Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 59
Amor à Primeira Vista


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho mais cedo do que o normal, só porque amanhã eu não vou ter tempo de postar!
Uma boa leitura a todos.



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“Duvida da luz dos astros,

De que o sol tenha calor,

Duvida até da verdade,

Mas confia em meu amor.”

(Hamlet - William Shakespeare)

Por um milagre chegamos sãos e salvos em casa e eu não me perdi em nenhuma das saídas confusas, mesmo que Alex tenha cochilado no banco do carona no meio do caminho e Liv, que poderia ter sido a minha copiloto, estava distraída demais conversando com Ian e Tanya ao telefone contando sobre a noite que ela teve, para me ajudar.

Conclusão, tive que me virar com o Waze e mesmo assim consegui chegar. E o Belo Adormecido ao meu lado só acordou quando o motor foi desligado.

— Uhn... Já... já chegamos? – Alex perguntou assim que abriu o olho.

— Sim.

— Desculpe, deveria ter ficado acordado para te ajudar com o caminho.

— Consegui chegar sem me perder. – Comentei e desci do carro. Alex fez o mesmo e foi bocejando até o quarto.

— Eu prometo que te espero. – Ele disse me dando um beijo antes de subir a escada.

Olivia vinha meio pulando, meio andando atrás de mim, eufórica demais para conseguir agir como uma pessoa normal.

— Creio que você vai precisar de chá para se acalmar hoje, hein? – Dei um tapinha no alto da cabeça dela.

— É... eu vou sim. – Ela confirmou e foi me seguindo para a cozinha, onde não ficou nem por dois minutos, pois logo chamou os cachorros e começou a brincar com Stark e Thor do lado de fora, correndo pelo jardim dos fundos.

— Quem olha acha que tem cinco anos, ao invés de doze. – Murmurei ao ver a cena. Loki só deu uma ganida baixinha do meu lado, como se concordasse comigo.

Fiz o chá e, enquanto decantava, resolvi pegar a roupa que deixei lavando e secando durante o dia. Além de colocar a nova leva na máquina.

Conferi os alimentos que Alex tinha comprado e anotei na porta da geladeira um bilhetinho para lembrarmos de chamarmos Carmen para limpar a casa, aproveitando que não teria ninguém para atrapalhá-la.

O chá ficou pronto e chamei Liv, que entrou como um furacão para se sentar na minha frente e começar a discorrer como ela tinha gostado do jogo e como tinha entendido quase tudo o que vira.

— O Senhor Pierce definitivamente é um dos melhores professores que eu já tive. Ele foi super paciente comigo e com as minhas perguntas bestas.

— Nenhuma pergunta é besta. – Comentei.

À medida que Liv ia tomando o chá, ela começou a se acalmar.

— Nem acredito que amanhã já é meu último dia aqui. – Falou com um beicinho.

— Só iremos para Austin na quinta ao meio-dia. – Respondi ao me levantar para lavar as xícaras.

— Mesmo assim, täti. Passou tão rápido! Tá certo que eu não fiz nem metade do que eu planejei no meu roteiro, mas amei cada momento.

— Fico feliz em ouvir isso.

— E não pense a senhora que eu não vou voltar, porque eu vou! Só não volto na parada de final de ano porque tenho que aproveitar a Finlândia.

— Sei disso, Olivia.

E a garota não parava de falar e nem de me seguir.

— Vamos correr amanhã? – Me perguntou assim que me viu ajeitando a comida e as camas do trio peludo.

— Não. Eu não vou voltar naquela praia com você. Creio que Alex vai surfar, contudo, não quero arriscar a sua imagem de novo.

— Entendo. Eu fiquei apavorada! Custei entender o que estava acontecendo.

— Então o melhor que fazemos é evitar outra cena como a de hoje. – Respondi e a levei até o quarto. – Anda, vai tomar um banho que eu vou guardar essas suas roupas aqui.

Organizei tudo, e ainda coloquei minha sobrinha na cama.

Voltei ao andar de baixo para ativar o alarme e pegar um livro para ler, depois fui para o quarto. Não estava com sono e ficar sentada na cama lendo um pouco não faria mal.

Achei que Alex ainda estaria acordado, mas assim que abri a porta do quarto, me deparei com meu noivo dormindo, atravessado na cama, só com a calça de moletom, abraçando o meu travesseiro e com o cabelo todo desgrenhado.

— Depois fala que eu sou fraca pra bebida, tomou dois copos de cerveja e está morto para o mundo! – Falei baixinho em seu ouvido, depois de colocar o livro no criado.

Alex murmurou meu nome e só abraçou mais forte o travesseiro.

Como a luz estava acessa quando ele pegou no sono, aproveitei para poder arrumar a minha roupa para a manhã seguinte, tendo em mente que tinha uma reunião com Londres.

Tomei meu banho e tive uma pequena luta com meu noivo para que ele voltasse para o lado dele da cama, depois que consegui isso, me sentei e comecei a ler Hamlet, afinal, tinha anos que eu não pegava nesse livro.

Com pouco Alex se mexeu e quando dei por mim, ele abraçava minha perna e tinha a cabeça em meu colo. Como eu não resistia, comecei a passar a mão em seus cabelos enquanto lia.

Não sei que horas eram quando desliguei a luz do abajur, só sei que eu deveria estar influenciada pelo livro que lia, para ter sonhado com o que sonhei:

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Pensilvânia, EUA, Primavera de 1776

Tinha um estranho clima no ar, um clima que ao mesmo tempo era de temor e de liberdade.

Não era novidade para ninguém que estávamos em Guerra. Em guerra contra a pátria que nos trouxe para cá. A Grã-Bretanha vinha tentando de todas as formas reaver seus prejuízos com a guerra no Canadá em cima dos colonos.

Eram taxas e mais taxas, sempre aumentadas de maneira exorbitante e sem a menor chance que que nós nos defendêssemos.

Apesar de ser mulher, eu sabia o que acontecia, meu pai não se importava que a filha soubesse dos assuntos “dos homens” desde que eu soubesse me comportar e soubesse com quem conversava.

Em uma mesa de chá com as mulheres, eu jamais discutiria a guerra e as taxas e a política, falaria do tempo, da moda na Corte, da filha de alguém que tinha ficado noiva e outras coisas do gênero.

E quando essa parte da vida em sociedade acabasse, eu e minha mãe nos levantaríamos, nos despediríamos e voltaríamos para casa, conversando sobre o que não poderíamos falar com as demais, os assuntos que realmente importavam para nós.

Será que finalmente nos veríamos libertos das opressões da Coroa? Será que finalmente seríamos um país livre quando essa guerra acabasse?

E estes eram os problemas sociais, além da escravidão que sempre conversávamos.

Tanto eu, quanto minha mãe, éramos a favor da independência e da abolição da escravatura. Tanto que em nossa casa não tínhamos escravos, tínhamos pessoas que nos ajudavam, em um contexto completamente diferente das demais casas.

— Sabe, Katerina. – Minha mãe começou a comentar sem motivo aparente. – Eu espero que você encontre um rapaz que divida estes mesmos ideais que você tem. Sua mente revolucionária levaria vocês longe.

Suspirei diante da fala de minha mãe.

— Também espero mamãe, e não implique comigo, prefiro ser a solteirona, do que me casar com alguém que não tem respeito pelos iguais ou por todos os seres humanos.

— Não tiro a sua razão, filha. Também não te obrigaria à um casamento no qual você seria infeliz.

E os meses foram passando. Em 4 de julho declaramos a nossa independência, nos sentíamos livres da Inglaterra, mas a Coroa não pensava assim, e a guerra se intensificou.

Meu irmão mais velho se alistou e foi para a guerra. Sem medo ou peso na consciência, mesmo que sua esposa estivesse grávida.

Eu queria fazer algo, mas mulheres não são bem-vistas em campos de batalha, então me restava ficar sentada na varanda, tentando escutar as notícias que os homens tanto discutiam.

A situação mudou radicalmente para mim, em agosto de 1776. Os políticos e os homens influentes se reuniram em minha casa. Como era de bom tom, eu apenas os cumprimentei e deixei o salão pedindo a devida licença, rumando para o segundo andar, onde iria me esconder no banheiro e de lá, fazendo uso da ventilação, conseguiria escutar algo.

Estava passando em frente à porta, quando bateram. Eu era a única ali, e como não tinha mais ninguém, dei uma ajeitada em meu vestido e a abri.

Do outro lado estava Sr. Pierce, um velho amigo de meu pai e junto com ele...

Aquele era Alexander? Mas ele não tinha ido para Nova York estudar Direito em Columbia?

— Senhorita Cooper, que prazer em revê-la! – Sr. Pierce tirou a cartola e a levantou em sinal de educação.

Em resposta, fiz uma pequena cortesia.

— Boa noite, Senhores. Por favor. – Permiti a entrada. Sr. Pierce entrou, tirou a cartola e pediu indicação sobre onde era a reunião, mostrei o caminho. Porém, seu filho, Alexander, apesar de ter sido extremamente educado, não falou muito, mas não tirou os olhos de mim e quando nossos olhares se encontraram, tive que me lembrar de respirar, por ter perdido o fôlego, pois na minha frente estavam os olhos mais lindos que eu já vira.

Alexander passou por mim e eu me vi obrigada a baixar a cabeça, tanto em sinal de respeito, como para esconder o fato de que tinha ficado extremamente vermelha.

Com a porta já fechada e a reunião reiniciada, tentei achar o caminho para o andar de cima, mas foi-me praticamente impossível, visto que minhas pernas estavam bambas e tremiam.

Sim, apenas um olhar trocado com um rapaz que eu não via há anos e eu ficara assim.

— Katerina! Por favor! Respeite a casa de seu pai! – Falava mentalmente comigo.

Ao invés de escutar a reunião, acabei em meu quarto, tentando por algum juízo em minha cabeça.

— Não, você não se apaixonou à primeira vista pelo filho do Sr. Pierce! Amor à primeira vista não existe! – Murmurava no quarto silencioso.

Escutei passos no andar de baixo, pelo volume, a reunião já teria terminado, e eu, afoita para ter só mais um vislumbre de Alexander, tirei meus sapatos corri até a janela e me escondi atrás da cortina de meu quarto.

Cada um dos homens foi saindo, e nada de quem eu queria aparecer em meu campo de visão. Até que escutei:

— É muito bom saber, filho, que você está do nosso lado! – Era a voz de meu pai e ele conversava com alguém. – Uma mente como a sua, Alexander, vai nos levar longe.

Eu quase perdi o equilíbrio, porém me recuperei e esperei, logo, logo, poderia ver Alexander.

— Eu fico grato pelo senhor me receber, Senhor Cooper. – Então essa era a voz dele? Me surpreendi com o timbre da voz de Alexander. Era até injusto que além de uma beleza ímpar ele tivesse esse tom de voz!

— Será sempre bem-vindo, meu garoto! – Papai falou e os passos chegaram ainda mais perto da porta, agora eu podia distinguir as suas sombras.

Até que finalmente eles desceram, Sr. Pierce primeiro seguido por Alexander. Eles cumprimentaram meu pai com um aperto de mãos e depois rumaram para a calçada. Por todo o caminho que levava da porta até a calçada eu acompanhei pai e filho. Rezando para ter a sorte de poder ver o rosto de Alexander mais uma vez.

E antes que eu pudesse murmurar a minha falta de sorte, ele se virou para a casa, como se procurasse por alguém. Demorou um tempo até que ele levantou o rosto e olhou para a janela onde eu estava. Com o quarto escuro, ele não poderia me vier, porém, o lampião que ficava bem em nosso portão, fez o seu trabalho e eu pude distinguir todas as formas de seu rosto, inclusive o brilho de seu olhar.

Com um menear de cabeça, Alexander seguiu o pai e eu me vi ainda mais intrigada e apaixonada pelo estranho rapaz que tinha aparecido em minha casa.

Duas semanas depois da reunião, fomos convidados para um almoço na casa dos King. Como se pode imaginar só pelo sobrenome, eles se julgavam a realeza de Filadélfia e faziam questão de demonstrar isso.

O verão estava no seu ápice e tudo o que eu queria era ir para a sombra e tomar um bom copo de água gelada, acontece que Suzanna King tinha outros planos e resolveu que seria muito bom que todas as jovens se juntassem em uma mesa, no centro do jardim, para conversarem.

A conversa girava em torno do mais próximo casamento da sociedade e todas as coisas sem importância que a grande maioria das mulheres sempre conversavam. Claro, eu dava a minha opinião e falava sempre que era necessário, mantendo uma postura de interessada e animada com a última fofoca.

Estava conversando com Melissa, uma das meninas que também não era muito fã de Suzanna, quando senti claramente o olhar de alguém em mim. Muito discretamente tentei procurar quem era a pessoa mal-educada que estava me fazendo de alvo. Não encontrei ninguém, o que significava que seja lá quem fosse estava atrás de mim.

Ainda incomodada com a insistência da pessoa, me virei para Melissa e ia comentar algo, quando Suzanna simplesmente disse:

— Alexander Pierce acaba de chegar e está olhando para cá.

E eu não sei o motivo, mas eu não gostei da forma como ela falou o nome dele, como ela passou a olhar para o ponto onde ele deveria estar. E tardiamente descobri que estava com ciúmes. E que eu não suportava a ideia de ver Alexander com uma pessoa tão fútil quanto Suzanna.

Controlei meus sentimentos e me ajeitei na cadeira, no exato momento quando ele passou por nossa mesa, fazendo um movimento de cabeça para nos cumprimentar.

— Senhoritas. – Ele disse, e a voz dele me causou arrepios, levantei brevemente meus olhos só para perceber que ele me olhava.

— Senhor Pierce! Que alegria em vê-lo em minha casa! – Suzanna exclamou animada demais e rapidamente se levantou para recebê-lo.

— Senhorita King. – Foi tudo o que ele disse quando se virou para ela.

— Vou levá-lo até papai! – Ela falou e enlaçou o braço no dele, tagarelando qualquer coisa sem sentido.

Com a saída da anfitriã, as demais garotas começaram a dar as mais diferentes desculpas e foram se levantando, cada uma indo para uma direção diferente.

Melissa me acompanhou, afinal éramos amigas há tempos.

— Será que são verdade os últimos boatos? – Ela questionou,

— Que boatos?

— De que Alexander Pierce vai se casar com a Suzanna.

Eu só não tossi o meu chá porque seria extremamente grosseiro, mas a vontade era essa.

— Não estava sabendo até agora.

— Bem, ela tem insinuado isso desde que ele reapareceu aqui. Pelo que eu entendi, já é quase certo.

— Mas eles nem se conhecem! – Me peguei falando.

— Ela é uma King. E ele é o melhor partido da cidade, Kate. Você ainda duvida disso?

Não respondi nada, e pedi licença para minha amiga. Estava querendo encontrar a minha mãe e dizer, muito delicadamente, que precisava ir para casa. Daria a desculpa que estava muito quente e todo esse sol tinha me deixado tonta e com dor de cabeça.

À procura de minha mãe, passei por vários conhecidos a quem cumprimentei com um sorriso, finalmente encontrei-a e ela estava conversando justamente com Amelia Pierce, a mãe de Alexander.

Dona Amelia, por algum motivo desconhecido, sempre gostou muito de mim e todas as vezes que me via, me dava um abraço.

— Katerina, minha querida! – Ela disse ao me ver. – Como você está bonita hoje!

— Sra. Pierce! Boa tarde! – Retornei o cumprimento. - E muito obrigada.

— Aconteceu alguma coisa, minha filha? – Mamãe me perguntou.

— Sim. Creio que todo esse calor fez com que eu começasse com uma dor de cabeça terrível. Seria possível que eu fosse para casa? – Pedi.

Minha mãe levou a mão ao meu rosto e mediu a minha temperatura.

— Realmente está um pouco quente. Vou chamar o seu pai.

— Não precisa, Diana. Alexander pode acompanhar Katerina até em casa. Não é nada mais do que dois quarteirões de distância. – Dona Amelia falou.

— Não incomode Alexander com isso, Amelia.

Mas já era tarde, a Sra. Pierce já tinha saído em busca do filho.

— Mamãe, isso não é certo...

Minha mãe apenas me olhou, como se soubesse de algo.

— Não conte a ninguém, mas Amelia quer o filho o mais longe possível de Suzanna. Acredita que a garota anda espalhando por aí que ela irá se casar com Alexander, e que já tem até data?

— Então é mentira? – Questionei um tanto rápido demais. E minha mãe me abriu um sorriso.

— Sim, filha. É mentira. Ela estava falando sobre isso à mesa?

— Ela soltou uma ou outra informação. Mas não prestei muita atenção. – Fui sincera.

— Sempre querendo saber o que se passa onde não pode estar, não é mesmo?

— Não sou a única aqui. – Retruquei.

— Não é mesmo, agora, por favor, voltemos a uma conversa normal. – Mamãe falou baixo e pegou meu braço, me indicando que a Sra. Pierce voltava com o filho.

— Bem aqui está ele! – Dona Amelia chegou falando. – Alex, faça o favor de acompanhar Kate até em casa, ela não está se sentindo bem e como você sabe, o pai dela está ocupado. Se certifique que ela chegue bem e segura e depois volte para cá.

— Sim, senhora. – Alexander respondeu e eu tive que olhar para minha mãe, mas ela parecia até bem calma diante do que iria acontecer.

— Senhorita Cooper. – Ele me cumprimentou e me deu passagem.

— Senhor Pierce. – Respondi e muito sem jeito, passei a andar perto dele.

Eu tinha que me policiar para não ficar olhando para ele, era quase impossível, mas se eu fizesse isso seria extremamente grosseiro. Já ele não via problemas em me encarar. Me encarou tanto que comecei a pensar que tinha algo no meu rosto. Estava quase levando a mão à minha bochecha para limpar, quando ele, um pouco mais relaxado por já ter saído da festa, disse:

— Não sei se você se lembra, mas costumávamos brincar juntos quando éramos mais novos.

— Desculpe-me, não me lembro.

E como eu queria me lembrar! Só para que ele continuasse a falar, pois a voz dele era o som mais bonito que eu já escutara.

— Uma pena. – Ele murmurou. – Bem, você é amiga da Suzanna?

Diminui a velocidade de meus passos e rodei a minha sombrinha que estava aberta para me proteger do sol, como responderia a isso sem que acabasse virando um enorme mal-entendido?

— Não diria amiga, somos conhecidas. – Expliquei.

— Mas você sai muito com as outras garotas. – Ele tentou novamente.

— Olha, se você quer saber de alguma fofoca, sinto muito em te dizer que eu não sei. Não gosto de falar da vida das outras pessoas. – Me desculpei.

E, para meu espanto, Alexander abriu um sorriso. Um sorriso tão lindo que eu me esqueci de como se respirava.

— E pelo visto não gosta muito desses eventos sociais. – Ele disse certeiro. – E antes que você possa se ofender, também não gosto. Mas o de hoje até que valeu à pena. – Completou.

E eu me lembrei da cena dele de braços dados com Suzanna e meu rosto pegou fogo.

— É mesmo? – Perguntei, porém não consegui disfarçar o ciúme em minha voz.

— Sim. Consegui o queria, estou conversando com a garota mais bonita da festa.

Dessa vez o vermelho que estampava as minhas feições era de pura vergonha e eu não sabia como responder ao que ele falara. Alexander era sincero demais.

— Sabe, estava tentando a sorte de poder falar com você desde àquela noite na sua casa. Contudo, você nunca aparecia nos lugares onde eu ia, até hoje!

— Estava ocupada. – Respondi simplesmente.

— É mesmo? Com o que?

Eu deveria ser o mais interessante dos assuntos para Alexander, o problema, é que eu não consegui ficar calada e acabei soltando.

— Estudando.

— Assuntos domésticos?

— Política. Em minha casa todos nós discutimos a situação do país e, o mais importante, a guerra.

Alexander parou e no mesmo instante eu soube que falara demais. Iria me despedir, quando ele simplesmente disse.

— É um desperdício que não permitam as mulheres nas universidades. Você se daria muito bem no curso de Direito.

Olhei para ele, tentando ver se ele estava dizendo alguma piada. Não estava.

— Eu torço para que as minhas filhas possam escolher, se elas irão querer ser educadas para o casamento e a vida doméstica ou se elas vão querer ter alguma profissão.

E eu, curiosa como sou, tive que perguntar:

— Como é a universidade? Tudo o que eu sei foi o que me ensinaram em casa. Nem na escola pude ir.

E Alexander começou a descrever como era o campus de Columbia. O prédio, depois os professores, fazendo imitações de alguns, e, por fim, as matérias.

— Então, você também estudou política? – Perguntei.

Já estávamos na porta de minha casa, eu tinha que entrar e ele que voltar para a festa na Casa dos King.

— Sim, eu estudei e sabe de uma coisa, Katerina?

— Não.

— Acho que vou trazer alguns de meus livros para você ler. O que acha?

Se ele iria trazer os livros, significava que ele iria voltar. E eu não poderia ficar mais feliz, pois eu o veria novamente e ainda poderia estudar o que tanto me interessava.

— Eu adoraria! – Falei com um sorriso.

Ele me olhou nos olhos e antes de partir, falou:

— Já te disseram que você tem olhos lindos? E únicos?

— Acho que os seus são mais bonitos! – Me peguei falando e quando notei o que tinha falado, senti meu rosto pegar fogo e abaixei meu olhar imediatamente.

Alexander deu um sorriso e delicadamente levantou o meu rosto, para que ele pudesse me ver.

— Discutiremos sobre isso mais tarde. – Disse, fez uma mesura e desceu os degraus. Esperei que ele estivesse na calçada para fechar a porta.

Eu estava extasiada, pois ele prometera voltar! Eu o veria novamente, e mal poderia esperar por isso.

Uma semana depois ele voltou, meus pais tinham convidado os Pierce para um jantar em família. E, enquanto nossos pais conversavam sobre política e nossas mães sobre a sociedade, Alex e eu discutíamos sobre livros.

Ele não era muito adepto de romances. Já eu, sempre amei. Ele dizia que livros de história eram muito melhores, mas sobre isso eu não poderia opinar, afinal, os que li, os que tive como base para estudar, eram poucos. E quando mencionei isso, ele começou a discorrer sobre a obra de Thomas Hobbes.

E ele falou tão apaixonadamente sobre O Leviatã que eu não tive coragem de interrompê-lo para dizer que eu jamais tinha lido o livro. Por fim, a Sra. Pierce interrompeu o filho e pediu que ele conversasse como uma pessoa normal.

Depois desse jantar, Alexander começou a aparecer com um pouco mais de frequência. Às vezes ele entrava e tomava um chá, outras ele só passava para me entregar um livro. Sempre me dizendo que era um empréstimo.

Até que um dia, eu estava sentada no balanço da varanda, já era final de outubro, porém o tempo ainda estava agradável para se ficar do lado de fora. Estava lendo Hamlet de Shakespeare, um dos muitos livros que Alex sempre dizia que não suportava. Quando o próprio apareceu.

— E aí está você, lendo esses romances novamente! – Disse ao pé da escada.

Olhei para ele seriamente e soltei:

— Não é minha culpa, meu livreiro pessoal não me trouxe o exemplar dessa semana!

Ele abriu um sorriso e de dentro da pasta de couro que ele carregava, já que ele era o advogado mais requisitado da cidade, tirou um livro sobre política.

— Não seja por isso. – Subiu os três degraus com um pulo e me estendeu o livro. – E não faça hora para lê-lo, volto na semana que vem com outro e vou fazer algumas perguntas sobre esse. – Brincou e tomou Hamlet de minhas mãos, para ler a passagem em que eu parara: - “Duvida da luz dos astros,/De que o sol tenha calor,/Duvida até da verdade,/Mas confia em meu amor.” – E parou, para me olhar e completar. – Até que esse Shakespeare tinha lá os seus momentos. Não posso discordar dele.

— E posso saber o porquê? – Indaguei.

— Eu aceitaria que você me questionasse todas as verdades do mundo, que você duvidasse de tudo. Mas não aguentaria um segundo se você duvidasse do amor que sinto por você. – Alexander me respondeu seriamente, olhando-me nos olhos.

Eu fiquei muda por vários segundos. Ele realmente tinha dito o que eu achava que tinha dito?

E, para a minha surpresa, ele se sentou do meu lado, e me fez a seguinte pergunta:

— Você aceitaria se casar comigo, Katerina?

— Sim! Sim! – Respondi com lágrimas nos olhos. – Mas você não deveria...

— Pedir a sua mão ao seu pai? Sim. Deveria. E vou fazer isso. Mas gostaria de ouvir a sua resposta. Pois essa é a mais importante.

Eu nem sabia o que dizer sobre isso. Tudo o que eu queria era beijá-lo, contudo, isso era algo que não se fazia sentada no balanço da varanda. Assim, só apertei a mão dele na minha e fiquei olhando para aqueles olhos tão lindos, pelos quais eu faria, eu daria qualquer coisa, até a minha vida!

— E eu também te amo, Alexander. – Respondi.


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Notas finais do capítulo

Capítulo praticamente dedicado ao passado... e como deu para ver, algumas pessoas são realmente um carma na vida de Katerina e Alexander.
Espero que tenham gostado.
Muito obrigada a você que está lendo e acompanhando!
Até o próximo capítulo, na quarta-feira!
xoxo



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