P.A.R.E escrita por Overture


Capítulo 1
A Transformação da Metamorfose - Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui jazem Pedro, Agatha, Ronny e Eduardo.
Amigos, amantes e grandessíssimos filhos da puta.



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Estar aqui é de certa forma um alivio pra mim sabe? Onde eu não preciso da minha máscara. Posso só falar o que vier a mente, o que eu realmente penso. Eu tenho esse problema de querer sempre mostrar a minha melhor versão: As palavras que eu uso, o tom da voz, uma viradinha de leve da cabeça pra sempre favorecer o melhor lado. Aumentar, diminuir  ou mesmo inventar as histórias pra sempre me sair por cima. Usar as roupas certas, usar as pessoas certas... Faço tudo isso a tanto tempo que as vezes acho que não sei mais quem eu sou de verdade. Mas me diga... Não seria toda essa geração perdida como eu?

Ah bom... A verdade é que não sei muito bem por onde começar sabe?  já que existem tantos começos diferentes na minha vida. Tem a vez que fui expulso de casa, quando fiquei bêbado pela primeira vez e fiz umas merdas, tem a vez que viajei sem rumo certo com um cara que conheci no banheiro da balada. Quando fiquei nu na rua durante toda a madrugada porque estava sem as chaves. Quando me senti livre num bate-cabeça ou quando fiz sexo por dinheiro. Tem o Pietro...

Ah como eu sou trouxa! Já sei exatamente por onde começar. Com P.A.R.E, claro. É meio besta mas começou com uma piada e depois a coisa pegou... Ah peraí, não seja afobado. Não precisa sair anotando tudo no seu caderno, eu nem comecei a falar ainda! Calma que vou te contar todas essas  histórias no tempo certo.

Bom aqui vai a história triste só pra ajudar a ilustrar, . Minha mãe morreu quando eu tinha oito anos. Foi logo depois de dar a luz a minha irmã. Ela teve uma gravidez toda complicada e não tava nada bem na hora do parto. Ficamos todos meio desolados né? Foi difícil pro meu pai aguentar três crianças sozinho ele fez um pouco de tudo pra conseguir se virar. Trabalhou em restaurante, bar, boteco, foi feirante... Tivemos muita ajuda também da minha vó e da minha tia que meio que criaram a gente.

Quando a grana apertou precisamos mudar pra Guarulhos, minha tia também achou melhor pra não ficarmos lembrando da minha mãe o tempo todo sabe? Novo começo.

A casa que a gente foi morar era boa até, ficava num bairro meio termo desses com prédios chiques e favela quase tudo junto. Ali perto tinha uma praça que eu sempre via as crianças da minha idade brincando. Me enturmei fácil e logo ja tinha aquele monte de muleque tocando a campainha de casa o dia todo chamando pra brincar.

E foi num dia desses, assim do nada, que ela apareceu.  Agatha, a menina mais linda que eu já tinha visto. Tinha o cabelo preto, usava uma franjinha com arquinho.  Todos os meninos ficaram doidos com ela.

Eu achei que ela era meio fresca sabe? Filha única e tal. Mas ela não tava nem ai. Saia pra brincar com a gente. Corria, pulava, se sujava, falava palavrão. Eu achava o máximo.

Foi quando uma tarde estávamos brincando de esconde-esconde e notei que ela estava perdida, sem saber onde se esconder. Peguei na sua mão e corremos pra de traz de caixa de luz que ficava no fundo da pracinha. Ficamos a baixados e olhando um pra cara do outro. Meu coração disparado. A correria, o medo de ser pego, aquela menina bonita tão perto... Eu não sei quem teve a iniciativa, talvez os dois, mas num segundo estávamos nos beijando. Aquele primeiro beijo: Torto, feio, não saber o que fazer com a língua... Foi maravilhoso. O marco da nossa amizade. Eramos duas crianças de nove anos fazendo algo que víamos nos filmes. Acho que foi o único beijo inocente que dei. Um beijo sem esperar nada em troca. Livre de malícias e desejos. Puro sabe? Por isso acho ele tão importante.

Mas é. Beijo hétero né? Desculpa te decepcionar, mas pra maioria de nós o primeiro beijo acaba sendo assim mesmo...

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Uma mão apertou o pause e os três jovens se entreolharam. Um dos garotos abriu a boca mas rapidamente tornou a fecha-la. Não havia necessidade para explicações. Ainda não.

Eles sabiam que não seria fácil ouvir aquelas gravações, mas também sabiam que era melhor encarar a verdade espinhosa do que continuarem  presos a uma doce ilusão.

Cada um acenou a cabeça de forma lenta mas com convicção, todos haviam concordado em continuar. Então a mesma mão apertou o play.


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