Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 32
Susto


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo! E como a vida tem as partes boas e as ruins... eu não pude evitar em não escrever um drama.
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Posso traduzir a minha sexta-feira como tranquila. A rotina da manhã foi exatamente como nos últimos dias, levantar cedo, sair para correr, tomar café da manhã no Restaurante da Dottie, e voltar para casa.

Preciso dizer que eu e Alex tivemos um pequeno desentendimento quanto ao motorista do dia. Ele queria dirigir, alegando que, como era morador da cidade, saberia os desvios, os atalhos e chegaria mais rápido na praia. Já eu insistia que deveria dirigir exatamente para aprender todos esses caminhos que ele sempre gostava de jogar na minha cara que sabia.

— Você sabe que isso não é justo, não é? – Foi esse o tom de nossa conversa no café da manhã.

— Deixa a menina dirigir, Alexander. Ela não pode depender de você! – Dottie me socorreu.

— Viu, até a Dottie concorda comigo!

Alex apenas meneou a cabeça em negativa e Dottie começou a rir.

— Garoto carente. Tudo para ficar mais tempo do lado da namorada! – Ela bateu na cabeça dele com um pano.

— Sério!? – Perguntei descrente.

— Não.

— Não acredito em você. - Estreitei meus olhos em sua direção.

— Porque você se perde nas entradas e saídas dos viadutos.

— Me perco porque ainda não gravei onde é! Tem 33 anos que você mora aqui. Eu tenho 15 dias!! É mais do que normal se perder ou confundir as saídas.

— A Kat tem razão. – Dottie comentou.

Apontei na direção dela, que continuou:

— Se a Loira não dirigir por aqui, Alexander, ela não vai aprender o caminho. E se um dia você não estiver por aqui e ela tiver que ir e vir sempre sozinha? Como você vai se sentir sabendo que ela não sabe o caminho com 100% de certeza, por que você não a deixou dirigir?

— ISSO! Dottie você é maravilhosa! – Com um pulo fiquei de pé e dei um abraço nela.

— Sei que sou, agora voltem a comer, porque sei que os dois têm hora hoje. E parem com essa discussão besta. Cada dia da semana um vem dirigindo e Alex, ensine o caminho correto para a Kat. Isso é uma ordem! – Dottie saiu falando pelo restaurante, como se fosse a nossa mãe.

Me encostei na cadeira e cruzei os braços, olhando de forma presunçosa para Alex.

— Eu vim dirigindo, eu volto. Amanhã vem você. – Ele murmurou.

— Eu achei um meio-termo bem justo. – Comentei.

Alex balançou a cabeça em negativa.

— Eu já estou vendo você errando a saída do viaduto.

— Pare de ser pessimista! – Retruquei e acabei de comer a minha última panqueca.

— Terminaram com o café da manhã e com a discussão? – Dottie perguntou por trás do balcão.

— Sim. – Respondemos juntos.

Dois minutos depois ela estava com as comandas nas mãos. Me entregando a de Alex e, a minha ela, entregou na mão dele.

— Para que não haja mais discussões. Hoje é sexta-feira.

Pagamos nosso café, e saímos, Alex ia brincando com a chave do carro, rodando-a e jogando-a para cima, só para ver o que eu faria.

— Não vai falar mais nada? – Ele me perguntou quando entramos no carro.

— Não. Não vou te dar esse gostinho. Amanhã será a minha vez.— Garanti.

Ele deu um sorrisinho de lado ao arrancar o carro. Se da praia até onde eu morava não gastávamos dez minutos, agora gastávamos meia hora, e por todo o tempo, Alex segurou a minha mão e foi batendo as nossas mãos entrelaçadas em sua perna, no ritmo do rock que tocava. Eu me empolguei com a música e comecei a bater o pé e logo nós dois estávamos cantando o refrão de In The End do Linkin Park.

— Você me falou que cantava mal... – Alex comentou quando descemos do carro.

— E canto.

— Não canta não. Eu canto mal. Mas você, nem desafinar, desafina. Já fez aula de canto?

Fiz uma careta.

— Bem... sim. Minha avó, Mina, é professora de canto, além de pianista e violinista.

— Aula de música?

— Sim. Desde sempre. Nunca para ser profissional. Mas sempre cantei e toquei dentro de casa.

Ele me abriu um sorriso.

— Quando quiser, fique à vontade para cantar. – Me disse.

Senti meu rosto corar.

— Tudo bem... – E eu começava a me arrepender de ter começado a cantar dentro do carro.

Enquanto Alex se arrumava para mais um dia no set, eu fiz nossos almoços e como sempre colocando um bilhetinho para ele. Depois ele assumiu a tarefa de dar uma checada no trio peludo, enquanto eu me arrumava.

— Quer uma carona hoje? – Alex me perguntou quando apareci na sala, acabando de prender o cabelo em um rabo de cavalo.

— Não vai ficar até quase meia-noite hoje?

— Em uma sexta-feira? Não mesmo. – Ele deu aquele sorriso.

— Não vejo mal algum.

Me despedi dos peludos e acompanhei Alex até a garagem, como sempre, ele abriu a porta para mim.

— Obrigada! – Dei um beijinho nele.

— Então, nossa primeira sexta sem nada para fazer à noite! – Ele começou animado, assim que se sentou do meu lado. – O que vamos fazer?

— Me diga você! É você quem conhece essa cidade.

— Lugar famoso ou lugar legal?

— Desde que não tenham os urubus dos paparazzi, qualquer um.

— Eu vou pensar em um lugar bom. Aí, quem sabe, você vai poder usar aquele vestido...

— Ah... então esse é o motivo do convite? Você quer me ver dentro de um vestido?

As orelhas dele começaram a ficar vermelhas.

— Interesseiro.

Alex ficou calado por um tempo e eu fiquei encarando o seu perfil, até que ele falou.

— Sim. Eu quero te ver usando aquele vestido! Ele é completamente diferente das roupas que você usa no dia a dia.

Eu entendi o ponto dele, mas era sexta e eu queria perturbar sua paciência.

— Então... minhas roupas são feias?

— Não foi isso o que eu falei. – Ele tentou se consertar.

— Foi o que pareceu. – Falei séria.

— Suas roupas são bonitas. Você está sempre elegante. Mas são roupas sérias, de uma pessoa que trabalha em algo importante.

— E?

— E talvez, só talvez, tenha um lado da Katerina que eu ainda não vi...

— Quer saber se existe a "Katerina Baladeira"?

Ele deu de ombros.

— Existe a Katerina Roqueira... - Ele começou.

— Não. Nunca fui. Te contei o fiasco da minha despedida de solteira... aquilo foi o ápice da minha vida de balada.

— Então, por que aquele vestido?

— Já disse, comprei no impulso e nunca o usei.

— Mas você o trouxe com um propósito. – Ele tentou.

— Claro. Um propósito. É, eu tinha mesmo. – Desdenhei, mas Alex estava decidido em me ver naquele vestido., então tive que cortá-lo.

— E falando em vestidos... – Comecei quando paramos em um semáforo.

— Continue.

— O lançamento do comercial... sua roupa!

Nossa roupa. Sinto em dizer que o vestido não é adequado. – Disse a última frase com pesar.

Nossa?

— Você vai comigo, não vai? – Me olhou de canto.

— Quer que eu vá?

— Mas é claro!

— Eu não conheço ninguém! – Avisei. – E nunca estive em eventos assim.

— Não deve ser pior do que jantar com o Emir.

— Céus... não me lembre daquela noite! – Pedi, escondendo meus rosto nas mãos.

— Não vai ser tão ruim... se tudo te entediar, você pode só conversar sobre o carro com o pessoal da montadora.

— Claro. – Murmurei e imediatamente fiquei nervosa. Eu nunca me imaginei indo a lugares assim. Festas com pessoas famosas, com fotógrafos profissionais e imprensa.

— Vai precisar comprar uma roupa?

— Vou precisar saber que tipo roupa tenho que comprar. – Fui sincera.

Alex abriu a boca para falar algo, depois desistiu e tentou de novo, para, enfim, soltar:

— Eu não faço ideia.

— Imaginei isso. Terei que pedir ajuda à sua mãe... e para Pietra, ela está acostumada com eventos desse porte.

— Já tem uma solução. – Ele disse feliz.

 - Que dia é?

— Na semana em que Liv chega. Logo na terça-feira. Ela chega na sexta-feira, né?

— Sim.

— Tenho que pensar no roteiro dela. Vou ver se faço isso nesse final de semana.

— Se você fizer isso e ainda passar para ela, saiba que haverá correções e aumentos.

Alex riu.

— É, eu sei. E vou ficar esperando quando for Elena.

— Vai levá-la na Disney?

— Pode apostar que sim.

Balancei a minha cabeça.

— Você realmente gostou dessa ideia de ser o Tio, né?

— Posso considerar um treinamento. – Ele olhou bem nos meus olhos quando respondeu.

— Quer um conselho?

— Sim.

— Não é nada parecido. As crianças agem completamente diferente perto dos tios e dos pais. Vai por mim, eu presenciei essa mudança pessoalmente.

— Experiência é sempre experiência! – Ele disse. – E com a experiência que eu tenho dirigindo por Los Angeles, chegamos sem nos perdermos! – Se vangloriou ao parar o carro na porta do prédio.

 - Não cante vitória antes do tempo. – Avisei.

— Mesma coisa de segunda? Te pego aqui? Vou poder entrar?

— Calma desesperado. E sim para todas as suas perguntas. – Me inclinei na sua direção e lhe dei um beijo. – Por favor, tome cuidado, você ainda não está totalmente recuperado.

— Eu vou tomar cuidado, Kat. Tenha um bom trabalho! – Ele me deu outro beijo.

— Te vejo daqui a pouco! – Falei e desci.

Alex ainda ficou me esperando entrar no prédio para arrancar o carro.

— Bom dia! – Cumprimentei os guardas e o porteiros, que pediram a minha identificação que eu dei de bom grado, depois subi até meu escritório com a cabeça nas nuvens. Porém, aterrissei assim que vi o tanto de trabalho que tinha para ser feito.

— Que os jogos comecem! – Falei ao me sentar em minha cadeira, com uma xícara de chá prontinha.

Minha manhã tranquila só foi interrompida pelo som de meu celular tocando. Levantei o aparelho e vi que era uma chamada de meu pai.

Estranhei.

— Oi pai! – Atendi.

— Está sozinha e podendo conversar, Kat?

— Sim, dentro do escritório, na companhia de um bule de chá e vários relatórios que se multiplicaram durante a noite. – Brinquei.

— E como está o escritório?

— O senhor quer saber o trabalho ou o pessoal?

— Sempre os dois.

— Os funcionários são gente boa. Tirando uns dois ou quatro que já estão fazendo fofoca, mas isso tem no mundo inteiro. Já o trabalho, é o mesmo que eu fazia em Londres, com o acréscimo de ser responsável por todo o prédio e tudo o que acontece aqui, sendo obrigada a repassar todos os problemas para a sede. Tirando tudo isso, mais do mesmo!

— Sei. Tenho certeza de que dá conta. Agora precisamos conversar sobre outra coisa.

Claro que meu pai não seria tão pacífico quanto ele foi ontem. Ele tinha ressalvas, só não quis conversar na frente de Alex.

— Sobre Alex?

— Ele também, mas fica para o final.

— Então o que é?

— Sobre o seu casamento.

Eu senti o sangue fugir do meu rosto, minhas mãos ficaram frias, pensar naquele dia, ainda era um golpe dolorido, apesar de que já fora pior, antes a dor parecia física, agora estava mais para decepção mesmo, não com Lucca, mas com meu avô e, de todas as pessoas da minha vida, logo o meu pai iria trazer esse assunto à tona?

— Eu sei que você já descobriu toda a armação.

— Sim. – Sussurrei e tomei coragem para perguntar. – O senhor sabia, desde o início?

— Não, KitKat. Eu não sabia. Seu avô não me falou nada. Fiquei sabendo na semana passada.

— Mas a mamãe me contou que já sabia...

— Creio que sua mãe escondeu de você a notícia pelo mesmo motivo que escondeu de mim. Ela sabia que não estávamos prontos para recebê-la.

— Creio que não.

— Então, sobre isso. O que você quer fazer a respeito? O que nós vamos fazer à respeito?

— Nada. – Fui honesta. – Não quero mexer nisso, pai. Não quero desenterrar um passado doloroso, reviver o dia, e os dias que se seguiram. Eu estou bem agora. Longe dele, de todos eles. E estou feliz. E também não quero que o senhor se meta nisso.

— Você tem certeza de que está feliz, Kat? Alexander não é só um paliativo?

— Sim, pai. Eu estou feliz. Sei que é estranho de se aceitar isso, ainda mais que é muito recente, tudo é recente. Porém essa é a verdade. Eu gosto de Alex. Ele me faz bem. Ele é completamente diferente do que eu estava acostumada, e isso é bom, ele me tira da zona de conforto sem nem perceber. E creio que ele precisa de mim na mesma intensidade que eu preciso dele.

— Aprontaram com ele também?

— Mais ou menos. É complicado de explicar, mas vamos dizer que ele quase desistiu da carreira por conta disso.

Foi quando meu pai torceu o nariz.

— Pode dizer, papai... O senhor não gostou dele, não é?

— Eu não escolheria um surfista/ator todo tatuado para ser o namorado da minha filha. – Papai foi direito. – Mas é ele quem você quer. Você o escolheu, não escolheram por você. Posso suportá-lo. Mas não me peça para tratá-lo como filho.

Isso já era um caminho. Depois do que vi, tenho certeza de que Alex conseguiria amansar a fera que era meu pai.

— Não vou pedir. Só vou pedir para o senhor tratá-lo bem. Ele é importante.

— Vai realmente trazê-lo em dezembro?

— Por enquanto sim, mas tenho que ver a agenda dele.

— E ele tem alguma? – Perguntou sarcasticamente.

— Pai, Alex está trabalhando nesse exato momento. Na quarta trabalhou até quase meia-noite e está todo machucado. Tenha um pouquinho de compreensão com a profissão dele.

— Kat, você sabe que não gosto desse povo.

— Sei, e o senhor me contou os motivos. E eu te entendo. Mas ninguém é igual a ninguém, deixe que Alex e a família dele te mostrem isso.

— Já conheceu a sua sogra para estar falando assim?

— Bem, sim. E o meu sogro e cunhado. – Omiti a parte que fui apresentada à família inteira na festa de aniversário de Dona Amelia, meu pai não precisava saber disso.

E o Sr. Nieminen levantou uma sobrancelha.

— Não acha que está indo rápido demais?

— Acho. Já tentei frear isso! Juro para o senhor, mas... cada vez que eu acho que é melhor dar um passo atrás e respirar, bem... algo acontece e me vejo contando tudo para Alex, pedindo, sem querer, ajuda.

Meu pai coçou o queixo.

— Filha... – Ele começou e eu vi que lá vinha sermão. – Só tome cuidado. Você não o conhece como acha que conhece. As pessoas mudam de uma hora para outra, não dê um passo muito grande antes de pensar muito bem. Aprenda com o passado para que não tenha que passar por tudo aquilo novamente.

— Eu sei, pai. Pode acreditar que eu sei.

— E em dezembro eu quero conversar com ele à sós.

— O senhor promete que não vai assustá-lo ao ponto de ele querer vir à nado para a Califórnia?

— Sobre isso, filha, eu não prometo nada. Não fiz o que devia quando você nos apresentou Dempsey. E olha como acabou. Quero estar prevenido, caso algo aconteça.

— Ele não vai me deixar. – Garanti para o espanto de meu pai.

— E como você tem tanta certeza, Katerina? Ele convive com centenas de pessoas em um set, por horas à fio. Você já confia nele a esse ponto?

— Sim, eu confio. Confio tanto no Alex quanto a mamãe confia no senhor.

Novamente meu pai levantou uma sobrancelha.

— Você realmente gosta desse rapaz, não gosta?

E lá foi eu falar sem pensar.

— Eu não gosto dele, papai. Eu o amo.

E era a primeira vez que eu admitia que amava alguém que não fazia parte da minha família, para meu pai.

Meu pai ficou calado, creio que absorvendo o que eu havia acabado de dizer.

— Você já está decidida quanto a ele, não está KitKat?

— Sim. Eu estou. E isso me alegra e me apavora ao mesmo tempo.

— Então você está no caminho certo. Mas vou deixar esse tipo de conversa entre você e sua mãe. Não quero detalhes. – Ele terminou e eu comecei a rir.

— Como o senhor quiser.

— Kat, eu não vou tomar mais o seu tempo.

— O senhor não toma o meu tempo, pai! Jamais!

— Mas sei que você tem que trabalhar e agora mais do que nunca... só não trabalhe demais, você merece ter, enfim, uma vida. Só não me apareça em páginas de revista de fofoca.

— Eu vou tentar ficar longe desse povo.

— Sei que vai conseguir.

A resposta era não, eu não iria. Porém não quis magoar o meu pai.

— Obrigada pelo voto de confiança.

— Você sempre terá o meu voto de confiança, filha. Agora volte ao trabalho e vê se não fica tanto tempo sem dar notícias. – Ele piscou. – Sempre sou eu quem tem que buscar notícias dos meus filhos! – Brincou, sendo que tinha sido completamente o oposto.

— É, eu sei como deve ser. – Falei rindo.

Meu pai abriu um raro sorriso.

— Eu te amo, filha.

— Também te amo! – Respondi e encerrei a chamada. Olhando para o relógio, vi que já estava passando da hora do almoço, assim, deixei o trabalho de lado e me sentei no sofá, com a minha comida no colo, ignorando os problemas por alguns minutos, enquanto eu dava uma pequena descansada e me lembrava que há menos de 24 horas, eu não fazia ideia do tanto que o meu relacionamento com Alex iria mudar.

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Passava das sete da noite, a grande maioria dos funcionários já tinha saído, Milena pediu para ir mais cedo, ao que parece era aniversário da mãe dela, não me importei e a dispensei. A única coisa que me incomodava era a ausência de notícias de uma determinada pessoa.

Alex ainda não falara nada.

Nem uma mísera mensagem durante todo o dia.

Mesmo que no meio da tarde eu tenha enviado uma, perguntando como ele estava e se ele não estava se esforçando tanto.

— A coisa deve estar complicada por lá. – Murmurei pensativa.

Porém eu estava inquieta. Alex não é do tipo que fica sem mandar uma mensagem... não quando eu coloquei outro bilhetinho dentro da bolsa térmica dele... sei que ele veria e me mandaria a foto do papelzinho no bloquinho.

— O que aconteceu? – Me levantei da cadeira e dei uma olhada por sobre a cidade. Mil e um pensamentos cruzavam a minha mente. – Pode parar com isso! Nada aconteceu. Ele só não deve ter tido tempo para nada, o que não é novidade. – Tentei me acalmar.

Voltei a olhar para a minha mesa. Meu trabalho praticamente pronto. Só faltava redistribuir para os setores, algo que seria feito na segunda pela manhã.

Peguei o celular, comecei a digitar uma mensagem. Apaguei. Comecei novamente. Até que enviei.

Para quem me falou que sairia cedo, acho que você é o único que está trabalhando até agora, porque até eu já terminei aqui.— Escrevi e esperei pela resposta, agora andando à esmo pela sala.

Nem um minuto depois, meu celular começou a tocar.

Era Alex.

— Já está vindo? – Perguntei de uma vez.

— Ahn... você deve ser a garota do Alex... desculpe, não sabia o seu nome.

— Quem está falando? – Um frio percorreu meu corpo, se instalando em meu estômago.

— Acho que ainda não fomos apresentados. Sou o empresário do Alex, Hugh.

— Não, não fomos apresentados. – Afirmei. – Onde está Alex? Ainda está trabalhando?

E aqui houve um silêncio enorme. Me sentei na minha cadeira, meus olhos se encheram de lágrimas, eu sabia que algo de ruim tinha acontecido, eu podia sentir isso. Estava inquieta desde a metade da tarde.

— Então, o Alex, bem, ele sofreu um acidente no set.

E eu perdi o ar, perdi o chão.

— Foi levado para o Cedars Sinai. Está aqui na verdade.

— Já avisou para Dona Amelia e ao Senhor Jonathan?

— Sim, Will está a caminho. Não te avisei, porque eu não sabia o seu nome...

— Ele pode receber visitas? – Perguntei desesperada.

— Está fazendo uma bateria de exames, mas permitirão a sua entrada... basta que você me ligue na entrada.

— Sim. – Custei a me levantar da cadeira. Eu estava tremendo. – Tem alguma notícia, de como Alex está?

— Ainda não. Ele estava desacordado quando chegou.

Tive que morder o lábio para não deixar que ele ouvisse o meu soluço.

— Katerina. Eu preciso que você me faça um favor, na verdade é para Alex.

— Que favor?

— O carro de Alex ainda está no set. Não pode passar a noite lá, será que você poderia pegá-lo? Se falar que sim, eu ajeito a sua permissão para entrar no estúdio agora.

— Posso sim. Só me passe o endereço, por favor.

— Ótimo. Vou te passar.

— Obrigada. – Murmurei e antes que Hugh desligasse a chamada, escutei claramente a voz de Dona Amelia perguntando pelo filho.

— Katerina, tenho que desligar, Amelia e Jonathan estão aqui.

— Tudo bem, fico no aguardo do endereço.

Cinco minutos depois eu estava fechando o meu escritório e descendo até o nível da rua. Depois de dar uma olhada no mapa, vi que o estúdio não era longe, e ir de carro, agora, com o trânsito do que jeito que estava, era loucura. Resolvi ir a pé, sempre com o mapa por perto. Centenas de pessoas faziam o percurso contrário, e não raro algumas olharam para mim, mais para o que eu estava vestindo. Caminhei de salto agulha por quase quinze minutos, até que parei na guarita do segurança e dei meu nome.

— Ah! É você a namorada do Alex. – O segurança falou. – Alguma notícia do garoto? – Era um senhor de uns quase sessenta anos, muito simpático.

— Sim, sou eu. E não, não tenho notícias. O senhor sabe o que aconteceu?

— Me chame de Earl. – Se apresentou.

— Katerina. – Respondi e estendi a mão.

— Até onde sei, era uma cena ali. – Ele apontou para o prédio. – Eu vi tudo daqui; eles estavam gravando uma cena de luta coreografada, Alex é bom nisso, só que o outro cara nem tanto. Foi um movimento errado, um golpe errado e Alex caiu. O cenário tá todo ali, porque o Sindicato tem que investigar o acidente. – Me mostrou o enorme colchão de ar verde. Eu claramente vi uma mancha de sangue ali, e isso fez meu estômago se revirar.

— É... bem alto. – Murmurei desviando os olhos do colchão.

— Sim, é bem alto. Mas como eu disse, Alex sabe o que está fazendo, o Colin não, nem sei o motivo dele não querer usar dublê...

— Sei que ele tem uma boa explicação. – Garanti sem nem saber quem era Colin.

— Veio pegar o carro e as coisas do Alex?

— Sim. – Confirmei.

— As coisas dele estão naquele trailer ali. Aqui a chave mestra. – Earl me entregou um molho de chaves. – O carro dele está para lá. – Apontou para o estacionamento. – Pode me entregar as chaves quando estiver saindo, moça.

Balancei a cabeça e segui para o trailer, só de abrir eu notei que aquele espaço era compartilhado, procurei pelos pertences de Alex, logo os achei em um armário meio aberto. Peguei a mochila, conferi se a carteira, o celular e demais documentos estavam ali, tudo estava em ordem. Depois achei a bolsa térmica com o almoço dele, intocado. Me perguntei que horas que o acidente ocorreu...

Fechei a porta do armário, tranquei o trailer e sai caminhando até o carro, meus saltos ecoando alto no set vazio.

O BMW azul era o único carro ali, destravei-o, coloquei as bolsas no banco de trás e assumi o volante. Assim que virei a chave, In The End tocava, alto.

Configurei o GPS para me guiar até ao Hospital e manobrei para sair dali. Na guarita, Earl me esperava do lado de fora com um papelzinho nas mãos.

— Será que você poderia me fazer o favor de mandar atualizações do Alex. Não importa a hora. Eu gosto demais do garoto. – Disse genuinamente preocupado ao estender o nome e o número de telefone.

— Claro que sim! Assim que sair alguma eu passo para o senhor.

— Muito obrigado, Katerina. E obrigado por fazer o garoto sorrir de novo. – Me falou.

— Não há de que! Tenha uma ótima noite, Sr. Earl. E um bom final de semana.

— Você também.

Acelerei para sair dali, ganhando uma avenida com um trânsito tranquilo, para me ver parada em um mar de luzes vermelhas poucos metros à frente.

Perkele!— Xinguei com todos os “r” que pude colocar em meu sotaque.

Aumentei o som para me distrair um pouco de ficar parada por tanto tempo, não adiantou, cada vez que eu batia o pé no assoalho do carro não era para acompanhar a bateria, era de ansiedade mesmo.

Por fim, nervosa demais, mandei uma mensagem para Will.

Oi, sou eu, a Kat. Notícias do Alex?

Cruzei os dedos, torcendo para que Will me respondesse rápido.

Ainda nenhuma, Kat. Quer que eu vá te buscar, sei que Hugh te pediu para pegar o carro de Will e sei que você não conhece a cidade.

Já peguei o carro. Estou presa no congestionamento.— Respondi e imediatamente senti falta de Alex, tenho certeza de que ele logo acharia um atalho para nos tirar dessa bagunça.

Falta muito para o hospital?

Conferi a tela do GPS.

5 km.

Daqui a pouco você chega, o trânsito deve estar diminuindo. É só se identificar e mostrar um documento na portaria, que o seu acesso já foi liberado.

Assim espero. E obrigada por ter lembrado de mim.

Meu irmão me mataria se não colocasse o seu nome lá! Até daqui a pouco Kat.

O “daqui a pouco” levou mais de trinta e cinco minutos e no momento em que consegui para o carro no estacionamento – achei, por milagre, o carro de Will lá. – eu estava tão nervosa e ansiosa que eu quase que passo direto pela recepção.

Dei meu nome, mostrei o documento com foto – passaporte, ainda tenho que tirar a carteira da Califórnia. Me informaram o andar e onde eram os elevadores. A subida foi dolorosamente lenta, a cada andar saía alguém, ou alguém entrava no elevador. Quando finalmente me vi na ala onde Alex estava eu não sabia se me sentia aliviada ou temerosa.

Sabendo que meus saltos fariam um barulho ensurdecedor, caminhei devagar, tentando controlar a minha respiração para não parecer a louca ansiosa por notícias que eu era por dentro.

Olhei em volta e logo vi a sala de espera e sentados lá, os pais de Alex, junto com Will e um homem na casa dos sessenta e tantos anos. Andei até lá e antes que eu chegasse na porta, Dona Amelia me viu e veio me abraçar.

— Ah, Kat! Que bom que chegou. Me desculpe não ter te ligado. Quando Will chegou na fazenda falando o que tinha acontecido, parece que meu cérebro desligou do corpo.

— Não tem problema, Dona Amelia. Tem alguma notícia?

Ela balançou negativamente a cabeça.

A levei até uma das cadeiras e me sentei do seu lado, e pela primeira vez eu tive um vislumbre do que a minha mãe deve ter passado quando fui eu quem fiquei internada.

Cumprimentei meu sogro e Will. E fui apresentada à Hugh Lee, o empresário de Alex – que eu nem sabia que existia.

— Queria que fôssemos apresentados em uma circunstância melhor. – Ele me estendeu a mão. – Hugh Lee, prazer em finalmente conhecer a namorada finlandesa de Alex.

— Katerina Nieminen. – Apertei a sua mão. – Muito prazer.

— E me desculpe não ter te ligado quando tudo aconteceu. Não sabia o seu número, só quando mandou a mensagem que eu pude te retornar. – Desculpou-se.

— Sem problemas. – Garanti e pedi licença, pois Lee tentava explicar o que tinha acontecido com Alex e cada vez que ele mencionava a queda, Dona Amelia se encolhia.

— A senhora quer que pegue algo? Uma água, um chá? – Me ofereci, só para que ela se distraísse da conversa dos homens.

Minha sogra me encarou e negou com a cabeça, me fazendo uma pergunta completamente distinta.

— Alex disse que tinha que me contar algo. Por acaso é relacionado com a sua sobrinha?

E eu me lembrei que ele tinha enviado o vídeo de Elena para a mãe.

— Juro para a senhora que não sei... Alex falou tanta coisa ontem e hoje de manhã.

— Falando em Elena, ela é uma graça.

— E levada que dói. – Completei com um sorriso.

— Como ela já está chamando Alex de tio? Ela nem o conhece!

E aqui, Will chegou mais perto para ouvir a conversa.

— Alex? Sendo chamado de tio? Pagava para ver.

Dona Amelia só tirou o celular da bolsa e entregou para o filho.

— Olhe na galeria, o último vídeo.

E Will abriu o vídeo e arregalou os olhos.

— Quem é?

— Minha sobrinha, Elena. – Informei.

— Que menina bonitinha! Tem cara de encapetada, tomara que dê muito trabalho para o “tio”!

— Não chame a Elena assim, William! – Minha sogra deu um tapa no braço do filho.

Só que Will nem ligou para o que a mãe tinha feito, e foi logo emendando:

— É ela quem está vindo?

— Não. A irmã dela.

— É atacada assim também? – Ele perguntou.

— Não, Olivia é tranquila.

— Que pena, queria ver Alex correndo atrás de uma criança e de um cachorro na praia.

Tentei imaginar a cena... juro que consegui ver Elena dando esse tipo de trabalho.

— Ela vai me chamar de tio também? – Will interrompeu meus pensamentos.

— Pode ter certeza de que vai.

— Se ela chamar a Becca de tia... minha nossa, minha namorada vai infartar!

— Bem... a probabilidade de Elena sair chamando todo mundo de tio e tia é muito grande, ela não tem lá muito freio na língua quanto a isso.

E eu não sei o porquê a possibilidade de uma criança aparecer para visitar a família tinha feito Will e Dona Amelia tão felizes. Tenho certeza de que eles dariam Graças à Deus quando ela embarcasse de volta para a Europa.

Dona Amelia tornou a chamar a minha atenção sobre a pergunta que me fizera. Assim, não tive alternativa a não ser contar o que aconteceu ontem.

— Então quer dizer que todos já se conhecem? Isso é ótimo! Queria que a sua família morasse um pouco mais perto para que pudéssemos comemorar o Dia de Ação de Graças juntos.

— Tenho certeza de que oportunidades não faltarão. – Tentei sair pela tangente.

— Também tenho, querida. Vamos começar com Olivia, não?

— Sim. Em três semanas. – Respondi e me perguntei como Alex estaria até lá.

Caímos em um silêncio pesado, estranho. Como se todos percebêssemos que alguma coisa estava por chegar. A cada segundo um de nós levantava a cabeça, procurando entre todos os médicos, aquele ou aquela que viria nos dar uma notícia.

Ninguém apareceu por duas horas. Dona Amelia já estava tão nervosa que eu decidi levá-la tomar um chá na cafeteria. Minha sogra insistiu que não iria sair dali sem notícias do filho, mas acabou convencida pelo marido que seria bom que ela desse uma volta, para aliviar a tensão, prometendo que nos ligaria se alguma novidade surgisse.

 Ficamos fora por quase vinte minutos, eu queria que fosse mais, pois não queria que Dona Amelia ficasse ainda mais ansiosa, sentada naquela salinha minúscula.

A cada meio minuto eu tirava meu celular do bolso da saia que usava, como se o gesto fosse fazer Alex me ligar ou me mandar uma mensagem. Era praticamente inconsciente, pois eu sabia que quem estava com o celular dele era Lee.

— Bonita foto. – Dona Amelia comentou ao ver o meu papel de parede. – Tiraram sábado passado?

— Sim. – Murmurei e olhei para a tela de meu celular, para a foto que na verdade era o print da chamada que fiz com Kim e Vic.

Dona Amelia abriu um sorriso.

— Vocês dois fazem um casal muito bonito. E é fácil de ver que estão realmente felizes juntos. – Ela me deu um beijo na testa quando me virei para olhá-la.

— Eu só quero ter notícias dele, Dona Amelia. Saber que ele está bem. – Sussurrei, tentando controlar o pânico que queria tomar conta do meu corpo.

— Ele vai ficar bem, filha. Não é o primeiro susto que ele nos dá... mas nunca demorou tanto.

Lee pediu desculpas, mas avisou que tinha que ir, uma emergência em casa, pelo que entendi ele tinha uma filha de uns oito anos que se recusava a ir para cama sem que o pai contasse uma história. Com isso, meu sogro se sentou no banco ao lado da esposa e logo pegou a mão dela, e eu vi o quão lindo os dois eram juntos, eles conversavam apenas com o olhar, passavam conforto um para o outro só com o simples gesto de segurarem as mãos.

Sem nada para fazer e ainda mais nervosa, comecei a bater o sapato no chão.

— Treinando para ser baterista, Kat? – Will brincou, aliviando um pouco o clima.

— Sabe que eu até que gostaria de aprender?

Ele me olhou descrente.

— Sério! Meu irmão toca, mas precisa de muita coordenação motora para acertar o ritmo dos pedais com o movimento dos braços, o que não é muito a minha praia.

— Acho que sei o porquê você e Alex se dão tão bem. Os dois têm uns parafusos a menos. – Ele brincou.

— Deve ser isso mesmo. – Assenti, e precisando conversar com alguém para me distrair, soltei. – Eu ouvi você falando sobre o filme que vai dirigir...

Will deu uma risada...

— E eu ouvi que está para chegar uns carros bacanas por aí. – Ele retrucou.

— Já chegaram. – Garanti.

— Que interessante. E você tendo que dirigir o carro do Alex. Que carros são?

Levantei uma sobrancelha para meu cunhado.

— Também quero jogar conversa fora, e tentar barganhar uma volta.

— Sinto muito, só eu dirijo meus carros.

— Ui... ela é a possessiva. – Ele brincou. – Sério agora. Que carro a la James Bond você trouxe?

— Um Jaguar e um Aston Martin.

— Vai mesmo bancar a Jane Bond? Com essas roupas chiques e agora esse carro. Vão achar que você está gravando o novo 007.  

— Engraçadinho você...

— Vamos apostar quanto tempo o Alex vai levar para esconder as chaves do seu carro e aparecer na sua frente dirigindo um deles?

— Eu escondo primeiro.

— Eu dou uma semana. No final de semana que vem ele já vai ter feito isso. – Me estendeu a mão em sinal de acordo.

— Isso não vai acontecer. – Garanti.

— Você me paga um jantar quando eu voltar, porque eu vou ganhar. E a Becca vai junto. Vou reservar no restaurante mais caro.

Rolei os olhos.

E ele continuou.

— E você nem vai ter como fugir do pagamento, porque é só vender um desses carros que terá dinheiro para pagar a aposta.

— Você passou quantas vezes na fila dos palhaços, hein?

Will me deu um sorriso e soltou:

— Menos do que meu irmão. - Mas depois da brincadeira, começou a me explicar o que o diretor fazia e quanto tempo demorava para gravar o filme e depois a saga que era para editar, cortar, adicionar a trilha sonora e, por fim, os efeitos especiais.

— Então para um filme realmente chegar às telonas, leva quase um ano?

— Ou mais, dependendo da distribuidora.

— Eu nunca tinha pensado nisso.

— Quase ninguém pensa. Acha que é só gravar e logo está nas salas. Lógico que tem algumas produtoras que conseguem fazer isso mais rápido. Mas tem estúdios enormes para isso.

Disney... – Conjecturei.

Touché.

E Will iria continuar a me explicar, mas foi impedido, pois um médico chegou perguntando sobre a família de Alex. Todos nós nos levantamos ao mesmo tempo.

— Vou começar com a notícia boa. – Doutor Nixon começou. – Ele está acordado e relativamente bem. Um tanto grogue dos remédios ainda. – Nessa hora, minha sogra agarrou a minha mão e eu finalmente senti que poderia respirar depois de horas. – As condições do Sr. Pierce são estáveis, mas eu quero mantê-lo aqui por pelo menos uma noite. Se tudo correr bem, posso liberá-lo no sábado à tarde ou no domingo de manhã.

Anuímos em silêncio.

— Peço que quando entrarem no quarto, não se assustem, ele está machucado, nada grave, mas é uma escoriação bem grande, e como é no rosto, parece que é mais grave do que realmente é. Não deixará uma cicatriz e por volta de uma semana, deve estar quase curada.

Foi a minha vez de apertar a mão de Dona Amelia.

— Quanto às fraturas...

E o plural quase me levou para o outro mundo.

— Ele vai ter que ficar de repouso por quase um mês. Nada de trabalho pesado, e muito menos, cenas de perigo. Ele tem duas costelas trincadas, que são uma lesão de quarta, pelo que ele contou – e eu juro, quando Alex ficar bom, eu vou quebrar a cara dele, pois ele escondeu isso de mim! – o ombro esquerdo está deslocado, três costelas quebradas, uma luxação no pulso e no tornozelo do lado direito.

Eu só não me joguei na cadeira tentando respirar, pois tive que segurar a minha sogra e ajudá-la a se sentar.

— Nada disso é grave. E, não me causam preocupações. Ele é jovem e saudável, vai se recuperar plenamente, dentro de, no máximo, dois meses e meio. Ele está sendo mantido por conta da concussão. Como o Sr. Pierce chegou desacordado e permaneceu assim por muito tempo, quero monitorar a sua atividade cerebral por garantia. Alguma pergunta?

Eu juro que quis perguntar quando eu ia poder dar uma surra em Alex por ele ser tão descuidado.

— Ele está acordado e coerente? – Dona Amelia perguntou.

— Dentro dos níveis de analgésicos que demos a ele, sim, o Sr. Pierce está acordado. Tem mais parentes para serem avisados?

— Não. – Meu sogro confirmou.

— Bem, se são só vocês quatro. O quarto dele é o 1455. Podem ir todos juntos. Mas só uma pessoa pode passar a noite como acompanhante. Se precisarem de qualquer coisa, peçam para a enfermeira chefe me chamar.

— Sim, muito obrigado. – Murmuramos.

Ajudei Dona Amelia a se levantar e logo ela deu a mão para Sr. Jonathan. Will andou do meu lado, murmurando que dessa vez Alex tinha ido longe demais.

Um pouco antes de chegarmos na porta do quarto, Sr. Pierce nos olhou e simplesmente disse:

— Nada de chegar falando isso, William. Hoje ninguém vai falar nada sobre responsabilidades com Alexander. Quando ele tiver alta e estiver em casa, conversaremos.

Assentimos e, mais alguns passos, chegamos na porta. Sr. Pierce e Dona Amelia entraram primeiro. Logo ouvi a voz arrastada de Alex por conta dos remédios.

— Acho que dessa vez eu devo pedir desculpas.

Will parou na porta e me deu passagem, depois, com os braços cruzados, encarou o irmão mais velho. Ele não precisava falar nada, em sua expressão fechada era possível ler o que ele pensava: “Você foi longe demais, mano. Está na hora de repensar a sua carreira e parar de assustar a sua família”.

Os olhos de Alex vagaram pelo quarto, parando alguns segundos em cada um de nós. E eu comecei a observar os ferimentos, um misto de alívio e desespero me tomou quando eu vi a extensão das lesões. E olha que Alex estava parcialmente sedado, e não sentia tanta dor agora.

— Me desculpem pelo susto! – Ele falou.

Dona Ameia foi a primeira a chegar perto da cama, como qualquer mãe, ela tinha que conferir como o filho estava, o relato do médico em nada servia. Então ela se sentou ali e começou a conversar com Alex, não sei o tanto que ele estava entendendo, mas respondeu às perguntas dela com clareza. Só hesitou quando ela perguntou como foi o acidente e, Alex claramente editou a história, dizendo que não se lembrava muito bem, poupando a mãe dos detalhes.

Sr. Pierce se juntou à esposa, parando atrás dela e colocando as mãos em seus ombros, analisou o filho, fazendo algumas perguntas que minha sogra não tinha feito e estudando as suas reações mudas. Nesse meio tempo, Will me chamou para fora do quarto.

— Me ajude a convencer a minha mãe de que ela não precisa passar a noite aqui. Sei que ela vai bater o pé, mas... não quero ela dormindo no sofá. Ela não tem mais idade para isso.

Olhei para o móvel.

— Claro, eu ajudo. Também acho que ela não deve ficar aqui.

— E... bem...

— Eu durmo aqui. – Garanti, entendendo aonde ele queria chegar.

— Precisa que pegue alguma coisa na casa de vocês? – Will perguntou naturalmente, como se Alex e eu estarmos dividindo a mesma casa fosse notícia velha.

— Se vocês não se importarem de ficar mais um pouco, eu posso ir lá e fazer uma mala para o final de semana. Aproveito e cuido de Stark, Thor e Loki.

Meu sogro veio ver o que tanto conversávamos e logo que se inteirou, só me mandou ter cuidado para não me perder e antes que eu saísse, me entregou o celular de Alex.

— Sei que você é quem vai tomar conta dessa coisa.

Antes de atravessar o corredor, escutei Alex:

— Onde a Kat vai? Por que ela não conversou comigo?

— Katerina vai buscar umas roupas para ela e para você, afinal ela vai passar a noite aqui. – Sr. Pierce informou. – E não, Amelia, você não vai ficar aqui.

Não ouvi mais nada, pois virei para o corredor principal, fazendo uma anotação mental de vir com um sapato bem menos barulhento quando voltasse, para que a enfermeira-chefe não me olhasse atravessado.


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Notas finais do capítulo

E é isso.
Espero que tenham gostado.
No meio da semana tem mais!
Muito obrigada por lerem!
xoxo



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