Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 132
Tempo


Notas iniciais do capítulo

Nem tenho mais desculpas para dar, então, fiquem com o próximo capítulo.
Boa leitura.



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Dizem que o tempo cura tudo, desde corações despedaçados, até mesmo tristezas profundas.

O tempo também é uma ótima borracha da memória. Para aqueles que batem, não para quem apanha.

Depois das duas semanas de tumulto e fama inesperada e não querida, a mídia foi dando um tempo, foi falando de outros assuntos, de outras pessoas e acabaram por me esquecer. Não completamente, mas pelo menos meu rosto não estava mais em revistas de qualidade duvidosa.

Nossas vidas seguiram tranquilas, de certa maneira, é claro. Na primeira semana, mais por pedidos de minha família do que por vontade, eu concordei em ter um motorista e segurança.

Depois que o burburinho passou, acabei por dispensá-los, não havia necessidade de andar com duas pessoas do meu lado quando não havia motivo aparente.

Meu trabalho no escritório decolou e a expectativa era a de que logo teríamos uma boa notícia vinda da Fórmula 1, pelas conversas que meus informantes me passaram, a NT&S era a franca favorita a ser escolhida na reunião de dezembro. Mesmo assim mantive as expectativas baixas, opiniões no circo da F1 mudam mais rápido do que um carro cruzando a reta dos boxes.

E, se tudo ia bem na empresa, eu tinha um probleminha bem interessante e divertido para resolver.

As negociações com os bancos sobre as dívidas do restaurante de Benny e Pietra.

— Não sei como você pode achar isso divertido. – Pietra reclamava do meu lado enquanto caminhávamos pela rua, antes de entrarmos no terceiro banco dia.

— Vai dizer que você não acha engraçado a cara que os gerentes fazem quando eu jogo uma contraproposta muito mais vantajosa para vocês e os gerentes ficam mais perdidos que tudo?

— Só porque eles não sabem fazer conta na velocidade que você faz...

— Pietra, eu reduzi os juros para vocês para baixo da metade em um banco e zerei no outro. Tudo isso usando a técnica mais velha do mundo, falar sem parar e rápido.

— E não se esqueça do seu sotaque... – Pietra completou.

— Eles realmente estão acreditando que viemos da Europa só para negociar com eles.... Inacreditável. – Tive que rir.

— O que um sotaque e uma roupa alinhada não fazem, hein? – A Italiana me cutucou e depois suspirou fundo.

— Três de cinco. – Apontou para a porta do banco.

— Não fique assim, eu estou me divertindo.

— Se você mantiver esse bom humor até depois do último banco eu te pago um chá.

— Só se tiver biscoitos e geleia de pêssego e outra framboesa.

— Espero que isso seja fome e não desejo. Ou você vai estar para dar a luz o meu casamento, quase como Tanya no casamento de Vic e Kim.

— É fome. Abri mão da minha hora de almoço para te ajudar.

— Ainda bem.

E passamos por todos os bancos com notícias ótimas. Com Pietra somente de enfeite, eu consegui bons acordos e ainda reduções de juros das dívidas.

— Agora, você me deve um chá completo! – Falei com a italiana assim que saímos do último banco.

— Eu ainda não acredito que você conseguiu fazer tudo isso em um único dia... E ainda ficamos livres de duas dívidas, porque você resolveu que pagar de uma vez era vantajoso.

— Eu te falei que iria te ajudar no que eu pudesse.

— Não pagando as dívidas.

— Agora vocês me devem. Simples assim. E eu não vou tentar tirar o restaurante de vocês. – Completei o raciocínio.

Pietra ia gesticulando do meu lado, falando que eu era maluca.

— Não. A Maluca é você. É você quem resolveu abrir um negócio por aqui.

— Com coisa que você não está aqui a trabalho também. – Ela rebateu.

— Sabe de uma coisa... – Comecei. – Eu nunca imaginei que nós duas iríamos parar em Los Angeles à trabalho e muito menos nos casarmos com alguém daqui.

Pietra, em um raro momento, foi pega de surpresa por essa constatação.

— Nem eu. Sempre achei que viveria na Itália. E isso tudo é culpa sua! Se você não tivesse se mudado para cá, eu não estaria noiva de um surfista!

— Minha culpa? Eu não mandei você se apaixonar pelo Benny!

— Nem eu esperava por isso. Na verdade, casamento não estava nos meus planos.

— E você está a meses de subir ao altar. E já tem algo organizado.

— Pior que tem. Assim que ele me pediu em casamento, eu meio que já sabia o quando e o onde. Acho que eu sempre tive um sonho de princesa, sabe?

— Sonho de princesa? – Parei do lado do meu carro e encarei a italiana.

— É. Por que o espanto?

— Porque eu nunca te vi tendo rompantes de coisas de menina. Ainda mais um casamento de princesa...

— No fundo todo mulher deve ter algo assim.

— E o seu veio a ser justamente com seu casamento?

Pietra deu de ombros.

— Pois é.

— Agora quero saber os detalhes! – Falei entrando no carro. Minha amiga me seguiu e começou a discorrer sobre as ideias de casamento que ela teve e já estava executando.

Era diferente ouvir alguém preparando o próprio casamento. Ainda mais um casamento desse porte.

— Mas toda essa gente? Nesse lugar?

— Vai caber!

— Vocês vão fechar a cidade!

— É essa a ideia! Já que minha família não quis me ajudar com o restaurante, eles podem gastar um pouco mais com a festa.

— E o que o Benny acha disso?

— Ele adorou a cidade. É na beira da água. E, tirando o local da cerimônia em si, ele disse que gostaria de se casar ali.

— Então que seja em Miramare! Preciso me preocupar em reservar um quarto de hotel de uma vez?

— Para a minha principal madrinha? E para o padrinho principal? Claro que isso já está resolvido! Só vou precisar da Elena emprestada.

— A Elena de Dama de Honra?

— É a única criança que conheço. E sei que ela vai ficar quietinha no altar do seu lado.

— Então já avise à Tanya a ao Ian. Porque minha sobrinha precisa de treinamento intensivo para ficar quieta.

Chegamos no local do chá e nos sentamos em uma mesa mais discreta, íamos conversando sobre os preparativos do casamento e, também sobre nossas vidas. Estava rindo de uma das últimas loucuras de Pietra e Benny, quando quatro adolescentes pediram licença ao nosso lado.

— Pois não? – Perguntei olhando para as três. Uma delas me lembrava Liv. Na verdade, o grupo inteiro me lembrava de Liv e suas amigas.

— Você é a Katerina Nieminen, não é? – Perguntou a garota que estava no centro e tinha um lindo cabelo ondulado.

Por baixo da mesa, Pietra chutou a minha canela e escondeu a risada atrás da xícara de chá.

— Sim, sou eu! E vocês são?

Os rostos das quatro se iluminaram em grandes sorrisos. E elas se apresentaram: uma se chamava Emma, a outra Hayley, a terceira Bella e a quarta Catherine, ou Kate.

— É quase igual ao seu nome! – Completou a Kate, que era quem tinha me chamado primeiro.

— É, quase igual. – Concordei.

— Desculpe atrapalhar, - Começou Emma sem jeito.

— Mas será que podemos tirar uma foto? – Completou Bella.

Pelo canto do olho vi Pietra começar a rir e, na minha frente, Hayley já preparava o celular para tirar um selfie.

— Bem, sim. Só não sei o motivo... – Disse mais sem graça do que Emma.

— Nós lemos tudo o que saiu sobre você na mídia! E sabe, virou o nosso exemplo. – Kate me explicou.

Olhei um tanto estupefata para elas.

— Sério. Você é muito forte! Passou por tudo o que passou e continua firme! Além de ter um ótimo gosto para roupas! – Disse Hayley.

— Bem, obrigada. Eu acho.

— E, será que podemos te pedir um favor? – Perguntou Bella.

— Se eu puder fazer, claro.

— É que temos um trabalho da escola para fazer. E queríamos fazer sobre as mulheres em liderança. É claro que tem um monte no mundo, mas tendo em vista a sua história e o fato de que você é Vice Diretora de uma multinacional aos 30 anos, isso é um marco... Assim gostaríamos de escrever sobre você. Podemos? – Bella falou super animada. E, diante do olhar de cachorrinho pidão das meninas, eu não pude ter outra resposta, a não ser...

— Claro.

— E, meio que vamos precisar te entrevistar... – Completou Emma.

— Entrevista?

Pietra tinha parado de rir e agora prestava atenção na conversa.

— Sabemos que é muito ocupada, será bem rapidinha, é porque precisamos de uma fonte. – Hayley se desculpou.

— Sem problemas. – Acabei por falar. – Preciso saber o dia em que querem fazer isso e tenho que olhar a minha agenda. – Respondi e fui pegando um cartão na minha bolsa. – Esse é o número do meu escritório. Liguem para lá e peçam para conversarem comigo, que vamos olhar o melhor dia. Para quando é o trabalho de vocês?

— Depois das festas de final de ano. – As quatro responderam alegres.

— Ainda temos tempo. Mas para não atrapalhar os estudos e as provas, que eu sei que vocês devem ter no final de ano, seria muito bom se fizéssemos isso o mais rápido possível, não?

— Sim! – Elas agora pulavam de expectativa.

— Então me liguem na segunda, sem ser no horário das aulas.

— Pode deixar. E a foto? – Perguntou Kate.

Só dei um sorriso em resposta.

E elas se ajeitaram do meu lado enquanto Hayley fazia o enquadramento e tirava a selfie.

— Você não tem página no Instagram, tem? – Ela perguntou logo depois de tirar a foto.

— Não, não tenho nenhuma que seja pública.

— Sem problemas. Se você tivesse iria te seguir.

Só sorri em resposta.

— E, muito obrigada, Katerina! De verdade! – Bella disse e me deu um abraço. Que eu respondi mais no susto do que tudo.

— Não há de que.

— Então te ligamos na segunda! – Kate falou ao se despedir e Emma fez coro.

Vi as quatro se afastarem, olhando para a tela do celular e depois gesticulando animadas umas com as outras.

— O bando de Loucas versão Califórnia Teen... – Pietra falou olhando para o grupo de adolescentes. – E, você tem o coração muito mole. Só porque uma lembra a Fofoquita Mezzo Inglesa Mezzo Finlandesa, você já foi concordando com elas.

Foi a minha vez de chutar Pietra por baixo da mesa.

Ma che?

— Pelo chute de antes.

— Ficou toda sentida, a celebridade...

Revirei os meus olhos.

— Não estou mentindo. Você agora é um modelo não só para suas sobrinhas, mas também para garotas como Bella, Hayley, Kate e Emma.

— Troca de assunto, por favor.

— Famosinha. – Pietra falou rindo. – Admita, esse é o seu novo status.

— Louca!

— Cada uma tem seu apelido agora! – Disse a italiana feliz.

E eu só soube balançar em negativa minha cabeça.

 Ficamos mais um pouco tomando um chá e falando que tinha muito tempo que o Bando de Loucas não se encontrava.

— Estou falando sério. – Pietra continuou a conversa logo depois que saímos do bistrô. – Recentemente só estamos encontrando você, Pepper e eu. Melissa está mais sumida que vitória da McLaren e Vic só tem tempo para o Seb. E falando nela, já voltaram para Chicago?

— Melissa está escondendo o Alemão da gente. Tem medo da quantidade de perguntas que vamos fazer para ele. Quanto a Vic. Só vem para os EUA depois do ano novo. Minha mãe a convenceu a ficar na Inglaterra um pouco mais.

— Dona Diana querendo paparicar o netinho mais novo... e por falar em netos, por onde anda sua irmã e o rebento dela?

Como estávamos dentro do carro, e eu levava Pietra até a casa de Benny, só pude dar de ombros.

— Não acha estranho que ela esteja calada demais? Ainda mais depois do seu recente surgimento nas capas de revista?

— Eu nem estava me lembrando dela. – Falei séria. – Juro, nem me lembrei da minha irmã. A última pessoa que me falou dela foi você, depois daquela capa de revista mentirosa. Depois disso, nem um pio.

— Você sabe que a sua irmã calada e quieta não é bom, não é?

— Pietra, sinceramente, eu tenho muito em que pensar, não vou gastar energia pensando na Mia e no que ela pode ou não estar aprontando. Quanto menos se pensa no bicho papão, menor é chance de ele aparecer. – Completei.

— Faz sentido. Mas mesmo assim. Nunca é bom baixar a guarda quando se trata de Mia. E digo o mesmo para Alex. Ele está muito em evidência com a série e o filme que será lançado por agora. Vocês dois têm que redobrarem a atenção. Não se sabe de onde vem o tiro quando se trata dessa cobra.

O pior era que Pietra tinha razão. Mia tinha ficado bem quieta no início do mês, e Suzanna também. Para duas pessoas que conseguiram falar mal de uma propaganda de carro, ficarem caladas quando algo tão grande como uma série era sempre mencionada, era até estranho. Estranho até demais.

E, enquanto eu pensava por onde essas duas andavam, Pietra disparou a falar sobre o restaurante e em como a reforma já havia começado. Suas expectativas estavam mais altas agora que algumas das dívidas foram quitadas e as outras caíram bastante.

— Sério, Bionda, muito obrigada por hoje. Foi melhor do que eu esperava que fosse.

— Sempre às ordens, Louca. Você sabe que o meu divertimento é fazer gerente de banco passar aperto.

— É, aprendi hoje que isso é mais do que verdade.

— Ainda vai ficar por muito tempo aqui em Los Angeles? – Perguntei.

— Sem nada para fazer no final de semana?

— Alex vai trabalhar nesse final de semana. Não entendi o motivo disso, mas acho que nem quero saber. – Respondi.

— Ele já deve estar preparando terreno para o lançamento do filme. Por que vai ter premierè e tudo, né?

— Acho que sim. Ainda não fui informada disso. Provavelmente vai ser a minha sogra quem vai sair despejando um monte de perguntas para Alex sobre isso. Porque, para ele que tem uma equipe que escolhe o que ele vai vestir, ele me informa faltando duas horas para o evento começar.

— Homens nunca entenderão a necessidade do preparo psicológico de uma mulher e, depois das horas para ficar minimamente apresentável para uma câmera, nem que seja de celular.

—  Jamais. Mas para quem pode repetir um terno milhares de vezes sem ninguém reclamar, você quer o que? Que sejam compreensíveis com as mulheres?

— Impossível. – Disse Pietra rindo.

— Exatamente.

— Se eu não tiver nada para fazer no final de semana, te aviso! No mais, muito obrigada, fico de devendo mais essa.

— Se eu for cobrar todas essas dívidas....

— Por favor, nunca faça isso! Ou eu vou a falência! – Pietra saiu rindo e depois entrou em casa.

E eu, bem, tive que ligar o GPS para me ajudar a voltar para minha casa, ou era bem capaz que eu me perdesse. De novo.

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 Na segunda seguinte, estava eu envolta aos problemas da vice diretoria, depois de uma reunião com Wendy, quando Amanda bate na minha porta e, com uma cara de dúvida, só me pergunta:

— Chefa, tem quatro garotas no telefone, e eu sei que são quatro, porque cada uma se identificou, perguntando se você pode atendê-las. Juro que não entendi nada!

— Ah! Claro. Pode passar a ligação.

— Quem são?

Fiz uma careta. Como explicaria isso...

— Um grupo de amigas que têm um trabalho da escola para fazer e ao que parece elas me acham um bom tema.

— Ah! Pessoas influentes. Nossa que chique! Deveria ter pensado em você quando fiz o meu. E não no Tim Cook da Apple. Mas... elas vão te entrevistar?

— Mais ou menos isso.

— Gente, que sortudas. Eu fui muito besta com o meu homenageado! Posso passar a ligação?

— Primeiro, por favor, traga a minha agenda.

Amanda correu na antessala e voltou antes que eu pudesse respirar, depois tornou sair correndo para transferir a ligação.

Quando atendi, as quatro garotas se atropelavam para conversar comigo, falando datas e mais datas que elas estariam disponíveis.

— Meninas... – Pedi. – Meninas, por favor, uma de cada vez!

E foi só assim que elas ficaram um pouco mais calmas.

Depois de um tempo ficou decidido que elas viriam até o meu escritório na sexta-feira da semana seguinte. Elas tinham a tarde livre da escola e eu não tinha nada programado.

Com uma felicidade incontida elas se despediram e me agradeceram mais um milhão de vezes por estar ajudando.

E, claro, que aqui dentro do escritório, Amanda fez questão de espalhar a fofoca e eu não perdi a brincadeira de Milena:

— Vê se as quatro querem ser estagiárias daqui. Estamos precisando de ajuda.

E Amanda retrucou:

— E eu sou o que? Invisível?

— Já virou parte da mobília de tanto tempo que está aqui. – Milena retrucou.

— E vocês ainda vão ter que me aturar por muito tempo. – Disse Amanda.

A conversa continuou na outra sala, afinal já era quase final do expediente e tudo o que queríamos era ir para casa.

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Quando cheguei em casa, na quinta à noite, até me assustei, pois Alex, que vinha sendo só um turista por aqui, já tinha chegado.

— Posso saber o motivo do milagre em poder te ver em casa antes da meia-noite? – Perguntei ainda da porta.

Só escutei a risada dele vindo do escritório.

— Não ouvi a resposta... – Tentei novamente, dessa vez na porta do escritório.

Alex me encarou e só pela forma como seus olhos brilharam eu sabia que vinha algo.

— Por acaso você sabe qual data está chegando?

Parei por um momento e tive que buscar na memória que dia era e se tinha algum aniversário se aproximando. Até tinha.

— O aniversário da sua mãe... Setenta anos com direito a uma festa de arromba na fazenda.

— E nesse ano você não precisa ficar assustada com o convite, porque já sabe que está mais do que convidada.

Tive que rir.

— Mas não é do aniversário da minha mãe que eu estou falando.

— Não? Então é de que?

Alex me olhou, achando que eu estava brincando, quando notou que eu falava sério, que eu não fazia a menor ideia sobre o que ele estava falando, coçou a cabeça.

— É sério isso? – Perguntou-me.

— Alex, se você não me der uma dica, eu não vou saber. Não sei ler pensamentos.

— Katerina, Katerina... como pode ser tão desligada. Você fez a mesma coisa no início do ano. – Ele foi falando em enigmas perto de mim.

— Alex, por favor, são quase oito da noite de uma quinta-feira de uma semana que tem sido bem puxada para mim. Não venha com adivinhações... Meu cérebro entrou em coma no escritório e morreu no pilates. – Pedi.

— Deixe-me ver como eu vou facilitar a sua vida, sem te contar o que é. – Ele começou a falar e eu só me joguei no sofá com a cara fechada. Ele poderia sim, só me contar o que era.

— Que dia é hoje?

— Onze de outubro.

— E onde você estava nessa data, no ano passado?

Ia dizer que aqui, mas foi então que entendi. Eu não estava aqui, nesta casa. Nem aqui em Los Angeles. Eu estava me preparando para voar para Los Angeles.

— Ah...

— Lembrou.

— Está fazendo um ano que estou aqui na Califórnia. – Murmurei. – Amanhã é verdade. Eu cheguei aqui no dia 12.

Tanto tinha mudado neste um ano. E esse tanto era muito mesmo.

Inclusive...

Não estava fazendo só um ano que eu estava aqui.

Dentro de quatro dias estaria fazendo um ano que conheci o Alex.

Arregalei meus olhos.

— Um ano?! – Olhei para ele.

— Entendeu não foi?

— Nosso aniversário de um ano é na próxima terça...

— Também vai marcar pelo dia em que tomamos café juntos?

— Foi o dia do nosso primeiro beijo, não?

— É foi. Na verdade, do primeiro, do segundo, do terceiro.

— Do nosso primeiro jantar... – Completei rindo.

— Sim. Corremos bastante... em uma semana vivemos o que os casais normalmente vivem em dois, três meses.

— Culpa sua. – Acusei-o e ele nem ligou. – Mas, o nosso iminente aniversário de namoro é o motivo de você estar em casa cedo hoje?

— Hoje e amanhã também.

— Gostei disso. Pode me falar mais.

— Vou falar enquanto você arruma a mala.

— Mala!? – Perguntei assustada.

— Sim. Achou que íamos comemorar nosso aniversário de namoro em casa? – Ele me respondeu com outra pergunta enquanto me içava do sofá e começava a me levar para o segundo andar.

— Na verdade, eu não pensei em nada.

— Está cansada assim, Loira?

— Você não faz ideia...

— Então nossa escapada vai servir para dois propósitos. Comemorar nosso aniversário e para você descansar.

— E vamos para onde? – Virei-me em seu abraço para tentar descobrir a verdade em seus olhos.

— Isso é segredo.

— Mas como eu vou arrumar uma mala se não sei para onde vou?

— Eu poderia arrumar a sua mala... – Seus olhos brilharam.

— É, imagino o que teria lá... – Fiz um bico.

— Mas fácil o que não teria! – Ele deu uma risada, mas depois me respondeu: - Coloque roupas de verão. E biquinis.

— Vamos para um lugar com praia?

— Sim. E isso é tudo o que você tem que saber.

— Não! Preciso de mais algumas informações. E você não precisa falar o lugar.

— Você vai tentar descobrir o lugar só me interrogando?

— Não, preciso de algumas informações para montar a mala ideal. É coisa simples.

— Então comece. – Ele abriu a porta do quarto sem soltar nosso abraço.

— Dois dias?

— Sim.

— E duas noites?

— Três. Vamos sair amanhã logo que você chegar em casa. Assim, por favor, chegue cedo.

— Vamos ficar em hotel ou casa?

— Uma suíte privativa.

— Isso dentro de um hotel?

— Sim.

— Vamos só aproveitar o hotel ou você tem outros planos em mente?

— Vamos sair no sábado à noite.

— Tudo bem. Fim do interrogatório. Acho que posso montar uma mala com isso.

— Eu tenho certeza de que pode, Kat.

E foi quando eu olhei o quarto e vi que a mala dele já estava pronta. Isso estava planejado há meses e só agora ele me contou.

Alex se deitou na cama enquanto eu montava a mala, às vezes ele olhava para a peça de roupa que eu escolhi e fazia uma careta, outras ele aprovava a escolha.

Não demorei muito e minha mala para o meu destino desconhecido estava montada. E eu espero ter acertado nas escolhas.

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A sexta passou indistinta, assim como tinha sido a noite de quinta. Eu estava mais do que curiosa sobre o local onde passaria o final de semana e, também, não parava de pensar em como esse último ano passou depressa demais.

E como 365 dias fizeram diferença na minha vida.

Eu tentei focar o máximo que pude em meu trabalho. Não tinha muito a ser feito, tínhamos trabalhado tanto nos últimos quatro dias que hoje parecia ser o dia só da conferência de documentos e também de alguns pontos sobre a reunião do conselho que se aproximava.

Ou seja, era realmente a reabertura de ciclo. Com grandes e notáveis diferenças.

No meio da tarde, quando eu estava quase desistindo de tudo e dando o dia por encerrado, Milena entrou na minha sala para discutirmos a agenda da próxima semana. E, ela também notou a coincidência as datas.

— Nossa... Hoje está fazendo um ano que você está aqui! Que loucura!

— É, já tinha percebido isso.

— Meu Deus. Há um ano estávamos todos nos tremendo de medo pela herdeira da empresa estar assumindo este escritório e hoje eu nem me lembro mais como é trabalhar com outra pessoa. Impressionante como o tempo passou rápido.

— E como tanta coisa mudou.

— Isso também. Nossa, sinceramente Katerina, eu não tinha parado para pensar na data nessa semana. E nem em como essa empresa, e esse escritório, mudaram da água para o vinho no passar de um ano.

— Só não fique muito nostálgica.

— Quer que eu fique nostálgica? No ano passado eu nem imaginaria que fosse conhecer estrelas de Hollywood, mesmo tendo morado em Los Angeles por toda a minha vida. E olha se eu não conheci toda a Família Pierce?

Tive que rir.

— Sério, é isso que você tira de bom do último ano?

— Não. Eu também ganhei uma escragiária muito competente.

— Eu escutei isso! – Amanda gritou da antessala.

Acabamos que começamos a rir. E, depois partimos para a agenda da próxima semana.

Quando terminamos, perguntei como estava o serviço.

— Se eu gostasse de valorizar o meu trabalho eu diria que tem uma pilha de serviço para fazer. Mas vou ser sincera e dizer a verdade, não tem mais nada. – Ela se levantou da cadeira onde se sentava e foi para porta, imitei o seu gesto e fiz a mesma pergunta pra Amanda e para Wendy. Recebi as mesmas respostas.

— Por que não encerramos mais cedo hoje? Trabalhamos muito durante a semana e podemos nos dar o luxo de sairmos mais cedo hoje.

Amanda foi a primeira a concordar, disse que isso era uma ótima ideia porque assim ela pegava carona com o namorado.

Descemos as quatro no elevador e me despedi das meninas quando paramos no saguão principal, sendo que segui sozinha para a garagem. Assim que desci no segundo subsolo, pensei em como eu costumava me sentir vigiada andando até meu carro e hoje nada mais disso acontecia.

Acho que era eu quem estava nostálgica e não Milena, afinal.

Fui até meu carro e, antes mesmo de ligá-lo, decidi que tinha que passar em dois lugares. Compraria um presente para Alex e, buscaria o presente de aniversário de minha sogra que, desta vez, eu tinha encomendado com antecedência e não arriscado tudo com uma entrega duvidosa, que deu certo, é verdade, mas também poderia ter dado muito errado.

Passei nos dois lugares onde queria e ainda cheguei em casa antes de Alex. Foi bom porque pude esconder o presente no fundo da minha mala e me preparar para viajar.

Ele chegou noventa minutos depois de mim, e estranhou que eu já estivesse pronta e com a mala na sala.

— Você me pediu para chegar mais cedo e foi o que eu fiz... Mas, só tenho uma pergunta para o seu plano perfeito.

— Que seria?

— Onde nossos filhos peludos irão ficar?

— Sua sogra está mais do que feliz de ter os cães pastoreiros mais atrapalhados da história como companhia nesse final de semana. Ela disse que não aguenta mais ninguém falando da festa de aniversário de 70 anos que ela vai fazer e quer se distrair.

— É, ela me falou que está por tris de montar em um cavalo e sumir no mundo. – Respondi rindo. – Eu ofereci ajuda para organizar a festa, mas ela disse que gosta de fazer isso, apesar de se arrepender amargamente depois.

— Essa é a minha mãe. Agora. Vamos?

— Seja lá para onde for, mas vamos! – Concordei e peguei a sua mão.


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Notas finais do capítulo

Só digo uma coisa, surpresas acontecerão nessa viagem!
E fico por aqui, espero que tenham gostado desse capítulo com altas doses de açúcar!
Até o próximo e muito obrigada a cada um de vocês que está lendo e acompanhando a história!
xoxo



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