Atlas: Saturno escrita por Biazitha


Capítulo 1
23 de Agosto de 2003


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Cá estou eu, com mais uma NejiTen. Eu sei que tenho fanfics para atualizar, mas eu não podia mais segurar essa daqui. Há muitos anos eu comecei um projeto de escrever sobre o Atlas do Sleeping At Last em forma de cartas. Postei algumas e a vontade de continuar acabou, no entanto, mexendo nas excluídas, eu encontrei essa; resolvi reescrever. Originalmente ela contava sobre uma pessoa com Alzheimer, mas como eu já tenho uma fanfic onde a Tenten teve a doença, resolvi modificar e falar sobre outra doença que mexe no emocional.
Portanto, fanfic baseada em Atlas: Saturn - Sleeping At Last.


AGORA... ESSA CAPA
CARA, ESSA CAPA
Perfeitamente feita pela @sisterx. Eu não canso de olhar, ELA TÁ LINDA DEMAIS!



Boa leitura!



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A brisa fresca trazia consigo o cheiro costumeiro do pão de banana de sua avó pela janela. O campo verde por detrás do vidro um pouco empoeirado trazia consigo uma sensação confortável de melancolia e de infância. No meio de todos os caos que estava a sua vida, ter um recanto de paz conhecido era o que mais precisava. 

Fazia uma semana que havia deixado Chiba para se alojar em uma das casinhas de madeira da família em Takayama. Lembrava-se de correr com os primos pelas ruas sombreadas pelas viçosas árvores durante suas férias e de observar a água rolar sem pressa nas fontes espalhadas pelas vilas. Nos últimos meses, pegava-se lembrando da época de infância com frequência, quase como se tivessem sido vividas há pouco tempo. 

A mulher de longos cabelos escuros sentou na ponta da cama, segurando entre os dedos finos e gelados um gravador. O sorriso que lhe adornou a face estava repleto de ansiedade.

Logo, não saberia mais como sorrir.

Levou o aparelho até estar bem próximo da boca, puxou uma enorme quantidade de ar e soltou em seguida, aproveitaria enquanto tinha coragem.

— Eu não sei como começar essa gravação, acredito que será rápida, eu não tenho muito o que falar. Os médicos dizem que eu preciso registrar os meus momentos lúcidos e sem tremores.

Abaixou o gravador por um momento, tomada por uma súbita vontade de chorar. As mãos tremiam quase imperceptivelmente; quanto maior a sua agitação, maiores os sintomas da doença em seu corpo. Tentou aspirar o cheiro do pão de banana mais uma vez, buscando a própria calma.

— Eu sinto como se houvesse uma lacuna na minha mente... Não apenas pela saudade que sinto de você, mas, também, pela doença me corroendo gradualmente. — Levantou os olhos até o teto branco cheio de estrelas que colou com a ajuda dos primos quando tinham nove anos, e sorriu com menos dor. — Estou te contando agora, Neji, porém, a cada minuto eu me torno diferente por culpa da doença de Parkinson que só deveria me encontrar quando a velha idade chegasse.

Mirou a mão esquerda sobre a perna, tremendo com delicadeza. Não demoraria muito para que não conseguisse nem mesmo levantar sozinha um garfo. A sensação de se tornar dependente no auge de sua vida era frustrante; ela deveria estar trabalhando, pensando em casar e ter filhos. O tempo em que havia sonhado e planejado aquilo parecia distante, um tempo que tentava esquecer para não sofrer. 

— Deram o diagnóstico um pouco antes da sua partida, disseram que era um problema genético sem cura até o momento. Julgo que a sua missão veio em um bom momento, espero que esteja seguro. Você não gostaria de me ver definhar aos poucos. Eu não gostaria que você me visse assim também.

A foto do casal ao lado da cama permanecia ali como um apoio para tentar enfrentar mais um dia. Estar longe de Neji era difícil, principalmente quando não podia desabafar sobre a sua verdadeira condição. Era péssima em esconder seus sentimentos, por isso agradecia por ele ter saído a mais uma missão pela Força Marítima do Japão. Aparelhos eletrônicos funcionavam raramente no meio do oceano, então, a comunicação era restrita a cartas ou ligações em terra firme. Mitsashi Tenten sentiu o seu coração despedaçar quando o viu chorar no dia em que se despediram; ela andava cabisbaixa e triste, Neji ficava ainda mais preocupado deixando-a naquele momento, mesmo que não soubesse o que estava acontecendo. Ele a abraçou forte por longos minutos, deixando a blusa azul da mulher completamente ensopada pelas lágrimas. Ela apertou, entre seus dedos finos, o cabelo — agora — curto e espetado. Abraçaram-se como se a salvação do mundo dependesse daquilo; seria o último contato que teriam por tempo indeterminado.

As missões de Neji variavam de acordo com a necessidade. Era comum que precisasse ficar vários meses longe de casa, da namorada, da família, de tudo o que amava e desejava proteger. Gostava de ser soldado, mas era uma vida complicada para todos os envolvidos. 

Tenten deixou que partisse no navio com lágrimas ainda frescas nos olhos que tanto amava. Não podia deixar que ele desistisse de tudo por sua culpa, por algo que ele não poderia curar ou controlar; Hyuuga Neji precisava viver.

Em todos os sentidos da palavra.

Decidiu isolar-se em Takayama até os médicos decidirem o que fazer com o seu caso; era raro uma pessoa tão jovem ser acometida pelo Parkinson. Sentia-se melhor afastando-se daquela forma, mantendo a sua doença em segredo até para alguns membros da família. 

Pensava muito em como ele se sentiria quando descobrisse, seria um choque e uma grande tristeza. Só de imaginar como os grandes olhos claros encher-se-iam de arrependimento, confusão e carinho, chegava a sentir o oxigênio falhar em seus pulmões. 

— O clima está horrível — continuou. — Eu tenho apenas 27 anos e o meu futuro parece estar comprometido, escrito e finalizado. Todos já sabem qual será o meu fim daqui a um tempo, contudo, eu tento não me sentir triste. Acredito que, pela primeira vez, depois de muito tempo, me sinto bem, principalmente por saber que aproveitei cada segundo da minha ínfima vida. Tenho momentos péssimos em que um desespero tão forte me acomete que minha alma parece ter sido dilacerada, mas eu tenho tentado me manter conformada. Não há muito que fazer, acostumar-se parece a melhor solução. — Até pelo tom de voz calmo e baixo percebia-se como ela havia se tranquilizado enquanto falava. — Você me dizia entre sorrisos largos que o fato de existirmos já é um evento raro e lindo, que precisa ser comemorado... Isso me conforta. Espero poder escutar você dizer isso mais uma vez logo.

Apertou o “stop”, finalizando a gravação. Estava satisfeita com o registro do dia. Não sabia ainda se seria rotineiro ou esporádico, queria deixar como um presente para Neji os seus últimos pensamentos conexos com uma fala clara. 

Não sabia de muito, na verdade. Só tinha certeza de que deveria se apegar às boas memórias que pôde viver. 


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Notas finais do capítulo

Disponível em: https://www.spiritfanfiction.com/historia/atlas-saturno-21698463/

Será uma fanfic de 3 capítulos bem curtinha, sendo o último na visão do Neji. Para o Mal de Parkinson existem muitos tratamentos e aparelhos que melhoram a qualidade de vida. Apesar de certos tons tristes, ela será uma fanfic mais esperançosa.

Para representar a Tenten escolhi a modelo Akari.
Link do perfil da incrível que fez a capa: https://www.spiritfanfiction.com/keity69


Espero que tenham gostado e acompanhem até o final ♥



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