Romione - Say You Won't Let Go escrita por overexposedxx


Capítulo 1
Capítulo Único - Say You Won't Let Go


Notas iniciais do capítulo

Oie! Aquem quer que esteja lendo isso, espero que você esteja bem e fico feliz por te ter aqui! ♥

Como mencionado na sinopse, essa é uma one-shot inspirada na música "Say You Won't Let Go", do James Arthur - e isso porque ouvindo bastante nos últimos tempos ela, de cara, me lembrou de Romione -, então vocês verão trechos dela no meio da história e recomendo que ouçam em algum momento da leitura.

Essa é a minha primeira one-shot e também a primeira história que publico sobre Romione, então espero que gostem! ♥



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—Confie em mim, você está ótimo, Rony. - Harry disse pelo que poderia ser a centésima vez, dando um tapinha de incentivo no ombro do amigo.

—Depois de todos esses anos você ainda acha mesmo que nós não diríamos, no seu casamento, se essa roupa não estivesse boa? - Gina desafiou, arqueando uma das sobrancelhas enquanto alinhava o terno do irmão outra vez.

—Bem, você eu não sei, mas você — Rony apontou para Harry acusadoramente - já me deixou ir para o baile com aquela roupa ridícula. - e ele puxou uma grande lufada de ar pelo nariz, desviando o olhar para o teto da sala familiar e chacoalhando as mãos levemente ao lado do corpo, como se assim pudesse deixar o nervoso ir embora.

Harry segurou o riso, rolando os olhos, e trocou um olhar com a esposa antes que ela saísse do cômodo, deixando-os sozinhos sob o pretexto de que iria ver se Hermione precisava de ajuda com qualquer coisa.

—Isso é tão terrível. Ela está a só alguns andares daqui, eu nem posso vê-la, e ainda há a chance de ela simplesmente não querer aparecer, não é? - ele perguntou nervosamente para o amigo, franzindo o cenho numa expressão de sofrimento.

—Rony, deixe de ser idiota. - Harry falou com um tom de obviedade, enfiando as mãos nos bolsos do terno - É claro que ela vai aparecer, vocês são apaixonados um pelo outro sabe-se Deus desde quando e ela aceitou seu pedido de casamento, não foi? Não há com o que se preocupar, você só está nervoso. - e assegurou, afagando as costas do amigo com um sorriso leve.

—É, bem, você tem razão. Provavelmente. - o ruivo inclinou a cabeça em leve concordância, como se ponderasse e, afrouxando um pouco a gravata, reclamou - Eu só odeio essa sensação de nervoso, sabe? Você não parecia tanto assim quando se casou com Gina.

—Talvez eu não tenha expressado demais, mas estava realmente nervoso, exatamente como você. - ele assegurou, sorrindo com a lembrança.

—É, eu não sei. Acho que na verdade foi por você ter tido um padrinho realmente espetacular. - Rony brincou, ajeitando o paletó e olhando para o alto oportunamente, a sugestão de um sorriso nos lábios.

—Então você deveria estar calmíssimo a essa altura. - Harry devolveu, empurrando-o levemente pelo ombro com um riso que se juntou ao do ruivo, mas que logo cessou, porque Rony voltou a ficar ansioso em silêncio - Sério, não se preocupe, cara. Como você me disse naquela aula de Adivinhação, "você vai sofrer, mas vai ficar feliz por isso", não é?

Ele sugeriu com um tom de riso, mas pousando a mão em conforto ao ombro do amigo, que não pôde evitar um sorriso pela lembrança - que também não demorou a levá-lo a outras memórias do tempo de Hogwarts, e uma especificamente.

Torre da Grifinória - Celebração da Taça de Quadribol 1996, Campeonato Inter-casas

Quatrocentos e cinquenta a cento e quarenta. Era mais do que tudo o que precisavam, e haviam conseguido! Finalmente, a Grifinória não só estava de volta ao páreo, mas definitivamente ao quadro de vitórias de Hogwarts, e Rony tinha certeza, aquele jogo ficaria na história por um bom tempo. Eles haviam conseguido vencer a Corvinal por mais de trezentos pontos, a vantagem de que precisavam para ficar em primeiro lugar, na última partida do ano, o que era aparentemente impossível até minutos atrás.

Bem, agora eles estavam com a Taça e tudo parecia possível e milhares de vezes mais proveitoso do que antes. Ele mesmo havia visto sua irmã e Harry se beijarem de repente e em cheio na sala comunal, à beira do quadro da Mulher Gorda, quando ainda estava com a Taça na mão, e nem havia se importado tanto. Afinal, era Harry, seu melhor amigo, provavelmente o melhor que Gina poderia ter escolhido depois de todos os outros namorados com que ele não suportava vê-la.

Mas, acima de tudo, era um dia muito bom para se desperdiçar discutindo ou preocupando à toa: todo o restante da Grifinória estava reunido em uma incrível festa na sala comunal.

Denis Creevey, um terceiranista que havia sido membro da Armada de Dumbledore no ano anterior, havia ficado feliz em se enfiar por uma passagem que levava à Hogsmeade, com a supervisão de Gina - momentos antes de Harry chegar para saber o resultado do jogo -, e trazer aos grifinórios tantos barris de cerveja amanteigada quanto conseguira - algo que era realmente à lá Fred e Jorge Weasley. Por isso, quase todo estudante acima do quinto ano tinha sua caneca cheia para lá e pra cá, enquanto os mais novos se contentavam com o suco de abóbora e alguns aperitivos que os elfos da cozinha haviam preparado e feito aparecer lá especialmente para a comemoração.

Neville era um dos que estava mais contagiado pelo clima da sala, comentando animadamente sobre os lances que havia assistido, com Simas Finnigan e outros colegas igualmente alegres. Apenas Romilda Vane e Dino Thomas pareciam deslocados àquela comemoração: aborrecidos num canto, ambos estavam largados nas poltronas à frente da lareira com expressões infelizes.

Mas, nada disso importava muito agora. Depois de uma hora inteira, Rony queria mesmo saber aonde é que estava Hermione. Não conseguira falar com ela desde que o jogo acabara, quando a vira sorrindo brilhantemente e dando vivas junto ao aglomerado que cercara o time até o castelo, e havia algo sobre toda aquela alegria que o fazia querer falar com ela, até mesmo abraçá-la e esquecer que ainda estavam fazendo as pazes depois de um longo período estranho - quem sabe até mesmo esquecer que isso fora porque ele não havia suportado saber que ela beijara Vitor Krum há dois anos atrás.

Mas, é claro, ainda que não tivesse se dado tanto privilégio assim, talvez esses pensamentos fossem efeito daquela cerveja amanteigada que não parava de surgir magicamente em sua caneca a cada vez que a esvaziava, e de todo jeito, ele não sabia se aquilo tudo seria demais. Até para aquela milagrosa tarde ensolarada em que as coisas pareciam estar dando tão certo, talvez começar a pensar outra vez em como se sentia sobre Hermione - coisa que já percebera há algum tempo -, agora que finalmente se livrara de Lilá, fosse abusar da sorte. Ele nunca fora bom em lidar com sentimentos, quanto mais em racionalizá-los.

Além disso, Hermione era sua amiga - sua melhor amiga, na verdade -, e embora ele achasse que ela quisesse dizer alguma coisa certas vezes - como quando dissera a ele que o teria convidado para ir com ela à festa de Slughorn, ou quando ouvira dizer que passara todos os dias ao seu lado na enfermaria aquele ano, enquanto estivera desacordado, e tantas outras memórias - não havia como ter certeza. Podia ser tudo coisa de sua cabeça, não é?

Afinal, Hermione era boa demais para ele - isso sim, Rony sabia. Mesmo quando era implicante e obcecada por regras, mesmo quando o aborrecia com sua insistência sobre as coisas que estava certa, ela continuava a ser boa demais. Inteligente, gentil, tão dedicada, definitivamente linda e... Por Merlin, ela era boa demais até mesmo para Vitor Krum - o que dizia bastante coisa, embora ele odiasse a ideia de fazê-lo parâmetro para algo relevante.

Então, Rony se convenceu de que poderia pensar naquilo depois - depois que encontrasse Hermione - e se empertigou entre as pessoas, largando sua caneca e seu espaço ao lado da Taça prateada para procurá-la naquele lugar lotado.

Entrementes, Hermione, que parecera ter esquecido do quanto repudiava a ideia de infringir o regulamento da escola, ainda mais sendo Monitora, estava num canto da sala, perto da escada para o dormitório dos garotos, com sua caneca de cerveja amanteigada novamente até a metade e um grande sorriso no rosto, erguendo os olhos pela multidão vez ou outra na esperança de ver quem estava procurando sem ter que se mover por aquele mar de vermelho e ouro.

Ela estava tão incrivelmente feliz, não só pela incrível conquista da Grifinória, mas por Harry e Gina finalmente terem se acertado, como ela sempre soube que deveria ser, e agora só havia uma coisa que a deixaria completamente feliz: encontrar Rony no meio de tantas pessoas e finalmente poder parabenizá-lo pelo jogo - já que no caminho até ali ele fora arrastado pela multidão antes que ela pudesse chegar perto.

Na realidade, ela queria abraçá-lo de verdade e dizer a ele que estava tão orgulhosa e feliz, que ele jogara tão bem, como ela sabia que iria e era totalmente capaz - ao contrário do que parecera no jogo em que pensara que ele havia tomado a Felix Felicis. A verdade era que, por mais que houvesse se esforçado para odiá-lo e tivessem se afastado tanto nos últimos meses até que ele e Lilá terminassem, aquela fora provavelmente uma das coisas mais difíceis que fizera na vida até então.

Ela gostava tanto de estar perto de Rony, até mesmo quando ele dizia coisas estúpidas, quando era teimoso demais para considerar que estava errado, e terrivelmente orgulhoso também. Ele a fazia rir tanto, céus, até mesmo das coisas erradas, mesmo quando não ria em sua frente para não lhe dar o gosto. A lealdade que havia nele, a coragem que ele não reconhecia, mas que ela podia jurar, vira tantas vezes desde cedo, como quando ele se sacrificara no xadrez-bruxo de McGonagall no primeiro ano, eram algumas das coisas que mais adorava conhecer.

Além disso, mesmo quando não estava ao seu redor, Rony estava em sua cabeça, lá e cá, o tempo todo, e ela não sabia se podia ser mais óbvia do que tentara por tantos anos desde que havia entendido o que sentia, mas queria dizer isso a ele, queria que ele percebesse - como até mesmo Lilá percebera, porque havia terminado com ele apenas por vê-los sozinhos.

Ainda assim, de alguma forma, ainda que tivesse a sensação, a intuição provavelmente, de que Rony se sentia da mesma forma - talvez só um pouco mais confuso, porque ela sabia, ele podia ser realmente péssimo com coisas sutis e exigentes, como os sentimentos eram -, a ideia de que poderia reagir mal à qualquer coisa que dissesse não estava fora de sua cabeça, e ela definitivamente não queria arruinar aquela amizade - não agora que haviam acabado de voltar a se falar.

Essa ideia, no entanto, assim como todas as outras, sumiu no exato momento em que avistara uma figura alta de cabelos ruivos vindo em sua direção. Ela largou a caneca quase vazia na mesma hora, sobre a mesa de canto onde uma criança acabava de largar pequenos doces de embalagens coloridas, e quando encontrou aquele par de olhos azuis sorrindo para ela, o único no mundo, seus lábios se esticaram sem esforço e seu coração palpitou exageradamente na cavidade. Ele inclinou a cabeça, sorrindo de volta e abriu um pouco os braços enquanto andava lentamente: poderia ter sido apenas para gesticular, mas Hermione nunca saberia, porque noutro instante estava correndo e se jogando neles com ânimo.

Rony ainda estava processando a vista tão doce dos olhos castanhos dela, o sorriso brilhante que havia dado em sua direção, a maneira como ela ficava impossivelmente mais linda naquela camiseta vermelha da Grifinória, e realmente tudo sobre o sentimento de finalmente encontrá-la, quando sentiu o impacto do corpo dela contra o seu, enlaçando os braços com força em seu pescoço e erguendo-se para alcançar o rosto em seu ombro.

Ele tinha certeza de que seu coração havia parado e então ricocheteado com tanta força em seu peito, que seu corpo inteiro poderia estar tremendo com as batidas. Mas, não havia abalo suficiente que o tivesse tirado a reação, e na mesma hora o ruivo apertara os braços ao redor das costas da garota, levantando-a do chão sem perceber, da mesma maneira como o sorriso largo surgira em seu rosto.

A risada espontânea de Hermione soou em seu ouvido e se perdeu na falação da sala, mas ele a adorou e repetiu na cabeça tanto quanto conseguiu, fechando os olhos enquanto a apertava mais e depois colocava-a de volta no chão, mesmo sem vontade. E Hermione aproveitou o contato com graça, aspirando o perfume sutil dos cabelos ruivos tão perto - o terceiro item a que cheirava sua poção do amor, que já havia decorado e nunca dissera em voz alta -, mal acreditando naquele pequeno momento e desejando poder continuar sentindo os braços dele ao seu redor, fazendo borboletas voarem em seu estômago quando a tirou do chão de repente.

—Foi um jogo esplêndido, Ron! - ela disse antes que se afastassem, sorrindo largo, e Rony sorriu quietamente, pousando-a de volta no chão.

E quando o fez, à frente dele, houve uma distância pequena, para a qual os dois hesitantemente deram meio passo para trás. Rony esfregando a nuca, mas o sorriso ainda em seu rosto que agora se tornava escarlate, e Hermione corando ardentemente nas bochechas, baixando os olhos só até retomar o que queria dizer.

—Você foi incrível. - ela disse, erguendo os olhos para ele, que segurou um esboço de sorriso no rosto, corando mais, quando Hermione se corrigiu - Todos vocês, é claro, mas você foi... Brilhante.

I met you in the dark
You lit me up
You made me feel as though
I was enough

Ele sorriu, ainda sem graça, mas deixou o sorriso se alongar quando a fitou pelo mais longo momento que pôde e engoliu a seco antes de responder. Como ela conseguia fazer aquilo? Era como se alguém tivesse lhe lançado um Feitiço da Língua Presa, ou feito-o esquecer que podia falar, mas, ao mesmo tempo o fazendo sentir tão... Certo, e subitamente bom. Mais do que achava que era.

—Ah, imagine, eu... - e encolheu os ombros, umedecendo os lábios, as palavras fugindo de sua mente, fazendo uma confusão da qual ele quis se livrar, balançando a cabeça - Ah, obrigado, Mione. Fico feliz que você ache... que você tenha... - ele gaguejou, desconcertado, e Hermione segurou o riso, sorrindo com a cena.

Ele ficava ainda mais bonito daquele jeito, e realmente adorável. Hermione não sabia se estava encarando demais, mas a forma como suas bochechas ficavam muito coradas, sem saber o que dizer: havia uma graciosidade em particular, ela achava. Era quase como se pudesse ver seu coração daquele jeito, sem todo o tom orgulhoso e indelicado que ele podia ter às vezes. Apenas Rony, sensível, mesmo sem o jeito certo de expressar, mas que estava sempre lá.

—Bem, é, obrigado por... Por ter torcido por nós. - ele acenou com a cabeça, reafirmando o que dizia, e Hermione acenou de volta, dando confiança - Acho que deu certo, não é? E agora a Sonserina vai ter que ficar calada por um bom tempo! - ele sorriu mais largo, animadamente, arriscando olhar para os arredores da festa.

Hermione assentiu com a cabeça, rindo com leveza quando se obrigou a tirar os olhos dele e, sentindo-se subitamente um pouco tonta, virou-se para a mesa ao seu lado, de onde agarrou um dos pequenos doces coloridos sem olhar. Ela não comera quase nada enquanto tomava sua cerveja amanteigada antes, então provavelmente seria bom arriscar um pouco de açúcar.

—Com certeza, como... - ela começou a dizer enquanto abria a embalagem com um W familiar de um dos lados, e antes que percebesse, antes que pudesse terminar a frase, mordeu e mastigou pouco menos da metade, quando seu estômago revirou. Dessa vez, não eram as borboletas.

Rony, que a estava olhando até então, milagrosamente sem prestar atenção no doce em suas mãos, viu o rosto dela perder a cor e os olhos castanhos se arregalarem, como se algo a tivesse assustado. Ele franziu o cenho, preocupado, e antes que pudesse olhar ao redor para se perguntar o que era que a havia deixado assim, a garota sumiu de sua vista com uma mão à frente da boca, escada acima ao dormitório dos garotos.

Ele ficou no lugar por um segundo, hesitante e assustado, quando colocou os olhos na embalagem que caíra ao chão, laranja e roxa: Vomitilhas, das Gemialidades Weasley.

Levou menos de um segundo até ele tivesse se colocado a correr escada acima.

Depois das escadas, Rony irrompeu no dormitório bruscamente, correndo os olhos para avistar a porta do banheiro aberta mais adiante, de onde vinha a luz alaranjada do Sol poente que as janelas ainda deixavam entrar. Apressado, ele se adiantou para dentro do cômodo e, ouvindo Hermione tossir, alcançou a primeira cabine das três que haviam ali.

We danced the night away
We drank too much
I held your hair back when
You were throwing up

Antes mesmo de pensar, ele estava se esforçando para unir os cabelos de Hermione numa mão, o mais cuidadosamente que pôde, segurando-os longe do vaso à frente do qual ela estava ajoelhada. Definitivamente, não era uma cena bonita, mas ela já o havia visto vomitando lesmas por muito tempo anos antes e não deveria ter sido muito melhor do que aquilo.

Então, houve um minuto até que Hermione parasse, e ele notou quando ela suspirou, abaixando a tampa do vaso, apertando a descarga na parede, e depois se apoiando de volta sobre a tampa fechada, levando à boca a parte roxa do doce que ainda estava em sua mão - e que curava os efeitos da outra parte.

—Você não precisava ver isso. - ela murmurou, baixando a cabeça sobre o próprio braço, enquanto Rony soltava os cabelos dela de sua mão com tanta cautela quanto conseguiu - Desculpe.

—Ah, corta essa, Mione. - ele dispensou com veemência, franzindo o cenho com resquício de sorriso, quando deu de ombros - Foi justo, depois de você ter me assistido vomitar lesmas a tarde inteira no segundo ano.

Hermione riu, surpresa pela lembrança que ele trouxera, e menos envergonhada do que antes. Talvez ainda fosse a sua cabeça um pouco zonza, mas o comentário certamente havia ajudado.

—Eu deveria ter olhado a embalagem. - ela ergueu as sobrancelhas para si mesma, passando uma mão pela testa que tinha agora um falso aspecto de suor frio. Rony levantou as sobrancelhas como se concordasse, mas não disse nada, esperando que ela se levantasse.

Foi quando ela olhou-o por sobre o ombro com um sorriso leve, os lábios voltando à cor e esticados longamente, enquanto afastava algumas mechas de cabelo para trás da orelha.

—Obrigada, Ron.

Then you smiled over your shoulder
For a minute I was stone cold sober
I pulled you closer to my chest

Rony não teve reação alguma senão sorrir de volta enquanto, de repente, uma sensação fria e engraçada o consumiu por dentro, e ele se sentiu congelado no lugar, ainda que tivesse certeza de que nunca se sentira tão quente na vida - nem sob o sol do verão mais impiedoso à beira do lago naqueles terrenos, nem mesmo sob o calor impensável na cabana de Hagrid quando Norberto estivera lá - até pôr os olhos no sorriso caloroso que ela lhe dava dali. Toda a dúvida sobre sua sanidade, sobre ter bebido demais daquela cerveja, estava longe, como se nunca tivesse existido, porque ele nunca se sentira tão consciente.

E Hermione estava lá, se erguendo do chão com uma tentativa falha de rapidez, quando ele notou e a segurou nos braços sem pensar, adiantando-se diante do que teria sido pior, porque ela deixou-se olhar demais para Rony no processo e errou outro passo.

Ele não tinha certeza do que estava fazendo e havia uma parte sua que ficava mais apreensiva a cada impulso que atendia, mas havia outra, a que dizia a ele para ficar bem ali, para continuar, que parecia tão certa e falava tão alto...

Foi só então que Hermione se deu conta das mãos dele amparando seus cotovelos firmemente, e como estavam quase perto demais. Ele parecia morno, como se seu calor emanasse entre eles reconfortantemente, como quando o abraçara, e ela achava tão acolhedor... E cada vez mais, conforme sua cabeça parecia rodar um pouco, fazendo-a duvidar se eram mesmo só os efeitos das vomitilhas.

E, num impulso da parte de que mais gostava, Rony trouxe Hermione para perto, fechando os braços por suas costas e pousando uma das mãos, depois de uma nova e breve hesitação, em sua cabeça, se embrenhando suavemente em seus cabelos com um afago.

E apesar da surpresa que pareceu tomar o fôlego da garota por instantes e que logo se tornou um enorme agito em seu peito, ela conseguiu apenas descansar a cabeça em seu peito, os braços cruzados, sem querer se mover para não afastá-lo, e um sorriso extenso no rosto novamente corado.

And you asked me to stay over,
I said: I already told you,
I think that you should get some rest

E embora gostasse daquilo, da sensação nova de tê-la tão perto, a forma como ela amolecia sob seus braços e nada mais além do silêncio agradável e o aroma quente dos cabelos dela diante da luz do Sol que ainda espreitava pelas janelas, o som calmo e quase imperceptível da respiração contra seu uniforme, Rony não podia evitar de pensar que talvez estivesse entendendo tudo perigosamente errado. Talvez ela só tivesse exagerado um pouco naquela cerveja amanteigada, como já a havia visto fazer uma vez no ano anterior, em Hogsmeade, e seu apoio soasse confortável agora. Ou talvez fosse só o efeito desorientador das Vomitilhas.

E, pensando bem, era melhor que fosse qualquer uma dessas coisas. Mesmo que isso revirasse seu estômago e trouxesse um gosto muito amargo, era melhor porque ele não podia suportar a ideia de perder aquele laço com Hermione, de maneira alguma - o que decerto aconteceria se ele arriscasse tudo com o que poderia ser uma impressão errada -, e menos ainda a de machucá-la. Já haviam discutido tantas vezes e, pensando bem, ele até mesmo a fizera chorar tantas outras: não queria jamais fazer isso de novo, sobretudo agora que estavam bem.

Mas, Rony sabia que se deixasse aquilo se alongar, se ignorasse o medo que ainda sobrepunha todos os outros sentimentos, as chances de que isso acontecesse, de que estragasse tudo, eram grandes demais.

—Bem, acho que você devia... -o garoto pigarreou, mencionando soltá-la, mas quando o fez, foi interrompido.

—Não pode ficar aqui? - Hermione ergueu o rosto para olhá-lo, unindo as sobrancelhas com o pedido - Só um pouco e então descemos. Minha cabeça ainda está girando um pouco. - ela sorriu levemente e levou uma mão à cabeça, corando um pouco quando se deteve tempo demais no olhar que Rony lhe dava, e segurou num dos braços dele de volta quando sentiu oscilar um passo.

—Está vendo? Já disse que devia descansar. Vamos. - ele se esquivou da pergunta anterior e insistiu, relutando contra a vontade de simplesmente ficar ali, a voz dos pensamentos falando alto demais em sua cabeça, e puxou-a de leve pelo punho da blusa em direção ao dormitório.

Lá, Hermione se sentou hesitantemente à beira da cama de Harry, enquanto Rony parava à porta com as mãos nos bolsos, procurando algo para dizer ao invés de deixar-se observá-la demais outra vez, até que novos gritos de vivas misturados a alguns "Potter!" o fizeram sentir que aquela seria a melhor deixa para voltar à sala comunal - e então ele desceu, depois de explicar-se sem jeito para Hermione, que assentiu com um sorriso breve e disse que os encontraria lá em pouco tempo.

I knew I loved you then
But you'd never know
'Cause I played it cool when I was
Scared of letting go

I know I needed you
But I never showed
But I wanna stay with you until we're grey and old

E apesar da tentativa, nem Harry, nem a novidade dele com sua irmã, e nem toda a animação do mundo foram capazes de afastar o sentimento em seu peito, e de que sua cabeça estava tão terrivelmente consciente agora.

De repente, apesar do medo, era tão fácil sentir que Rony tinha a impressão de que, se quisesse, poderia até dizer em voz alta, conforme aquela espécie temerosa de eletricidade faiscava e dançava em seu peito, tomando sua cabeça e, quanto mais se embrenhava na memória, até seus ossos. Um sentimento tão familiar, tão convidativo e expansivo que soava perigoso, mas como se o conhecesse há tempo demais:

Rony estava apaixonado. Brilhante, mas também assustadoramente, apaixonado por Hermione Granger.

Just say you won't let go
      Just say you won't let go

****

—O que aconteceu com ele? Está com aquela cara de poção do amor. Você deu poção do amor a ele, Harry? - Jorge perguntou, parado à frente do irmão, que agora estava sentado no sofá, com os braços cruzados e uma expressão intrigada.

—É claro que não! Por que eu faria isso? - Harry franziu o cenho, confuso, e se sentou ao lado de Rony, virando-se para olhá-lo de perto - Ele só está... Pensativo. Eu acho...? - e fez uma careta, incerto.

—Talvez tenham sido os Feitiços Patenteados para Devanear. - o irmão continuou a sugerir, olhando-o de mais perto. Rony tinha os olhos perdidos em algum ponto acima de sua cabeça, parecendo vidrado, mas havia um esboço de sorriso em seu rosto. Levou mais alguns instantes de silêncio até que os dois deixassem de analisar o rapaz.

—De toda forma, uma pena, realmente. - Jorge disse num tom de lamento, dando um passo para trás e propositalmente alteando a voz - Hermione vai ter que subir no altar com alguém e, você sabe, Harry, Vítor Krum acabou de chegar. Parece mesmo...

E de repente, como se um estalo tivesse liberado sua consciência de novo, Rony franziu o cenho e piscou muitas vezes, se colocando de pé num salto.

—O que é que você disse? - ele perguntou, sério, e olhando ao redor com as bochechas se tornando vermelhas.

—Aí está, o noivo voltou! Esse truque nunca fica velho. - Jorge brincou, batendo de leve no ombro do irmão e se gabando para Harry, que não pôde evitar de sorrir também, apesar do olhar feio que Rony deu para os dois quando entendeu o que acabara de acontecer.

—Você...! - ele desaprovou Jorge com um olhar acusador e voltou a se afundar no sofá, dessa vez projetando o corpo para a frente com ansiedade - Muito engraçado.

—Vamos, Roniquinho, se anime! É o dia do seu casamento, você deveria estar feliz. - o mais velho tentou animá-lo de novo, apertando-o de leve num abraço lateral.

—Eu estou feliz! - Rony se apressou em dizer, o semblante se tornando um pouco menos tenso conforme enrolou as mãos uma na outra - Estou mesmo, provavelmente o mais feliz que estive em um bom tempo. Exceto pelo dia em que fiz o pedido, é claro. - ele sorriu levemente, quase se deixando levar pela memória, mas retomou a preocupação num suspiro.

—É só que, Hermione é a melhor coisa que já me aconteceu, entendem? - ele admitiu, fitando as próprias mãos e depois os rostos de Jorge e Harry - Então, com toda a expectativa e o que as pessoas dizem, eu acabo me perguntando se vou conseguir ser realmente bom nas coisas que vão vir. Nas coisas que vão ser nossas, juntos, e em que eu não paro de pensar, mas que então fico com medo de... Falhar?

E com isso Rony franziu o cenho, sem ter certeza de como expressar aquela sensação estranha, e houve um silêncio de expectativa entre os três quando, olhando pela janela, ele avistou o irmão mais velho no jardim, recebendo a filha, Victoire, de dois anos, dos braços da esposa, que deu-lhe um beijo entre sorrisos depois. A sensação se agitou em seu peito e ele soube o que queria dizer, por mais bobo que pudesse soar.

—Quero dizer, olhem pro Gui! - ele gesticulou naquela direção, sorrindo sem perceber - Ele é legal com a gente, Fleur está sempre satisfeita com ele, e ele é bom com as crianças, como...

—Ah, maninho, é aí que você está fazendo errado. - Jorge o interrompeu e assumiu um tom explicativo, gesticulando devagar - É o que sempre dissemos: sem comparações com o Gui, a menos que você queira realmente colocar alguém sob perspectiva. Ao invés disso, veja Percy, por exemplo. - ele disse, indicando com a cabeça outra direção na mesma janela, e Rony e Harry se inclinaram para observar.

—Ele pode ser o melhor no trabalho e a coisa toda, mas quem diria que se daria bem com crianças um dia? Olhe lá, e Audrey está feliz com ele também. - Jorge sorriu leve, seus olhos, como os de Rony e Harry, fixos no lado de fora, onde Percy jogava a filha, Molly, para o alto e a pegava de volta entre risadas sob o olhar sorridente de Audrey, que os incentivava, sentada numa cadeira a pouca distância.

Rony já estava sorrindo outra vez quando, sem tirar os olhos da cena, Jorge o cutucou com o ombro, emendando num tom mais baixo e discretamente alegre:

—Todos nós temos defeitos e podemos errar muitas vezes, Rony. Isso não significa que somos ruins, e muito menos que vamos fracassar em tudo na vida.

E assim, tão fácil quanto aquela cena distante parecia, as palavras do irmão mergulharam de seus ouvidos para o corpo, refrescando e renovando o sentimento em seu peito por um mais sereno. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Rony deixou a sensação folgar-se e, menos apreensivo, fitou o sorriso do irmão antes de ouvir o melhor amigo emendar:

—Jorge está certo. Você já é ótimo, Rony, e você e Hermione vão ter uma ótima vida juntos. Tenho certeza. - Harry sorriu para ele também e, olhando dele para o irmão do seu outro lado, o ruivo mais novo sorriu de volta, agora se sentindo mais convidado do que blindado pela sensação de não fazer ideia do que viria nos próximos anos.

Abril de 2011 - Casa dos Granger-Weasley, 07:01 AM.

Como fora na manhã da última partida de quadribol em Hogwarts, um novo dia de primavera amanhecia, ainda frio, mas límpido e florescido, dessa vez num bairro comum de Londres.

A casa perfeitamente normal, simples e acolhedora da família Granger-Weasley ainda estava em silêncio, tão oposta à agitação em que começara um dia como aquele há anos atrás, quase que completamente alheia ao despertar barulhento do lado de fora.

Exceto por uma pessoa.

Rony estava bem acordado no andar térreo, embora também em silêncio, floreando sua varinha em frente à bancada da cozinha e arriscando alguns olhares para a paisagem ao lado de fora, pela janela que tornava visível o pequeno jardim florido, enquanto vez ou outra ainda bocejava e esfregava os olhos preguiçosamente.

Dessa vez, não havia ansiedade o abalando, muito menos fazendo-o acordar cedo demais: eram apenas as responsabilidades de que já não reclamava há anos e uma ideia em particular que surgira em sua cabeça ao despertar antes de Hermione e dar-se conta da letra dela no calendário da cozinha, decorando o espaço do dia com um "Dia de folga!" que piscava constantemente e desaparecia desde que ele encostara a varinha ali minutos antes.

Assim, sem querer demorar mais, ele dispensara duas tigelas vazias para um canto da pia e, conferindo os itens na bandeja diante de si uma última vez, agitou a varinha num movimento leve que a fez ficar suspensa no ar, passando a flutuar à sua frente no caminho breve para o andar de cima, onde encaminhou-se para o quarto principal em ainda mais silêncio do que antes.

Lá estava Hermione, ainda adormecida, os cabelos castanhos cheios jogados pelo próprio travesseiro e parte do dele, com apenas um dos braços, cobertos por um pijama de mangas longas, aparecendo sobre o cobertor que a cobria confortavelmente até a altura do peito e a expressão serena no rosto imóvel e emoldurado por algumas mechas cacheadas.

Rony sorriu ao colocar os olhos nela e se deteve na porta por algum tempo, até notar que a bandeja avançava sozinha em direção à cama, o que o fez avançar um passo errado e desesperar por um segundo, erguendo a varinha na mesma hora para fazê-la voltar e pousar no pequeno baú aos pés da cama, com um tilintar mais alto do que previra.

Na mesma hora em que ele torcera o rosto, fazendo um semblante de auto repreensão, Hermione sobressaltou-se um pouco sob os cobertores e abriu os olhos lentamente, franzindo um pouco o cenho até se dar conta do próprio despertar.

—Ron? - ela perguntou retórica, esticando uma mão para o espaço vazio dele na cama e erguendo-se para ver sua figura alta à beira da cama, exatamente do jeito como já decorara pelas manhãs.

Seus lábios se esticaram na mesma hora.

Os cabelos ruivos levemente desgrenhados no alto da cabeça, os olhos muito azuis com um tom sonolento e a camiseta vermelha surrada de sempre, estampada com o desenho de uma coroa em tinta dourada, minimalista e um pouco torta, com traços infantis, mas que ele adorava - e ela também.

Hermione achava que era um pensamento bobo demais para dizer em voz alta, mas toda vez, toda manhã, seu coração acelerava um pouco e relaxava no instante seguinte, com uma enorme sensação de serenidade, quando a primeira coisa em seu dia era a vista que tinha de Rony.

Fosse quando o via ao seu lado, sonolento na cama, ou quando ouvia a voz rouca e recém-desperta dele bem ao alcance de seus ouvidos, ou ainda quando sentia o embalo de um dos braços fortes ao redor de seu corpo, trazendo-a para perto e entrelaçando as mãos de alianças iguais minutos antes de terem que se levantar, e mesmo agora, Hermione sempre se sentia da mesma forma: como se tivesse tomado uma dose impossivelmente longa de Felix Felicis e despertasse sempre para o dia de mais sorte em toda a sua vida.

I'll wake you up with some
Breakfeast in bed
I'll bring you coffee with
A kiss on your head

—Bom dia... - Rony respondeu com um tom cauteloso, ainda arrependido do barulho que a fizera acordar, mas sorrindo em meio à careta de desculpas, e guardando a varinha no bolso quando encolheu os ombros - Não queria te acordar ainda. Desculpe.

Hermione riu um pouco, afastando os cabelos do rosto enquanto se sentava na cama, e estendeu os braços para ele, que sorriu largo de volta, se aproximando na mesma hora.

—Não se desculpe. - ela disse simplesmente, segurando o rosto dele entre as mãos quando chegou perto o suficiente, e selaram os lábios num beijo suave e breve, quando Rony se afastou relutantemente e se sentou no espaço à frente dela - Bom dia.

—Sendo assim, acho que vou ter que te acordar "sem querer" mais vezes. - ele fingiu uma expressão de lamento e suspirou falsamente depois, sem poder evitar de sorrir quando Hermione empurrou-o de leve, tornando as bochechas coradas sem perceber.

—Engraçadinho. - ela zombou, arqueando uma sobrancelha e estreitando os olhos com descrença, mas voltou a sorrir quando Rony segurou e beijou o dorso de sua mão, se levantando em seguida - O que você estava fazendo, afinal?

—Isso. - ele respondeu simplesmente, depois de ter dispensado a única xícara cheia de café sobre o baú, e ergueu a bandeja de café da manhã nas próprias mãos - É o primeiro dia de folga que você tem em muito tempo, então achei que seria bom e apropriado começar assim.

Os olhos de Hermione ainda estavam cintilando em admiração, e o mesmo sorriso longo e bobo estava em seus lábios, quando ela ajeitou a postura e recebeu a bandeja à frente das pernas cruzadas, deixando-se, sem perceber, levar ambas as mãos à altura do coração quando deteve os olhos no prato com suas panquecas favoritas, as tortinhas de abóbora e todo o resto disposto ao redor, e depois de volta até Rony, parado ao lado da cama em expectativa.

—Ah, Ron, isso é perfeito! - ela exclamou com um sorriso, o mesmo tom de admiração dos olhos em sua voz quando puxou-o de volta para perto pela mão, surpreendendo-o com um beijo sorridente - Mas deve ter te dado trabalho, não é? - ela recuou, preocupada, e o ruivo fingiu pensar um pouco.

—Bem, depende do ponto de vista. - ele se demorou na frase de propósito, e tornou a falar com um suspiro falsamente exausto e o semblante igual - O que eu ganho se disser que deu muito trabalho?

Hermione arqueou ambas as sobrancelhas, entendendo a brincadeira, e conteve o sorriso que veio em seus lábios.

—Hm, vamos ver.... - ela fingiu pensar também, e voltou os olhos para a bandeja por último, quando clareou a expressão - Uma tortinha, - e a ergueu na palma da mão - se estiver falando a verdade.

Rony torceu o nariz, fazendo-a rir.

—Você sabe ser má. - ele reclamou, se afastando de novo, e confessou com displicência - Mas tudo bem, eu já experimentei uma ou duas dessas. E se ainda quer saber, o trabalho valeu a pena por esse sorrisinho. - Rony disse mais baixo ao entregar a xícara de café para a esposa, e beijou o topo de sua cabeça.

Hermione olhou-o com o mesmo tom encantado de antes - de minutos e de anos - e, prolongando-se na vista da figura dele caminhando até a porta, antes que ele pudesse sair - o que também fora antes que pudesse pegar seus talheres para começar a comer as panquecas - um olhar de relance para o relógio na cabeceira a fez se sobressaltar, alerta, e chamá-lo de volta.

—Por Merlin, Ron, as crianças! Eu estava me esquecendo, preciso levá-las para a escola! - Hermione mal disse e já estava de levantando da cama, afastando a bandeja para mais longe e pousando o café na mesa de cabeceira.

—Ah-ah, eu vou levar as crianças para a escola hoje, Mione. - Rony deixou a expressão de susto para impedi-la de fazer qualquer outra coisa, pousando as mãos em seus ombros quando explicou de perto - Eu pedi a Jorge o dia de folga também, justamente pra fazer essas coisas enquanto você descansa, então se sente aí e tome o seu café. Quando eu voltar ainda vamos ter tempo de passar o dia juntos.

Ele sorriu para ela de forma tranquila e, quando já estava mencionando se afastar de novo, com um afago em seus ombros e dando um beijo em sua testa, Hermione voltou a falar, preocupada e acelerada demais, como ele conhecia tão bem - e há tanto tempo.

—Mas, Ron, o carro, você... - ela tropeçou nas palavras, incerta, e ele soube o que estava querendo dizer.

—Querida, pare de se preocupar, eu não vou me atrever a chegar perto daquela coisa difícil tão cedo, está bem? - ele pediu com ambas as sobrancelhas arqueadas, numa confirmação veemente, e garantiu antes de dar as costas, dessa vez em direção ao próprio armário - Tenho tudo sob controle. Rosinha já é grande o bastante, pode montar uma das vassouras e eu montarei a outra com Hugo, isso mais um feitiço da desilusão e tudo...

—Ronald Weasley! - Granger exclamou, contendo a altura da voz, mas no tom de repreensão de sempre e o semblante que vinha com ele - Você nem pense nisso, está perdendo a cabeça?! Eu vou agora mesmo...

Mas, antes que ela pudesse correr para se aprontar, Rony outra vez a impediu, tirando sua melhor expressão séria do rosto, que sempre tornava as brincadeiras convincentes, e deixando-se rir quando se colocou à frente do armário dela, a camiseta que antes vestia pendurada num ombro.

—Tudo beeeem, eu estou brincando, Sra. Granger-Weasley. - ele avisou, erguendo as mãos como em rendição, e explicou - A escola não é longe, Rose irá na bicicleta dela e eu a acompanho de a pé, levando Hugo. Eles vão gostar de ter uma vez diferente e eu também. - ele sorriu, assentindo com a cabeça, e Hermione suspirou calmamente, contendo um sorriso.

—Os trago para se despedir quando estiverem prontos, certo? - ele assegurou por último, afagando os cabelos dela com uma mão antes de voltar a escolher sua roupa.

—Certo. - Hermione assentiu, sorrindo, e o surpreendeu com um abraço pelas costas, deixando um beijo perto de seu ombro antes de ceder à hora do café da manhã na cama.

E como havia dito, Rony fizera: ele havia aprontado a garotinha de sete anos e o garoto de cinco para irem à escola, colocando seus uniformes e conferindo suas mochilas, e depois levando-os para se despedir da mãe no quarto com uma animação que a deixara sorrindo quando desceram para tomar café. Entre uma coisa e outra, ele explicara que iriam fazer as coisas um pouco diferentes naquela manhã, e então uma conversa começou.

—Por que? Não tem mais o carro da mamãe? - Hugo perguntou, balançando as perninhas na cadeira alta em que comia seu cereal desajeitadamente.

—Ah, é claro que tem, mas vocês não querem mesmo ir naquela geringonça, não é? - Rony disse num tom sugestivo, e parando pra mastigar sua torrada com ovo - É muito devagar e nada divertido... - ele fez uma pausa brusca, e sussurrou - Não digam pra sua mãe que eu falei isso.

—Geringonça! - Hugo repetiu, achando graça da palavra, e gargalhou, logo se engasgando com o cereal e emendando uma tosse terrível.

Anapneo! - Rony conjurou, apontando a varinha para o filho, que voltou a respirar normalmente na mesma hora - Tudo bem? - ele quis assegurar, afagando as costas do menino, que assentiu.

—Ron? Está tudo bem aí? - a voz de Hermione soou do topo da escada, num tom preocupado.

—Sim, querida, tudo sob controle! - ele assegurou de volta, fazendo sinal pra que as crianças não dissessem nada.

Pouco depois Rose voltou a falar, animada.

—Eu sei! - ela ergueu uma das mãos, se empertigando na cadeira - É porque o papai não sabe dirigir, não é, papai? A mamãe disse que você não gosta por isso.

—É claro que eu sei, eu só não quero, oras. - ele respondeu como se fosse óbvio, de repente distraído com o aceno da varinha para o prato e depois para a pia, mas se virou de volta - Ela disse isso?

—Uhum. - a menina assentiu, mastigando, e Rony pareceu pensar antes de dar de ombros e responder.

—De qualquer forma, não é por isso, está bem? Só... Têm jeitos muito mais divertidos. - ele fez uma expressão de ânimo convincente, e Rosinha voltou a falar.

—A gente vai de vassoura? - ela arregalou os olhos, animada, porém acrescentou com dúvida - Mas, a mamãe disse que não pode.

—Não, é claro que não vamos de vassoura. - Rony se apressou em dizer, fingindo uma expressão séria, e depois murmurou com uma sobrancelha arqueada - Por enquanto.

—Quando a gente vai? Amanhã? - Hugo se animou também, mexendo os pés freneticamente.

—Eu quero! - Rosinha replicou, se levantando de um salto.

—Ah-ah, eu não disse isso, está bem? - o mais velho voltou a acalmá-los, fazendo sinal de aviso, mas segurando um sorriso - Agora, terminem de comer ou vão se atrasar.

I'll take the kids to school
Wave them goodbye
And I'll thank my lucky stars
For that night

Com isso, os minutos se passaram e, conforme o planejado, logo os três haviam chegado à escola trouxa de educação infantil em que as crianças estudavam. Rony desceu Hugo de seus ombros, onde fora o caminho todo, e ajudou Rose com um espaço no bicicletário, para então dar a ela a mochila que levara pendurada em um braço até ali.

—Muito bem, tudo certo com essas mochilas? - Rony quis assegurar, se abaixando em frente aos dois pequenos, que fizeram sinais diferentes de "sim" - Ótimo. Então, hora de dar tchau, venham aqui. - ele chamou, abrindo os braços.

Na mesma hora, Rose e Hugo se atiraram nos braços do pai, o abraçando com a força que seus bracinhos permitiam, e Rony os abraçou de volta, um em cada braço, os tirando do chão por centímetros. Os dois riram e, sem poder evitar de sorrir junto, o pai os colocou de volta no chão, se detendo em seus rostos um segundo antes de ouvir o sinal estridente e longo que o assustava desde a primeira vez que ouvira sem saber o que era.

—Bom, hora de entrar. Tenham um dia ótimo, pequenos. - ele desejou e deixou um beijo na testa de cada um, dizendo antes de se levantar - Amo vocês, não se esqueçam.

—Também amamos você, papai! - Rosinha respondeu sorrindo, e acompanhou com o olhar a figura alta dele se levantar.

—Te amo, papai! - Hugo emendou, agarrando uma das pernas do pai, que afagou sua cabeça, sorrindo, e voltou a se inclinar por um instante.

—E lembrem-se do nosso segredo, se alguém incomodar vocês... - ele disse mais baixo, fazendo uma cara de expectativa.

—Nós damos Gemialidades Weasley pra eles! - os dois disseram animados e em coro, no tom mais baixo que puderam em meio à gritaria das outras crianças.

—É isso aí! - Rony afagou os cabelos deles de novo, sorrindo orgulhoso, e os incentivou a irem para dentro da escola em seguida - Agora vão lá. Boa aula e até mais tarde!

De onde estava, ele observou com um sorriso os dois darem as mãos e se juntarem às outras crianças. E quando subiram a pequena escada, à beira da porta de entrada aberta, Hugo e Rose se viraram para acenar para o pai, que acenou de volta na mesma hora com um sorriso largo e os observou caminhar pelo corredor juntos até que se tornassem um pontinho de cabelos ruivos e outro menor em castanho.

Enquanto se virava para ir embora, repassando os momentos mais recentes com os filhos em sua cabeça, os sorrisos em seus rostos que, inevitavelmente, e mesmo em traços diferentes, o lembravam tanto de Hermione, o sentimento familiar de eletricidade em seu peito reviveu e ele sorriu consigo mesmo. Com os anos ele se acostumara a sentir essa nova versão, onde não havia medo, ansiedade ou incerteza: eram apenas as faíscas de sempre, mais vivas e seguras do que nunca, que agora o faziam agradecer ao que quer que fosse por o terem levado até ali.

E assim Rony fez mais uma vez, com um olhar de relance para aquele céu muito azul sobre sua cabeça e o sentimento familiar de alegria preenchendo-lhe por dentro: ele nunca gostara Adivinhação e nem mesmo de Astronomia, com toda a coisa de mapear planetas e usar o alinhamento para supor o futuro - ele nem mesmo acreditava nisso. Mas, dessa vez agradeceu, aos céus, às estrelas, - até mesmo à Grifinória por ter ganho aquele jogo, às Vomitilhas de Fred e Jorge - e ao que mais que fosse por duas noites em especial: aquela que o havia, mesmo indiretamente, despertado para aquela possibilidade de futuro, quando finalmente conseguira dar nome ao que sentia por sua então melhor amiga; e a outra, menos distante, em que havia feito dela sua esposa.

****

—Logo mamãe vai dizer que estamos embebedando ele, passe pra cá! - Carlinhos disse, rindo e agitando a varinha na direção do copo que Jorge havia dado a Rony, agora vazio. Eles agora estavam à beira da tenda onde o casamento aconteceria, numa sombra em vista do pôr-do-Sol que começava a exibir-se mais ao fundo do terreno.

—Achei que tivéssemos concordado com isso. - o noivo fez uma careta enquanto dizia, balançando a cabeça - E além do mais, é o dia do meu casamento, ela não pode dizer nada, não é?

—Roniquinho, até parece que você não conhece a mamãe. Podendo ou não, ela vai dizer, e é melhor você não contrariar se não quiser passar mais nervoso. - Jorge aconselhou sabiamente, sob um sorriso e o assentir dos outros.

—E também, você não quer ficar bêbado antes de se casar. - Carlinhos emendou com serenidade, enfiando uma mão no bolso do terno. Os outros irmãos o encararam, confusos - Ora, eu posso não ter me casado, mas vi vocês todos se casarem. Eu sei das coisas. - ele afirmou, sorrindo com um tom de convencimento.

—Se você se casar um dia, eu vou me lembrar disso. - Gui provocou o irmão, empurrando-o de leve pelo ombro e com um sorriso curvado nos lábios - Mas, Carlinhos está certo, Rony. É um dia importante, você vai querer estar sóbrio pra isso. - ele completou com um sorriso mais ameno, e afagou o ombro de Rony levemente.

—Definitivamente. - Percy assentiu, e hesitou um pouco, mas deu de ombros e disse mais baixo - E de todo jeito, você vai ter muito tempo pra se embebedar depois, na festa.

Gui, Carlinhos, Rony, Jorge e Harry, que estava mais quieto, observando e se divertindo com as conversas dos irmãos Weasley, se entreolharam com expressões parecidas de confusão, e todos os olhos se voltaram para Percy de uma vez só, como se quisessem rir, mas tivessem concordado em postergar o momento.

—Ora, Perce, você falando em sair da linha? "Se embebedar"? Que é que aconteceu? - Jorge foi quem falou e, com uma sobrancelha arqueada, se adiantou para encostar a mão em sua testa, como se medisse sua temperatura. Foi só então que todos se deixaram rir.

—Muito engraçado, Jorginho. - o terceiro irmão retrucou, rolando os olhos um pouco, embora tivesse um resquício de riso no rosto também - Só estou dizendo, é claro que aqui, agora, bem... - ele pigarreou e empostou uma voz mais séria - Não seria apropriado. Mas, é o casamento dele, não é? Depois que o nervoso e a parte mais importante passar, ele deve poder fazer o que quiser.

De novo, houve uma troca de olhares engraçada entre os rapazes e um segundo depois Rony ajeitou o terno mais uma vez, antes de falar.

—Bom... Foi bem a tempo, não é? Agora posso dizer que todos os meus irmãos acobertaram alguma coisa por mim, minutos antes que eu entrasse em absoluto colapso. - ele disse com um tremor na voz e no sorriso que quis aparecer em seus lábios.

—"Alguma coisa"! - Harry, Jorge, Gui e Carlinhos disseram em uníssono, num tom de riso e ironia que combinou com a forma como as bochechas de Rony coraram, e como ele teria sorrido mais se não estivesse ocupado demais com toda a ansiedade tomando seus nervos.

—Ah, vamos lá, Rony, nós estamos aqui com você, está tudo bem. Não seja tão dramático. - Carlinhos incentivou, abraçando-o de lado e com um sorriso entusiasmado.

—É, fique feliz com a gente! - Jorge completou, e num segundo teve um estalo que o fez chamar a atenção dos irmãos - Já sei o que pode te deixar menos nervoso! Vamos lembrar as histórias dos pedidos de casamento!

—Ótima ideia, Jorge! - Gui comemorou enquanto os outros assentiam, encorajando o bastante um Rony levemente mais interessado na conversa, e acotovelou o irmão ao seu lado - Você começa, Carlinhos.

Os outros, incluindo o Weasley mais novo, riram juntos com o momento de graça entre os dois mais velhos e, embora se sentisse mais inclinado a participar com aquela ideia, Rony mal ouviu o que Gui dissera sobre uma tarde perfeita na França com Fleur; ou Jorge com uma versão especial dos Fogos Espontâneos Weasley para Angelina; ou ainda Percy com a surpresa num jantar luxuoso para Audrey; e nem mesmo a história de que mais sabia, que Harry contara de novo, envolvendo um jogo de quadribol com Gina. Ele mal notara e, antes mesmo da sua vez, já estava revivendo na memória o dia em que pedira Hermione em casamento.

****

Maio de 2002 - Casa do Rony, 17:27 PM.

Como diziam o relógio e o Sol baixo lá fora, já era quase a hora de Hermione chegar. E Rony, é claro, não se deixava esquecer disso enquanto checava, repetidas vezes, todas as coisas que havia preparado na pequena casa que ele dividira com Harry e que, desde o casamento com Gina, era apenas sua: o jantar para dois à mesa da cozinha, o presente embrulhado sobre o sofá, o disco no tocador e, sobretudo, a caixa escondida no móvel sob a televisão. 

Aquela seria a noite de comemorar mais um aniversário de namoro entre os dois - mas, não só. Rony havia preparado algo ainda mais especial, que estivera planejando há muito tempo e, conforme seus esforços, Hermione só saberia ao encontrar o anel dentro da caixa em algumas horas. 

Não havia sido exatamente fácil ter aquela ideia, mas o ruivo realmente se empenhara porque, depois de todos aqueles anos, a ideia e o desejo de se casar com Hermione estavam, finalmente, mais intensos, mais certos do que nunca em sua cabeça e, mesmo agora, começando a pensar que talvez ela estivesse demorando porque havia, de alguma forma impossível que era muito do feitio dela, descoberto sua intenção e decidido fugir, Rony sabia que nunca estivera tão certo do que queria e iria fazer - porque também nunca havia sentido um amor tão absoluto e inacreditavelmente bom em sua vida como o que tinha por Hermione. E isso era tudo o que queria sentir pelo resto de sua vida e fazê-la sentir também, com a melhor garota que havia no mundo - e agora ele sabia, a única que houvera para ele desde o começo. 

Rony queria tudo. Todas as coisas sobre viver com Hermione para o resto de sua vida. Ir para casa com ela ou para ela, acordar com sua disposição exagerada e limpar a mancha de pasta de dente que ela deixasse no rosto sem perceber; Ouvi-la falar sobre o trabalho e recomendar livros que ele nunca leria, todos os dias; os sermões quando ele esquecesse coisas demais fora do lugar e também quando os fizesse atrasar para um compromisso, apertando-a entre seus braços no sofá e os argumentos à beira do ouvido, que a fariam rir contra a vontade. 

E então, ele nunca mais precisaria esperar pelos intervalos do trabalho e os fins de semana para estar com ela. Mesmo quando estivessem distantes e sentisse sua falta, o dia sempre acabaria vendo-a entrar pela porta, o fazendo ser invadido por aquela sensação de aliviado extasiado - exatamente como agora. 

—Ron? - a voz de Hermione soou sala adentro, e ela fechou a porta antes de avistar a figura alta perto da lareira - Eu bati, mas você não abriu, então estou entrando. 

—Desculpe! Estou aqui. - ele respondeu simplesmente, avançando alguns passos em direção a ela conforme os olhos se cruzaram e os sorrisos se esticaram dois lábios. E, notando um embrulho no lugar da mala de trabalho que esperava ver nas mãos dela, Rony disse - Achei que viria direto do Ministério. 

—Ah, não, eu precisava buscar seu presente e trocar de roupas, pelo menos. Consegui sair dez minutos mais cedo. - Hermione sorriu, entrelaçando a mão à dele conforme se aproximaram - E aliás, você não deveria deixar essa porta destrancada, sabia? É realmente perigoso e... 

—Ah é, obrigado por me lembrar. - ele a interrompeu com um beijo leve, e floreou a varinha para trancar a porta, por cima do ombro dela - Agora que uma coisa realmente valiosa está aqui, eu não posso mesmo ser tão irresponsável. - e fez uma cara de "óbvio" enquanto passava uma mecha para detrás da orelha dela, a tempo de vê-la corar em silêncio.

—Você é realmente bobo, sabe disso? - Hermione retrucou sorrindo, e entrelaçou as mãos na nuca dele, o vendo sorrir também - Feliz aniversário pra nós.

—Feliz aniversário pra nós, amor. - ele retribuiu o desejo, o sorriso e logo a proximidade, levando as mãos ao rosto dela com carinho antes de selar os lábios longamente. 

E depois, trazendo-a para o mais perto que pôde - que foi como ficaram em silêncio por alguns instantes -, Rony tornou a falar, se afastando só o suficiente para olhá-la.

—Está com fome? - ele perguntou oportunamente, levando uma mão ao rosto dela, num afago leve. 

—Pra ser sincera, estou. Morta de fome. - ela fez uma expressão de censura divertida e Rony riu, beijando sua testa.

—Ótimo, porque eu preparei algumas coisas pra nós. - ele disse animado e afagou as costas dela antes de arrastá-la para a cozinha, dizendo que os presentes ficariam pra mais tarde e a ouvindo exclamar em surpresa, primeiro por ele ter cozinhado, e depois pela mesa simples tão belamente arrumada na cozinha.

(...)

—Estou falando sério! Esse foi o melhor jantar que eu comi em muito tempo, Ron!  - Hermione insistiu com veemência, vendo o sorriso descrente dele enquanto segurava sua mão até a sala. 

—Você sempre me faz sentir melhor do que eu realmente sou, sabia? - o ruivo argumentou, trazendo-a quase para o meio da sala e parando frente a frente, com as mãos ladeando o rosto dela antes de dar-lhe um beijo rápido. Hermione negou com a cabeça com um sorriso contrariado, e ele continuou - Mas, eu tive algum trabalho e era mesmo pra você, então vou aceitar o elogio. Só não deixe minha mãe te ouvir.

—Pois eu aposto que ela ficaria muito feliz em saber que você puxou esse jeito com a cozinha. - ela pensou por outro lado, e acompanhou o meio sorriso de Rony até que ele pareceu pensativo e deu de ombros, sentando-se no sofá e chamando-a para fazer o mesmo.

Depois que Hermione se sentou, era chegada a hora dos presentes - como haviam combinado durante o jantar. Começando pelo presente dela para o namorado, a garota entregou-lhe uma caixa quadrada de tamanho considerável, embrulhada em um papel prateado, que logo Rony descobrira guardar uma esfera esbranquiçada sob um pequeno apoio, lembrando uma profecia, e acompanhada por um tinteiro e uma pena de escrever realmente bonita. Ela explicou que aquela era uma de um par das Lumus-Litteram - luminárias gêmeas que permitem que os donos do par troquem pequenas mensagens, escritas ou em forma de cor. 

Rony se empolgou com a ideia do presente e ficou realmente feliz, a agradecendo muitas vezes e, com um beijo, entregou a ela um pacote retangular azul claro, mais ou menos pesado, com um laço prateado em cima. Era um álbum de fotos bruxo, comprido e acastanhado com a frase "Para guardar suas memórias" na capa.  Na parte de dentro, Hermione segurou o fôlego com uma nova surpresa.

Nas duas primeiras páginas haviam quatro fotos, se movendo como todas do mundo mágico faziam. Ela com os pais em uma foto de sua formatura ao fim do sétimo ano de Hogwarts; uma repleta de cabelos ruivos misturados a alguns outros, no primeiro Natal que passara com os Weasley como oficialmente namorada de Rony; o trio centralizado por uma Hermione sorridente que abraçava Rony e Harry, em seus uniformes de aurores, no Átrio do Ministério da Magia - o primeiro dia de trabalho dela; e atraindo inofensivamente sua atenção mais do que as outras, o casal se envolvendo num abraço sorridente que fizera Rony, vestido num uniforme de abotoaduras douradas, erguê-la do chão - uma foto tirada na cerimônia de formação de Auror dele.

Rony explicou também que ele era encantado pra que o som da foto ficasse guardado nela, e pudesse ser ouvido ali: bastava encostar a varinha nela - ele demonstrou, tirando a sua do bolso e tocando na foto de sua formatura no Ministério, de onde a voz de Hermione saiu quando ela o abraçou, dizendo "Estou tão orgulhosa de você, Ron! Parabéns!", cujas palavras se escreveram no espaço abaixo da foto, com uma letra cursiva bonita.

—Ron, isso é... - ela sorriu sem saber o que dizer, encarando as fotos com um olhar admirado e fixo - É perfeito! É ainda melhor do que eu já achava que os álbuns bruxos eram, é quase como estar nesses momentos de novo, eu... - e se virou para ele, segurando seu rosto entre as mãos e beijando-o brevemente - Eu adorei! E tem tantas páginas, vamos ter que tirar muitas fotos a partir de agora! 

—Esse é o plano! - ele respondeu animadamente, deixando implícito o que viria depois, e beijou o rosto dela antes de se levantar - Que bom que gostou, porque foi a melhor ideia que tive. Era isso ou outro livro. - e torceu o nariz, afastando a ideia enquanto ligava o toca-discos atrás do sofá com um movimento da varinha. 

Hermione riu abafado, rolando os olhos com a insatisfação dele em dar livros de presente toda vez, e se levantou com o álbum nas mãos, ainda admirando as imagens e agora tocando mais uma delas com a própria varinha, de onde ouviu Arthur dizer "Feliz Natal, Weasleys!" e depois a risada de Ted, no colo de Harry, que causou o uníssono das outras. Ela sorriu sem perceber e esticou mais os lábios quando Rony se aproximou por suas costas, entrelaçando as mãos em volta dela e se inclinando para pousar o rosto em seu ombro. 

Hermione virou o rosto para ele sem sair de seu abraço e sorriu, deixando-se ir dos olhos dele para todos os detalhes em seu rosto, até os lábios e de volta às íris muito azuis. 

When you looked over your shoulder
For a minute I forget that I'm older
I wanna dance with you right now

'Cause you look as beautiful as ever
And I swear that everyday you get better
You make me feel this way somehow

E outra vez, Rony não teve reação alguma senão sorrir de volta enquanto aquela sensação fria e engraçada o consumiu por dentro e num instante deu lugar à onda morna, familiar e reconfortante de sempre sob aquele castanho dos olhos dela e a forma como seu sorriso se curvava sempre em harmonia com eles. De repente, era como se estivesse de volta a todas as vezes em que se sentira preso demais à imagem dela sem saber disfarçar, tantos anos antes, desde tão cedo que nem sabia dizer quando. Como se ainda tivesse dezesseis anos, de volta ao banheiro do dormitório em Hogwarts, vendo-a sorrir na cabine sob aquele Sol de fim de tarde e sem saber como o fizera sentir sem se esforçar, e depois ao casamento de Gui, quando finalmente dançara com ela, sentindo todas aquelas coisas, mas tão consciente do sentimento e dos erros que não se deixaria repetir. 

—Eu te amo, Mione. - ele sorriu para ela, selando os lábios dos dois com suavidade antes que Hermione respondesse, se virando para ele.

—E eu amo você, Ron. - ela sorriu de volta, entrelaçando as mãos atrás do pescoço dele, que sorriu de novo e aproveitou a deixa para pegá-la pela mão e dizer:

—Então dança comigo? - Rony propôs, dando alguma distância entre eles, apenas para se aproximar com uma mão na cintura dela, que achou graça do pedido e sorriu de volta, assentindo silenciosamente quando cercou a nuca dele com o braço esquerdo, até pousar a mão em seu ombro direito, e entrelaçaram as mãos livres uma com a outra, dobrando-as para mais perto de si.

Passados aqueles minutos de música, dançado lentamente pela sala de estar em silêncio, Rony se afastou e beijou a testa de Hermione para enfim de declarar que tinha uma coisa pra ela. Antes de deixá-lo se afastar, a garota protestou, dizendo que haviam combinado "nada mais do que um presente", e o ruivo riu, consertando sua fala com um:

—Não é bem um presente, é só uma coisa que achei e queria te mostrar.

E assim, um pouco contrariada, Hermione se sentou de volta no sofá, vendo-o se aproximar com uma caixa de tamanho médio, bege e simples, que Rony colocou sobre as pernas dela e colocou-se a explicar quando ela se convenceu de abrir.

—Há poucos meses atrás, eu fui na Toca separar mais algumas coisas minhas que haviam ficado por lá e achei essas cartas. Eu quase esqueci que as havia guardado, mas estão aí, desde o terceiro ano, eu acho. - ele deu de ombros com a estimativa, incerto - Tem algumas a menos, porque as mais curtas eu não guardei, mas estão aí, a maioria do que você me mandava no verão. Não me lembro exatamente por que comecei a guardá-las, mas lembro de ter relido algumas certas vezes e, bem, achei que seria ainda mais especial agora, olhar pra tudo isso de onde estamos. - o ruivo encolheu os ombros com um sorriso e olhou das cartas para ela, esperando sua reação.

Hermione estava absolutamente maravilhada, no sentido mais bonito que uma surpresa poderia fazer, enquanto tomava cada carta nas mãos - todas endereçadas dela para Rony, em "A Toca, Ottery St. Catchpole". E, abrindo algumas e trazendo outras para o colo para ver depois, ela leu a si mesma dizendo que estaria na Toca no dia seguinte para que fossem ao Caldeirão Furado encontrar Harry - que, ela se lembrava bem da ocasião, fugira para lá e fora perdoado por Fudge depois de fazer sua tia inflar e voar para longe; passadas algumas outras, dizendo que ficava feliz pelos Weasley a terem convidado para ir à Copa Mundial de Quadribol com eles, mesmo não realmente entedendo do esporte, porque gostava de assistir e, ainda mais, seria legal vê-los mais cedo naquele ano, e pra uma coisa tão diferente; à altura do quinto ano, ela expressando que estava preocupada com Harry e esperava que ele não entendesse mal a falta de cartas deles, embora achasse que ficaria um pouco chateado de qualquer maneira, e noutro parágrafo, dizendo que já explicara aos pais e estaria na Toca na manhã seguinte, para que fossem todos para o Largo Grimmauld.  

Com a sensação de que voltara no tempo, Hermione continuou fixada nas cartas, sem saber o que dizer a não ser exclamar coisas que lhe vinham à cabeça com cada leitura, e sorrindo o tempo todo sob o olhar feliz de Rony, ela finalmente chegara ao fundo da caixa onde, diferente das outras, havia um envelope de aspecto mais novo e endereçado "de Rony para Hermione". Franzindo o cenho, intrigada, ela pegou a carta com hesitação e olhou para o namorado, que sorriu e a incentivou.

—Pode abrir. - ele lançou um olhar dela para o selo da carta, que logo foi desfeito por ela. 

Hermione tirou de dentro um pedaço de pergaminho de tamanho mediano, e desfez a dobradura fitando Rony mais uma vez, com uma sensação gostosa de ansiedade fazendo seus dedos se apressarem. 

"Querida Hermione,

Feliz aniversário de namoro! Se você está lendo isso, provavelmente estou bem do seu lado e você já viu milhares de outras cartas antigas suas para mim, mas, você já deve ter percebido, essa é diferente. 

Eu não sou tão bom com as palavras quanto você, mas depois de ter achado todas essas cartas, acho que entendi o quão incrível é que as coisas fiquem gravadas em algum lugar - as que realmente significam algo pra nós -, e por isso estou escrevendo essa: não só porque é nosso aniversário de namoro, mas porque tem coisas que eu quero que você saiba e se lembre pra toda a vida, quando se lembrar desse dia daqui alguns anos também.

Todos esses anos com você têm sido incríveis e cada vez mais me fazem sentir como se eu fosse mesmo o cara mais sortudo do mundo. Você me faz mais feliz do que eu jamais me senti na vida, todos os dias, e eu seria mesmo ingrato se não te agradecesse por ser tão honestamente quem você é, por estar comigo desde que me lembro, acreditando em mim, em nós, e por me fazer sentir especial, mesmo quando estou só sendo bobo demais - e até idiota. O amor entre nós me mostrou coisas em mim, desde muito cedo, antes que eu desse nome a ele, que eu não sabia que existiam ou eram possíveis. 

E mesmo que nem todas as descobertas e fases tenham sido exatamente as melhores pra nós, como você merecia, eu agradeço a cada uma delas porque elas nos levaram até aqui. Ou ainda, me trouxeram até aqui, do jeito que sou hoje, sempre por você, uma pessoa melhor do que eu poderia ter imaginado e construído sozinho. Prova disso: eu estou até escrevendo cartas longas!

 Mesmo assim, têm coisas que eu não posso simplesmente escrever aqui. Eu posso e quero te agradecer por todos esses anos e dizer o quanto você é brilhante, em todos os sentidos, e a garota da minha vida, desde que eu me lembro e até quando (se um dia) for um fantasma inútil feito o Nick-Quase-Sem-Cabeça. Mas, realmente têm uma coisa que eu preciso dizer, olhando nos seus olhos quando você terminar de ler isso - e perceber que o envelope vazio esteve na minha mão o tempo todo. 

Aqui vai, mais do que nunca, pra muito mais anos de nós. 


Eu te amo,
Rony.

—Ron...? O que você... - ela começou a perguntar, a ansiedade de antes se tornando mais intensa e sob algum mistério, os olhos começando a cintilar quando olhou nos azuis dele e para o envelope em suas mãos, que não parecia vazio.

I'm so in love with you
       And I hope you know
     Darling, your love is more than worth its weight in           gold

We've come so far, my dear
       Look how we've grown
       And I wanna stay with you until we're grey and old

Just say you won't let go
       Just say you won't let go

—Hermione, por todos esses anos, principalmente os últimos ao seu lado, eu entendi que você e eu éramos, e somos, feitos pra ser. Pra ser isso o que somos agora e muito mais, pra ficar juntos pra sempre. Você é mil vezes melhor do que a garota com que eu poderia ter sonhado aos quinze anos, e mesmo antes disso, a única na minha cabeça e no meu coração. Eu nunca poderia ter desejado alguém tão brilhante e impecável, que traz o melhor de mim, como você, e acho que, entre outras coisas, é também por isso que eu relutei tanto tempo e depois desejei que você estivesse comigo mais do que desejei qualquer coisa na vida. 

Eu ainda me sinto assim e terrivelmente apaixonado por você, todos os dias mais do que quando tínhamos dezesseis ou dezessete anos. E olhando pra trás, pra aquela época, eu vejo que nós chegamos tão longe, crescemos tanto juntos, e eu só consigo querer mais. Mione, eu quero ficar com você até que estejamos grisalhos e absurdamente velhos, e mesmo depois, se houver alguma coisa, então... - ele inspirou fundo, sorrindo sob os olhos marejados dela, e se ajoelhou em frente ao sofá, tirando do envelope o anel de noivado - Hermione Granger, você aceita se casar comigo?

Então, com um olhar absolutamente surpreso e marejado, ela ofegou e respondeu:

—Sim! É claro que sim! - Hermione disse, deixando as lágrimas rolarem por suas bochechas incessantemente, e estendeu a mão trêmula pra que ele deslizasse o anel por seu dedo.

Quando o fez, os dois se encararam sorrindo largo, os olhos de Rony marejados e os dela cintilando em mais lágrimas além das que desciam por seu rosto, e se levantaram ao mesmo tempo, como também fora o encontro dos braços dela ao redor dele e o segundo que Rony levara para tirá-la do chão com entusiasmo, girando-os uma vez em meio às risadas bobas que se encontraram antes dos lábios, num beijo longo e imperturbavelmente feliz. 

****

E mesmo depois de tê-la contado inteira para os rapazes, Rony ainda se pegou rememorando a história muitas vezes em sua cabeça, junto aos votos que havia escrito e deixado no bolso do terno, e que releu discretamente até não poder adiar mais o momento de guardá-los - quando Molly avisou-o que Hermione estava descendo, e todo o seu corpo congelou à beira do altar, de braços dados com a mãe. 

Pra sua sorte, fora muito apropriado que Hermione fosse a única coisa em sua cabeça capaz de acalmá-lo e, enquanto entrava e depois, parado lá na frente vendo Harry e Gina - os padrinhos - um de cada lado seu, ele se deixou pensar nela, no jeito como sorria, nas coisas que ele adorava notar, e os momentos mais felizes dos dois em sua cabeça - e que só se multiplicariam dali pra frente. 

Foi só quando Hermione entrou que tudo na cabeça de Rony se esvaiu. Foi como se o Sol lá fora mudasse de órbita e estivesse bem ali, caminhando em sua direção com aquele sorriso brilhante, fazendo-o sentir quente, seguro, longe de todas as coisas ruins, e ele tinha certeza, como nem o Patrono mais poderoso era capaz de fazer. Só havia ela, sem o Sr. Granger de braços dados ou todo o resto dos convidados nas cadeiras ao redor, e estonteante, como se tivesse inventado o significado da palavra bem ali. 

Por Merlin, ele era mesmo a pessoa mais feliz do mundo - e agora pro resto da vida.

I wanna live with you
       Even when we're ghosts
      'Cause you were always there for me
      When I needed you most

I'm gonna love you 'til
      My lungs give out
     I promise 'til death we part
     like in our vows

So I wrote this song for you,
      now everybody knows
     That it's just you and me
     'til we're grey and old

—Eu acho que nós somos o "feitos um pro outro" mais realista do mundo. - Rony começou a dizer seus votos, segurando uma mão de Hermione - Com todas as partes improváveis, incríveis, e também as que nos fizeram pensar que talvez não fosse dar certo nunca. Eu amo isso, o que nós fomos e o que somos agora, bem aqui, porque é apenas o destino, mas não veio facilmente. Nós cometemos erros e consertamos, e sobretudo você esteve sempre comigo, todas as vezes em que mais precisei. Eu não esqueci nem desvalorizei isso, e é esse o motivo pelo qual que tento te mostrar todos os dias o quanto você significa pra mim, o quanto eu te amo cada vez mais, e agora o quanto eu quero continuar fazendo isso pelo resto da vida. - ele olhou-a fixamente nos olhos, dispensando o papel de volta no bolso, e declarou, vendo-a deslizar a mão livre por onde desciam lágrimas felizes - Eu vou te amar até os meus pulmões pararem, Hermione Granger, até o meu último fôlego, e isso signfica que se você aceitar isso hoje, vamos ser nós dois até ficarmos grisalhos e velhos demais. Então, pense bem no que vai dizer. - Rony brincou e sorriu, fazendo-a rir como todos os convidados, e finalizou com serenidade - Eu te amo.

Com uma salva de palmas e os votos de Hermione em seguida, os sons discretos de choro e os rostos úmidos ao redor se tornaram ainda mais evidentes - incluindo Rony, que desistiu de levantar a mão livre para secar o rosto na segunda vez em que piscou e mais lágrimas caíram de seus olhos. Depois de mais palmas, ele beijou o dorso da mão de Hermione e os dois fitaram um ao outro nos olhos sorridentemente até que as alianças fossem colocadas, até que, enfim, Rony pôde se aproximar com uma mão em sua cintura e outra em seu rosto, e ela com as duas envoltas em seu pescoço, pairando por detrás dos cabelos ruivos, para selar os lábios no destino que sempre lhes pertencera: um ao outro.

Just say you won't let go
       Just say you won't let go
      Just say you won't let go
      Oh, just say you won't let go

 


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Notas finais do capítulo

Ah, e como é bom esse finalzinho feliz pra deixar a gente de coração quentinho, né? ♥ Até porque, não tinha como ser diferente, com esse casal maravilhoso que a gente ama!

Me deixem saber o que acharam, vou adorar ler as opiniões, comentários, o que quer que seja!

Obrigada a quem leu até aqui, se cuidem e um beijo grande!
Até a próxima ♥



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