Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Promoção


Notas iniciais do capítulo

Agora sim o primeiro capítulo da fic! Vamos conhecer um pouquinho da protagonista.
Boa Leitura!



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— Parabéns, Katerina, você fez por merecer a promoção. Vai se dar muito bem controlando o Escritório do Pacífico. – O grande e temido Matti Nieminen me abraçou quando todos deixaram a sala de conferência. Um gesto e tanto vindo dele, já que é conhecido como Homem de Gelo.

— Obrigada, vovô. – Eu juro que tentei soar animada. Mas era uma enorme mudança na minha vida. E eu detesto mudanças drásticas, ainda mais as não planejadas, mas isso deve ter a ver com o acontecimento inesperado quando a última grande mudança assolou a minha vida.

— Está tudo bem para você partir tão em cima da hora? – Ele me perguntou enquanto andamos até a sua sala, a sala que um dia eu sonhei em ocupar, mas que pelo visto não irei mais.

— Claro que sim, é para isso que trabalho aqui, não?

— É assim que se pensa, minha garota! Creio que vai gostar dos ares da Califórnia. É o oposto do de Londres. Vai te fazer bem. – Ele se virou para o gabinete onde estavam seus caros whiskies e pegou um copo, servindo-se de uma dose. Não me ofereceu, pois sabe que eu não bebo, mas deveria começar a beber... 

Califórnia. Era para onde eu estava indo. Para onde eu nunca me imaginei indo.

— Creio que sim. – Respondi depois de vários segundos. Estava tentada em ir até o gabinete e roubar o whisky mais caro que tinha ali, sair correndo e, sentada no chão da minha sala, beber até que visse o fim da garrafa, ou até que eu apagasse de bêbada.

— O sol vai te fazer bem.

— Claro! Todos precisamos de vitamina D, não é mesmo?

Vovô se virou para mim e levantou uma sobrancelha.

— Ou quase todos. – Murmurei. Tudo bem, eu não tinha nada que indicasse que eu era uma rata de praia, muito pelo contrário, eu era branquinha, quase transparente, uma representação e tanto de uma pessoa que tinha raízes escandinavas, com o típico bronzeado de quem trabalha dentro de escritórios desde adolescência. Cabelos loiro-dourados, tinha o adicional de ser um pouco mais alta que a maioria, mas o que me entregava eram os olhos. Violetas, na verdade mais para roxo mesmo. Um claro lembrete que eu escapei do albinismo por um tris, já que toda a minha família tinha olhos azuis gelo. No contexto geral, eu me achava bonita, nada sexy, mas me destacava. Ou pelo menos assim eu pensava, até ser trocada no altar.

— Não comece com isso novamente, Kat.

— Não comecei, só estou pensando no fator do protetor solar que vou ter que usar! – Brinquei.

Meu avô se recusou a entrar na brincadeira e se voltou para a janela, olhando Londres de cima, dali tínhamos uma excelente vista da Catedral de Saint Paul, e até mesmo da Torre Elizabeth, ou como é mais conhecida, o famoso Big Ben, bem como uma vista do Parlamento e de algumas torres da Abadia de Westminster.

— Vai viajar quando? – Ele trocou de assunto, mudando novamente para o tom profissional.

Me sentei em uma das cadeiras, tirei o celular do bolso do vestido e dei um conferida em minha agenda para as próximas semanas.

— Tenho reuniões com o pessoal do Porto de Dubai e de Cingapura na semana que vem, depois são compromissos sobre as docas daqui da Europa.

— Então, eu quero você se instalando na Califórnia em duas semanas.

— Sim, senhor. – Tudo o que eu podia fazer era concordar. – Vou começar a providenciar a minha mudança.

— Temos um apartamento em Los Angeles. – Voltou ao tom paternal, nossa conversa voltava aos patamares de avô e neta.

— Sei disso.

— Mas...

— É Los Angeles. Todos aqueles artistas, fofocas, paparazzi.

— Londres é a mesma coisa.

— Mas Londres tem o seu charme de cidade velha, onde a área badalada se separa das áreas familiares e residenciais. Não vejo isso acontecendo em Los Angeles.

— Porque nunca esteve lá.

— Correção. Estive lá, duas vezes, como a sua assistente quando fechamos o acordo com aquela montadora japonesa e a empresa de robótica chinesa. E nas duas vezes tive a mesma impressão da cidade.

— Você diz isso por ser uma pessoa que gosta do frio e do inverno.

— O que posso fazer? Nasci na Finlândia! Ou eu aceitava a minha sina ou me apaixonava pela imensidão branca. Optei pela segunda.

Vovô me encarou. Ele sabia que isso era verdade, eu era a única na família inteira que era completamente rendida pelo inverno e suas belezas. Meus dois irmãos e minha irmã eram ferrenhos defensores do verão, assim como minha mãe. Meu pai não ligava nem para um, nem para outro, suas constantes viagens através do globo junto com o circo da Fórmula 1 o fez se acostumar com qualquer país, com qualquer clima. Se perguntassem para ele qual era a folga que ele mais gostava, a de verão ou a de inverno, ele sempre teria a mesma resposta: “tanto faz, o importante é que posso ver a minha família”. E agora, de todos, era eu quem pararia em uma cidade à beira-mar, para morar por Deus sabe quanto tempo.

— Bem... vou indo. Ainda tenho trabalho a fazer, relatórios para analisar e começar a olhar algo sobre minha iminente mudança. Boa noite, vovô. – Me despedi e segui para a minha sala.

Minha futura ex sala, me corrigi mentalmente. Pensar que levei longos dezessete anos para chegar até aqui. Que comecei trabalhando na empresa da família aos doze como garota de recado, passei pelo almoxarifado, recepção, fui estagiária, vendedora, analista de negócios para então, depois de cinco graduações, dois mestrados e uma tese pela metade de doutorado, chegar até a Chefia Executiva do Escritório de Londres. Só para ter o meu tapete puxado e ser mandada para chefiar o Escritório de Los Angeles.

— Eu vou sentir falta dessa vista. – Falei ao ver a torre do Big Ben, que ainda está em reformas, pela janela. Desisti de chorar pela vida, me virei para o meu computador, trouxe-o de volta à vida, tirei meus sapatos e voltei a fazer o que eu sabia melhor.

Análise de mercado e projeções de negociações para o transporte de qualquer carga lícita pelo globo terrestre.

O prédio caiu em um completo silêncio com o avançar das horas e quando eu finalmente terminei a minha meta diária, a madrugada já ia alta, na verdade era mais fácil dizer que o sábado já queria amanhecer.

Coçando os olhos, desliguei meu computador, calcei com dificuldade os meus sapatos, fechei os arquivos importantes em um armário com combinação, peguei minhas coisas para, finalmente, dar a semana como encerrada. Quando saí na garagem, Billy, o segurança da noite, estava parado na frente do meu carro.

— Achei que a senhorita tinha esquecido essa beleza aqui. – Ele disse, brincando e apontando com um certo fascínio para o jaguar encrustado no capô do carro.

— Que nada. Como eu chegaria em casa andando e debaixo dessa chuva, Billy?

— Você está certa, mas creio que tenha passado dos limites hoje, Senhorita Nieminen. Já está amanhecendo.

— Muito trabalho. E muitas mudanças. – Comentei ao abrir a porta de trás de jogar minha bolsa lá.

— Ouvi dizer que vai nos deixar.

— As notícias correm rápido por aqui.

— Você vai fazer falta.

— Só diz isso porque eu ficava perturbando a sua paz, anos atrás, querendo saber onde estavam as chaves reservas do almoxarifado, todas as vezes que eu perdia as minhas.

— Por isso também. Mas está na hora da senhorita ir para casa. Vá descansar.

Entrei no carro, pensando que, se meu pai visse o estado de sono em que eu me encontrava, era bem capaz que ele me tomasse o carro, a carteira e me proibisse de dirigir, mesmo eu tendo 29 anos.

Saí da garagem subterrânea e ganhei as ruas da City[1], quase não tinha ninguém andando pelas calçadas nessa manhã fria e chuvosa de sábado.

Minhas duas semanas finais em Londres passaram distintamente, no trabalho, parecia que o tempo voava, eram as últimas obrigações da minha agenda para cumprir, era fechar os meus pertences do escritório em caixas e mais caixas e, por fim, me despedir dos amigos que fiz aqui, talvez entre os grandes executivos, aqueles com uma formação tão completa quanto a minha, eu não tivesse nenhum amigo, melhor dizendo, nenhum colega, o ambiente era extremamente competitivo e eu era, além de uma jovem mulher, a neta do dono da Empresa, ou seja, seria odiada por um ou por outro motivo. Mas entre os demais funcionários, da recepção à cozinha, ali eu tinha amigos, das mais diversas nacionalidades e idades e foram eles, na noite do meu último dia de trabalho, que me deram uma festa de despedida. Minha secretária, Wendy, uma imigrante tailandesa de 45 anos, foi a responsável por reunir todos eles.

— Vamos sentir a sua falta, Finlândia! – Disseram meu apelido.

— E eu a de vocês!! Como vou sobreviver sem os nossos momentos de descontração? – Perguntei, tentando segurar as lágrimas.

Já no quesito família...

Minha irmã, como sempre, não se importou com nada, aliás, no dia em que Mia Nieminen se preocupar com alguém que não seja ela, soará a primeira trombeta do Apocalipse.

Ian, o mais velho, e o doido que seguiu a carreia de engenheiro de corridas como papai, me ligou do Japão, pedindo desculpas por não me ver, mas que daria um jeito de ir até LA para garantir que a caçula da casa estivesse bem instalada.

Joakim, ou Kim, meu irmão gêmeo, apenas me mandou uma mensagem, ele, um jogador de hockey que atuava na NHL era o único verdadeiramente feliz com a minha mudança para a Terra do Tio Sam. Aliás, não só ele, como Victória, minha cunhada.

Minha mãe já não ligava mais para onde os filhos estavam indo, depois de conviver por mais de 40 anos com um nômade como o meu pai que a cada quinze dias estava em um país diferente, tudo o que ela queria era que ficássemos em segurança e que mandássemos notícias, agora, se estávamos na Europa, no Brasil, no Japão ou na Lua, para ela era indiferente.

Porém, de todas as despedidas a que cortou o meu coração foi quando disse adeus para Tuomas, Olivia e Elena, filhos de Ian com Tanya, meus sobrinhos amados. Tuomas é um pouco sério demais, e se manteve na dele ao me abraçar e dizer adeus, mas Olivia e Elena, elas choraram junto comigo.

— Tia, eu vou poder te visitar na Califórnia? – Elena, no alto de seus cinco anos, me perguntou entre lágrimas.

— Mas é claro, meu amor. Quando quiser.

— Então eu posso ir amanhã? – Me olhou cheia de esperança.

— Amanhã a mocinha tem aula. Mas nas férias, verá a sua tia. – Tanya tirou Elena do meu colo e a pequena se agarrou ao meu pescoço me pedindo para ficar.

Ah, se eu pudesse! Foi o que quis dizer para a caçulinha da família.

Me levantei do sofá, Olivia me seguiu até a porta e entrou no carro comigo.

— Você não falou nada para a sua mãe que viria. – Alertei para a pré-adolescente.

— Bivó disse que você fazia a mesma coisa com ele. – Me respondeu.

Olivia, assim como eu, era apaixonada pela empresa e por tudo o que fazíamos lá, e, para completo desespero de Ian e Tanya, já começara a trabalhar como trainee.

— O que você quer realmente?

— Posso ir junto?

— Liv...

— Eu sei, tia... mas pensa bem... eu estava trabalhando para você. Fazia tudo o que me mandava, mesmo que fosse tirar cópias e arrumar a sala de conferência para a próxima reunião. Tem um monte de gente que não gosta da minha presença no escritório. Isso sem contar que agora, a única tia que eu vou ter desse lado do Oceano, será a tia Mia.

— E seu pai, sua mãe, seus irmãos, seu avô, avó?

— Papai não fica em Londres tempo o bastante para nada; mamãe toma conta da Lena, além do trabalho no Hospital; Tuomas está com os dois pés de Oxford para fazer Engenharia ligada a carro, seja carro de passeio ou de corrida, antes da hora; vovó está sempre dando aulas e vovô, serve o que falei do meu pai. – Ela desabafou.

Dei uma olhada para o motorista que me levava. Lars, o gigante de quase dois metros de altura que era o motorista e o segurança de meu avô, apenas se concentrava em dirigir.

— Mesmo assim, não vai. Ficaremos em contato todos os dias, Liv. E qualquer coisa me avise, mas eu não posso te levar, não sou sua mãe e não tenho a sua guarda, podemos combinar de que em todos os feriados prolongados e férias você vá para lá, mas fora isso, é impossível.

Ela cruzou os braços, mas sabia que eu falava a verdade.

— Dentro de cinco semanas teremos uma folga de dez dias na escola. Mamãe gostando ou não, eu vou para a Califórnia. – Disse finalista. – Nem por decreto vou dividir uma mesa com a Mia e o seu terceiro esposo, qual é o nome dele mesmo?

— Eu não me lembro. – Disse com sinceridade. Minha irmã tinha o dom de se apaixonar perdidamente desde a adolescência, e, daí para frente só piorou. Ela se casou escondido, com o namorado de colégio, quando tinha dezoito anos, aos vinte pediu o divórcio, dizendo que a carreira de modelo a impedia ter um casamento convencional. Se casou novamente aos vinte cinco e se divorciou três anos depois. E nesse ano, aos trinta e dois, jurou ter conhecido o homem de sua vida e se casou de novo, eu nem fui ao casamento e muito menos sei o nome dele.

— Dou dois anos. – Liv falou.

— Para?

— O novo divórcio da tia.

E ri. Essa era uma aposta velha dentro de casa, mesmo que minha mãe a odiasse.

O restante do caminho até o aeroporto foi silencioso. Liv não falou mais nada, apenas escorou sua cabeça no meu ombro e ficou ali. Para quem olhasse de fora, parecíamos mãe e filha, ainda mais se levarmos em conta que Liv é quase a minha cópia, mas a verdade era que, Tanya e Ian sempre trabalharam muito e eu acabei ficando de babá de Liv praticamente durante toda a sua primeira infância, o que acabou resultando em um laço muito forte entre nós.

— Chegamos. – Lars anunciou ao parar o carro dentro do hangar.

Liv suspirou audivelmente e apenas disse.

— Então... em cinco semanas, serei eu pegando esse jato.

A única mordomia que pedi com relação a minha mudança foi essa, o jato da empresa emprestado para me levar para os EUA, afinal, eu não estava indo a passeio, estava indo a trabalho.

— Se seus pais deixarem, sim. No mais....

Vi minhas malas sendo levadas para dentro do jato, Liv ficou parada do meu lado, o choro silencioso dela cortando o meu coração.

— Você vai ficar bem, Liv. Eu sei que vai. – Abracei-a.

— E se eu não ficar?

— Estarei sempre a uma ligação de distância!

— O fuso é muito diferente. – Ela murmurou.

— Eu estarei acordada. – Prometi.

Ela chorou ainda mais e depois me deu um beijo na bochecha.

— Tchau tia! – Falou entre soluços e correu para dentro do carro, se deitando no banco de trás.

— Lars, leve-a em segurança para casa, por favor. – Pedi ao motorista.

— Pode deixar, Katerina. Tenha uma boa viagem.

— Obrigada. – Agradeci, peguei a guia de meus dois cachorros, Thor e Loki, e me preparei para subir os degraus. Não antes de acompanhar o carro fazer a conversão e sair do aeroporto.

Já na cabine, ajeitei a dupla de quatro patas em um canto, prendendo-os com toda a segurança, me sentei em qualquer lugar, tirei meus sapatos e comecei a pensar no que seria da minha vida em um país onde não tinha amigas, não conhecia ninguém, em um lugar onde o sol brilhava e pessoas famosas andavam pelas ruas.

— Eu estou definitivamente perdida. – Falei encostando minha cabeça na janela do avião vendo a cidade de Londres, a cidade que escolhi para ser a minha cidade, depois de Helsinque, ficar pequena e sumir no meio da neblina.

Onnea Minnule[2].

 

[1] City: coração econômico e financeiro de Londres.

[2] Boa sorte para mim.


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Notas finais do capítulo

Avisinhos:
Eu não falo finlandês, então as poucas expressões que estarão presentes nessa fic são traduzidas pelo Google Tradutor. Se alguém que está lendo falar o idioma e notar que está errado, pode avisar que eu arrumo!
Espero que tenham gostado! Aos pouquinhos Katerina será apresentada direito, assim como alguns membros da Família Nieminen.

E mais uma vez: Todas os personagens aqui retratados são criações minhas, e não possuem ligação com nenhuma pessoa da vida real, qualquer semelhança é mera coincidência!

Até a próxima semana!

xoxo



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