Caminho pelos corredores a procura do meu namorado. Onde ele deve ter se metido dessa vez? 

Passo direto pelo armário do zelador, mas paro logo em seguida ao ouvir um barulho vindo do quartinho apertado que continha frascos de limpeza e um esfregão. 

Abro a porta e dou de cara com Lio e uma garota qualquer. Finjo uma cara de quem estava brava, apenas apreciando o semblante da jovem que estava desconfortável sendo vista agarrada nos braços do meu namorado

Parece que ele não a havia informado que temos um relacionamento totalmente aberto.

— Lion Legrand! — grito, fingindo estar decepcionada.

— Angel! — passa a mão pela nuca e sorri torto, entrando no meu jogo. Olho a menina ao seu lado, esperando uma desculpa.

— Eu...Eu... — se solta do garoto —  Me desculpa, Angelita — abaixa a cabeça. Arqueio a sobrancelha e seguro o riso, vendo a morena de cabelos longos sair da sala do faxineiro. Ando até meu namorado.

— Fazendo caridade, Lio — sorrio o beijando — Não contou para ela que tínhamos um relacionamento aberto? Que malvado! — passo minhas mãos pelo seu pescoço e inclino a cabeça.

— As vezes é legal ser do mal — morde meu lábio inferior, me puxando para ele.

Saímos do armário do zelador para poder aproveitar o resto do intervalo, o rapaz estava com o braço em volta do meu pescoço. 

Paro de andar quando vejo que chegamos no nosso destino final, onde todos os nosso amigos estavam sentados na escadaria  de frente do colégio. Geral estava prestando atenção na briga que nosso amigo Kaden tinha com a namorada.

— Ela ainda tá bolada por ontem? — me escorro no corrimão.

— Se eu estivesse no lugar dela, também estaria — mesmo estando com o foco em seu livro, Celest me responde.

— Foi só um beijinho — cruzo os braços — Não foi nada demais, ela que é muito estressada e não sabe ver o lado bom das coisas — dou de ombros.   

— A Bethany viu o namorado se pegando com você dentro da enfermaria — Quentin reflete o que aconteceu, enquanto dava um trago em seu cigarro — Não é como se ela tivesse recebido um presente. Também não é todo casal que está de acordo a ter um relacionamento aberto, Angel.

— Ainda não consigo entender como conseguem manter um relacionamento aberto — Celest fecha seu livro, se intrometendo na conversa — Vocês sei lá... não sentem ciúmes? — cruza as pernas em forma de borboleta.

— Celest se você está insinuando que quer ficar com o Lio, é só falar — concordo com a cabeça com o que Jady esclareceu.

A morena fica com o rosto todo ruborizado, mesmo ficando com outras pessoas, Celest acha que estaria me apunhalando pelas costas se ficasse com o  Legrand. 

Não a culpo por pensar assim, azar o dela ficar se prendendo por minha causa, ela é quem perde. Não é sempre que pessoas maduras estão dispostas a terem um relacionamento totalmente aberto. 

Voltamos com nossa atenção para a pequena discussão do casal. Presenciamos ao vivo e a cores, Bethany jogar no chão o colar que Kaden tinha lhe dado.

— Mais um relacionamento acabado meu caro amigo — zombo o rapaz moreno que se aproximava.

— Nem consegue disfarçar que está radiante por termos terminado, não é? — seguro a risada.

— Eu estaria mentindo se te dissesse que não estou feliz — jogo meu cabelo para o lado — Ora, mas não fique triste, olhe pelo lado bom. — jogo meu charme para cima dele.

— E isso tem um lado bom? Deveria me sentir um cara de sorte? — debocha, se sentando  ao lado dos rapazes.

— Claro que tem! Agora você é todo meu! — digo em um tom possessiva.

O moreno se recusa a me olhar, ele é tão fofo quando é tímido, ou pelo menos finge ser. 

Não sei como Kaden que parecia ser tão fiel a Bethany iria acabar não resistindo aos meus encantos e trai-la assim tão descaradamente. Não que eu esteja reclamando, porém sempre pensei que o amor dos dois era mais forte que qualquer tentações que passassem.

Observo Jady que se localizava escorada no corrimão ao meu lado caminhar até Kaden e parar em sua frente, permitindo tampar o sol que brilhava em seu rosto moreno e seus olhos verdes.

— Se importa? — aponta para o colar que ele ainda segurava.

— Não, pode ficar — lhe estende.

— Ótimo — pega da sua mão com rapidez, antes que o Pedersen mude de ideia.

Capto com o olhar Hayden Watkins se aproximando de todos nós segurando um recipiente vazio que ali provavelmente  continha seu almoço minutos atrás.

Tenho certeza que o ruivo só tinha a intenção de subir as escadas para dentro do colégio e não de se dirigir a palavra até nós. Ele tinha o semblante de quem estava nervoso, como se fôssemos pegar no seu pé.

— Oi Hayden — fica paralisado quando chamo sua atenção.

— Oi — não se dá o trabalho de me olhar.

— Olha para a Angel, água de salsicha — Noel provoca. Mesmo não precisando,  o rapaz obedece —Agora fala direito com ela — sorri perverso.

— Oi Angelita — contrai a mandíbula, forçando um sorriso falso.

— Você não mostrou um sorriso com todos os dentes — implica novamente.

— Noel deixa ele, cara — meu namorado se intromete, tentando livrar a pele do ruivo.

Hayden sempre foi um cara tímido e bem reservado. Sempre quis saber o que ele sentia ou até pensava, mas só de uma coisa eu consegui desvendar durante alguns anos que estudamos juntos, ele tem uma queda por mim. 

Sempre quando possível tento falar com ele para poder notar que tipo de efeito eu causava nele, porém o garoto sabia muito bem encarar tudo com a maior neutralidade. E isso me deixava irritada. 

Eu simplesmente não conseguia arrancar nada dele, acho que pensa que é mais uma das apostas minha e do Lio, o que de fato é verdade.

Fico apenas observando cada movimento que dava. Meus amigos estavam ocupados demais se alfinetando para perceber que o ruivo estava tentando sair dali de fininho.

— Não vai, Hayden — Jady corre até o garoto e lhe estende o colar que ganhou do moreno. Ele a encarava com um ponto de interrogação no rosto, não sabendo o que fazer com aquilo — Não vai embora antes de colocar essa corrente em meu pescoço — prende o cabelos com as mãos, virando de costas para o mesmo. Watkins se rende e prende com dificuldades o feixe do colar no outro.

O mesmo desiste de passar por nós para entrar dentro colégio e caminha por trás do prédio, pretendendo entrar pelos fundos. 

Pelo que pude perceber por alguns minutos que estava perto de nós, ele é muito estressado e impaciente, porém consegue esconder isso muito bem. Mas se depender de mim, não vai conseguir esconder isso por muito tempo. Hayden quase que revelou sua verdadeira personalidade ficando com a gente.  Pior seria se andássemos com nós. Deve ser por isso que não nos dirige a palavra, porque despertamos a sua versão mais sombria.

Curioso, muito curioso.

— Você adora brincar com o pobre coitado não é, Noel! — Celest briga com o irmão.

— Fica na sua Celest.

— Não, ela tá certa — me intrometo na briguinha de irmãos — Você só implica com o Hayden. Qual é, Noel Spark não tem coisa melhor? — levanto a sobrancelha.

— Não lembram que a Noelle Traynor aceitou ir ao baile com o Hayden em vez do Noel? Isso foi no 7 ano e Noel era um grotesco — Kaden pega o cigarro das mãos de Quentin e da uma tragada, soltando a fumaça para cima.

— Eu também teria preferido ter ido ao baile com Hayden em vez de Noel — me pronuncio. Spark me olha com raiva — Qual é, Noel. Você era muito imaturo! — rio.

— E foi nesse mesmo dia que ele perdeu a virgindade com a melhor amiga da Noelle por vingança — Jady nos lembra.

— Babaca! — Celest insulta o irmão.

Muito imaturo do Spark implicar com o Hayden por causa de uma coisa que aconteceu no passado. Se ele quer que nosso grupo vença nas eleições do colégio para o Grêmio estudantil, vai ter que possuir mais maturidade, mas o engraçado é que não está participando das eleições para ter mais responsabilidade e sim para poder fazer suas próprias regras.

— Isso já faz 5 anos, supera! — me surpreendo por Quentin estar o motivando.

— Para de chorar e cresce — arregalo os olhos por meus amigos terem me olhado todos ao mesmo tempo, devem ter achado que fui muito grossa — O quê estão olhando? Se eu não disser isso, ninguém mais vai — me desencosto do corrimão — Vou pegar uma bebida na máquina de lanches.

Coloco algumas moedas dentro da máquina, vendo meus  últimos trocados serem sugados. Faço um bico ao ficar em dúvida entre duas bebidas novas que eu deva experimentar. Desafiei a mim mesma a comer um pouco de cada coisa ter que continha naquela máquina de lanches, isso incluía até algumas coisas que pareciam nojentas, porém no final eram saborosas. 

Inclino meu corpo para baixo  ao ter ouvido o som do refrigerante que selecionei caindo. Sinto umas mãos fortes abraçar minha cintura enquanto estava com metade do corpo inclinado.

— Sabe mesmo como deixar um cara louco, não é? — a voz grossa e rouca de Lion era sussurrada em meu ouvido.

— É só mais um dos meus dons — fico ereta e abro o lacre do refrigerante de cor rosa.

— A Cindy me informou que amanhã um novato vai estar entrando em nosso colégio.

— Cindy a filha do Diretor? — concorda com um aceno. Tento ao máximo segurar meus desejos carnais pelo garoto depois de sentir sua respiração quente em meu pescoço — E quem é o novato? — me desvencilho do mesmo e me viro para trás.

— Valentin Kampmann — tira de dentro da jaqueta do time uma ficha. Fico ao seu lado e analiso a ficha que segurava — Aqui diz que ele é o suspeito principal do assassinato de todas suas ex-namoradas — tiro meu cabelo loiro platinado do rosto.

— Suspeito, hm? — levanto o olhar para Lio — Acha que ele me mataria?! — sorrio abertamente.

— Se fosse a namorada dele, sim.

Apenas dando para vocês um gostinho do livro: MANIPULADORES.❤️