Primeira e Última escrita por CherryRed


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeira one-shot pro fandom de BNHA e eu tô bem feliz com o resultado pq eu escrevi td isso em umas cinco horas kkkkkkkk

Me perdoem se não tiver ficado perfeito, é a primeira vez que escrevo algo do tipo angst Tomara que eu consiga deixar vocês ao menos um pouquinho deprês.

Enfim, obrigada por ter vindo até aqui, vc é o máximo!!

—Cherry



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    A primeira vez que ele a viu, foi em seu primeiro dia de aula. 

 

Touya tinha cinco anos e estava extremamente animado para conhecer sua futura turma, não parava quieto ao lado de sua mãe que tentava da melhor forma instrui-lo a se comportar direito em sala. Crianças gritavam e corriam ao redor deles, brincando umas com as outras sem se preocupar com nada. Touya achou aquela agitação incrível. Seus olhos absorviam cada detalhe daquele lugar novo e das pessoas desconhecidas como se fosse morrer se não o fizesse.

 

    E então ela apareceu.

 

    De vestido cor de girassóis e meias com estampa de abelhinhas, ela parecia diferente de tudo o que o pequeno Touya conhecera em toda a sua breve vida. Ela saltitava em direção às outras crianças, a mochila e lancheira do All Might chacoalhando com cada pulo dado. A pele brilhava sob o Sol da manhã, assim como o lacinho dourado em seu rabo de cavalo.

 

Seu coração palpitou em seu peito. Ele arregalou os olhos e ofegou levemente. Nunca vira uma menina tão bonita! Nem sua irmãzinha Fuyumi parecia tão adorável assim para seus olhos agora que a vira. Era tão fofa que o lembrava uma boneca, mas infinitamente mais incrível. 

 

Rei deu uma risadinha ao ver o estado do filho, incentivando-o a se juntar aos colegas de sala — mas não sem antes fazê-lo prometer que não iria se meter em confusão no primeiro dia.

 

Ele correu em direção às outras crianças e mal esperou que alguém se dirigisse a ele para se apresentar, o peito estufado ao dizer ser filho do grande herói Endeavor. Os outros ficaram imediatamente animados com a novidade, lançando-o todo o tipo de pergunta sobre o pai e sobre a individualidade dele, como sempre faziam.

 

Mas não ela.

 

Ela foi a primeira pessoa a olhar dentro de seus olhos e lhe perguntar sobre ele. Não seu pai, ele. Quantos anos ele tinha? Do que gostava de brincar? Qual era sua comida favorita? Algum dente dele já tinha caído? 

 

E Touya soube que ela não apenas parecia diferente, ela era diferente.

 

    Sentaram-se um ao lado do outro durante a aula, conversando sobre os heróis que mais gostavam e o que fariam quando fossem gente grande — Touya, herói, ela, princesa. Durante o intervalo, trocaram seus lanches e brincaram juntos como se não houvesse amanhã.

 

    Não demorou muito para que logo eles se tornassem inseparáveis. 

 

    Onde um ia, o outro ia atrás; mesmo seus dentes caíram no mesmo dia! Eram como luz e sombra, um não existia sem o outro. 

 

Touya era travesso, mas era um bom menino; suas notas estavam entre as mais altas da turma (ele adorava se gabar disso) e os colegas o achavam incrível. Como era forte! Como era inteligente! Ele ia ser um herói incrível um dia, assim como All Might. O pai sorrira satisfeito ao ouvir o que os amigos haviam dito para o menino, bagunçando-lhe os cabelos com orgulho enquanto afirmava que ele seria infinitamente superior. 

 

Touya gostava dos elogios do pai.

 

Ela, por outro lado, falava demais e era frequentemente repreendida pelos professores, que temiam que ela acabasse se tornando uma má influência para o jovem Todoroki. Não ajudava que ela parecia ter dificuldades para ler e escrever, e suas notas definitivamente não eram as melhores. As repreensões tornaram-se mais constantes, assim como os olhares zombeteiros quando ela respondia algo errado.

 

Mas Touya não se importava. Qual era o problema se ela não entendia algo? Ela era mais rápida do que qualquer um e sabia escalar o trepa-trepa até chegar no topo, e ainda ficava de pé lá em cima! Não precisava tirar notas boas, o menino a disse certo dia, ele podia dividir as suas com ela. 

 

Era o começo da última semana antes das férias quando encontrou a amiga cercada por um grupo de meninos e meninas durante o intervalo. Puxavam seus cabelos e arrancavam seus lacinhos, seu lanche estava caído no chão e riam dela enquanto a garota chorava. Implorava para que parassem, dizia que não contaria para ninguém, mas eles apenas a empurravam de um lado para o outro, cantarolando maldosamente diversos apelidos.

 

Burra.

 

Feia.

 

Estúpida.

 

Mestiça.

 

Ao ouvir as coisas que diziam para ela, seu sangue ferveu. Como eles ousavam machucar e implicar com sua melhor amiga? Quem eles pensavam que eram? 

 

E então um dos garotos mais velhos segurou a pulseira que estava no pulso dela, a que ele também usava, e a arrebentou. Ela gritou, desesperada ao ver as miçangas da pulseira da amizade rolando pelo chão e um outro menino a socou na barriga, fazendo-a cair de rosto no chão.

 

Touya viu vermelho.

 

Lançou-se contra o menino que a machucara como uma fera descontrolada e bateu tanto nele que suas mãos doeram, os gritos das outras crianças ecoando em seus ouvidos. Só parou quando puxaram-no para longe, os dedos tão inchados quanto o rosto do colega. 

 

Os outros meninos tentaram socá-lo, mas ele não parecia sentir a dor física tamanha era sua raiva. E então aconteceu.

 

Chamas escaparam de suas mãos, azuis e intensas, queimando como o inferno. 

 

Feriu mais de cinco pessoas no mesmo instante.

 

Os gritos se tornaram desesperados, mas não chegavam aos pés da agonia na voz de sua amiga alguns segundos antes. Era bem feito pelo que tinham feito à ela. 

 

Foi só quando ela berrou para que ele parasse que Touya deu por si e o fogo cessou. Olhou para o estado deplorável daquela parte do parquinho e suas próprias mãos, incrédulo do que acabara de acontecer. Ele revelara sua individualidade! Seu pai ficaria tão orgulhoso!

 

Virou-se e imediatamente toda centelha de felicidade sumiu de seu rosto. No chão, suja de terra e lágrimas, ela o observava assustada. Tremia, até.

 

Os professores chegaram rapidamente, desesperados pelo despertar dos poderes de Touya. Chamaram a ambulância e logo os primeiros socorros foram prestados, evitando que as crianças viessem a falecer. As aulas foram canceladas pelo restante do dia. Depois, ligaram para os pais de Touya para conversar sobre o ocorrido.

 

A preocupação do menino, entretanto, era a amiga. Será que ninguém notara que ela também tinha sido machucada? Por que brigaram com ele se tudo o que tinha feito havia sido para defendê-la? Não brigavam com os verdadeiros causadores daquilo por quê?

 

Aproximou-se dela, que recuou contra a parede, pálida e com os olhos arregalados de medo. Nunca vira uma individualidade daquelas de perto, só pela televisão, e não sabia o que fazer. Com cuidado, Touya a puxou para si e a abraçou. As lágrimas dela molhavam sua camisa azul e ele teve quase certeza de que as dele também caíam.

 

— Não fica com medo, por favor. — ele pediu, a voz embargada. — Eu nunca vou te machucar, tá bem?

 

    Ela assentiu fungando um pouco, mas retribuiu o abraço com força.

 

    No restante da semana, ela não compareceu e Touya assumiu que ainda estivesse assustada pelo que acontecera. Mas estava tudo bem! Eles se veriam de novo após as férias e ela, sendo especial como era, sem dúvida teria apresentado sinais de sua individualidade também.

 

    Mas ela nunca voltou.

 

    E sua vida perdeu todo o brilho e as cores que ela o proporcionara.

 

   





    A guerra estava em seu apogeu. Heróis e vilões caíam pelas mãos do outro de pouco em pouco, perdas necessárias de ambos os lados para que pudessem defender aquilo que acreditavam ser o certo. Ele, por outro lado, lutava por vingança. Talvez fosse por isso que tinha se tornado tão implacável ao enfrentar seus oponentes; a força do ódio era um combustível como nenhum outro para suas motivações. 

 

Ele era imparável. 

 

O mundo queimaria até virar cinzas ao seu redor e, ah, como ele se divertiria.

 

Ouvira dizer que os heróis estavam tão desesperados que haviam pedido ajuda aos aliados de outros países na batalha. Que a cavalaria viesse! Ele adoraria se livrar de mais hipócritas que usava capas e roupas coloridas. 

 

A era dos heróis era chegada ao fim.

 

Acabara de matar dois jovens heróis e estava prestes a perseguir o outro que faltava quando uma figura surgiu no canto de sua visão. Com um sorriso de canto, Dabi se virou na direção da pessoa, as chamas azuis dançando entre seus dedos compridos. Mas quando seus olhos turquesas ergueram-se, o ar sumiu de seus pulmões.

 

Do outro lado do quarteirão destruído encontrava-se uma mulher vestida de amarelo e face inexpressiva, cuja pose lhe passava um ar de superioridade e confiança que era deveras intimidador. Mas aqueles olhos…

 

Ah, aqueles olhos.

 

Mesmo depois de terem se passado tantos anos, Dabi ainda seria capaz de reconhecer aqueles olhos em qualquer lugar.

 

Era ela. A garota que amara em sua infância.

 

As chamas desapareceram de suas mãos de imediato. Ele mal percebeu que estava caminhando em sua direção até tropeçar em uma pilastra caída no meio da via, conseguindo recuperar o equilíbrio no último instante para não cair no chão. Xingando, ele olhou de novo para ela e engoliu em seco. 

 

A versão que sua mente conjurara quando pensava em como ela deveria parecer agora, já bem mais velha, em nada se comparava à verdadeira aparência dela. Ela estava ainda mais bela do que esperara.

 

Dabi se assustou ao subitamente vê-la próxima dele, o rosto delicado a apenas um metro de distância. Por alguns instantes, nenhum dos dois disse nada, optando por se encararem e estudarem um ao outro. Ele sentiu seu coração se apertar. Ela estava ali. Estava ali bem na sua frente…

 

E era uma heroína profissional.

 

Finalmente, ele deu uma risada baixa.

 

— Então era assim que você conseguia me vencer nas corridas, huh? — sua garganta estava seca, suas mãos tremiam. — Super-velocidade. Explica seu deficit de atenção.

 

    Ela não respondeu nada.

 

— Eu te esperei, sabe? — continuou, a voz anormalmente trêmula. Que estava acontecendo com ele? — Te esperei por dias, meses, anos, mas você nunca voltou. Nem se dignou a me mandar a porra de uma carta ou email, ou o caralho a quatro, simplesmente desapareceu.

 

    Novamente, apenas o silêncio o saudou. Era como se estivesse conversando com o próprio reflexo no mais profundo poço, apenas o eco como sua companhia.

 

    Por fim, ela limpou a garganta e o olhou no fundo dos olhos:

 

— Meus pais se divorciaram naquele verão. — ela o contou, serena como se não estivesse conversando com um dos vilões mais procurados do Japão. — Minha mãe me levou de volta pro país dela e me incentivou a seguir carreira como heroína. Eu fui treinada para isso desde então.

 

    Ele assentiu, erguendo levemente a mão para acariciar a bochecha macia da mulher. Ela, por sua vez, enrijeceu por completo. Sua surpresa era evidente.

 

Ainda assim, ela engoliu em seco e se inclinou em direção ao toque, um suspiro escapando seus lábios. 

 

— E pensar que quem queria ser o herói era eu… Isso me faz uma princesa, então? — ela riu melancolicamente.

 

— Uma princesa bem sarada, mas sim. — sua própria mão repousou sobre a lateral do rosto marcado de Dabi e ela o encarou com tristeza. — Touya, eu…

 

— Eu nunca te esqueci.

 

    Lágrimas acumularam-se nos olhos dela e rolaram por sua face, um sorriso agridoce em seu rosto.

 

— Eu estou aqui por você agora, Touya. — garantiu, descendo a mão até sua nuca e puxando-o até ela. 

 

    Beijou-o.

 

    Não foi intenso como ele um dia fantasiara, onde suas línguas se tocariam desesperada e luxuriosamente em uma dança sem fim. Não foi sensual e quente como estava acostumado a experienciar em vielas da cidade. Foi calmo, um reencontro há muito almejado e uma declaração de sentimentos escondidos; doce como era típico dela. Foi até mesmo casto. 

 

    Ele merecia pureza após tudo o que fizera?

 

    Para alguém que por tanto tempo fora privado de decência e carinho, o mínimo de afeto físico significava muito. Ele sentiu todas as emoções que guardara dentro de si por tanto anos finalmente transbordarem naquele momento. E as lágrimas escaparam de si antes que ele pudesse tentar segurá-las. 

 

E ele se odiou. 

 

Se odiou pelo que tinha feito e por quem seu pai o havia forçado a se tornar, mas, acima de tudo, por ter matado a pequena parte de si que acreditara que as coisas melhorariam algum dia. A parte que ele reservara a ela. Se odiou por não ser mais Touya, o menino que protegera sua melhor amiga, e sim Dabi, que mataria milhares de heróis e inocentes se fosse preciso para conseguir sua vingança.

 

    Será que no fim aquilo tudo valeria a pena?

   

    Quando finalmente se separaram, encostou a testa contra a dela e a abraçou, como há muito fizera.

   

    Dabi sentiu os dedos dela limparem com delicadeza as lágrimas que ainda escorriam por sua face. 

 

—Sabe o que tenho que fazer, não sabe, Touya? — o vilão assentiu.

 

— Faça. Eu prefiro que seja você a qualquer outra pessoa.

 

    O silêncio os cercou novamente, nenhum dos dois dispostos a seguir adiante. Ele depositou um beijo em sua testa. 

 

    Vá em frente.

 

    Não sabia se dizia aquilo para confortar a ela ou a si mesmo, mas tentou passar o máximo de tranquilidade para não assustá-la.



— Não precisa ficar com medo. — a voz dela saiu embargada. 

 

— Eu nunca teria medo de você. — respondeu, um pequeno sorriso em seus lábios.

 

— Eu sinto muito.

 

— Eu sei.

 

    A rapidez do impacto o fez arregalar os olhos. Quando olhou para baixo, a mão dela já perfurara seu abdômen. Sangue manchou sua blusa acinzentada de vermelho e respingou no uniforme da heroína, que manteve seus olhos nos dele a todo instante. 

 

    Ela retirou a mão de dentro dele tão rápido quanto antes, amparando-o assim que ele perdeu o equilíbrio. Sentou-se com ele no chão, recostando o corpo ferido contra os destroços de uma parede, e continuou a chorar. 

 

    Dabi pendeu a cabeça e lutou para manter os olhos focados nela, o som de sua respiração tornando-se a única coisa processada por seus ouvidos naquele momento. Mesmo agora, suja de sangue e chorando, ela continuava linda. 

 

    A mulher acariciou seu rosto em meio às lágrimas e beijou sua testa como ele fizera há alguns segundos.

 

— Eu te amei muito.

 

— Eu... sempre te amei. — ele respirou profundamente, esforçando-se para se declarar: — E amo. 

 

    A última vez que Touya Todoroki a viu, ele estava em paz.


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Notas finais do capítulo

:)



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