Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 135
A Queda


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei... mas é que eu peguei o embalo para dar uma adiantada na história e me esqueci de postar o que já estava pronto.
Assim, sem mais delongas.
Boa leitura!



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A primeira coisa que Alex me perguntou quando colocou os pés em casa, foi o motivo das quatro adolescentes terem me escolhido para a conversa.

— Representatividade. – Respondi simplesmente.

Ele só levantou uma sobrancelha.

— Ao que parece, a turma que vem aí, se importa muito com exemplos e está cansada de ver somente homens no poder, ou como líderes de algo. E elas me viram como uma das poucas mulheres em um cargo de liderança. Por isso me escolheram.

Meu noivo abriu um enorme sorriso e comentou ao meu abraçar:

— Ou seja, mais gente que te vê como exemplo. Antes era só Liv e Lena, agora a turma aumentou e digo mais, existem muitas outras garotas por aí que também se espelham em você e querem ser maiores do que Katerina Nieminen.

— Se existem, eu torço imensamente que elas sejam sim. Eu não fiz nada de importante e tenho certeza de que essa geração tem uma capacidade de ir ainda mais longe, em tudo.

— E eu quero estar por aqui quando for a vez de Lena. Ela sim, vai surpreender. – Alex continuou e depois de me dar um beijo, passou para o tópico do final de semana. – Tudo pronto para irmos para a Fazenda?

— Pronto e no Jipão. Só faltam os cachorros. – Informei apontando para o trio que brincava de cabo de guerra.

— Até você? – Brincou comigo.

— Para você ver o quão tarde você chegou hoje. Vai tomar um banho que eu ainda tenho que tirar a roupa seca da máquina.

Alex galgou os degraus para o segundo andar de dois em dois e eu segui para a lavanderia para tirar a última leva de roupas da secadora. Encontrei com ele encarando o celular, ainda com a toalha enrolada na cintura, sentado no divã ao pé da cama.

— Algo errado? – Perguntei ao depositar a trouxa de roupa atrás dele.

— Bem, nada demais, só uma mensagem do meu novo agente.

— Notícias ruins?

— Depende. Ao que parece, eles vão entrar no plano de contingência e bloquear a família da mídia.

— Por conta do aniversário de Dona Amelia?

— Não. Outra coisa. Mas ele não me deu detalhes. – Alex colocou o celular de lado e foi se vestir. – Não vou demorar.

— Tudo bem. – Respondi simplesmente. E, assim que ele se embrenhou no closet, atrás de sua roupa, mandei uma mensagem para Dona Amelia.

Estão blindando a família da mídia.

Minha sogra me respondeu na hora.

Eu sei. Por favor, Kat, finja que não sabe de nada.

Tudo bem.

E pode ficar calma, dessa vez, não vamos ser atingidos de nenhum lado. Te vejo ainda hoje?

Sim. Estamos quase saindo.

Ótimo. E apague essas mensagens, meu filho é naturalmente curioso e se ver qualquer coisa anormal, vai te importunar até conseguir que você fale o que ele quer.

Pode deixar.

E, assim, que mandei a mensagem, apaguei tudo do celular. Alex veio para perto de mim pouco depois.

— Notícias da viagem de Liv e Lena? – Questionou ao me ver com o celular na mão.

— Estava olhando isso. Até agora nada.

— Espero que Ian deixe as filhas virem.

— E por que não é a Tanya quem vai impedir isso? – Provoquei-o para distrai-lo.

— Porque os pais são naturalmente ciumentos quando se trata de suas filhas. É Ian quem pode ou não permitir que essa viagem aconteça.

— Sei... Você diz isso porque não conhece como Tanya pode ser a mamãe ursa.

Alex deu uma risada e depois começou a me ajudar a guardar a roupa.

Com tudo guardado e organizado, chamamos os cachorros e fechamos a casa, nosso destino um só. A Fazenda para o aniversário de Dona Amelia.

— E temos que pegar Dona Ilsa. – Informei assim que pulei para o banco do carona.

— E não temos sempre?

— Você pode não ter visto as mensagens que a sua mãe mandou hoje, mas eu vi, e sei exatamente que Will e Pepper vão pegar Dona Laura e o Sr. David no aeroporto. As tarefas estão bem divididas.

— Assim como o que você está levando no porta-malas... O que é aquilo?

— Sua mãe me pediu para pegar as toalhas de mesa e outras coisas que ela encomendou.

Alex deu uma risada.

— Minha mãe sempre fazendo os convidados trabalharem.

— Não é assim! – Retruquei.

— Veremos na madrugada de sábado para domingo como você vai estar. Eu aposto que mais morta do que viva...

— Exagerado. – Dei um tapa em seu ombro e fui verificar se não tinha mais nenhuma encomenda para ser pega ou algo para ser feito. Não tinha e assim pude respirar aliviada.

Após pegar Dona Ilsa e Alex ser colocado na sua aula de alemão nível conversação, sem ter pedido, nossa viagem foi tranquila.

E, este foi o último momento de tranquilidade e paz que teríamos durante todo o final de semana.

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Fui acordada ainda na madrugada de sexta para sábado com meu celular tocando. Como ainda era muito cedo e eu já sabia que trabalharia por todo o dia ajudando na organização da festa, deixei que tocasse, quem quer que fosse que deixasse um recado que eu retornaria, quando tivesse tempo.

— Atende isso, Kat, por favor. – Alex grunhiu do meu lado.

— Não... – Murmurei e tampei a cabeça.

Alex se remexeu do meu lado e quando vi, estava debruçado sobre mim e pegava algo na mesinha de cabeceira.

— Toma... se eu li direito é a Liv. – Ele me entregou o telefone e depois se jogou do meu lado, cobrindo a cabeça com o travesseiro.

Xingando minha sobrinha e sem ter aberto o olho direito, atendi o telefone.

Täti!!! É uma chamada de vídeo! – Escutei a combinação de vozes de Elena e Olivia.

Com muito custo coloquei-me sentada na cama e acendi o abajur de cabeceira.

— O que vocês duas querem? São... – Tive que afastar o telefone para ver as horas. - 04:15 da manhã de sábado.

Foi Elena quem me respondeu:

— O papai deixou que vá te ver! Eu vou para Los Angeles!

Nós vamos, Lena. – Liv corrigiu a irmã. - E você só está indo, porque eu estou indo. – Destacou.

— Então as duas vão vir? – Perguntei agora muito mais acordada e, do meu lado, depois de suspirar, Alex acordou também e me perguntou se era mesmo Liv.

—  E eu, setä! Setä? O senhor tá aí? – Lena perguntou.

Como ele havia atendido o celular, resolvi que ele também deveria conversar com as sobrinhas e virei a câmera na sua direção.

Setä! Bom dia! – Cantarolou Elena.

E, sem saída, Alex teve que acordar.

— Bom dia, Espoleta!

— Já tá sabendo da novidade? – Ela continuou e Alex me encarou cheio de sono.

— Não.

— Eu vou te visitar. Quando vai ser mesmo, Liv?

E Olivia tomou a frente da chamada e foi nos explicar que, depois de muita conversa, Ian deixou que as duas viessem passar as férias de outono conosco.

— E sabe o que nós queremos? – Elena perguntou.

— Não, Lena, não sabemos. – Alex respondeu por nós dois, já que eu estava caindo de sono.

— Ir para a Fazenda! Vovó Amelia disse que vai nos treinar, não é, Liv?

— Dona Amelia falou isso? – Questionei, agora já bem acordada.

— Sim, ligamos para ela no dia do aniversário dela, e depois de conversarmos um pouco, ela falou que nos quer lá para continuar o nosso treinamento. – Liv explicou.

E eu comecei a pensar que toda a minha família já tinha a ideia de querer a presença das duas por aqui, só me usaram como última alternativa para convencer Ian.

— Agora só precisamos que um de vocês venha nos buscar aqui em três semanas. Quem vai vir?

— Ainda temos que olhar, Olivia. Não temos a escala de trabalho para tão longe.

— Ah! Tá. Entendi. Então vocês vão ter que conversar isso com a mamãe, papai falou que não nos leva nem no aeroporto.

— Ian está ficando cada dia que passa mais parecido com o seu avô. E, por falar no pai de vocês, onde ele está? Não tem corrida neste final de semana.

As duas se olharam e depois sorriram para a câmera.

— Estão ligando escondido?! Vocês viram o que aconteceu da última vez em que cismaram de fazer algo sem a permissão de seus pais. Se colocarem as duas de castigo agora, eu não vou interceder por nenhuma das duas.

— O papai deixou a gente ligar. – Elena começou.

— Só falou que era para ser mais tarde, porque, talvez, vocês estivessem dormindo.

Talvez?— Perguntei.

— Vocês estavam dormindo, né?

— São 04:40 da manhã, o que as duas bonitinhas acham?

— Eu estaria dormindo... – Disse Elena seriamente.

— Pois então, era o que estávamos fazendo. Não digo você, Elena, mas você, Olívia, poderia muito bem ter olhado no aplicativo do celular quantas horas eram por aqui, antes de ligar. – Expliquei.

— Desculpa, täti... era porque nós queríamos passar a notícia o mais rápido possível. – Elena começou.

— Eu até entendo, Lena, mas não dá para fazer as coisas escondido dos seus pais e nem em um horário que vá acordar as outras pessoas.

Minhas sobrinhas fizeram um bico.

— A senhora ficou brava com a gente? – Ela continuou a perguntar.

— Brava, não. Mas não gostei de ser acordada tão cedo.

— Desculpe. – As duas murmuraram.

— Desculpas aceitas. Agora, as duas irão desligar o celular e falar para o Ian que já me ligaram, e que nessa semana eu ainda entro em contato com ele e Tanya para organizar a vinda das duas.

— Tudo bem, täti. E desculpe de novo. – Olivia tomou a frente. – Posso desejar um bom dia para a senhora e para o setä?

— Poder pode, mas o tio de vocês já dormiu de novo... – Apontei o celular para Alex que tinha voltado a dormir, sentado do meu lado.

As duas deram uma gargalhada.

— É por isso que vocês sempre têm que olhar o horário que ligam, para evitar pegar o tio de vocês dormindo sentado. Olha que cena lamentável! – Brinquei com as duas que riram da posição em que Alex havia se escorado e tinha dormido. – E, que as duas tenham uma boa semana e boas provas, sei que estão em semana de provas. E já sabem.

— Sejam as meninas mais inteligentes e mais quietas da turma! – Elas completaram o raciocínio.

— Exatamente. Boa tarde para vocês!

— E bom dia para senhora! Que ainda dê para dormir um pouquinho.

— É o que eu vou tentar fazer. Se o tio de vocês não cair em cima de mim. Beijos, meninas. E vamos nos falando, em um horário mais aceitável, durante a semana.

— Beijos, täti. E dá um beijo no setä quando ele acordar. – Elas acenaram e depois mandaram vários beijos para a câmera, antes de encerram a chamada.

Desliguei o celular e ainda o coloquei no modo avião só para tentar dormir mais um pouco. Isso, claro depois de ajeitar o dorminhoco do meu noivo na cama em uma posição que não o deixaria com dor nas costas ou no pescoço.

Não posso dizer que dormi, estava mais para um cochilo, e, assim que escutei barulho no corredor, decidi por me levantar. Quanto mais cedo começassem os preparativos para a festa, mais cedo eu poderia me arrumar mais tarde.

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 O dia foi uma correria sem fim, mesmo que me minha sogra tenha contratado uma pessoa para planejar e organizar a festa, sempre tinha aqueles detalhes que ficam para última hora. Isso, além do fato de que, como a festa em si era longe da cidade, tínhamos que sinalizar a entrada do local. E foi isso que Alex e eu ficamos fazendo por uma boa parte do dia.

— Acho que acabou, não? – Ele me perguntou ao se levantar do chão empoeirado, onde tínhamos colocado as luzes.

— Sim. Agora eu não sei dizer se isso ficou bonito ou parecendo uma pista de pouso... – Comentei.

Ele deu uma risada.

— À noite vai ficar bom. – Garantiu.

— Assim espero. – Dei uma última olhada para a entrada e a estrada em si, ainda duvidando que a decoração tinha ficado boa.

— Deixe de ser cética, Kat. Vamos entrar que eu aposto que ainda nos querem trabalhando em mais algum lugar, antes de nos liberarem para nos aprontarmos. – Alex estendeu a mão na minha direção e depois me puxou para perto de si.

Voltamos rápido para a casa, onde o quintal dos fundos tinha sido transformado em salão de festas e os últimos toques eram colocados nas mesas e cadeiras.

Enquanto Alex foi ajudar carregando as mesas, eu fui designada para com os arranjos de flores, e, não sei por qual motivo, me vi pensando no meu buquê de flores de quando eu quase me casei e na única flor que escolhi à época, rosas vermelhas.

— Tudo bem por aí, Kat? – Pepper me chamou quando percebeu que eu fitava as flores por tempo demais.

— Sim. Só me lembrando do buquê de flores do meu quase casamento... – Murmurei.

— Rosas vermelhas?

— Sim.

Pepper ficou em silêncio por um tempo, porém eu percebi que ela queria falar algo.

— Pode perguntar... – Comentei.

— Por que você nunca nos contou do seu quase casamento?

— Porque não achei que valia à pena. Acabou antes mesmo de começar e, sinceramente, já é uma página virada da minha vida.

— Como você não bateu no seu ex? Porque se fosse comigo, com certeza eu teria batido nele até que ele pedisse misericórdia.

— Não tem como se ter uma reação quando acontece. Foi tão... súbito, que eu não consegui nem processar o que estava acontecendo ali... Passei dias em negação e depois acabei entrando em depressão. Fiquei bem mal por alguns meses, só fui superar mesmo quando soube a verdade. E, isso aconteceu quando me mudei para cá.

— Mas você não teve vontade nenhuma de esgoelar o fulano lá?

— Eu tive. E fiz isso... em dezembro passado.

— Menos mal. O babaca não podia ter saído sem um arranhão, como fizeram parecer.

— Tem coisas que não saem na mídia... sabe como é, me diga um homem que se orgulha em dizer que apanhou de uma mulher... Claro que Dempsey jamais falará disso com alguém.

— Como a masculinidade é frágil, não? – Pepper comentou rindo.

— Muito. Mas eu deveria ter tirado a foto de como ele ficou depois que eu o acertei com uma joelhada e com a porta do carro.

Pepper deu uma gargalhada que chamou a atenção de todos.

— Bem no alvo, então.

— É claro. A vingança tarda, mas não falha!

E foi então que ela começou com outro assunto.

— E se você tivesse que escolher um novo buquê, quais flores colocaria?

Fui pega de guarda baixa com essa pergunta.

— Por que a pergunta? Pensando no seu?

— Talvez... sabe, já tem seis anos que Will e eu estamos juntos. Não tínhamos planejado nem ficarmos noivos, não sei o que deu na cabeça de dele para fazer o pedido no último verão, acontece que agora, sem nem notarmos, estamos falando de casamento, de festa, se vamos nos casar aqui ou em alguma praia por aí... sabe, não tem nada certo, mas, lá no fundo, nós dois sabemos que esse é o próximo passo. – Desabafou.

— Um conselho, não escute a opinião de ninguém.

E Pepper me olhou em dúvida.

— Sabe o motivo? As pessoas escolhem pensando nelas, nunca na noiva. Vá no seu estilo ou tente montar um buquê que combine com o lugar que escolheram.

— Então se for um casamento no Hawaii, por exemplo?

— Lá não tem uma flor típica? Ou talvez, sem flores, só um arranjo de folhas... Depende de muita coisa. – Dei de ombros.

Pepper se pôs a pensar e depois só soltou.

— Eu sei onde não me casaria...

— E onde é?

— Aqui.

— Sério?

— Sim. Sei que é bonito e dependendo da estação o pôr do sol é lindo, mas não me vejo tendo um casamento no campo.

— Pelo que vejo, vou ter que encher meu pé de areia...

— É... essa é a nossa primeira opção. Só não sabemos onde... porque temos que pensar nos convidados, no deslocamento, na hospedagem de todos, enfim, muita coisa para se colocar no papel ainda.

— Planejar um casamento é cansativo. – Foi o que falei. – Exaustivo até, e fica dez vezes pior quando a data vai se aproximando, porque mil e um problemas surgem do nada. Tenha paciência.

— Vou recorrer a você, toda as vezes que estiver desesperada.

— Acho melhor não, o que eu planejei não deu certo.

— Mas exatamente por isso. Porque você sabe onde errou, e não vai me deixar errar.

— Vendo por esse lado. Mas, sendo curiosa e, talvez, um tanto intrometida, já tem uma data?

— 2025. No verão, se possível.

— Se for na praia, tem que ser no verão, ninguém quer morrer afogado no caso de um eventual dilúvio, se for no outono ou no inverno.

— Exato. E... minha vez de ser curiosa. Você e Alex?

— Nada.

— Mesmo? Não te deu a vontade de subir no altar?

— Não. E, acho que nem é a hora. Ele voltando a fazer filmes e a série, retomando a carreira, melhor deixar tudo se firmar, antes de termos uma data.

— Então, festa de casamento por aqui só em 2025.

— Não... Pietra e Benny se casam antes. Aliás, não acho que vai demorar para recebermos os convites.

— Está aí algo que nunca imaginei. Benny se casando. E com uma europeia.

— Você diz isso do Benny, porque não conhece a Pietra há tanto tempo... ela, eu jurava que nunca iria se casar. E veja só... ela mesma já me falou que já tem data.

— Esse é um evento que eu não perco por nada desse mundo.

— E vou te avisar uma coisa, será a festa. Pietra não irá fazer qualquer coisinha em qualquer lugar, ela vai escolher o melhor do melhor.

— Não vejo onde aqui na Califórnia...

— Califórnia? Quando se trata de Pietra, nunca pense pequeno. Para ela se casar no Palácio de Versailles, ela não muda de roupa.

— Meu. Deus. Olha o que nos aguarda!

— E pode apostar, seremos madrinhas.

— Não tenho roupa para isso.

— A Itália é logo ali e se prepare para ir com algum vestido de alta costura, e eu aposto minha vida que será vermelho.

— Melhor eu começar a treinar meus pezinhos a ficarem em saltos altos vertiginosos, porque não quero fazer feio do lado das europeias.

— Pode começar com hoje...

Pepper deu uma olhada pelo salão e seus olhos pararam em Will, depois de sorrir abertamente, soltou:

— Ainda bem que Will é bem alto e eu posso exagerar no salto.

Virei minha cabeça na direção onde estavam Will e Alex depois falei:

— Está aí a segunda vantagem de se namorar um homem alto.

— Saltos altos. – Rimos.

— Mas qual é a primeira? – Pepper me perguntou.

— Pegar as coisas na prateleira mais alta sem precisar de escada ou subir na cadeira.

Demos uma risada alta e, depois de provavelmente todos terem nos taxado de malucas, voltamos aos arranjos.

O dia já estava se pondo quando terminamos de arrumar cada mesa com os seus respectivos arranjos, e, quando paramos na entrada do salão, o perfume que nos recebia era espetacular.

— Dona Amelia acertou ao escolher camélias e rosas para os arranjos, uma balanceou o perfume da outra e perfumou o lugar de forma leve e agradável. – Comentei.

— Eu nunca vi nossa sogra errar na escolha de flores. Sério. Não sei se você se lembra do ano passado, mas a casa inteira estava perfumada, como se tivessem espirrado perfume árabe por todo o lugar, sendo que eram as flores e ervas aromáticas que deixaram o lugar daquele jeito.

— Eu não me lembro. Na verdade, não me lembro de muita coisa daquela noite.

— Eu te entendo. – Minha cunhada me deu um tapinha no ombro e depois foi em direção à casa. – Hora de virar celebridade, não podemos fazer feio! – Ela brincou.

Dei uma última olhada no salão, respirando o perfume do ambiente, depois segui o mesmo caminho que Pepper havia feito. Eu tinha três horas para me fazer apresentável até que a festa começasse.

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E, uma hora antes do horário marcado, toda a família estava reunida na sala, só esperando por minha sogra que ainda estava acabando de se arrumar.

— Só mesmo minha mãe para me fazer usar terno aqui na Fazenda. – Will reclamou e recebeu olhares de reprovação dos avós que estavam sentados à sua frente.

Pepper que estava com um vestido longo e vermelho, só deu um tapa no ombro dele, um tapa que ecoou na sala de tão forte que foi e fez com ele se encolhesse.

— Não reclama! Você não tem que usar saltos. – Ela falou e mostrou os pés enclausurados em uma sandália de salto agulha.

— Cuidado para não quebrar o pé na pista de dança. – Will teve a coragem de dizer para a noiva.

— Se eu quebrar o pé, William, a culpa será de quem estiver me conduzindo, ou seja, você!

E no silêncio que se instalou no cômodo dava para ouvir um alfinete tocando o chão. Porém, a reação mais engaçada partiu dos demais homens que deram uma pequena conferida nos sapatos de suas companheiras e, todos acabaram por engolir em seco, preocupados com o desfecho da noite.

E pouco depois dessa pequena torta de climão, minha sogra apareceu, muito bem-vestida com um vestido azul e, sem puxa-saquismo, estava colocando todos nós aos seus pés, o que acarretou uma chuva de elogios à sua escolha de roupa.

Os primeiros convidados chegaram meia hora depois do que seria o início da festa, e, como no ano anterior, tivemos que cumprimentar um a um, claro que os parentes e alguns mais indiscretos, notaram os anéis de noivado nas mãos das noras da aniversariante e, não deixaram de perguntar qual dos casais se casaria primeiro.

Dona Ilsa só dava um pequeno sorriso para os comentários, já Dona Laura, respondia que esperava estar viva para ver os dois casamentos e os noivos em questão só se olhavam um tanto sem jeito, ou nem tanto, já que Pepper e Will já pareciam ter tudo organizado em suas mentes, uma vez que já tinham escolhido o ano do casamento, e Alex e eu só dávamos aquele sorriso padrão que queria dizer: não é da sua conta.

As horas foram passando e a festa seguia impecável. Nenhum problema apareceu, o que era raro, dado o tamanho da festa e o número de convidados. E, quando inauguraram a pista de dança, Alex me estendeu a mão me chamando para dançar.

— Acho que essa dança será mais fácil do que a nossa primeira naquela casa noturna.

— Pelo menos aqui sabemos o ritmo da música. – Comentei aceitando a sua ajuda.

Dançamos um bom tempo, até que a música foi interrompida para cantarem os parabéns, e Dona Amelia fez questão de ter toda a família ao seu lado.

Voltamos à mesa e me peguei conversando com Dona Ilsa e Dona Laura sobre a vinda de minhas sobrinhas, claro que as duas só tinham um comentário a fazer: queriam vê-las treinando.

— E, se tudo der certo, vou colocar Elena em cima de um cavalo, talvez ela possa montar Hall— Disse Dona Laura.

— Pelas notícias que andei recebendo de meus avós, Lena já anda dando umas voltinhas montada em Shadow, a égua de minha avó Claire.

— Tenho minhas suspeitas de que Elena será a campeã olímpica da família. – Disse Dona Ilsa.

Disso eu não sabia, mas não era de todo impossível, Elena é novinha e se realmente quiser, pode se tornar profissional.

A pista de dança foi reaberta e foi a vez da aniversariante dançar com o marido e os filhos e, claro, Pepper e eu ficamos fazendo apostas de qual dos dois seria o primeiro a pisar no pé da mãe.

— Nenhum dos dois, eu ensinei os meus netos muito bem! – Dona Ilsa nos respondeu.

E foi ela falar isso e vimos a expressão de repreensão de Dona Amelia para o filho mais novo.

— Acho que Will estreou o sapato novo da mãe... – Pepper comentou rindo.

— E é novo mesmo, eu saí com ela para comprar.

— E aproveitou e comprou o meu... nunca mais deixo essa tarefa nas suas mãos, tinha me esquecido que você não é adepta dos saltos convencionais, mas sim dos saltos estratosféricos. – Ela reclamou comigo e depois deu um pisão em meu pé.

— Meu sapato é novo também, devagar aí! – Reclamei.

Meu sogro que estava calado, só prestando atenção na falação das mulheres que estavam ao seu lado, deu uma risada e comentou:

— Brigam como se fossem irmãs...

E nós duas nos entreolhamos e só não fizemos uma careta para outra porque tinha muitas testemunhas por perto.

Voltamos nossa atenção para a pista de dança, já que era a vez de Alex de pisar no pé, digo, dançar com a mãe. Nesse meio tempo, Will voltou e chamou uma das avós para dançar, e Dona Ilsa, ao aceitar o convite, ameaçou:

— Se você pisar no meu pé, William, vai ficar sem andar por uma semana.

Tivemos que conter a altura das risadas.

E, cada uma teve a sua chance na pista de dança, claro que tive que dançar com Will, que fez questão de pisar no meu pé de propósito e, também com meu sogro, que, para minha surpresa, dançava melhor do que os filhos. O único homem da família que se recusou a dançar foi o Sr. David, que jurou que não levava jeito para isso.

A festa só foi acabar com o dia amanhecendo por trás da tenda, o que resultou em uma aura quase etérea quando os raios dourados do céu bateram nos enfeites de cristal que estavam sobre a mesa.

Os convidados se despediram e, quando o último se foi, nós voltamos para dentro da casa, Pepper carregando os saltos na mão, Will tirando gravata e o paletó e reclamando que nunca mais coloca um terno, eu permaneci montada no salto, o que não quer dizer que meus pés não estivessem doendo e Alex, bem, ele já tinha abandonado o terno e o colete há muito tempo e era bem capaz que nem soubesse onde estavam.

Paramos na sala, olhamos para os sofás, mas o cansaço e o sono falaram mais alto, e, murmurando uma mistura de bom dia com boa noite, entramos nos quartos...

E, creio que eu não tive nem forças para trocar de roupa, desmaiei de cansada ainda no vestido que usava.

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 E, ainda cansada da excelente festa que fui, tive que me preparar para a semana que me esperava.

A segunda chegou sem dó do meu corpo exausto e privado de sono, tive que seguir a minha rotina e ainda entrar em contato com meu irmão para organizar a vinda de minhas sobrinhas.

No tempo que me sobrou – durante a minha volta para casa, depois do pilates, aproveitei e liguei para Vic, para saber como estava Seb, já que ela tinha decidido vir para os EUA, cansada de ser paparicada e ainda ter que ouvir os mais diversos conselhos da minha parte da família e também da sua parte.

— Bem, - ela me disse depois de suspirar, pois Seb recomeçou a chorar. – Ele ainda está se adaptando ao país, ao fuso, e, claro, aos meus rompantes de choro. Às vezes eu acho que não vou dar conta, que é responsabilidade demais tomar conta dele sozinha... mas, vida que segue.

—  Por que você veio tão rápido para cá?

Uma respirada fundo e ela soltou:

— Não aguentava mais tanta gente falando o que eu deveria ou não fazer, como cuidar do meu filho, que horas colocá-lo para dormir, quando amamentá-lo, quando isso, quando aquilo. Sei que foi com as melhores das intenções e me ajudou muito nos dois primeiros meses, MAS, chega uma hora que você tem que tomar as rédeas da criação, minha sogra, cunhada e mãe não ficarão do meu lado para sempre, e para que eu tomasse essa decisão, só vindo para cá.

— Mas você perdeu a sua rede de apoio.

— Eu sei. Porém, era necessário, Kat. Não dava mais para me apoiar tanto em tanta gente. O filho é meu. Era meu sonho ser mãe, e se era MEU sonho, eu que tenho que tomar conta. É um sentimento meio complicado de se explicar, contudo, tinha que ser feito.

— Aposto que torceram a cara quando você falou que vinha embora.

Ela deu uma risada.

— Minha mãe torceu a cara.

Olhei para o telefone, apesar de que Vic não poderia me ver.

— Sério, ela que nem me apoiou tanto assim durante a gravidez, foi a primeira que reclamou que eu estava vindo.

— Mesmo? Achei que vocês tinham acertado os ponteiros.

— Mais ou menos. Não sei o que ela estava querendo quando começou a falar sem parar dentro da minha casa, mas o falatório dela só me fez ter mais certeza de que eu precisava voltar para Chicago. E, tem uma grande possibilidade de que este seja o nosso último ano aqui.

— Kim vai mudar de time?

— Recebeu proposta dos Bruins, do Islanders e até dos Los Angeles Kings.

— Isso é algo que eu não esperava. O Kim podendo mudar de time. – Falei espantada.

— Pelo que ele andou me adiantando, vai ter uma debandada do Blackhawks, comissão técnica, departamento médico... sem contar que o clima de vestiário não está lá muito legal.

— Vi que tem dirigente tentando dar pitaco na escalação.

— E colocar parente para jogar no lugar do Kim... Sério, mesmo machucado, meu marido joga muito mais do que aquele moleque mimado... – Ela desabafou.

— E este foi o outro motivo que te trouxe de volta mais cedo.

— É, foi sim. Dois meses de separação foram suficientes para nós... eu já não consigo viver sem o Kim, e ele, meio que nas entrelinhas, me pediu para vir. E foi o que eu fiz.

— Faria o mesmo pelo Alex.

— É. Que bom que você me entende, pois minha família não entendeu.

— Sendo bem sincera, sua mãe nunca entendeu a sua paixão pelo meu irmão.

— Juro, cinco anos de casamento, seis de namoro e o pessoal ainda implica com ele. Ainda bem que a sua família me acolheu bem... porque senão iria ser o pior relacionamento da história.

— Não há de que. E, para que implicar com a felicidade alheia? Quando as pessoas estão felizes, elas não fazem mal a ninguém.

— É o que eu penso, mas fala isso para o meu lado da família.... – Minha cunhada respondeu triste.

— Não se preocupe com eles. Sempre que precisar de um ouvido para desabafar, conte comigo.

— Não vou atrapalhar a sua vida com Alex.

— Conheço você há mais tempo do que conheço ele. E, além de minha amiga, você é minha cunhada. Eu sempre vou estar a uma ligação de distância, não se esqueça disso.

Vic fungou do outro lado do telefone.

— É, eu não posso me esquecer disso. Obrigada, Kat. Estava precisando ouvir isso. De verdade.

— Sempre por aqui. E quando precisar, ligue!

— Ligo sim. E, se der, traga as meninas até Chicago. Está um frio de morrer aqui, mas estou com saudades delas.

— Elena perto do Seb? Acho que ainda não é uma boa ideia.

— Ela estava quase se acostumando com ele... agora não sei como será.

— Deixe-a crescer um pouco. Lena ainda é muito novinha para entender que ninguém vai trocá-la pelo Seb.

— Ela não é tão pequena assim... Já tem seis anos.

— Para mim ela é pequena sim. Vai ser a eterna Pequena da família.

— Tia babona! E, só com você que Ian poderia deixar as duas filhas. Ele nunca confiou tanto assim no Kim.

— Eu praticamente criei as duas, ou melhor os três... era mais do que obrigação dele confiar em mim.

— Vejo que meu filho saiu no prejuízo... ele não vai ter a “tia Kat” do lado sempre que precisar.

— Posso não estar do lado, mas estou a uma ligação de distância. Ou uma videochamada, como queira.

Vic riu e com isso escutei o choramingar de Seb, que deveria estar em seu colo.

— Bem, tenho que desligar de verdade, meu dever de mãe me chama, e esse não é nada agradável.

Dei uma risada, sabia muito bem qual era esse “dever”.

— Boa sorte e uma máscara de gás é sempre bem-vinda.

— E como. A gente se fala, Kat.

— Sempre que precisar.

Encerrei a chamada e voltei a correr no meu ritmo normal, dando uma volta um pouco maior do que eu normalmente faria, já que não tinha ninguém em casa me esperando.

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E à medida em que a quinta-feira se aproximava, eu me sentia culpada por saber o que este dia traria e não contar a Alex. Ele, depois do aviso de seu novo agente, não comentou mais nada, eu, por minha vez, também não toquei no assunto e, a semana se seguiu.

Na quarta à tarde, eu estava tão nervosa com tudo que uma dor de cabeça monstruosa começou a mostrar as garras e, juntando com a ansiedade que eu já sentia, percebi que eu não precisaria inventar nenhuma desculpa esfarrapada para não aparecer no escritório na próxima manhã, eu definitivamente não estaria aguentando nada.

No meio do expediente, logo que Amanda se foi para poder chegar a tempo na faculdade, fui até a sala de Milena e pedi a agenda dos dois próximos dias.

— Bem, Katerina, não tem nada de muito especial. O mesmo dos últimos dias, somente serviço interno. As reuniões importantes estão marcadas para a próxima semana.

— Claro. E como estamos com a preparação para o Conselho?

E aqui Wendy entrou na conversa, me atualizando de tudo o que já estava pronto e o que ainda faltava a organizar. Nada muito sério, e que com poucos dias para o início da reunião, poderíamos fazer.

— Mas por que você está perguntando tudo isso? – Milena já tão acostumada comigo, me olhou com uma sobrancelha levantada.

— Não me sinto muito bem, acho que uma crise de enxaqueca se aproxima, e, dependendo de como estiver amanhã, capaz que nem apareço por aqui.

Wendy se levantou e veio me checar.

— Não sei como você está se aguentando, está pálida.

— Então, é exatamente por isso que estou aqui, vendo se posso escapar mais cedo.

— Acho que deveria ir. – Milena me cortou. – Já te vi passando mal assim, e você fica péssima. E dessa vez não tem o Pierce aqui para te ajudar.

— Alex está trabalhando. Como você pode imaginar.

— Acompanho religiosamente a série todas as sextas! – Ela falou brincando. – Mas falando sério agora, arrume suas coisas e vá embora. Antes que isso aí piore.

— Vou fazer isso. E se quiserem ir, não falta muito para o expediente acabar, de qualquer forma.

Voltei para minha sala e peguei meus pertences, despedindo-me logo em seguida de Wendy e Milena que também já se preparavam para sair.

Quando cheguei em casa, achei que teria forças para fazer algo, mas a dor de cabeça me impediu, e, sem querer ter uma reprise da minha última crise, tomei o remédio e me permiti escorar no sofá da sala até que este fizesse efeito.

Acordei não sei quantas horas mais tarde, com Alex me chamando.

— Kat? Está tudo bem?

Olhei em volta e ao tentar me sentar, minha vista escureceu.

— Não. Minha cabeça está doendo. Não consegui fazer nada depois que cheguei do escritório.

— Não tem problema, isso eu resolvo, porque você não sobe, toma um banho enquanto eu preparo o nosso jantar?

Meneei com a cabeça e Alex foi ao meu lado até o quarto, meio que se certificando que eu chegaria inteira até lá.

— Vai ficar bem? – Ele me questionou assim que me encaminhei para o banheiro.

— Vou. – Garanti,

Ele desceu e eu tomei um bom banho e outra dose dos remédios. E, com isso, fiz meu caminho para a cama, sem nem dar uma satisfação a Alex que deveria estar me esperando no andar de baixo para jantar.

—-----------------------------

E a quinta-feira chegou. Com ela, duas notícias: minha dor de cabeça tinha piorado durante a noite e, nomes muito conhecidos por nós estavam estampando as maiores publicações de celebridades do país, e não era por um bom motivo.

O telefone de Alex e, também, os números de nossos escritórios começaram a tocar ainda cedo, eu, sem condições de me levantar da cama, apenas virei de lado, mandando uma mensagem para Milena, avisando que não ia trabalhar, mas que ela poderia me mandar tudo o que aparecesse de urgente para que, quando eu melhorasse, eu resolveria de casa.

— Bom dia, Kat! – Escutei Alex me cumprimentando.

— Bom dia! – Murmurei ao colocar o celular na mesinha de cabeceira e, me virar na sua direção. – Está tudo bem?

Ele coçou a cabeça e, antes de me contar o que acontecia, resolveu por me perguntar como eu estava.

— Fiquei preocupado com você ontem à noite... você não desceu para comer nada.

— Desculpe-me por isso. Tomei o remédio e simplesmente apaguei. Não tive forças nem para te esperar.

— E está melhor agora?

— Não tão bem a ponto de conseguir ir trabalhar. Vou ficar em casa hoje. Não sei se o que estou sentindo é realmente enxaqueca ou se é intoxicação alimentar ou qualquer outra coisa.

— É bom que você fique em casa hoje... – Ele disse um tanto incerto.

E, mesmo um tanto nauseada, sentei-me na cama, eu sabia o que ele me contaria, mas isso não impediu que eu me sentisse ainda pior.

— Algo aconteceu?

— Que nos envolve diretamente, não. Mas, de qualquer jeito, vai respingar na gente.

Endireitei-me na cama e encarei meu noivo, que agora estava de pé, perto da cômoda, procurando algo para vestir.

— Alex, o que aconteceu?

— As revistas de hoje. Ou da semana que vem... todas elas têm praticamente a mesma capa.

E ele parou.

— Que capa?

— Suzanna, Mia e Lee. E, ao que tudo indica, destrincham um belo plano para se livrarem de mim, para acabarem com a minha carreira e, com você. Eu ainda não li as matérias, e acho que nem vou ler, não me interessa. Se você...

— Eu não quero... desde que isso não venha a repercutir em nossa vida ou nas de nossas famílias, eu não quero nem passar perto. – Afirmei.

Alex me encarou por um tempo e, depois tornou a pegar o telefone que não parava de tocar.

— Tenho que atender esse. – Avisou e saiu do quarto.

Joguei-me nos travesseiros novamente e me pus a pensar na bagunça que o dia de hoje seria... e em como isso tudo iria acabar.

Quase meia hora depois, como Alex ainda não havia voltado e eu tinha a certeza de que deveria comer algo, resolvi por descer e ir para a cozinha fazer um bule de chá e comer com torradas, pois era o que parecia que ficaria em meu estômago. Sem querer acabei por ouvir um trecho da conversa de meu noivo:

— Não me interessa o que vai acontecer com os três. Suzanna e Mia podem morrer de fome que não muda em nada na minha vida ou na de Kat, e quanto a Lee, eu só quero que ele pague pelo que fez. Ele permitiu que um acidente no set fosse encoberto para não ter prejuízos pessoais e ainda bateu na minha noiva. Eu quero que tudo isso saia na mídia e quero que seja bem explícito que ele não é de forma alguma confiável.

Uma pausa para seja lá quem era do outro lado falar e Alex soltou:

— Não. Não. Eu não vou dar declaração nenhuma. Eu não tenho explicações para dar. Se o mundo acaba de ficar sabendo que Suzanna é maluca e manipuladora, parabéns para eles. Eu quero distância dela.

Outra pausa e veio a notícia:

— Bom, não posso dizer que estou chateado com isso, porque não estou. Todos três merecem o mesmo destino. Porque o que tinham que ter sugado de mim nos últimos três anos, sugaram. E um último aviso. Esse assunto não chega aos ouvidos da Katerina, ela não faz parte do show biz, ela não é uma pessoa pública, e não tem que dar declarações ou ficar sendo perseguida por repórteres querendo uma palavra sobre tudo. Ela só está no meio dessa confusão toda, porque aceitou se casar comigo. E quem tem quer resolver isso sou eu, não ela. Se sair uma nota dizendo que ela disse algo, é mentira, peça para remover na hora e se não fizerem, processe. A Kat, assim como a Pepper, é blindada. A mídia não chega nem a um metro perto delas.

Vi que o que ele discutia agora era uma estratégia para não atrapalhar as gravações do dia, então parti para a cozinha, onde ele tinha deixado o almoço que ele levaria semipronto e um café da manhã mal começado.

Terminei o almoço, colocando um bilhetinho dentro da marmita, e dei continuidade ao café, mesmo sem aguentar direito o cheiro do bacon frito.

 Quando ele entrou na cozinha, se assustou com a minha presença.

— Achei que iria ficar na cama...

— Estou há muito tempo sem comer. Preciso nem que seja de um chá com torradas. E, terminei o seu almoço. – Apontei para a marmita.

— Obrigado, Kat. Mas agora, sente-se, você está com uma expressão de que pode desmaiar a qualquer momento.

— Sou mais forte do que você imagina. - Murmurei quando ele me tirou de perto do fogão e assumiu a tarefa de fritar os ovos.

Comemos em silêncio, mas não era um silêncio confortável. Alex remoía as notícias da manhã, e, ao mesmo tempo que precisava colocar seus pensamentos para fora, ele queria me poupar de qualquer preocupação.

— Sabe que pode contar comigo, não sabe? – Perguntei e apertei a sua mão.

Ele respirou fundo e apenas falou:

— Apesar de ter aprendido com os meus últimos erros sobre o quanto eu devo te contar quando algo envolve a você também, hoje eu vou aguardar mais um pouco para te contar. Você não está bem e não quero que fique nervosa durante o dia. Mas, saiba que tudo está controlado. Só as notícias que são... um tanto inesperadas e reveladoras demais.

— Bem, não vou te forçar a me contar agora, mas eu quero saber. Se envolve a Mia, como você disse mais cedo, acaba por envolver a minha família também... e acho que mereço saber.

— E merece. Só que nem eu processei tudo o que fiquei sabendo ainda... quando eu o fizer, te conto.

Concordei com a cabeça e voltamos a comer, ainda em silêncio, cada um pensando no que esse dia iria nos afetar.

Ajudei Alex com a cozinha, mesmo mediante protestos e, depois que ele se foi, ao invés de voltar para a cama, como seria recomendado no meu caso, decidi ir para o escritório.

Claro que Milena ainda não havia chegado, então não tinha trabalho a ser feito, porém, minha curiosidade estava ganhando a batalha e eu decidi por procurar pelas publicações de hoje.

Não demorei a encontrar. Bastou digitar o nome de Mia na barra de pesquisas do Google que logo as mais recentes capas de revista estavam em destaque.

Passei o mouse em cima de cada uma, lendo a manchete. Apesar de terem praticamente o mesmo conteúdo, cada uma destacava um ponto diferente.

Uma destacava a queda de Alex no ano passado, informando em letras garrafais que ele quase morrera e que Lee encobrira tudo do sindicato porque fora um erro de outro protegido seu. E como ele sabia que o sindicato viria como uma bola de demolição querendo explicações e multando a produção, na qual ele era um dos produtores, abafou o caso e deixou tudo como estava, claro que recebendo muito por isso. Muito dinheiro mesmo. Lee recebeu $1.500.000,00 para “esquecer” que Alex caíra.

— Isso explica o silêncio dele depois da queda de Alex. O desgraçado não apareceu nem um dia para ver como ele estava. – Murmurei com ódio.

Outra vinha destacando Mia, o nosso parentesco e até mesmo o parentesco com Kim, e o que ela havia feito dois meses atrás, entregando todos os meus contatos, a minha história e, principalmente como ela vendeu, sem escrúpulos nenhum, as fotos de meu casamento fracassado, tudo isso pela promessa de uma segunda chance na carreira depois da gravidez.

E, a grande bomba, claro, vinha com Suzanna. Cada detalhe do discurso dela onde ela afirma que destruiu a casa de Alex, que armou a cena do restaurante. E, ainda, um plano que envolvia, além da manipulação de um vídeo obtido de forma criminosa de dentro da nossa casa, para provar que Alex era abusivo e violento.

A última capa, e que me deixou ainda mais nauseada, era a foto dos três e um plano mirabolante e nojento, de tentarem manipular a atriz que contracenou com Alex no seu vindouro filme, para que ela contasse uma mentira de que teria sido abusada por ele no set. A própria atriz, Ashley Graham, que foi procurada e entrevistada, diz que recebeu a proposta dos três e até mesmo foi oferecido a ela uma pequena fortuna para que inventasse a história e a espalhasse na internet, através de suas redes sociais.

A declaração dela:

— Eu não poderia nunca fazer isso. Primeiramente, não é do meu feitio espalhar mentiras e, receber dinheiro para inventar histórias absurdas e repugnantes que poderiam causar diversos gatilhos em várias pessoas e, segundo, eu jamais mancharia a carreira de uma pessoa como Alexander que me tratou tão bem no set, teve paciência comigo, entendendo minhas inseguranças por estar fazendo o meu primeiro grande filme e que já foi vítima da língua da ex-namorada. Não é desmoralizando as pessoas que se ascende nessa indústria. – Ela concluía.

Como eu não sabia nada do elenco do filme, na verdade, nem o título oficial eu sabia, apenas agradeci mentalmente Ashley, e fiz uma anotação mental de agradecê-la se tivesse a oportunidade de encontrá-la um dia.

Depois dessa capa, eu desisti de ler o restante e os comentários das pessoas. Lee, Mia e Suzanna tinham chegado no fundo do poço ao planejarem algo assim.

Desliguei o computador e fui para o quarto, tinha coisas para arrumar pela casa que seriam suficientes para me distrair por um bom tempo.

À medida que o dia ia avançando, meu celular tocou algumas vezes, minha sogra, minha mãe, meus irmãos e, claro, Mel, Vic, Pietra e Pepper, que apareceu aqui em casa para desabafar contra Suzanna, conversaram comigo, não para saber como eu estava, mas para compartilhar comigo a incredulidade de toda essa situação.

Estava sentada na sala, tendo Pepper como companhia, quando, sem motivo aparente, cismamos de ligar a TV e, assim que Pepper mudou os canais, caímos em um programa de variedades vespertino.

O assunto, claro, não era outro, senão as bombas do dia.

As quatro mulheres discutiam as atitudes do trio e, do nada, uma leva à mão ao ponto em sua orelha e, depois de fazer uma expressão de choque, pede a palavra e diz que tem mais desdobramentos...

Pepper me encara e eu dou de ombros.

E, a mesma mulher, ainda fazendo uma expressão de confusa e de choque, informa que as marcas para as quais Suzanna Cameron e Mia Spencer desfilavam com exclusividade, tinham acabado de soltar um comunicado conjunto informando o desligamento das duas de seu line up. E, ainda mais incrível, a revista Vogue tinha mandado tirar de circulação todas as revistas deste mês, já que tinham Mia na capa.   

 - Isso é algo sem precedentes no mundo da moda! – Exclamou uma das mulheres.

E, a outra, que era um tanto mais ácida e até mesmo sarcástica, só soltou:

— Será que as duas irão chorar as pitangas no Twitter agora e ainda culparem Pierce e sua noiva?

E, esse foi só o ato de abertura dos anúncios bombásticos do dia, pois, quando Alex chegou em casa, e encontrou com Pepper, Will e seus pais lá, apenas soltou:

— Ouvi ao sair do set. Declaram Lee como persona non grata nos estúdios. Ele está proibido de entrar ou fazer qualquer negociação com todos os estúdios de Los Angeles.

Todos se encararam, e, depois minha sogra simplesmente disse, antes de se levantar e ir para a cozinha:

— E o dia do acerto de contas chegou. E eu não estou nem um pouco chateada com o que li e ouvi que aconteceu com os três. Eles procuraram tanto que encontraram.

E eu nunca concordei tanto com alguém como agora.


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Notas finais do capítulo

E esse é o fim do trio... espero que tenha sido o que vocês esperavam...
Muito obrigada a quem ainda está lendo a história! A quem comenta e acompanha ou só lê!
Nos vemos no próximo capítulo!
Até lá!



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