Quando a terra ainda era gelada muito além dos polos, havia pouco verde no continente, exceto por um lugar localizado perto do mar, em um estreito do extremo Oriente onde a mata densa se encontrava com a água de cachoeiras e lagos. Era belíssimo. Dentro dessa floresta, havia poucos povoados, bem pequenos, na verdade. Divididos em dois pequenos reinos, as fadas mantinham aquele jardim vivo durante o mais longo dos invernos. Os Reinos de Los Astennece e Alu Resteenc eram antigos rivais, não por ganância, ou guerra, mas por desentendimento. Ou, pelo menos, eram até o presente momento. Mas isso será explicado.

Alu Resteenc, Castelo Brilhante

—Não será tão difícil, Jungkook. Os solanos são um povo amigável, lhe juro. Li em um livro que já fomos aliados há muito tempo! E afinal, os Dormideiros são uma ameaça para nós até hoje. A aliança com eles pode salvar a todos nós! -a princesa atirou uma almofada no primo, enquanto estava sentada da cama de pétalas.

—Ora, pois estão tu deverias ir no meu lugar, Astra. Mostre a eles que também somos um povo amigável. -esbravejou o primo, que não deveria ser mais do que dois anos mais velho.

—Tu sabes que, se me fosse permitido, já estaria por lá, festejando com os nativos! Mas tu és mais velho, primo. Tu deves ser o embaixador a levar a boa nova aos solanos. -ela explicou, enquanto Jungkook a encarava com o típico semblante irônico.

—Que sorte a minha, então. Não sirvo para diplomacia, assim como não sirvo para ir festejar com um povo que solta raios pelos olhos! -ele se sentou na cama, junto à princesa, e olhou para as mãos vazias. Se sentia inseguro.

—Tudo acontecerá da melhor forma, lhe garanto. Eu sei. -ela lhe afagou as costas com carinho.

—Tu sempre sabes, não é? -ele lhe sorriu. -De qualquer jeito, tu és a princesa de nosso reino, precisas ficar protegida daqueles patifes.

Ela gargalhou, e o Conde pensou, pela milésima vez, em como queria estar no lugar da prima amada. Não é que não apreciasse sua posição real de conselheiro da princesa, mas possuía uma vida agitada demais para alguém que vivia nas sombras. Queria ser reconhecido pelo menos uma vez, não como o filho caçula do irmão mais novo da rainha Stellita, só como Jungkook. E talvez essa fosse sua grande chance, por mais que a ideia de simpatizar com o inimigo não lhe apetecesse muito.

Pela manhã, já havia preparado sua malas, e a prima lhe dava os últimos conselhos de uma futura soberana, e uma antiga amiga. -A fonte de luz dos solanos são cristais espalhados pelo reino, foram dados como um presente do Sol há milhares de anos.

—Ora, e por que não possuímos cristais assim?

Ele perguntou inconformado, enquanto lia o livro que falava sobre o povo do reino vizinho. Astra lhe encarou com irritação. -Tu realmente não aprendestes nada sobre eles, não é mesmo, Jungkook?

—E tu realmente pareces muito irritada com isso, querida. -ele sorriu, feliz por provoca-la.

—Estamos condenados. -ela, de forma dramática, colocou a mão no coração. Conseguiu arrancar-lhe um sorriso, mas foi só. -Lembre-se do que te disse. Solanos têm muito orgulho de seus cristais, é uma ótima maneira de iniciar um assunto! É a primeira vez em séculos que temos um embaixador enviado para Los Astennece, isso não é empolgante?!

—É uma pena que eles terão apenas o criado da princesa como embaixador. -sorriu autodepreciativo, e ganhou uma careta da princesa.

—Espero que tu mordas tua língua ao chegar naquele reino, e que suas asas te lembrem a não se esquecer do teu. -ela lhe mostrou a língua e depois passou o nariz levemente com o nariz do próprio, agora, embaixador. Era a forma antiga das fadas se cumprimentarem. E como certos costumes nunca mudam, ele só esperava que o rei solano tivesse a mesma educação, digo, tradição.

Quando já estava um pouco longe de Alu Resteenc, atravessando o Bosque Rougent, ele olhou para a pequena mala, sentiu o vento nas grandes asas cor-real, e lembrou-se mais uma vez -E eu espero não decepcionar ninguém.