se ver, agora que ele tinha terminado os estudos e seguiria um caminho diferente.

Mas quando duas pessoas são almas gêmeas, não importa quanto tempo demore, elas vão ficar juntas.

Não era tão ruim assim ser a alma gêmea de Draco Malfoy.


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