Ake Ome ( ShinoKiba) escrita por Deby Costa


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Escrita para o desafio de janeiro

* Linha: encontro com a pessoa errada

* Itens obrigatórios:

01 - o desenho feito pela #Rasqueria tem que aparecer como cena na história (Capa que ilustra o capítulo)
02 - Haika (livre interpretação)


Boa leitura



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      Aquele era um verdadeiro arsenal e Shino não conseguia ver de outro modo, contudo jamais reclamaria. Aprendeu com o passar dos meses a confiar na intuição do seu ômega quando se tratava dos filhos gêmeos. 

— Babadores, paninhos de boca, fraldas (diurna, noturna e para piscina), lenços umedecidos, pomada para assadura, trocador portátil, banheira inflável. – Kiba conferia os itens um a um – Shino, será que tá faltando alguma coisa?

— Acredito que não. – O Aburame analisou a bolsa cheia sobre a cama – Tenho certeza que não precisaremos de mais nada. – Concluiu, embora tivesse certeza que Kiba daria um jeitinho de enfiar mais coisas ali.  

Há algumas semanas passaram por uma situação semelhante, no entanto, quando o ômega lhe fez a mesma pergunta Shino protestou contra o peso da bolsa e retirou dela alguns itens que julgou desnecessários para serem levados num piquenique há poucas quadras de onde moravam, arrependeu-se amargamente logo que chegaram ao destino, pois precisaram do bendito travesseirinho antirrefluxo de Himeko, que ele insistiu para não levarem e Kiba fez justamente o contrário.  Conclusão: voltaram mais cedo do passeio, com agravante do ômega murmurando que ele nunca lhe dava ouvidos, todo o percurso de volta.

— Meu sexto sentido diz que está faltando algo… – Kiba tinha a mão direita no queixo e a canhota na cintura. – Mas, o quê? 

O Aburame amava quando o esposo adotava aquela postura centrada que estava se tornando um hábito muito recorrente depois do nascimento dos filhos. 

— Cueiros? – O alpha tentou.

— Ah, já sei! – O Inuzuka estalou os dedos – Cópias autenticadas das identidades das crianças! 

— Identidades das crianças, Kiba?!– Shino escondeu o riso por trás do punho fechado ao simular um pigarro. Seu esposo era inacreditável! 

— O que foi? – Kiba perguntou ressabiado. Shino até o momento não havia reclamado de nada, nem mesmo das seis mamadeiras que ele havia colocado na frasqueira dos filhotes – Eu sei que estou exagerando, mas…

Shino levantou da poltrona e ao chegar perto de Kiba colocou o indicador da mão direita sobre seus lábios, impedindo-o de continuar falando.  

— Somos pais de primeira viagem, é natural que sejamos precavidos.  – Deixou um selinho carinhoso em sua boca, revelando toda sua compreensão.

No último ano, a chegada dos gêmeos foi a melhor coisa que aconteceu em suas vidas, contudo, apesar da abundante felicidade que desfrutavam, tanto o alpha quanto o ômega estavam ficando “paranoicos” acerca dos cuidados com os bebês. Não importava o quanto estudaram e se informaram sobre o tema paternidade antes do nascimento de Sora e Himeko, nada do que leram, viram ou ouviram durante a fase do pré-natal se comparava a realidade que  experimentavam. 

— E, se...

— Vai dar tudo certo Kiba. É só a primeira de muitas de nossas tradições, que nossos filhos vivenciarão ao longo de suas vidas.

— Você não tá ajudando muito, Shino. – O ômega abriu um sorriso e aproveitou para retribuir o gostoso beijinho.

 O carinho serviu para aquietar seu coração, de fato ele estava ansioso, ainda não tinham se aventurado a ir tão longe com os bebês, que ainda estavam muito novinhos para fazer grandes viagens, não que o templo ficasse tão longe de casa, mas o fluxo de pessoas no local era o que mais o preocupava, afinal era o segundo dia do Oshougatsu e muitas pessoas, assim como eles, estariam lá para realizar o tradicional Hatsumode. 

— Estou nervoso à toa, né? Ontem já tivemos um teste, a casa da mamãe 'tava cheia na hora do Joya no Kane, Sora e Himeko nem estranharam o barulho.  Nossos filhotes são o máximo, se comportaram direitinho. – O sorriso de Kiba triplicou, estava muito orgulhoso dos filhos.  Na noite anterior os quatro passaram a virada do ano na casa das Inuzukas, de lá, assim como em toda Konoha, puderam ouvir os sinos dos templos ecoando por toda a cidade, marcando a chegada de um novo tempo.   

— Sim, está. – Shino o abraçou e ficaram assim por um tempo até Sora começar a resmungar em um dos ninhos que encontrava-se sobre a cama do casal.  

Kiba riu, pois já sabia que em breve teriam apenas cinco mamadeiras na frasqueira. Seu menino, diferente da irmã gêmea, era um glutão como ele. 

*******

— Shino, me lembre de abençoar os otoshidamas das crianças assim que chegarmos ao templo. – Kiba pediu logo que desceu do carro. Ele carregava o cestinho Moisés de Sora enquanto Shino levava o de Himeko. Preferiram os cestos daquele modelo para se locomoverem na área do templo, era bem melhor que os carrinhos dos bebês. 

— Tudo bem. – Shino, que também trazia no ombro a bolsa dos filhos, seguiu logo atrás do ômega, ambos encantados com tudo que viam, afinal nunca havia estado naquele santuário antes. 

— Shino, esse lugar realmente é lindo como Hana-nee tinha nos dito! 

 Visando o bem-estar dos pequenos, optaram por realizar o ritual do Hatsumode no segundo dia de janeiro e em um dos santuários menores, queriam ter uma experiência tranquila e agradável.  A decisão mostrou-se muito acertada, sendo que o templo que escolheram, apesar de pequeno e pouco badalado, era muito bonito. Nos arredores do local a diversão não deixava a desejar a nenhum dos santuários ou templos maiores.  Shino e Kiba seguiram tudo como mandavam os costumes de seus ancestrais.  Beberam o tradicional azamake, que era feito e distribuído gratuitamente pelos sacerdotes xintoístas nas graciosas barraquinhas de bebidas.  Comeram os deliciosos mochis e dividiram uma tigela bem cheia de toshikoshi soba.

— Olha, Shino! – Kiba apontou para uma enorme e chamativa barraca de ema, localizada bem próxima à escadaria que levava ao santuário – Podemos escrever nossos desejos para o ano novo agora, que tal? – Kiba parecia um menino diante das plaquinhas de madeira, havia inúmeras delas, de diversos tipos, tamanho e formas, seria difícil escolher. 

— Acho ótimo. 

Shino escolheu uma ema pequena, ao contrário de Kiba que fez questão de escolher um bem grande, salientando que era para escrever desejos para os filhotes também, aliás, Sora e Himeko estavam atentos a tudo que acontecia ao redor, mesmo sendo pequenos demais para compreender toda complexidade dos rituais e tradições realizados por seus pais.  

Após escrever seus anseios para o ano que se iniciava, Kiba estendeu a destra em direção ao esposo que prontamente pegou-a no ar.  

— Chegou a hora de finalmente prestar culto aos nossos deuses! – exclamou – Tô nervoso.  – O Inuzuka estava radiante, desejava que o Hatsumode de seus pequenos fosse perfeito, mais que isso, desejava que seus filhos um dia também amassem e valorizassem tudo aquilo que ele e o esposo um dia lhes ensinariam.   

— Não fique. Teremos uma incrível experiência lá em cima. – Shino compartilhava os mesmos desejos de seu companheiro. 

Entreolharam-se por um segundo e trocaram sorrisos. 

— Preparado? – O ômega perguntou ao se aproximarem da escadaria que dava acesso a entrada do santuário. Tinham combinado de iniciar a subida com os pés direitos, uma superstição particular de ambos, queriam atrair sorte para o oshougatsu daquela pequena família. 

— Preparado.

As laterais da escadaria estavam enfeitadas com lanternas coloridas o que concedia ainda mais charme e beleza à ornamentação da festa.  Prepararam-se para pisar no primeiro degrau, contando juntos:

— Um, dois... – Todavia antes de concluírem a ação alguém os chamou, na verdade, alguém chamou o ômega.  Shino e Kiba olharam para trás ao mesmo tempo. 

— Kiba-senpai!? – Um alpha de aproximadamente dezoito anos estava a dois passos do casal, olhando para o Inuzuka com surpresa. 

O garoto segurava um girassol solitário na mão direita e na outra uma pequena sacola com Omamoris.

— Iwabee Yuino?! – Kiba perguntou, também estava surpreso por encontrar um de seus kouhais da faculdade   – O que faz aqui? 

O rapaz aproximou-se devagar, no entanto, só naquele instante aparentou se dar conta de que Kiba não estava sozinho.

— E-eu… – O recém-chegado encarou os dedos entrelaçados do casal a sua frente, depois olhou para o cesto onde Sora mexia num brinquedinho, em seguida para Shino e na sequência para Himeko, que encarava-o de volta com curiosidade – Vim para... ver alguém.

— Por que não falou que vinha quando eu lhe contei que estaria aqui? – Um sorriso acolhedor surgiu na face do Inuzuka. Sempre ficava feliz quando encontrava algum amigo da universidade fora da instituição de ensino – Se tivesse dito que também estaria aqui hoje… 

— Perdoe-me, eu não… –   interrompeu a fala do ômega e dirigiu outro olhar indecifrável para as mãos unidas do casal – Imaginei que estaria aqui… com a sua família, do contrário, eu teria comentado algo. 

O Aburame ergueu a sobrancelha, estranhou o esforço que o outro alpha fazia tentando ocultar a gama de emoções que dominava seu interior, algo que só percebeu por ser mais experiente e pertencer à mesma casta do garoto. Surpresa, tristeza, vergonha, decepção, desilusão…

Iwabee Yuino era um turbilhão de sentimentos controversos. 

— Ah, sim! – Kiba era a personificação do orgulho – É a primeira visita dos gêmeos ao templo, eles são muito novinhos, sabe? Por isso eu e o Shino viemos hoje, não ontem.  O primeiro dia do feriado sempre é uma confusão de gente, talvez a gente não desse conta de cuidar deles estando rodeados de gente estranha...

Enquanto Kiba explicava ao rapaz os motivos de estar ali, Shino analisou o Yuino de cima a baixo.  Assim como ele e o marido, o garoto vestia uma yukata tradicional, a única diferença estava na cor jovial. Certamente estava ali para um encontro romântico...

Um alerta apitou no interior do alpha mais velho.   Por instinto Shino  achegou-se mais ao seu ômega.  

— Desculpe-me, não foi minha intenção perturbar o ritual de vocês. – O pedido foi dirigido ao Aburame.  

— Não perturbou. – Shino afirmou com segurança, soltando a mão de Kiba e o abraçando pelo ombro. 

— É.  Não perturbou, mas agora temos que ir. Daqui a pouco esses pestinhas vão abrir o berreiro, pois sentirão fome e sono, e esses dois com fome e sono são fod… eita! Tenho que controlar minha língua, caralho. Ops!— O ômega tapou a boca e envergonhado encolheu os ombros – Preciso aprender a dar exemplo. 

Iwabee sorriu diante a naturalidade do Senpai enquanto falava dos filhotes. Conheceu Kiba no mês anterior quando chegou à universidade. O Inuzuka o ajudou muito durante o período de adaptação, sendo um amigo leal em diversos momentos e situações.  Aquele ômega o encantou à primeira vista.

— Entendo. – Seu entendimento foi além da explicação dada por Kiba do porquê os quatro precisavam seguir adiante e deixá-lo ali. Iwabee compreendeu o porquê do ômega estar numa turma com inúmeros colegas mais novos, incluindo ele.  Decerto a gravidez o fez adiar o sonho de se formar por um tempo... – Peço desculpas de novo por minha inconveniência.

Por um segundo o garoto sentiu inveja do outro alpha que agora olhava-o de cima, demarcando o território. Ele era um homem de sorte.

 – Que isso, não precisa se desculpar… – Kiba começou, mas Shino intrometeu-se na interação dos colegas de faculdade. Realmente estava ficando tarde para os pequenos.  

— Kiba, precisamos ir.

— Posso dar um presente a seus filhos e ao seu esposo? – Iwabee questionou a Shino que consentiu, mesmo estranhando o pedido ter sido direcionado exclusivamente a ele. 

— São os omamoris que comprei logo que cheguei ao santuário. – O rapaz entregou a sacola nas mãos do Aburame – Espero que tragam sortes para seus filhos. É de coração.

— Obrigado. 

Após ouvir o agradecimento sincero da parte do outro alpha Iwabee voltou-se para o companheiro dele e entregou o girassol. 

— Não era um presente para a pessoa que você veio encontrar? – Kiba indagou, estranhando a expressão triste no rosto do colega.

 Iwabee ergueu o canto dos lábios e sussurrou:

 " O girassol desabrochou

 Anunciando a beleza do verão

A um coração que nasceu inverno"

Kiba torceu o nariz diante do haikai. Por que, Iwabee declamou aquele pequeno poema num momento tão inoportuno? Mas o garoto não lhe deu tempo para matar a curiosidade, simplesmente fez um respeitoso ojigi e em seguida lhe deu as costas, misturando-se rapidamente aos visitantes e sumindo de sua vista.

— Eu hein! Garoto estranho.  – Kiba deu de ombros, mas manteve o bom humor. 

— Sim, bastante estranho. Vamos? – Shino ofereceu a destra para ele novamente. 

Respiraram fundo aos pés da escadaria, ambos cheios de expectativas e esperanças.  o oshougatsu deles não seria nada menos que perfeito! Tanto para o casal quanto para seus filhotes, que agora riam como se compartilhasse os mesmos sentimentos dos seus pais. 

 — Preparado? – Kiba inquiriu. 

— Preparado! – Shino respondeu

Contaram de um até três e ao erguerem os pés direitos rumo ao lugar santo, disseram em uníssono: 

      — Ake ome! 

 

 Fim 

 

 

Obs:

Haikai, também chamado de “Haiku”, é um poema curto de origem japonesa.

Ojigi, cumprimento japonês (ato de inclinar levemente a cabeça/torso para frente)

Ake ome, forma informal (íntima) de se desejar feliz ano novo.

 


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Notas finais do capítulo

Oshougatsu: Ano novo japonês.

Ema: plaquinha de madeira onde os Japoneses escrevem seus desejos para o ano novo.

Hatsumode: é a primeira visita ao templo no Ano Novo.


Otoshidamas: envelopes especiais contendo dinheiro, que pais, avós, tias e tios dão às crianças como forma de presenteá-las no ano novo (e também em outros momentos importantes de sua vida)

Ritual budista Joya no Kane: Os sinos são tocados 108 vezes enquanto o ano velho desaparece e entra o novo. Segundo o budismo, isso é feito para renegar os “108 desejos humanos mundanos” purificando o corpo e a mente para o ano que inicia. A última badalada acontece exatamente à meia-noite da virada do ano.

Omamori ?“ São amuletos da sorte feitos em brocado de seda, que possuem pequenos pedaços de papel ou madeira no seu interior, com orações escritas sobre eles.

Obs: Informações retiradas em sites da internet


Espero que tenham gostado.



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