Amy Sandoval e o passado que retorna - TDA escrita por Mrs Belly


Capítulo 15
Capitulo 15




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[...] Eles conversavam ao telefone em uma chamada de vídeo com Amy mandando beijinhos ao pai, quando a campainha tocou e Heriberto pediu um minuto para ir ver quem era, quando abriu a porta teve uma grande surpresa.

— Boa noite Heriberto, lembra de mim?

E o passado sempre volta!

Heriberto viu a imagem da mulher na porta de sua casa aquela hora da noite e como não esperava ninguém, muito menos uma "desconhecida", ele não entendeu sobre o que aquela loira de olhos claros estava falando. Heriberto não se lembrava dela de verdade, mas Leonella sabia bem o que estava fazendo ali, ela sempre quis ter aquele homem em seus braços e agora era a hora certa para isso porque nem ela nem Bernarda davam pasos em falso e aquela vingança sairia mais que perfeita no final das contas.

Ela ficou olhando para Heriberto por alguns segundos e vendo que ele não reagia e nem a mandava entrar, ela mesma entrou e se sentou no sofá de couro ficando com as pernas cruzadas.

Enquanto isso Amy já estava impaciente em esperar que o pai voltasse para falar com ela e com sua mãe na chamada de vídeo, a pequena estava sentada na cama ao lado de Victoria e segurava o celular e a imagem que via era a do teto do quarto já que Heriberto deixou o aparelho ligado em cima da cama.

— Mamãe! - Amy olha Victoria e seus olhinhos estão tristes, ela faz bico reclamando que seu pai não voltava e Victoria pegou o celular das mãos dela.

— Deixa a mamãe ver, filha! - pegou o celular e tentou escutar alguma coisa, Heriberto foi atender alguém na porta e estava demorando demais a voltar, então, mesmo tarde ela teve uma ideia.

Levantou da cama com cuidado e pegou a filha no colo depois de desligar o celular, chamou Nina que arrumava a cama de Amy no quarto e pediu que desse um banho nela e depois desse o jantar enquanto ela ia dar uma saída. A menina reclamou, queria dormir essa noite nos braços de Victoria mas mesmo assim foi com a babá enquanto a mãe se arrumava.

Ela ia fazer uma surpresa para seu amor e queria matar as saudades dos dias em que ficaram sem se ver pois, com a rotina voltando ao normal Heriberto mal tinha tempo de estar com elas mas sempre que encontrava uma brecha ele estava lá para amar Victoria e encher sua bebê de beijos e muitas cócegas na barriga. Pensando nisso, Victoria tomou um banho rápido e colocou o melhor vestido, saltos e por baixo da roupa apenas uma pequena calcinha de renda, ela pegou a bolsa e deu um beijo na filha, avisando Nina de que provavelmente não voltaria aquela noite mas que ela poderia ligar se precisassem de alguma coisa.

Assim ela foi para o apartamento de Heriberto.

Enquanto isso, ele se sentou ao lado daquela mulher misteriosa e ofereceu a ela um café apenas porque era dedicado. Heriberto não recebia ali outra mulher que não fosse a sua Victoria a quem ele amava, mas agora a situação era outra e ele quis saber de uma vez o que ela queria.

— Então... me desculpe senhorita mas eu não estou me lembrando... eu sou médico e conheço muita gente nessa vida.

Leonella sorriu entre dentes, arrastou o corpo para mais perto de onde ele estava sentado e foi direto ao ponto.

— É verdade, talvez você não se lembre de muita coisa daquela noite mas eu sim. Foi um momento lindo, você estava comigo na cama e depois de fazer amor comigo você simplesmente virou para o lado e dormiu!

— Quem é você e do que está falando?

Heriberto saiu de perto dela e ficou ali parado tentando entender aquilo. Ele não havia dormido com outra mulher que não fosse Victoria mas pensando mais ele se deu conta de um fato, de uma única vez que esteve com outra e que essa mesma depois destruiu a sua vida ao lado dela - a noite em que acordou em uma cama com uma mulher estranha do seu lado e em pé na sua frente estava Victoria com lágrimas nos olhos e depois ela saiu dali para nunca mais voltar, até ele a reencontrar agora.

— É você! - ele recordou - você é a mulher que acabou com a minha vida participando daquela armação que a minha mãe planejou para me separar de Victoria!!! Claro!!!

— Ah, finalmente! Achei que eu ia ter que ficar aqui a noite toda tentando te fazer lembrar da noite em que transou comigo e depois me jogou fora e tudo por causa daquela mulherzinha!! - Leonella riu e era bom que ele soubesse que ela não sairia dali tão fácil assim sem ter o que queria - Mas eu não participei de nada! Como pode ser tão cinico, Heriberto?

— Olha, dá licença! Eu não sei o que você veio fazer aqui mas se veio tirar a minha paz parabéns, já conseguiu e agora já pode ir embora! Eu não quero voltar a esse assunto e as mentiras que está dizendo tampouco me interessam!

— Você não ama aquela mulher? Ama? Claro que não! Se foi pra cama comigo é porque quis! E agora eu vim atrás do que é meu. - Leonella segurou o braço de Heriberto e andou com ele até encostá-lo na parede da sala. Heriberto reagiu e a afastou, não ia permitir que aquela maluca acabasse com tudo outra vez, mas a mulher foi logo beijando ele na boca.

Victoria chegou no andar em que seu amor mora e quando se aproximou da porta, achou estranho por encontrá-la entreaberta. Lá de dentro se ouvia vozes de mulher junto à dele que estava alterada então ela entrou ali mas o que viu desmontou seu sorriso e fez seu corpo enfraquecer. Colocou a mão na barriga antes de gritar:

— Heriberto Ríos Bernal!!! O que está acontecendo aqui! - largou a bolsa no chão e ele empurrou Leonella olhando depois para Victoria. Estava tão atordoado que nem soube o que explicar.

O ar naquela casa ficou pesado mas ela não estava dando a mínima, Leonella não conseguiu ter Heriberto da forma como veio na intenção de ter, mas pelo menos seus planos com Bernarda estavam dando certo e Victoria mais uma vez cairia naquela armadilha porque era apaixonada por ele.

Sorrindo ela olhou Victoria ali e com o mais alto nível de deboche começou a falar.

— Eu não sabia que estava esperando visita a essa hora, meu amor. - tocou o braço de Heriberto mas ele a afastou e foi até Victoria que correu para fora dali e no corredor indo em direção ao elevador atrás dela, Heriberto implorava,

— Victoria!!! Amor! Victoria espera!

— Esperar o que Heriberto? Esperar você levar aquela vadia pra cama na minha frente?? E justo essa mulher? A mesma que eu peguei na cama com você há anos atrás?? - pegou de andar e apertou o botão do elevador para sumir da frente dele.

— Amor eu... eu não sei o que ela veio fazer aqui! - agarrou o braço dela e suas respirações ficaram próximas - Victoria vamos conversar! - a olhou desesperado.

— Me solta. - disse um pouco mais calma que antes - Eu vou embora, vou deitar e dormir com a minha filha porque era isso que eu deveria estar fazendo agora. - não quis olhar para ele e Heriberto a soltou.

— Amor eu te amo, precisamos conversar! - Heriberto insistiu, não queria que sua vida e sua felicidade acabasse de novo, ele não suportaria mais viver sem Victoria.

— Amanhã. Me encontre amanhã na casa de modas. - assim ela foi embora deixando ele ali partido aos pedaços.

Heriberto naquela hora quis morrer. Ele viu Victoria entrar no elevador e sumir de suas vistas sem ao menos dar a ele uma chance de explicar o que ele também não entendia o porquê estava acontecendo. Respirou fundo e voltou para casa esperando ainda encontrar aquela mulher ali mas ela não estava. Melhor assim, porque agora tudo o que ele mais queria era deitar e aguardar o dia amanhecer para falar com ela.

Victoria sentia o chão faltar embaixo de seus pés, novamente ela via aquela cena se repetir para trazer tormenta a sua vida. A sua vontade era de voltar aquele apartamento e acabar com a raça daquela mulher com suas próprias unhas mas não o fez porque se Leonella estava ali era porque alguém muito pior a enviou para fazer sujeira e dessa vez ela não cairia naquela cilada. Bernarda de Iturbide, a pior sogra e a pior mãe que podia existir no mundo e era com ela que Victoria decidiu - enquanto ia de taxi para casa - que acertaria as contas.

Ela chegou atirando os sapatos pela sala e se atirou ali mesmo no sofá. Chorou pensando na conversa difícil que teria com Heriberto mas Bernarda estava indo longe demais e ela precisava parar aquela bruxa! Chegou a hora de Heriberto saber de tudo e principalmente do que sua mãe tem sido capaz de fazer durante esse tempo para destruir a vida deles e pensando nisso, Victoria cochilou cansada e algum tempo depois ela acordou quando ouviu barulhos de pezinhos vindo na sua direção bem devagar para que ela não despertasse. E era ela, Amy, um dos maiores amores de toda uma vida.

A pequena dormia quando ouviu a mãe chegar e imediatamente ela acordou Nina pedindo para ir até ela. Amy andou de mansinho na ponta dos pés e quando chegou perto, agarrou as pernas de Victoria e "escalou" o corpo dela até estar em seu colo. Depois passou as mãozinhas no rosto dela e disse amorosa:

— Mamãe!

— Oi minha princesinha! - Victoria abriu os olhos sorrindo, pegou a mão da filha e deu um beijo ali.

Amy se debruçou sobre ela e ficou brincando com os cabelos da mãe enquanto a olhava nos olhos, de repente ela sentiu uma coisa e arregalou os olhos.

— Ahh, mamãe! o te foi isso? - olhou para baixo.

— Foi o seu irmãozinho que mexeu, meu amor. Ele está aqui na barriga da mamãe, lembra? - sorriu da expressão que a menina fazia enquanto tocava a sua barriga já aparente.

— Eu posso binca com ele mamãe? - sorriu encantada mesmo não entendendo direito o fato de o irmão ainda estar ali dentro e não junto com elas.

— Agora não dá Amy, ele ainda não nasceu. Mas se você conversar com ele vai te escutar.

— Oi nenê! - Ela começou a falar com o irmão e fez carinho na mãe - Ele não te fala comigo! - fez bico e Victoria a encheu de beijos saindo dali para o quarto. Deixou sua menina com Nina e foi tomar um banho rápido, depois voltou e levou Amy para o seu quarto e dormiu agarrada com ela assim que conseguiu desligar a sua mente dos acontecimentos daquele dia.

Casa de Modas Victoria...

Heriberto já estava lá a quase duas horas e nada de Victoria aparecer. A secretária disse a ele que ela ligou avisando que se atrasaria um pouco mas que logo chegaria ali mas isso não era uma desculpa boa para ele que teve medo de seu amor não aparecer por estar acreditando que ele a trairia com outra e o que era ainda pior, com a mulher que foi cumplice de sua mãe Bernarda no plano que o separou de Victoria. Heriberto esperou mais alguns minutos, andava impaciente pelo prédio e pediu para esperar na sala dela até que finalmente, e batendo os saltos Victoria entrou ali.

— Desculpe o atraso! - disse e se aproximou da cadeira quando Heriberto virou a mesma para olhar para ela. O rosto dele estava tão tenso quanto o seu e ela respirou fundo fazendo um esforço fora do normal para se afastar dele que levantou e quis beijá-la.

Primeiro teriam que acertar tudo antes de qualquer toque ou carícia ou do contrário ela não seria capaz de resistir a ele e perderia toda a sua coragem de contar a verdade que omitiu por medo de que Heriberto sofresse.

— Não Heriberto, acho que temos que conversar antes de qualquer coisa. Senta aí porque o que eu tenho pra te contar não é nada bom e muito menos fácil. Você tem que ser forte...

— Aconteceu alguma coisa com você ou com o nosso filho? - ele tocou o ventre dela - Amy está bem?

— Calma. - Victoria puxou uma cadeira para ficar mais perto e segurou em suas mãos geladas - Estamos bem! - sorriu mas logo a tensão tomou conta daquele lugar e ela teve medo. - O que eu quero falar é sobre a sua mãe, meu amor. Vamos falar de Bernarda.

— Minha mãe? - não entendeu nada - Eu achei que você quisesse me matar por causa daquela maluca que esteve ontem lá em casa... Victoria... - Heriberto ia sair dali mas Victoria impediu segurando em seu braço.

— Espera até eu te falar, por favor me escuta. Eu fiquei com raiva sim e quis muito bater em vocês dois até mata-los! mas eu sei que você não teve culpa e que aquela mulher esteve em seu apartamento por uma razão. Ela quer separar a gente de novo!

— Mas o que a minha mãe tem a ver com isso se ela nem está aqui, Victoria? eu vi ela morrer na minha frente naquele hospital.

Victoria o abraçou. Heriberto precisava dela assim como ela precisava dele para vencer tudo aquilo, toda aquela tormenta e maldade que não saia de suas vidas e dizer a verdade era a sua única saída, ela não podia ver Bernarda a atacar e ficar sem fazer nada. Era a hora de acabar com as maldades daquela mulher.

— Olha pra mim amor! - Victoria pediu e ele olhou - Eu preciso de você e quero que acredite em mim. Nós estamos em perigo e tudo isso que aconteceu com a gente e com Amy é por culpa dela! Bernarda de Iturbide está viva, Heriberto! A sua mãe está viva e por trás de tudo isso! e eu não tenho dúvidas de que o que aconteceu ontem a noite também foi a mando dela!

— Espera aí! você está me dizendo que durante todo esse tempo eu fui enganado? 

Eu não consigo entender, Victoria, Bernarda não faria essas coisas todas contra a própria neta...

— Não se esqueça que Amy também é minha filha, Heriberto. A pessoa que a sua mãe mais odeia na face da terra - era verdade e ela estava sendo sincera.

— Desde quando sabe disso? - Heriberto quis saber - Ou melhor, como sabe disso? de onde tirou essa ideia, Victoria? - ele saiu da cadeira e passou a andar pela sala, sentia como se todo o seu passado retornasse e mais uma vez teria que enfrentar um grande pesadelo. Heriberto sabia que Bernarda nunca gostou de Victoria e que sempre fez de tudo até conseguir separá-los, mas forjar a própria morte? era surreal demais para ele.

Victoria deu um longo suspiro e começou a falar de uma vez tudo o que sabia e tudo o que aconteceu no dia em que Bernarda esteve no hospital naquela noite,

não estava sendo uma conversa fácil e por várias vezes ela desabou em lágrimas vendo seu amor chorar ali também. A porta do escritório foi trancada e os funcionários avisados para que ela não fosse interrompida. Heriberto estava tenso então Victoria se aproximou, olhou bem no fundo dos olhos dele e com amor o beijou na boca sendo da mesma forma correspondida, ele amava tanto aquela mulher que por nada no mundo a deixaria e estava disposto a tudo para ser feliz com ela.

— Preciso que acredite em mim meu amor. Eu não te contei antes porque tive medo, tanta coisa ruim estava acontecendo com a gente! - ela disse entre o beijo - Mas é verdade. Lembra quando eu estava no hospital e você viu sopa quente nas minhas pernas e nos lençóis da cama? - segurou a mão dele e os dois voltaram a se sentar - Foi ela, a sua mãe quem jogou quando eu me assustei assim que ela entrou ali...

***

— Sim minha querida como pode ver estou aqui! Não pareço viva? - ela se aproxima da cama de Victoria que se afasta um pouco e joga sobre ela o resto da sopa quente que sobrou na tigela.

— Ahhhh! - Victoria chora e tenta sair da cama, mas sente uma tontura e não consegue se levantar.

— Isso chore Victoria, todos estão ocupados e ninguém virá agora te ajudar, nem mesmo aquele meu filho ingrato! - ela passa a mão sobre o rosto de Victoria ela fecha os olhos em repulsa.

— Sabe de uma coisa, agora a pouco eu estive com aquela sua pirralha insuportável que você chama de filha. Na verdade peguei-a na escola para dar um passeio! Fala a verdade que professoras se distraem e deixam uma criança sumir assim? - gargalhou - só mesmo aquelas duas tontas e você deveria processá-las!

— O que fez com a minha filha sua desgraçada? Eu vou acabar com você! Não estava morta??

— Calma Victorinha não se exalte ou nunca mais sairá dessa cama de hospital e abaixe o tom para falar comigo! - Bernarda desferiu um tapa no rosto dela que só sabia chorar de medo pelo que Bernarda fez e ainda poderia fazer a sua pequena Amy, Victoria sabia que aquela mulher seria capaz de tudo para atacar. - fica quietinha aí ou eu acabo com você e com aquela garota!

— Bernarda, por favor, onde está o seu coração? Ela é sua neta, filha de Heriberto! - implorou com um olhar mais que desesperado, mas ela não teria nenhuma piedade, nunca teve.

— Sinto muito querida, mas nada disso me comove. Pelo contrário, me dá ainda mais raiva por vir de você! E vou te contar uma coisa viu, aquela pirralha não é nada parecida com meu filho, pode ser de qualquer um porque você é uma piranha!

— Cala a boca, desgraçada! - Bernarda estava indo longe demais.

— Quer apanhar mais, não está satisfeita? Grite mais uma vez e você e ela morrem hoje mesmo! Sabe muito bem do que sou capaz!

Victoria colocou as duas mãos sobre o rosto e se permitiu chorar ali, essa era a única coisa que podia fazer naquele momento e não pode acabar com aquela mulher que estava em sua frente. Ela se sentia destruída por dentro e por fora por não poder fazer nada para proteger a sua filha daquele ser monstruoso que é a mãe de Heriberto, incrível como duas pessoas podem ser tão diferentes como um anjo e um demônio, era isso que ela era.

— Vamos pare de chorar, esse era para ser um encontro feliz afinal faz um tempo que não nos vemos e posso te dizer que te ver assim me alegra bastante, melhor ainda se estivesse morta! Mas em breve você estará! - Bernarda ria de Victoria com um prazer diabólico e espantoso, só mesmo uma pessoa sem coração seria capaz de agir dessa forma.

— Por que quer tanto que eu morra Bernarda? O que de tão ruim eu fiz a você para merecer que queira se vingar? EU NÃO FIZ NADA! ME DEIXA EM PAZ! - gritou.

— NÃO QUERO TE DEIXAR EM PAZ VICTORIA! Quero que não tenha paz um minuto sequer da sua vida porque você destruiu a minha família tirando o meu filho de perto de mim, sua vagabunda! - bateu mais nela, um tapa em cada lado do rosto.

— Eu não tirei ninguém de você, Heriberto foi embora para viver comigo porque você nunca deu paz a ele também, você nunca amou o seu próprio filho!

— Quieta! Não quero que abra mais essa sua boca imunda para me dizer nada, agora você só escuta, porque eu vou te contar uma historinha bem divertida!

Victoria a olhou sentar-se ao seu lado na cama e se encolheu da maneira que conseguiu para evitar contato com ela, secou um pouco das suas lágrimas e ficou esperando pela próxima crueldade que Bernarda iria dizer que fez mas só pediu a Deus para que não tivesse a ver com a sua filha.

— Era uma vez uma rainha que queria que o filho dela se casasse com uma mulher boa, mas ele só tinha olhos para uma qualquer como você! - começou a falar e Victoria interrompeu.

— Será que você pode ser um pouco mais direta, Bernarda? Não tenho tempo para as suas "historinhas"...

— Cala a boca, eu disse para escutar, mas já que quer que eu seja direta, pois bem... lembra do dia em que você encontrou Heriberto na cama com Antonella?

— Antonella? - Victoria não entendeu.

— É o que eu disse está surda? Aquela mulher... continuando, eu pedi para ela ir até lá porque meu filho estava sozinho precisando de uma companhia enquanto você estava enfurnada naquela sua maldita casa de modas! Com ela sim eu sempre quis que Heriberto se casasse e tivesse filhos, Antonella era uma mulher rica e de classe, sabia se comportar à mesa e não era assim como você, uma pobretona que tentava ganhar alguma coisa na vida com aquelas roupas horríveis que você desenhava. Mas ele nunca quis saber dela e essa foi a minha carta na manga! Você burra como sempre, ainda foi embora e quando ele acordou eu disse que você tinha fugido com um cara desses favelados da laia em que vivia... depois eu resolvi aproveitar a minha vida longe daqui até que você voltou!!

— Como você pode ser tão sórdida, tão cruel assim? - Victoria não conseguia acreditar em tudo aquilo, mas era mesmo verdade como Heriberto disse, uma armação de Bernarda para separar os dois.

— Com o tempo você aprende, vai por mim. A vingança é doce querida!

— Por sua culpa eu quase perdi a minha filha, sua desgraçada! Eu estava grávida e iria contar a Heriberto quando tudo isso aconteceu, não sabe o inferno que a minha vida se tornou!

— Que bom saber - Bernarda sorria - e agora é o que a sua vida vai se tornar de novo! Não se atreva em abrir a boca para contar a quem quer que seja nem mesmo a Heriberto que eu estive aqui ou você já sabe bem que a sua filhinha não sairá viva e a próxima a morrer será você!

***

— E foi isso o que aconteceu, Heriberto. Agora você entende o porque omiti essa verdade de você? Ela não vai nos deixar em paz nunca! - Victoria suspirou sentida, os olhos marejavam e as mãos tremiam enquanto segurava o rosto de seu amor - Bernarda não vai me deixar em paz até me ver morta!

Heriberto ouviu tudo calado. A sua cabeça estava a mil e ele já nem conseguia mais pensar direito no que ia fazer para ter paz com sua família. Victoria estava grávida e não podia mais sofrer emoções fortes ou perigo porque isso poderia prejudicar tanto a saúde dela quanto a do bebê que estava esperando, então ele se afastou um pouco ainda perdido e com o coração doendo, pediu a Victoria que fosse para casa ficar com Amy enquanto ele com suas próprias mãos iria enfrentar sua mãe e até se fosse possível a colocaria na cadeia para pagar pelo mal que fez a Victoria e principalmente a Amy que era só uma criança.

Victoria hesitou na mesma hora em que ele disse que procuraria Bernarda. Ela sabia bem o que aquela mulher era capaz de fazer e não ia deixar Heriberto correr nenhum risco pois, Bernarda tinha um aliado, Juan Pablo, que fazia tudo o que ela pedia e que com certeza faria mal a seu amor porque aquela mulher não perdoaria nem mesmo o próprio filho por vingança.

— Não você não vai, Heriberto! eu não vou deixar que ela faça qualquer coisa contra você! - Victoria se aproximou dele e o abraçou com força. Ela chorava de medo e ele respirava pesado, o sangue fervia nas veias e ele não estava disposto a colocar aquela decisão em discussão - E tem mais, como você vai achar a sua mãe nessa cidade enorme? Amor isso é loucura e sou eu quem ela quer atingir!

— Victoria presta atenção. Vai pra casa ficar com a nossa menina e cuidar do nosso menino também que eu me viro com ela. Minha mãe é louca sim, mas não teria coragem de me atacar. - Heriberto tocou a barriga dela e a beijou com carinho - Eu acho que sei onde Bernarda pode estar.

Sem mais ele saiu da casa de modas antes que fosse fraco e desistisse de uma vez. Ver Victoria chorando e sofrendo era o que ele mais odiava ver na vida, mas mesmo assim precisava ir e acertar as contas com a mulher que ele achou que o amava como o filho que era, mas que na verdade não sentia nada porque nunca foi capaz de amar alguém de verdade.

E assim o dia passou...

Victoria não viu outra alternativa a não ser ir mesmo para casa e cuidar de sua menina enquanto esperava por noticias de Heriberto. O celular ficou em cima da mesa e de cinco em cinco minutos ela olhava para a tela na esperança de que ele ligasse ou mandasse mensagem, mas nada disso estava acontecendo. Enquanto isso no tapete da sala estavam brincando Amy e João, Victoria ligou para Antonieta e pediu pela companhia dela porque estava cansada e aflita, assim aproveitariam para conversar um pouco.

Uma barraquinha de lençóis foi montada ali. Cadeiras serviam como escora do telhado armado de grandes tecidos coloridos que a pequena Amy mesmo pegou no quarto da mãe para brincar, Antonieta auxiliou nesse processo e depois as duas crianças ficaram ali. Ouviam-se risos e traquinagens enquanto do lado de dentro de Victoria um vulcão de emoções e medos entrava em erupção, e sua amiga percebeu isso.

— O que tanto te atormenta minha amiga? - perguntou Antonieta trazendo xicaras com chá e biscoitos para comerem - Parece aflita, onde está Heriberto?

— É com ele mesmo que estou preocupada. - a olhou e pegou o chá - Ele foi atrás de Bernarda.

— O que? - disse alto e Victoria a repreendeu, não queria que as crianças ouvissem aquilo. - Então você contou a ele? - arregalou os olhos.

— Sim. Disse tudo o que guardava pra mim e que me fazia sofrer ainda mais com toda essa tragédia que tem acontecido nas nossas vidas, Antonieta. Acho que se quero viver em paz com ele, primeiro temos que ter confiança um no outro e acabar com os segredos... não gosto de esconder as coisas de Heriberto, ainda mais porque ele me conhece muito bem então mais cedo ou mais tarde iria saber de tudo. E agora tenho medo...

— Calma Victoria, Heriberto é inteligente e com certeza conhece a mãe que tem, então deve saber mais do que ninguém onde está se metendo. Quem sabe ele consiga parar essa mulher e vocês possam ser felizes. - Antonieta a abraçou amparando a amiga naquela hora difícil.

Amy parou o que estava fazendo e sensitiva mesmo tão pequenina pode saber que com a mãe tinha algo de errado. Ela caminhou até Victoria e sentou em seu colo, a olhou nos olhos e deu um beijinho nela.

— Mamãe? ta dodói? - a menina esticou o bracinho e pegou um biscoito na tigela - Toma mamãe, tem ti come pa fica boa. - Colocou o biscoito na boca dela e Victoria sorriu mordendo um pedaço.

— Obrigada minha bebê! a mamãe vai melhorar porque você está cuidando de mim direitinho! - beijou o rostinho dela e Antonieta se emocionou com a cena, logo veio João reclamando e pedindo a amiguinha para voltarem a brincar.

— Vem Amy! vou conta uma hitólia de bicho papão pa você! - ele puxava a saia do vestido dela e a menina reclamou, agarrada a Victoria.

— Não! agola eu vo cuida da mamãe! - fez bico.

João não entendeu o que ela estava dizendo, estavam brincando tão animados e de repente Amy parou e ficou sentada. De certa forma ele já estava acostumado, sempre estava brincando com ela e do nada tinha essas mudanças de humor como uma legítima Sandoval mas ele se preocupou.

— O ti foi tia Vitolia? - o menino chegou perto dela e colocou as mãos em seu rosto.

— Não foi nada meu príncipe, a titia já vai ficar boa. - Sorriu e Amy olhou pra ele.

— Sim, puquê eu to cuidando dela igual que meu papai faise na icolinha. - Ela colocou a mão na cintura e ficou em pé, mostrando que tinha poder e pleno controle da situação.

Todos riram e Victoria comentou que se Heriberto estivesse ali, ele diria que a filha estava igual a ela. Antonieta achou engraçado, ela gostava muito da "sobrinha" e tinha muito carinho com ela assim como a amiga tinha por João, ela se levantou do chão da sala e chamou os dois para a cozinha, juntos iriam fazer panquecas com leite condensado, sugestão de Amy que alegou que comer doce deixava a mamãe mais feliz. Assim, enquanto cozinhavam e se divertiam com os pequenos, Antonieta e Victoria terminaram aquela conversa. Em alguns momentos ela chorava mas não poderia se sentir melhor em confiar suas dores e segredos a melhor amiga e companheira de todas.

Não muito longe dali estava Heriberto. A cabeça dele estava fervendo e se não fosse uma pessoa sensata com certeza perderia a cabeça e sairia fazendo besteira. Por muitas vezes ele quase fez isso, mas três pessoas precisavam dele e ele sabia pensar no que fazer. De carro furando alguns faróis pelo nervosismo, Heriberto ia em direção ao lugar que ele imaginava que Bernarda pudesse estar, um apartamento um pouco afastado da cidade que há muitos anos ele mesmo comprou com suas economias no começo da carreira como médico para ajudar a mãe que passava por dificuldades financeiras. Foi um presente que quis dar a ela e que nunca mais visitou desde sua "morte" porque não queria sofrer a perda dela mesmo depois de descobrir todo o mal que a mesma fez para separá-lo de Victoria. Heriberto era um filho que se preocupava com sua mãe e que nunca deixava faltar nada a ela, mas agora a situação era outra, a sua vida mudou assim como ele mesmo, que estava disposto a enfrenta-la de uma vez por todas.

Bernarda estava deitada na cama com duas rodelas de pepino no rosto, queria estar bonita, enquanto Juan Pablo jogava uma partida de xadrez com Antonella. Eles já haviam conversado e mesmo com a reprovação de Bernarda por conta do plano mal sucedido da moça com Heriberto, estava disposta a tentar mais uma vez tramando outro plano, mas para isso precisariam esperar um pouco ou tudo daria errado, só que ninguém ali imaginava o que estava prestes a acontecer.

— Temos que agir, Juan. Aquela piranha maldita não pode sair ilesa nessa história! Precisamos pensar numa forma eficaz de acabar com ela e com aquela pirralha que chama de filha. Meu Deus, que menininha insuportável! Não tem nada do meu Heriberto.

Juan Pablo começou a rir. Onde é que aquela mulher tinha coração? e desde quando falava do filho com um pingo de carinho? estava louca, ou ia trapacear.

— Não me diga que a mamãe agora vai ter piedade do filhinho bastardo? Tenha dó Bernarda! Confia em mim e vamos se dar bem, seu plano com essa burra aqui - apontou Antonella na mesa - Não deu certo e nem vai dar, porque aquela gostosa da Victoria não é mais tão trouxa como você pensa. Aposto que depois de tanto atacar a pirralhinha, a vadia agora ficou bem esperta...

— Até parece, criatura! Victoria morre de medo de mim e quando estive com ela pela última vez deixei bem avisada. Qualquer palhaçada que ela fizer, será o fim pra ela e para aquela garota nojenta.

— Credo mulher! nem parece que é sua neta! - Antonella se assustou, olhava embaixo da mesa para ver se Juan estava roubando no jogo.

— Essa aí tem um buraco no lugar do coração, pilantra. Vai se acostumando. - Juan Pablo gargalhou.

— Olha quem está falando! O cara que quer pegar a menina e levar pra um bordel de vadias... - Bernarda revidou e ele fez cara feia.

— Eu hein! nem sei porque topei voltar pra essa roubada com vocês!

— Tá arrependida, querida? - Bernarda sentou perto dos dois - A porta da rua é serventia da casa! Rua!

— Azedou...

Heriberto estacionou o carro uma rua antes para não dar na vista. O prédio não era tão movimentado e poucas pessoas passavam pela rua. Ele ficou alguns minutos ainda dentro do carro pensando na vida e em tudo que o levava a tomar aquela atitude, não esperava encontrar a mãe depois de tanto tempo achando que ela havia morrido mas se ela mesma pedia por aquilo e queria guerra, então ia ter. Saiu e entrou no edifício, um porteiro nada simpático o atendeu e Heriberto não quis ser anunciado, faria uma surpresa, uma grande surpresa para aquela mulher sórdida.

A campainha tocou e os três se entreolharam. Ninguém sabia onde eles estavam é muito menos esperavam por visitas. Antonella se escondeu no banheiro enquanto Juan Pablo sacou uma arma e Bernarda foi abrir a porta e quando o fez, ela quase caiu dura diante da pessoa que estava ali e que não imaginava voltar a ver tão cedo.

— Olá, mamãe. Que saudades eu estava de você! - Heriberto disse seco, sem expressão porém completamente impactado porque tudo o que Victoria disse era mesmo verdade e ela estava mesmo ali viva diante de seus olhos.

Bernarda deu um grito e atrás dela o filho pode ver Juan Pablo, aquele homem maldito que rondava a vida de sua mulher e de sua filha para fazer mal a elas, e ele teve vontade de acabar com ele, empurrou a porta quando Bernarda tentou fechar e entrou, mas foi parado por Juan que apontou a arma com o gatilho pronto para cometer una tragedia.

Victoria estava brincando com as crianças ao lado de Antonieta. Sorria feliz com um brinquedo nas mãos e contava aos pequenos uma história quando sentiu o peito doer e o coração bater depressa.

— O que foi amiga? - Antonieta se preocupou com ela - Está pálida!

— Eu não sei mas preciso ver Heriberto!

— Eu quelo vê o papai, mamãe! - Amy ficou em pé na frente dela e sorria animada... mal sabiam que o pior estaria por vir.

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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