Um Título Vazio escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 3
A chegada




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O som estridente do apito era o aviso sonoro de que desembarque estava próximo. Marguerite acordou sobressaltada e logo notou que estava sozinha na cabine.
“É melhor ir se acostumando, Srta. Krux”. Disse para si mesma com sarcasmo.
A herdeira se pós de pé e espiou pela escotilha para avistar o imponente London Gateway, inaugurado em 1908 às margens do Tâmisa, o grandioso porto era o maior de toda a Europa.
“Enfim a civilização”! Ela suspirou. Esta tinha sido a visão que permeou seus sonhos por tanto tempo e agora as incertezas não a deixavam criar nenhuma expectativa sobre o que iria encontrar assim que colocasse seus pés em terra firme.
Demorou alguns minutos até que Roxton entrasse no quarto.
“Você já está de pé”. Sua afirmação soou mais como um questionamento, os últimos dias não tinham sido fáceis para Marguerite e ela estava visivelmente esgotada. Seus olhos estavam cansados e sua pele pálida estampava círculos escurecidos e volta dos olhos.
“A sirene me acordou”. Falou com sinceridade. “Você acordou cedo, está ansioso?”
“E você não”?
“Não sei se ansiedade é a palavra apropriada. Isto é tudo que eu mais desejei nos últimos três anos”. Ela parou e refletiu por um segundo. “Não, o que eu mais desejei nesses anos foi estar com você.”
O caçador se aproximou e a envolveu em um abraço apertado, em seguida, levantou seu rosto com suavidade e beijou seus lábios com doçura. Há muito tempo ela não sentia essa segurança.
“Tudo ficará bem, eu prometo. Logo estaremos juntos definitivamente”.
Ele tentou acalmá-la.
“Eu sei disso”. Ela queria se convencer que tudo realmente estaria tudo
bem em breve.
No cais, Summerlee estava feliz pelo êxito de seu neto. Nem por um
segundo ele duvidou que o rapaz não fosse capaz de trazer seus amigos de

volta sãos e salvos. Ao lado de Arthur, Jesse Challenger não podia conter as lágrimas diante do que para ela seria um milagre: seu amado marido estava em casa novamente, de volta para seus braços.
Roxton procurava em meio às pessoas o rosto de sua mãe, ele mal podia conter a emoção da espera por seu abraço, sentia-se como um garotinho que aguardava no portão da escola a chegada dos pais. Porém, ao invés de Lady Roxton, o caçador reconheceu outra pessoa: Alfred, o mordomo da família, seu amigo, cúmplice e confidente. Embora frustrado, ele ergueu o braço sorrindo e acenou para o homem.
Marguerite, por sua vez, não se deu ao trabalho de procurar por pessoas conhecidas. Ela sabia que não havia ninguém à sua espera em Londres ou em qualquer outra parte do mundo. A constatação desta realidade a deixou mais triste do que ela esperava. Há algum tempo isso não faria a menor diferença, mas agora, depois dela ter experimentado ser querida por alguém... Isso pareceria ser algo vicioso. “O amor é vicioso, quanto mais se tem mais se quer ter”. Ela pensou. Um toque suave em seu ombro a fez se virar.
“Vamos? Meu avô está ansioso por cumprimentá-la”. Benjamin ofereceu- lhe o braço.
Arthur a abraçou calorosamente, e ela retribuiu o carinho com a mesma intensidade, depositando um beijo em sua bochecha barbuda e não se importando em deixar as lágrimas escorrerem de seus belos olhos acinzentados.
“Eu senti tanto a sua falta” confidenciou.
“Eu também, minha criança”. O professor segurou gentilmente as mãos de Marguerite entre as suas. “Mas você não parece feliz por estar de volta”. Observou o adorável senhor.
“Você continua com sua capacidade de ver além do que lhe é exposto, não é mesmo?” Ela sorriu e se absteve de dar-lhe mais detalhes. O professor não estava absolutamente satisfeito, mas teria tempo para descobrir o que incomodava a linda jovem.
“Arthur, seu velho teimoso! Eu sabia que uma queda na corredeira não seria o suficiente para acabar com sua impertinência”. Challenger cumprimentou o amigo de forma brincalhona e todos riram.

Marguerite olhou obliquamente para John que conversava com um senhor de boa aparência. Ela ficou curiosa por saber quem era aquele homem e principalmente, ela queria saber por que Lady Elizabeth não veio receber o filho. Com algum esforço ela conseguiu ouvir do que tratavam.
“Lorde Roxton, que satisfação e, vê-lo bem.”
“Alfred, você me verá realmente bem se esquecer do meu titulo e me chamar de John, como sempre foi.”
“Desculpe, mas essas foram as ordens expressas de milady”.
“Bem, neste caso, eu como seu Lorde ordeno que você me chame de John”. Roxton fez uma pausa e finalmente perguntou. “Por que ela não veio me receber? Algum problema?”
O homem mais velho pareceu desconcertado.
“Você conhece sua mãe, Lady Roxton não gosta de locais com grande circulação de pessoas, dificilmente sai de Avebury. Ela me pediu que eu o recebesse e o levasse imediatamente para lá que ela o aguarda em sua propriedade”.
O caçador mal conseguia disfarçar a decepção e Marguerite cerrou momentaneamente os olhos aceitando que seus pressentimentos estavam certos e que seriam cada vez mais raras as oportunidades de encontrar John.
“Alfred, antes de irmos preciso que você conheça alguém” acenando para a herdeira ele a chamou. Ela assentiu e se aproximou. “Gostaria que você conhecesse a Srta. Krux, ela financiou a expedição e foi uma das principais responsáveis pelo meu retorno inteiro” ele sorriu e Marguerite pensou que ele queria dizer algo mais com essa frase e isso aqueceu seu coração. “Suas mãos habilidosas me consertaram por várias vezes” continuou. A mulher sorriu com a descrição, Roxton dirigiu a atenção para ela “Este é Alfred, trabalha para nossa família há muitos anos e teve um papel muito importante na minha educação” foi a vez do mordomo se lisonjear com a declaração do jovem lorde.
“É um prazer conhece-la Srta.” O homem se inclinou e beijou-lhe a mão. “Lorde...” ele hesitou “John, sempre foi um rapaz cortês e generoso com as palavras e atitudes”.
“Principalmente quando se trata de proteger donzelas em perigo”. Marguerite não conseguiu conter o comentário. “Não me diga que foi você que o ensinou tão oportuna habilidade?”

Os três riram. Era de conhecimento de toda Inglaterra a fama galante de Lorde John Roxton. Mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente a herdeira já sabia de sua reputação como um amante talentoso e ardente, ela não podia negar que isso aguçava sua curiosidade, mas não imaginava que se apaixonaria perdidamente por tal homem.
De maneira repentina as feições de John se fecharam.
“Terei que ir a Avebury” ele lamentou. “Minha mãe me espera. Podemos deixá-la em sua residência a caminho” ele sugeriu.
Benjamin que se aproximava interrompeu a conversa, o que causou uma virada de olhos no caçador.
“Marguerite, se você não se importar, gostaria de coletar alguns exames para descartar qualquer problema grave que possa justificar sua indisposição durante a viagem. Posso levá-la ao Sta. Mary e depois a acompanho a sua casa”.
Roxton odiou a sugestão, mas, sabia que era importante saber se sua amada estava enferma ou eram apenas enjoos ocasionados oscilação do mar, ele mesmo a levaria se não tivesse que partir tão imediatamente a Avebury.
“Ele tem razão, Marguerite. Quanto antes você fizer estes exames antes saberá que está tudo bem” o caçador concordou com sensatez.
Antes que todos pudessem se despedir Challenger anunciou ao grupo:
“Eu e Jesse faremos uma reunião para comemorar nosso retorno. Será dentro de cinco dias em nossa casa. Esperamos a presença de todos”.
Marguerite e Roxton tomaram o anúncio como uma oportunidade genuína de se encontrarem sem levantarem suspeitas. Cinco dias seria muito tempo longe da herdeira “mas eu sobreviverei” o caçador ponderou. Ao sair ele tomou a mão da amada entre as suas e levou aos lábios enquanto sussurrava: “Eu sentirei saudades”. “Eu também” ela respondeu com o mesmo tom de voz.
Ela observou o homem se afastar e como há muito tempo ela se sentiu desprotegida novamente. Benjamin se aproximou como se soubesse o que ela sentia e ofereceu-lhe o braço convidando-a.
“Vamos senhorita?”


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