Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 121
Convite


Notas iniciais do capítulo

E eu voltei com mais um capítulo.
Seguimos com a chegada de Sebastian e as consequências que sua presença vai gerar na família.
Boa leitura!



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Nossa próxima e rápida parada foi no quarto de Vic, ela estava acordada e olhava um tanto desgostosa para o café da manhã que lhe tinha sido entregue.

— Olá, mamãe do ano! – Mel entrou carregando balões que ela tinha comprado na lojinha do hospital.

— Para que isso? – Vic perguntou ao ver os enormes balões, inclusive um de carrinho, na verdade dois, um azul e o outro vermelho, este último, claro, ideia de Pietra.

— Queríamos trazer um pouco de cor para este quarto. Hospitais são sempre sem graça. – Explicou a meio inglesa, meio brasileira.

— Agradeço a intenção, mas pelo que já fiquei sabendo, terei alta ainda hoje e é capaz que seja antes do meio-dia!

— Isso é bom. Quanto menos tempo ficar em um hospital melhor. – Comentei.

— Foi exatamente isso que a mãe disse. – Kim entrou na conversa. – Assim que Sebastian terminar todos os exames, ela nos quer fora daqui...

— E como vocês vão fazer? – Questionei.

— Ficar aqui em Londres até a pré-temporada do hockey começar. Se for preciso, eu ficarei um pouco mais. Dona Diana e Tanya já se prontificaram a me ajudar e também tem a minha família, sabe como é, primeiro neto do meu lado e todos estão cheios de boas vontades. – Vic explicou e tentou se levantar.

— Você pode fazer isso? Não seria melhor, sei lá, ficar de repouso? – Pietra correu para colocar a mamãe de volta na cama.

— Nem pensar. Ninguém me mandou ficar de repouso absoluto. Preciso de descanso, não ficar prostada em uma cama.

— Poderia, pelo menos, ir com calma. Um passo de cada vez? – Pedi, já que minha cunhada mal tinha pisado no chão e já tinha feito uma careta.

Depois de respirar fundo, foi que ela soltou:

— Não vou negar. Dói. Mas é melhor essa dor do que a de um corte de fora a fora na sua barriga. A recuperação é bem mais rápida, segundo as médicas da família, as dores devem sumir em até 48 horas.

Não tínhamos muito o que falar sobre isso, sendo que Vic era a primeira mamãe do grupo, assim, só concordamos com um balançar de cabeça. E, eu, mentalmente, anotei a dica, pois um dia será muito válida.

Vic ia fazendo uma pequena caminhada pelo quarto, com um soro preso ao braço, Kim a acompanhava, sempre atento caso ela escorregasse ou sentisse muita dor.

— É sério, gente, eu estou bem. A dor agora é de uma cólica menstrual forte, nada que eu já não tenha sentido.

E com essa fala, os homens fizeram uma careta, já as mulheres se solidarizaram.

Estávamos conversando sobre os próximos meses e em como tudo seria agora que Sebastian estava conosco, quando a enfermeira, depois de pedir licença, entrou com um bercinho sobre rodas e lá dentro tinha um pacotinho azul.

— Acabamos todos os exames. Ele foi perfeito. Super tranquilo, não chorou nem quando tiramos sangue. – Ela falou baixinho, pegando Seb do berço e entregando nos braços do pai. – A mamãe ainda tem tempo para descansar, deixe que o papai faça as honras e troque a primeira fralda.

Kim deu uma olhada meio torta para o filho e depois olhou em volta, meio que buscando ajuda entre os presentes. Pietra, Benny, Mel e Alex deram um pequeno passo para trás, como que falassem: a cria é sua. Eu não fiz cara de nojo, tendo sido babá dos meus três sobrinhos, fraldas não me assustavam, ainda mais depois de vários incidentes no momento de trocá-las.

— Quer fazer as honras, Kat? – Kim perguntou todo esperançoso.

— Não acha que é cedo demais para passar a responsabilidade para a tia? Só vou trocar as fraldas de seu filho quando vocês estiverem realmente cansados, exaustos, prontos para desmaiar de sono, até lá, o presente é seu, e pelo cheiro que esse Pequeno está exalando, esse é um presente e tanto.

Mel fez um som de desgosto e quase verde, saiu do quarto. Pietra pediu licença, mas disse que não tinha estômago para o que viria, prometeu ficar em Londres por uma semana para ajudar no que fosse preciso, menos nas trocas de fraldas e depois foi para o corredor, seguida por Benny, que só deu um tapinha de leve na cabeça de Seb e falou:

— Comece cedo, Campeão, assim seus pais não te arrumam irmãos.

— E aí, Alex, quer ir treinando? – Kim ainda tentou a sorte.

— Foi mal, ainda não fiz curso de como ser pai. Quando eu fizer, te ajudo.

Não tinha jeito, Kim ia trocar a fralda do filhote quer queira, quer não.

A enfermeira preparou tudo no trocador e mandou que Kim colocasse Seb deitado de barriga para cima, para logo depois, ir ensinando o passo a passo da nobre arte de trocar fraldas sujas ao meu irmão. Vic pairava perto deles, mais brincando com o recém-nascido do que prestando a devida atenção ao serviço. A enfermeira não desgrudou os olhos nem por um segundo e quando parecia que meu irmão estava prestes a fazer uma coisa errada, ela já ia e corrigia, porém, nunca tocou no bebê, deixando que Kim se encarregasse plenamente de cuidar do filho.

— Muito bem, senhor Nieminen, poderia ter sido um pouquinho mais rápido, contudo, vou deixar passar porque é a sua primeira vez. E espero que seja a primeira de muitas, pois cuidar dos filhos é uma tarefa de ambos os pais, e não somente da mãe. Não se esqueça disso. Afinal, você pode pensar que está cansado, mas a mãe está triplamente cansada, pois ela, além de cuidar do bebê, está produzindo o alimento, alimentando-o e se recuperando do parto. – Deu esse pequeno e velado sermão e depois de dar um tapinha no ombro de Kim, virou-se para Vic antes de sair do quarto: - Daqui a pouco a pediatra irá passar aqui com todos os resultados dos exames realizados, já adianto que tudo está bem, mas sempre tem um ou outro cuidado para ser explicado. Espero só ver vocês nas consultas mensais para check up do bebê. No mais, - agora se dirigiu aos dois: - que vocês sejam uma família muito feliz, saudável e abençoada.

— Obrigada. – Vic respondeu.

— Bem, vamos pegar carona na saída da enfermeira e vamos também. Assim como Pietra, vamos ficar por uma semana aqui, para o caso de precisarem. – Avisei.

— Não vai pegar seu sobrinho no colo? – Kim perguntou e já foi caminhando para o meu lado.

Não pude resistir e automaticamente estendi os braços para receber o mais novo membro da família. Evitei o máximo de balançá-lo, mas parece que essa é a reação natural de qualquer pessoa quando pega um bebê um colo.

— Espero que já tenha a cantiga de ninar composta para ele. Não quero a versão melhorada que você fez para os filhos de Ian.

— A canção já foi composta, Joakim. Só não gravei ainda por falta de tempo, afinal, essa coisinha aqui resolveu ser só um pouquinho apressado. – Esfreguei meu nariz na ponta do nariz de Seb.

— Essa eu quero escutar. É realmente boa, Alex? Vai desmaiar o meu filho por mais de oito horas? – Vic perguntou ao se sentar na cama.

— Boa é, agora a duração do efeito sonífero, não sei informar, mas acalmou os nossos cachorros.

Vic deu uma risada quanto a resposta e se escorou na cama, e ela mal tinha se ajeitado, quando Seb começou a choramingar em meus braços.

— Alguém vai abrir o berreiro, e dessa vez é fome. – Já fui andando devagar para a cama e entregando meu sobrinho para Vic.

— Espero sinceramente que ele não seja esfomeado como o pai, senão eu vou precisar de uma cirurgia plástica e silicone daqui a um ano. – Ela brincou.

Aproveitei a oportunidade e me despedi dos dois, deixando o quarto o mais silenciosamente possível, para não atrapalhar o momento de conexão entre mãe e filho.

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Se Kim e Vic estavam vivendo o melhor momento de suas vidas com a chegada de Sebastian e o bebê vinha sendo paparicado por quase todas as pessoas da família que não cansavam de elogiar a fofura do menino, o outro lado da moeda não estava tão lindo assim.

Elena vinha sendo o ‘problema’. Não que eu classificaria o que ela estava passando por problema, mas a garotinha, que sempre fora considerada o centro da família e a caçulinha, tinha perdido um pouco do espaço, e não vinha gostando nada disso.

Com minha mãe e minha cunhada ajudando no que podiam a adaptação de Vic à ser mãe, o tempo que as duas tinham para tomar conta de Elena tinha diminuído drasticamente. Normalmente isso não seria problema, uma vez que a Pequena ia de manhã para a escola e só era liberada às 17:00.

Acontece que as férias de verão dos meus sobrinhos já tinham começado e com isso Elena, assim como Tuomas e Olivia, estava em casa por todo o dia.

Tuomas era a menor das preocupações, afinal, tendo concluído o ensino médio, estava mais concentrado em tudo o que viria após as férias, ou seja, a faculdade de engenharia na Universidade de Oxford, já pensando na parte de engenharia mecânica ligada à Fórmula 1, já que inúmeros engenheiros que hoje trabalham na categoria suprema do automobilismo estudaram lá.

Olivia também não, vez que, caso fosse preciso, ou melhor dizendo, se deixasse, ela se matricularia em qualquer curso de verão que aparecesse e ela achasse interessante, como fotografia, desenho e até mesmo música. E, já tinha lançado inúmeras indiretas de que poderia muito bem ir para Los Angeles comigo e Alex e ficar por todo o verão por lá.

Porém, Elena não tinha ainda essa ideia e nem podia. Com seis anos recém completos, a Baixinha não estava muito feliz em ser deixada em casa para a mãe tomar conta do primo que, nas palavras dela, ela nem conhecia e nem parecia com ninguém da família.

Como Alex e eu ficamos por uma semana em Londres, conseguimos controlar um pouquinho o ciúme da garotinha, explicando que ela não estava sendo deixada de lado por ninguém, era só que a tia Vic e o tio Kim precisavam de ajuda com Seb, porque bebês requerem muito cuidado.

A conversa ajudou um pouco, contudo Elena ainda parecia um tanto enciumada quando a mãe dizia que estava indo trabalhar e que antes de voltar, passaria para ver Sebastian.

Quando Vic estava há três dias em casa, levamos Elena para conhecer o primo. Ela foi tranquila e até chegou perto do primo, olhando para ele atentamente, mas se recusou de todas as formas a pegá-lo no colo.

Passamos quase duas horas na companhia dos papais de primeira viagem e do bebê, Elena não deu trabalho, mas também não estava no seu humor falante e agitado de sempre, ficou por todo o tempo, ora do meu lado, ora do de Alex, sempre tentando chamar a nossa atenção para que a colocássemos no colo.

Minha mãe falou que realmente levaria um tempo até que ela se acostumasse com Sebastian, só não podíamos forçar a presença dele na vida dela e nem ficar brincando de que agora ela não era mais a caçula da família.

Na quinta-feira, uma ideia que Alex tinha tido e que Olivia tinha me pedido voltou à minha mente. Se está tão difícil tomar conta de Elena em Londres, com todos indo e vindo e com a presença constante de Sebastian perto dela, resolvemos que poderíamos adiantar as férias que tínhamos planejado e levar não só Liv e Tuomas, mas também a Baixinha para a Califórnia por uns dias.

Quando soltamos a ideia, lógico que longe de Elena para que ela não começasse a implorar para ir, Tanya ficou um tanto temerosa.

— Não sei se é uma boa ideia. Vai dar a impressão de que estão afastando-a do primo porque, para vocês, ela é mais importante do que ele, mas não para nós. Além do mais, vão levar meus três filhos para o outro lado do mundo?!

— Claro que vamos conversar com ela sobre Sebastian e sobre como ela tem que aceitar o primo, a nossa ideia não é que ela pense que nós a escolhemos e vocês não, é somente a ideia de que ela possa ter umas férias diferentes e vocês possam ajudar Vic sem ficarem com peso na consciência de que Elena não está sendo olhada da maneira que devia. Achamos esse um bom equilíbrio das coisas. Ela passa um mês conosco e quando voltar, a rotina de Vic, Kim e Seb já estará organizada, e vocês já poderão voltar ao normal, sem que ela tenha que ser deixada com babás. – Expliquei.

— E, claro, vocês voltam para...

Glastonbury, show da Adele no Hyde Park e, GP da Inglaterra. Perderemos o Festival de Goodwood, mas é para o bem de todos.

— Alex concorda em ter três visitantes barulhentos na casa de vocês? – Ian perguntou.

— A ideia partiu dele quando viajamos para a América do Sul. Garanto que ele vai fazer um roteiro e tanto, isso se já não tiver um mente.

— Vocês têm certeza disso?

— Papai, pode apostar que sim. Vai ser bom para todos. Os três vão ter férias em um lugar onde nunca foram, eu vou tirar férias depois de muito tempo e Alex aproveitará os últimos momentos de calmaria antes do início das gravações da série. Porque depois que começarem, ele só terá intervalo em novembro e depois três semanas entre dezembro e janeiro.

Todos estavam um tanto céticos. Então precisei jogar a cartada final.

— Pessoal, por favor, pensem no calendário desse final de maio e de junho. Você, Ian, e o senhor, papai, estão a toda com a Fórmula 1, todos sabem que esse final antes do verão é complicado, são várias corridas seguidas e sem intervalo, além de trabalho incansável nas fábricas, por conta da parada obrigatória de agosto. Mamãe e Tanya estão ajudando Vic e Kim, e não tem sido fácil, Sebastian é um bebê bem chorão e está dando muito trabalho por conta de toda a história de que não quer pegar o peito... e olha que as cólicas nem começaram. Nesse meio tempo, Tuomas, Liv e Lena estão em casa. Não podem viajar com o pai, porque não tem um maior responsável para ficar de olho em Elena, não podem ficar zanzando por Londres, porque, mais uma vez, tem Elena que é uma criança... sem ninguém para poder levá-los para onde querem, vão passar um mês de férias dentro de casa jogando videogames ou sei lá o que? É muita maldade com os três... – Terminei o meu discurso.

— E como fica o seu trabalho?

— O escritório da Califórnia tem a política de parar por três semanas entre o final de junho e princípio de julho, por conta do feriado de independência dos EUA... eu posso parar um pouco antes, ou se for o caso, trabalhar de casa... fiz isso em janeiro quando deu uma nevasca no estado, posso fazer de novo e controlar os meus horários. Vai dar certo, confiem em mim.

— Preciso de tempo para pensar. – Disse Tanya.

— Não tem tanto tempo assim... caso os meninos vão, preciso que vocês assinem a documentação de que Alex e eu somos os responsáveis legais por eles, durante a estadia deles no país... isso tem que ser feito em cartório e homologado por um juiz.... e hoje já é quinta-feira.

Foi minha avó Mina quem deu o voto de Minerva e resolveu o problema.

— KitKat está certa. É a melhor saída para todos. Tanya e Diana poderão dar a assistência que Vic vem precisando, além de acalmarem Kim que anda bem nervoso como fato de que o filho ainda não conseguiu se alimentar direito. Jari e Ian poderão trabalhar sem ficarem preocupados com os três e meus bisnetos estarão seguros e se divertindo na Califórnia, além de que Kat finalmente tirará as férias acumuladas que ela tem na empresa. Ian, Tanya, vocês sabem que essa é a melhor decisão. E sabem também que não perderão o verão de seus filhos, eles ainda ficarão aqui por julho e agosto. Pensem nisso.

Claro que Ian, sendo um libriano de primeira, disse que não poderia dar essa opinião logo, então me deu o prazo até às dez da manhã de sexta-feira.

— Tudo bem. – Concordei. Sabia por experiência própria que nunca era bom pressionar o meu irmão.

— E nessa noite eles dormem em casa. – Avisou Tanya. – Eu vou chegar mais cedo para conversar com Elena.

— Claro.

— E você e Alex vê se aproveitam o que pode ser a última noite de paz e sossego de vocês por quase um mês.

— Tenho uma reunião amanhã e uns pequenos problemas para resolver... acho que nossa noite será como todas as outras. – Dei de ombros.

Encerramos a conversa aqui, pois os assuntos chegaram, Alex tinha levado as meninas até Saint James Park para que pudessem andar de bicicleta, já que o dia estava lindo e Tuomas chegava sei lá de onde, carregando a guitarra que um dia foi minha nos ombros.

Jantamos na casa de minha avó e depois fomos para casa, afinal, se o trio iria voltar conosco, e eu estava quase certa de que iriam, teríamos que ajeitar algumas coisas por aqui e também em casa.

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Como tínhamos previsto, Ian e Tanya, depois de muito deliberarem, ligaram na sexta-feira pela manhã e a primeira frase deles foi a seguinte:

— Vocês têm certeza de que darão conta de olhar os três?

A ligação estava no viva voz, assim Alex só me deu uma cutucada na cintura e depois abriu um sorriso, eu fiz o mesmo.

— Sim, nós estamos certos. – Acabamos que respondemos juntos.

— Por sua conta e risco? – Tanya confirmou.

— Pode apostar que sim, Tanya. – Alex foi quem respondeu dessa vez.

— Então nos encontre no Cartório para fazermos o documento de guarda.

— Uhm... Ian... eles já sabem?

— Não, deixamos para que vocês falassem. Agradeceria se fosse depois da assinatura dos papeis.

— Claro.

A chamada foi encerrada e Alex já estava fazendo planos, para onde iríamos, quando iríamos e, o mais importante:

— Vamos precisar de um carro maior? – Questionou olhando para mim.

Só balancei a cabeça em negativa e depois dei um tapa no alto da cabeça dele.

— Com mil e uma coisas mais importantes para se preocupar, e você vem perguntar de carro?

— Temos três crianças e três cachorros agora! Tenho que me preocupar com a segurança deles. – Foi a réplica que recebi.

Revirei meus olhos para a fala dele e fui trocar o meu pijama, e nem trocando de roupa Alex me deu paz.

— Começo a me arrepender de ter te ouvido. – Murmurei. – A sua reação está pior do que a de nossos três sobrinhos COMBINADA.

— Está achando ruim? Espera até Dona Amelia ficar sabendo da ida do trio... só espera.

Como estava de costas para ele, fiz uma careta. Definitivamente minha sogra iria explodir de alegria e não pararia de falar até que desembarcássemos em Los Angeles.

O Cartório era praticamente no centro de Londres, assim, pegamos um pequeno trânsito para chegar até lá e ainda tivemos que esperar pelo meu irmão e minha cunhada.

Vi os dois caminhando de mãos dadas na nossa direção e aproveite para estudar as suas feições. Eles poderiam ter concordado pelo telefone, mas deu para perceber que bastasse uma palavra errada que eles mudavam de opinião rapidinho.

Trocamos cumprimentos e assim que entramos no prédio, o advogado da família, Dr. Neville, estava com uma cara de quem não estava entendendo nada.

— Bom dia! – Ele nos estendeu a mão para cumprimentos e logo em seguida, já emendou: - Confesso que estou curioso com a minha presença e a de vocês quatro neste cartório...

Ian resumiu a situação, explicando os motivos dos filhos irem para Los Angeles conosco e depois que isso era bem provisório.

— Bem, entendo o ponto de vista de vocês e ainda digo mais, é a forma mais correta e tranquila para que a viagem de todos seja mais segura, mas se querem um conselho, eu estenderia o prazo da guarda para um pouco além, só para a garantia de que ninguém vá querer estender a ida e ter que fazer novos papeis, o que geraria uma certa desconfiança.

Concordamos com Neville e ficou estipulado na procuração que teríamos a guarda do trio pelo prazo de 90 dias a contar do dia da assinatura do documento, além de todos os detalhes da nossa tutoria sobre os menores e as decisões que poderíamos ou não tomar sem a consulta dos pais.

Uma hora e meia depois, deixávamos o Cartório já com o documento em mãos. Era hora de contar para meus sobrinhos a grande novidade e saber se eles efetivamente gostariam de ir.

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Seguimos Ian e Tanya pelas ruas apinhadas do centro de Londres e, quis o destino, que passamos em frente ao pub onde eu tomei o meu primeiro porre da vida (e até agora o único!).

— Bem, você me disse uma vez que queria conhecer um determinado lugar. – Cutuquei Alex. – Ali na frente, o The Red Lion.

— E... – Ele começou a falar para depois interromper e começar a rir. - O causador da sua primeira ressaca! O lugar onde começou a pior despedida de solteira do mundo e onde terminou também!

— Sim. Por conta de quatro canecas de cerveja servidas daquele Pub... – Confirmei.

— Você vai voltar ali, comigo. E eu vou te ensinar a beber. – Alex falou e depois tirou a foto da fachada do bar, que já estava aberto.

— E vai fazer o que com essa foto?

— Guardar. Isso aqui é história. Seus filhos vão gostar de ter esse registro. – Ele disse simplesmente.

Atravessamos o Tâmisa e logo chegamos no bairro de Westminster. Mais alguns minutos e eu guardava o carro ao lado do de Ian na garagem.

— E então, como quer contar? – Meu irmão perguntou de uma vez.

— Acho que não tem um jeito sutil... – Murmurei.

— Simples, entrega o documento da guarda para um deles e vê a reação. – Alex falou.

— Pode ser... quero gravar a de Elena. Apesar de que muito provavelmente vai mais me machucar a animação dela do que me deixar feliz. – Tanya comentou e entramos na casa.

Logo ouvimos o som característico de uma guitarra sendo tocada, o que não era nem um pouco incomum, raro era escutar o som de um violino acompanhando o instrumento.

— Tuomas e Olivia tocando juntos? – Ian estranhou.

— É o que parece. – Tanya confirmou e depois de tirar os sapatos, cruzou a lavanderia e a cozinha, para entrar no corredor que levava ao restante da casa.

Acompanhamos minha cunhada até que o som ficou realmente alto, Tuomas não se importou de incomodar os vizinhos e ligou o amplificador da guitarra bem alto.

A primeira ação de meu irmão quando alcançou o cômodo que meus sobrinhos alegremente faziam de estúdio, foi puxar o cabo do amplificador da tomada. E estando tanto Tuomas quanto Olivia de costas para nós, tomaram um susto enorme.

— Arrumem tudo isso! – Ele ordenou quando o cômodo caiu em silêncio. – Seus tios têm algo para lhes contar.

Os dois que ali estavam começaram a guardar os instrumentos e partituras dentro das bolsas e pastas e depois deixaram organizado o local. Elena, não estava em lugar nenhum à vista e quando perguntei por ela, Tuomas disse:

— Bivó está aqui e, ao ver como Elena anda reagindo e ao fato de que ninguém tem muito tempo para brincar com ela, resolveu ficar e garantir que a mãe e o pai tivessem o descanso que precisavam.

Olivia acabou de guardar o violino na capa e antes de correr para o quarto para deixar o instrumento lá, perguntou:

— A Lena também tem que estar aqui para a grande revelação?

— É bom. – Tanya respondeu.

Minha sobrinha lançou um olhar na direção de Alex e depois na minha, para logo em seguida fazer cara de dúvida e sair correndo.

Enquanto as meninas não chegavam, Tuomas ia dedilhando a guitarra, mesmo que estivesse desligada.

— Então essa Gibson era sua? – Alex perguntou.

— Pois é... – Dei risada. – Igual a sua, né?

Tuomas nos encarou com uma sobrancelha levantada.

— Você toca, tio?

— Não tão bem quanto a família inteira parece tocar. – Alex falou.

— Ninguém toca de verdade... a gente só finge que sabe, mas por que não falou mais cedo isso? Aí a gente teria feito uma banda no Natal.

— Um Natal heavy metal?!

Tuomas deu de ombros.

— Ainda é melhor do que um Natal Pop ou country, não é?

— Com certeza. – Foi a minha resposta, já que banquei a intrometida.

Olivia voltou de mãos dadas com Elena, que correu para o meu colo e se sentou ali, me abraçando pelo pescoço.

— Então... qual é a grande revelação? – Claro que a adolescente nem nos daria tempo de respirar.

Olhei para Alex e ele só estendeu o envelope para Tuomas. Na mesma hora os olhos de Liv se estreitaram e ela, curiosa, se esticou toda para ver o que tinha ali dentro.

— O tio me entregou o envelope, se fosse para você ler o que está aqui, teria te entregado.

— Papai falou que eles tinham algo para nos contar. – Ela falou confiante.

Tuomas foi gente boa com a irmã do meio e logo abriu o envelope parando para ler o que estava escrito na folha de papel pesado. Liv ia acompanhando o irmão, mas creio que saltou várias linhas, pois à medida em que seus olhos iam avançado pela folha, seus pés iam batendo no chão, demonstrando o quanto ela estava agitada.

— O que a Liv e o Tuomas estão lendo? – Lena me perguntou.

— A novidade que a tia vai te contar daqui a pouco... – Prometi para a pequena e ela, bem, resolveu ser direta e soltou:

— Eu não vou ganhar outro primo não, né?

Tive que segurar a minha risada, mas Alex, acabou por contar a ela o que fomos fazer ali.

— Não, Lena, você não vai ganhar outro primo. – Ele disse ainda esboçando um sorriso. – O que seus irmãos estão lendo é que seus pais nos permitiram levar vocês três para a Califórnia, para passar as férias.

Os olhinhos azuis de Elena se arregalaram e ela olhou para Alex, depois para mim e então, pulando do meu colo, correu até o sofá onde os pais estavam sentados e quicando sem parar, questionou:

— Isso é verdade? Vamos para a Califórnia? Tuomas, Liv e eu?

— Vocês querem ir? – Tanya deu a opção de ficar em casa e na Inglaterra aos filhos.

Vi os dois mais velhos trocarem um olhar e depois balançarem as cabeças de forma afirmativa. E foi a vez de todos olharem para a mais nova.

— Eu quero ir sim! Quero passar as férias com a tia e com o tio! E ver a vovó Amelia e o vovó Jonathan e a tia Pepper e o tio Will. Quero andar na Nuvem.

— Meu Deus! A Athena está lá! Tem um monte de coisas para se fazer lá! – Olivia entrou na falação. – E eu tenho que arrumar uma mala! Uma mala bem grande, dessa vez eu não vou passar só uma semana... – E aqui ela parou, rodopiou e olhando para os pais, perguntou: - Quanto tempo vamos ficar lá? No documento diz 90 dias... não vai ser isso tudo, né?

— Inicialmente vocês voltam para verem os shows que vocês querem ir e para o GP da Inglaterra... se quiserem voltar depois dessa semana... – Ian explicou.

— Trinta dias direto! TRINTA!!! Meu Deus! Eu tenho muita mala para arrumar! – Liv gritou e saiu correndo escada acima, já falando que ela não tinha mala desse tamanho.... e que ela precisaria de, no mínimo, umas cinco malas ENORMES.

— Exagerada. – Tuomas murmurou.

— Não vai fazer a mala? – Tanya perguntou.

— Faço no dia em que formos decolar... – Disse de forma despreocupada.

— Decolamos amanhã depois do almoço, Tuomas. Sem atrasos. Então, pode ir arrumar as suas coisas. – Respondi a ele.

— Bem... já que é assim, tá na hora de arrumar a mala mesmo. – Deu de ombros e saiu da sala, alguns segundos depois, foi possível ouvi-lo batendo em uma porta e falando: - Decolamos amanhã cedo, Olivia... será que você vai conseguir guardar o seu quarto na mala a tempo?

Como resposta só escutamos o grito desesperado de Liv.

Ian balançou negativamente a cabeça, Tanya fez uma cara de desgosto. E eu tive que falar:

— Com coisa que você não vivia falando algo mais ou menos assim comigo, não é Ian?

— Eram outros tempos... – Foi o que ele falou. – Agora, quem vai te ajudar a arrumar a sua mala, Elena?

A caçula coçou a cabeça e depois atravessou a sala e veio me puxar na direção do seu quarto.

A bagunça estava armada e que o caos se instalasse nas nossas vidas pelos próximos trinta e poucos dias.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso!
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que leu até aqui!
Até o próximo!
xoxo



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