Lua de Sangue escrita por Nana Sousa


Capítulo 1
De mal a pior




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Saí do prédio e marchei até minha velha picape da cor laranja – presente do meu pai. Bati a porta com força, por causa da raiva e quando coloquei a chave na ignição, girando-a, o motor gemeu algumas vezes, tentando pegar.

— Por favor, não me abandone agora. — Implorei para aquela lata velha  — Eu já tive um dia difícil.

O sol escaldante de Phoenix fazia o interior do meu carro parecer um forno. O meu cabelo negro grudava na minha testa e minha blusa branca agarrava nas minhas costas e no meu abdome. 

Fazia pouco menos de um ano que eu havia me formado na faculdade de Phoenix. Porque escolhi jornalismo, mal sei. Talvez o emprego que minha mãe tinha numa revista sobre “assuntos femininos” me levou para essa carreira de alguma forma, porém com um ar mais sério. 

Eu tinha ido para mais uma entrevista de emprego, no entanto não demorou para eu perceber que um diploma não é garantia de nada.  Por que a vida não é como aqueles filmes onde a protagonista logo arruma um emprego, ainda na faculdade, e mesmo a chefe sendo severa, ela é bastante confiante para conquistá-la e ganhar o seu respeito, e ainda ganhar um banho de loja porque ela precisa causar boa impressão?

Droga, só me faltava esta: eu comparar minha vida com o filme O Diabo Veste Prada. 

Respirando fundo, tentei ligar o motor mais algumas vezes. Graças! O motor ganhou vida e eu pude sair do estacionamento para ir para casa.

Eu já havia queimado as poucas economias, junto com a pequena fortuna que minha mãe havia me deixado, com os 4 anos de faculdade. Estava ficando sem dinheiro rapidamente. O aluguel estava atrasado dois meses, e para aumentar minha miséria, a minha picape estava sempre com algum problema que precisava ser consertado. 

Estacionei o carro em frente ao meu prédio e subi as escadas para meu apartamento no terceiro andar, pois a claustrofobia impedia-me de pegar o elevador.

Quando cheguei, o vigia do prédio estava em pé em frente à minha porta, colando um pedaço de papel nela.

—  Senhor Teles?

Ele se virou, assustado com a minha inesperada presença. 

—  Olá — disse ele, oferecendo-me um sorriso amarelo. —  Me desculpe senhor Swan, mas o senhorio me mandou lhe dar um aviso de três dias de despejo.

Quando meu olhar foi em direção a porta, percebi que ele havia anexado uma nota. 

— Não, não, não! — gritei, quase batendo o pé no chão como uma criança mimada. — Esse dia não acaba mais? Tenho certeza de que terei o dinheiro em breve. 

Olhei para o senhor Teles, quase implorando. Mas ele não tinha nada haver com aquilo, ele era apenas um vigia seguindo ordens. 

— Desculpe — disse o vigia, antes de sair.  — Você tem três dias. Atualize seu aluguel ou terá que mudar.

Empurrei a porta com força e corri para dentro, controlando-me para não soltar todos os palavrões que eu conhecia. 

Eu estava me esforçando para seguir essa vida adulta responsável e independente. Juro que estava dando o melhor de mim. Na faculdade eu tirei as melhores notas, e até mesmo publiquei alguns artigos, mas as coisas simplesmente estavam desandando. Na verdade, estava tudo indo de mal a pior. 

Quando me formei, tive a oportunidade de estagiar em um jornal, o problema foi quando o meu professor insinuou que eu deveria ser mais "íntimo" dele, para ele escrever uma carta de recomendação.  Claro que eu disse não e ainda o denunciei para o comitê ético da faculdade. Eu levei a pior nisso tudo. 

Tirei minha camisa molhada de suor e a joguei sobre uma cadeira. Depois de chutar os meus sapatos, sentei-me no meu velho sofá, jogando a cabeça para trás, encarando o teto de gesso. 

O que eu iria fazer agora? Talvez meu pai pudesse emprestar-me algum dinheiro. Porém somente a ideia já me causava mal estar. Claro que eu sabia que ele iria me emprestar qualquer quantia de bom grado, no entanto, desde que minha mãe morreu quando eu tinha dezessete anos, eu sempre fui autossuficiente, nunca pedi nada a ninguém. Agora que eu tinha 22, parecia que estava caminhando para trás. 

Eu gostaria que minha mãe estivesse aqui, para eu pedir colo e chorar em seu ombro, perguntar a ela o que eu deveria fazer. Mas isso seria impossível, os mortos não voltavam à vida e minha mãe tinha morrido há quatro anos devido a um câncer no cólon. 

De repente, senti uma lágrima quente escorrer pela minha bochecha. Rapidamente, a limpei com a palma da minha mão. Não queria chorar, não agora. 

Meu celular começou a vibrar no bolso da minha calça  e quando olhei para a tela, vi que era um número desconhecido. 

— Alô? 

— Louis? É seu tio. Tio Black. Bill Black. 

Embora o nome fosse familiar, eu não me lembrava de nenhum tio Black, mas pelo número da chamada, a ligação era de Forks, então devia ser algum amigo de meu pai. Demorou um momento para eu responder. 

— Oi, senhor Black. Como você está? 

— Filho, tenho más notícias.

Excelente! É como diz o ditado: Não há nada tão ruim que não possa piorar.

— O que aconteceu?

— É o seu pai, filho. Ele levou um tiro e está em coma no hospital — ele fez uma pausa e limpou a garganta — Temo que ele não vá sobreviver.


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